mauro sta. cecília cão de cabelo



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Transcrição:

cão de cabelo

1 o nocaute do compositor romântico Preciso desesperadamente beber um rio to do. Que lu gar é es se? A mi nha lín gua é uma li xa de car pinteiro fa zen do faís ca com o céu da bo ca. Que mer da de fa cho de luz é es se na mi nha ca ra? Tentaria le van tar, mas se ria impossível fi car de pé, lem brar quem eu sou e ain da apa gar meu in cên dio, tu do ao mes mo tem po. Ressaca mons tro. A garrafa vazia de conhaque de alcatrão em minha barriga rola ria co mo bo la de bo li che até o chão, ga nha ria for ça e se espatifaria contra o canto da parede, fazendo um filete da bebida correr timidamente pelos sulcos do cimento. Desabo de no vo no colchonete. Paulão daria uma única olhada de ra bo de olho, pra de pois con ti nuar a pregar um qua dro qual quer no ta pu me em fren te. Devia ser da mãe de le ou a Virgem Maria, sei lá. Talvez uma fo to do América Futebol Clube (sem ne nhuma ofensa ao mequi nha ). Ele, um ca ra mal-ajam brado, gordo e muito feio sob con di ções nor mais. Com os meus sen tidos turvados pelo pé-na-ja ca, o su jei to ficaria dantescamente desfigurado.

Bom, nes sa circunstância seria me lhor não ter de safetos. Garantir o ál cool cicatrizante de cada noite. 25 de ou tu bro de 2001. Dia do meu ani ver sá rio. Minha cabeça explodiria, nem tenho dúvida. Melhor não pensar de mais pra não fa zer ma ro la. Caralho. Aqui es tou eu, em pe ti ção de mi sé ria, sua do, sem to mar ba nho há dias, (hahhhhh...) com um ba fo de cachaça violento, o grande Lelo Costa. Lelo. Costa. Lelo... Costa... O ins pi ra do le trista-revelação, o maior poeta popular da canção romântica das últimas décadas na maior roubada possível. Como tomar um no caute aos cinco segundos do primeiro round. Como des pen car vin te ve zes até a mais fun da lâ mina de con cre to do po ço e lá em bai xo não ter mo la ne nhuma. Bem, aqui tem o Paulão e sua ri sada imbecil. Seu olhar demente dizendo: Nada a perder, ocu pan do um es paço ca da vez mais ameaçador. O que pode arruinar mais completamente um homem? Mulheres? Bebida? Uma am bição desvairada? Cocaína? Maldade? Burrice? Mau-ca ratismo? Tudo isso jun to? Vai sa ber. Zunzunzum nas ruas, a man chete mais comentada nas esquinas, no trabalho, no balcão dos bo tequins do país in tei ro. E o Lelo Costa, hein? Sueli Gatuso, a ân co ra, mui to mi nha ami ga... ex-ami ga, não sei, anun cia em tom se rís si mo no Jornal Principal da tv Zoroastro: O com po si tor Leonídio Costa, o Lelo... Até o meu par ceiro 16

cão de cabelo Beto Cavalo apa receria dando depoimento, com o violão em pu nho. É com mui ta tris teza..., diria dedilhando. Que coi sa lamentável. Não tem jei to. Não-tem-jei-to. Então, já que me barraram na porta da fren te, que pre ga ram por aí o car taz com procura-se e tal e coisa, que me expuseram mons tro al gemado para os abutres, nem que seja na outra extremidade da gló ria, que ve nha tu do, tu do a que eu te nho direito, tudo mesmo. Meus 15 mi nu tos de fa ma na cio nal, mas ago ra em vôo so litário, matéria caprichada com deta lhes da des graça no Jornal da Madrugada, da tv Zoroastro, a mi nha fo to antes e de pois na ca pa do Diário Azul, a inspiração para o editorial psico-alarmista na Veja, até uma re portagem-fofoca com a Sueli no dis se-me-dis se de quem-fi cou-com-quem da Bastidores. É is so aí, que ro o to po, o estrelato. Se com o su ces so mu sical não consegui essa façanha midiática, então se ria com o fra cas so. Nesta mer da de fim de li nha. O le tris ta do maior fe nômeno de vendas das últimas décadas. O compositor sem ros to do single que ultra pas sou mais de dois mi lhões de có pias. Disco de ou ro, de pla ti na, du plo de pla tina, diamante. Cinco anos direto nas pa ra das de su ces so. Primeiro lu gar em Portugal, na Espanha, Chile, América Latina qua se to da. Ouvi fa lar que até em Miami to cou. Passamos na épo ca até o rei Roberto Carlos. Quase não acre di tei. Mas quem di ria... Lelo Costa, 17

um ca ra ba ca na, do bem. Talento pe dra no ven ta que veio de baixo. Poderia ver da qui simpáticas velhinhas balançando a cabeça, desapontadas. Fãs devolvendo cds do Quincas Espírito Santo, além de to das as co letâneas que foram feitas com a mi nha mú si ca. Certamente de volveriam também os dis cos de in tér pre tes que fizeram versões de minha canção mais famosa. Veria casais apagando A cha ve do teu co ra ção da trilha de suas vidas. Veria tu do con finado neste lugar imun do com o Paulão ma luco-pra-caralho. Que, se eu vacilasse demais na biri ta, me jan taria na madrugada sem pestanejar. Caramba. Jantar é mo do um tan to re ca ta do de fa lar. Como é que eu sa be ria? Ah, is so ele já te ria fei to ques tão de dei xar bem claro, ou escuro, e dependendo do pon to-de-vista também bem gran de, enorme, quente, escroto, fedorento, se é que vo cê me en ten de. Bem, não se preo cu pe, eu o pou pa ria ago ra de mais de talhes desse quilate, porque talvez seja me lhor ir lo go de uma vez pro começo. Antes, só um es cla re ci men to fun da men tal. Por fa vor, é im por tan te. Nada a ver com reais mo ti vos e tu do mais. Para que nin guém vá pen sar que eu es ta ria pro cu ran do me de fen der com des cul pa es far ra pa da, pois o que eu fiz, eu fiz, es tá fei to. Mas sem pre fui um es tra nho no ni nho. 18

cão de cabelo No mor ro o pes soal ou ve mui to sam ba, pa go de, né. A rapa zia da mais no va, funk, rap, hip hop, mú si ca ele trô ni ca, rock, não é is so? Eu sem pre gos tei de mú si ca ro mân ti ca. Quando eu sur gi, tran qüi lão, o pes soal até acha va que eu era do in te rior, mas a mú si ca ro mân ti ca foi a tri lha da mi nha vi da. Isso nin guém po de ria me ti rar. Sempre foi as sim. Influência da mi nha mãe? Pode ser. Talvez mais da mi nha irmã. Quando era mo leque passava noites e noites ouvindo no meu ra di nho os pro gra mas de AM que to ca vam Roberto Carlos, José Furtado, Antônio Marcos, es se pes soal. Ronnie Von, to dos eles. E du ran te o dia era o rá dio do trêsem-um na sa la, que a Lelê dei xa va li ga do en quan to fa zia as ta re fas de ca sa. Isso es tá de finitivamente registrado na minha alma e nem meus er ros pu de ram me tirar. Já que eu fa lei de al guns gê ne ros da mú si ca, é o seguin te: nun ca gos tei de rock. Roquenrou, rock pe sa do, metal... heavy... grunge, hard-não-sei-o-quê, esse esporro, essa ba ru lhei ra to da. E não é que não en ten da. No co légio estu dei in glês, tá pen san do o quê, al guma coisa eu arranho. E não é tam bém por achar que é mú si ca de grin go, co lonizada; não iria aqui ingenuamente defender nossas raízes e le van tar a ban dei ra do fol clore, da cultura popular, essas baboseiras. É que simplesmente não gosto. Nada contra, mas não gos to mes mo. É is so aí. Está di to. Porque es se ne- 19

gó cio de que é pre ci so gos tar de to do ti po de mú si ca não tem na da a ver, não. Já ti ve que men tir mui to na vi da pra não fi car por fo ra, mal na foto. O que, por ou tro la do, não quer di zer que eu ago ra te ria de ban car o co var de e cus pir no pra to em que co mi. Aliás, ago ra tan to faz. A mi nha in coe rên cia é o meu ódio, fa zer o quê? E por mais pa radoxal que possa parecer di zer isso, é a verdade: a música salva, meu chapa. Eu, que nasci e so bre vi vi fa ve la do, eu sei dis so. O lan ce é que fui pau torto na jogada mesmo. O rap desses garotos das co munida des, por exem plo. Pode até não dar di nhei ro, mas vai dar ca be ça em pé. Só is so já valeu. Eu gos ta va de mú si ca que tem me lo dia, que dá o tran co e ca la fun do no pei to. Cafona? Brega? Pode ser. Sucessos do rá dio de antigamente, da épo ca da mi nha mãe, minha avó, da minha mais remota tataravó. Grande Arimatéia Trummer, Orlando Caldas, Dalva de Oliveira, maes tro Reginaldo José, es ses ca ras. Todas as mú sicas do rei Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Todas. E Paulo Sérgio, Odair José, Waldick Soriano, Benito de Paula... lembra de Gilliard?... Música de cho rar no ci ne ma. Música sertaneja, e caipi ra tam bém apren di a gos tar com Beto Cavalo. Samba, cla ro, mas não é tu do. Gosto da tra di ção. Cartola, Nelson Cavaquinho, Candeia. Martinho da Vila 20

cão de cabelo e Zeca Pagodinho, por exem plo, são do ca ra lho, até co nheci os dois, só que es sa não era mi nha praia. Fui um apre ciador de can ções. Se vo cê me dis ses se que es tas can ções são baladas um pouco melosas, rimas às vezes previsíveis, eu não me aba la ria. Mau gos to? Por quê? Por que é mú si ca pra gente humilde que come costela, dobradinha, torresmo, lingüiça, bebe cachaça, povo sem etique ta, que ar rota e pei da sem pe dir li cen ça, via ja de ôni bus de um can to a ou tro do país, pa li ta o den te no res tau ran te? Que eu sai ba essa gente também se emocio na, se apai xona, sente saudade, cho ra, faz se xo. Trabalha. Ganha seu di nhei ro zi nho micro. Seu di nheirinho de merda. Portanto, me re ce res pei to. Apesar de tudo. Está pen san do que é fá cil fa zer um bai ta hit? Parece que há uma fór mu la, mas a fór mu la sem pre mu da. Me enganei redondamente. Nem sempre rimar amor com dor de cor no dá cer to. Dois mais dois é igual a qua tro e meio, cinco vírgula sete. Por um de terminado ângulo, agora é tudo muito mais fácil de perceber. Aliás, por determinado ângulo, não, meu cum pa de, acho que ago ra por qual quer um: da tris teza, da opor tu ni da de, da lu ci dez, da me lan co lia eu já não te ria mais na da a ga nhar, ami go. Mesmo. Agora não é uma questão de retórica. A fran que za bro ta em mim. A gra nel, co mo an tes nun ca dei xei. Porque se eu ficava inseguro, querendo agra- 21

dar aos ou tros, achan do que as sim seria aceito pela turma que man da, a tur ma que man da nun ca es tá nem aí, es tá cagando. Inclusive já teria bo tado outro compositor românti co bo la da vez em meu lu gar. O país in tei ro já can tou minha música, você sabe disso. Eu disse o país in teiro, não foi só gar çom, não. Foi do por teiro à dondoca. Depois eu é que sou brega. Mas fi ca tran qüi lo, meu no bre, que ape sar da agi tação e da con fusão mental da ressa ca eu não vou ali sar não; e me des cul pa aí se por aca so eu fi car um pou co nervoso, mas es taria tudo muito recente ainda, sabe como é? Eu te conto como tudo aconteceu, até onde se ria pos sí vel ir sem o véu ine brian te do li ris mo e das boas in ten ções. Te dou mi nha pa la vra de hon ra. Homem que é ho mem le vanta a ca be ça igual men te no triunfo e na der ro ta. Mas tem que ser ho mem mes mo quan do a der ro ta é aca chapante. Principalmente a meio pal mo do olho do fu ra cão, quan do não há pra on de correr. 22