Paisagem, cultura e percepção: um estudo na cidade de Presidente Tancredo Neves, Bahia.



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Transcrição:

Paisagem, cultura e percepção: um estudo na cidade de Presidente Tancredo Neves, Bahia. Ismael Mendes Andrade Graduando em Licenciatura em Geografia Universidade do Estado da Bahia Campus V Bolsista da PICIN/UNEB Graduando em Bacharelado Interdisciplinar em Saúde Universidade Federal do Recôncavo da Bahia ismaelgeosaude@yahoo.com.br Crispina de Jesus Santos Licenciada em Geografia Universidade do Estado da Bahia Campus V crispynajs@hotmail.com Luiz Henrique Silva Mota Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Graduando em Bacharelado Interdisciplinar em Saúde lhsmota@live.com Resumo O presente artigo, parte do estudo de transformação ambiental e cultural da Nascente Chafariz na cidade de Presidente Tancredo Neves, Bahia. Tendo como principal objetivo realizar uma investigação na transformação no/do lugar da cidade a partir do uso da nascente. A pesquisa se constituiu através da análise de entrevistas de doze moradores e de um representante da secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento, além de registros fotográficos e observações in loco. Desta forma, buscou-se investigar a aplicação de políticas públicas ambiental no município, bem como a importância da nascente para os moradores. O resultado encontrado foi à rápida mudança na paisagem, poluindo e modificando a área da nascente, o apego dos moradores em questão a nascente, além de uma politica ambiental em projeto para a revitalização do local de estudo. Autores como Tuan (1980) e Rieper, embasaram o trabalho numa perspectiva da abordagem cultural e perceptiva do espaço vivido e da paisagem transformada. Palavras Chaves: Paisagem; Cultura; Percepção; Espaço vivido; Políticas públicas. Introdução Atualmente a degradação ambiental tem inspirado uma grande quantidade de trabalhos referentes à temática. Sendo que o espaço vivido, como palco das relações homem meio, torna-se o principal objeto de estudo geográfico. Neste sentido, Carlos (1996, p. 15), afirma que o lugar abre a perspectiva para se pensar o viver e o habitar, o uso e o consumo, os processos de apropriação do espaço.

A partir do estudo do lugar vivido e da percepção, o presente trabalho tem como objetivo analisar a Nascente Chafariz, enfocando a sua importância para os moradores da cidade de Presidente Tancredo Neves. Nesta perspectiva, busca-se caracterizar a Nascente Chafariz a partir das observações em campo, averiguando a sua importância para a dinâmica da cidade em estudo e a aplicação de políticas públicas de revitalização ambiental. A cidade de Presidente Tancredo Neves está situada na região homogênea de Valença, no território de identidade do Baixo Sul da Bahia. Segundo dados do IBGE (2010) Presidente Tancredo Neves possui uma área de 417 Km², e uma população de 23.846, fazendo limites com Mutuípe, Valença e Teolândia. A cidade se emancipou em 1989, sendo neste caso uma cidade com apenas 22 anos de reconhecimento. A escolha desse objeto de estudo partiu da necessidade de análise do processo degradativo da nascente Chafariz e da sua importância histórica para Presidente Tancredo Neves, haja vista que, lhe foi atribuído, durante muitos anos a função de abastecimento de água para toda a cidade. Entretanto esse trabalho foi desenvolvido em três etapas. No primeiro momento que se estende até o fim do estudo, compreende a pesquisa bibliográfica em livros, artigos dentre outros. No segundo momento, o trabalho foi realizado em um contato direto com os moradores da cidade, onde foram entrevistados um universo de 12 moradores com faixa etária de 19 a 68 anos, além de um representante de órgão público, sendo este o secretário de Desenvolvimento e Meio Ambiente Sr. Bonifácio Rocha Andrade. No terceiro momento, buscou-se registros fotográficos para uma analise das variáveis da degradação ambiental de acordo com os dados colhidos na investigação em campo. Diante da necessidade de averiguar a importância da nascente chafariz para os tancredense, utilizamos como estratégia técnica a pesquisa qualitativa. Nesta perspectiva, Moraes (2007, p. 89) afirma que: a analise textual qualitativa é um processo integrado de análise e de síntese, que se propõe a fazer uma leitura rigorosa e aprofundada de conjuntos de matérias textuais, visando descrevê-los e interpretá-los no sentido de atingir uma compreensão mais elaborada dos fenômenos e dos discursos no interior dos quais foram produzidos.

Com a finalidade de colher depoimentos de alguns fatos vivenciados pelos citadinos tancredense, no tocante a Nascente Chafariz, o critério de escolha dos entrevistados se deu conforme o tempo de vivência dos moradores na cidade, sendo que o público alvo da pesquisa se encontra entre os jovens e os moradores mais antigos. Os conceitos adotados nessa pesquisa são basicamente absorvidos de autores como Ana Rieper que aborda sobre cotidiano e paisagem, numa perspectiva cultural e Yu Fu Tuan, que faz um estudo da topofilia, focando a percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Paisagem, cultura e percepção. O estudo da Nascente Chafariz remete a análise da paisagem em sua totalidade e do cotidiano dos moradores, levando à compreensão dos elementos que contribuíram para a constituição das características do espaço vivido. Ana Rieper em seu artigo Cotidiano e paisagem uma abordagem cultural faz uma discussão sobre a paisagem do Rio São Francisco em uma perspectiva cultural dos valores atribuídos ao lugar, desta forma, afirma que as discussões sobre paisagem tem indicado um caminho de pesquisa da relação de interação entre o homem e o meio em que vive, ressaltando o componente afetivo do espaço para a população. No ambiente em estudo foi possível constatar que a função cultural determinada pelos moradores à nascente foi fundamental para o atual estado degradativo em que se encontra a mesma, conforme a (figura 1) que percebemos o impacto do meio natural com o espaço urbano. Dessa forma, o ambiente em questão leva em consideração a combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos (BERTRAND, 1971, p. 2). Considerando a afirmativa de Bertrand, percebe-se através da fala dos entrevistados, que a escala tempo-espacial, juntamente com a ação antrópica, favoreceu a uma dinâmica paisagística que compromete a qualidade ambiental da nascente Chafariz. Isso é perceptível, quando é exposto pelos entrevistados sobre a utilidade que tinha a nascente no período anterior à emancipação da cidade, e que atualmente perdeu a sua função, como afirma a moradora do centro da cidade dona Maria Helena com 43 anos: Naquela época todo mundo tinha fossa e não era tão contaminado

como hoje. A água era forte e hoje não, mas é por conta do desmatamento. Naquele lugar era cacau. Onde é as casas, tinha cacau. Figura 1 Localização da Nascente Chafariz Neste caso percebe-se que as relações estabelecidas homem/meio favoreceram ao desgaste ambiental da nascente. Foi possível constatar que a nascente se encontra em situação calamitosa, onde a revitalização da área se faz urgentemente necessária, conforme a (figura 2).

Figura 2 Nascente Chafariz em estado degradativo. Na fala de alguns entrevistados, afirma-se que a nascente era a principal fonte de água potável, disponível à população tancredense, e mesmo com a atual falta de qualidade ambiental da água, muitos moradores ainda a utilizam para gastos domésticos, quando falta água da rede pública, como afirma seu Celestino Ambrósio, morador próximo à nascente, que hoje com 68 anos, mora na cidade desde os 9 anos: não utilizo, mas quando falta água, utilizo pra gasto. Alguns dos moradores utilizavam da água por falta de opção, como Marizete de Jesus, 30 que diz: faltava muito à água da embasa, então tinha que utilizar, mas de acordo com as entrevistas realizadas, nota-se que há por parte dos moradores, a noção do estado crítico de contaminação da água e dos males que esta pode trazer à saúde, pois a maioria parou de utilizar a água da nascente em um período de tempo que varia entre 12 a 15 anos. Segundo Rieper, o espaço tem uma carga emotiva, que faz parte da história de quem vive nele. Sua consideração a partir da percepção ganha importância no entendimento das duas instâncias que permeiam o processo de apropriação da natureza o material e o simbólico. A afirmativa de Rieper se faz presente na fala de D. Maria Venceslau, 55, que num tom de nostalgia, relembra com emoção os momentos vividos durante o período de utilidade da nascente.

Eu sinto saudade. Todo mundo lavava, tomava banho. Teve um tempo que dava até polícia. Misturava cigano com a gente, roubava as coisas. Eu mesmo ia 5 horas. Os homens só ia à noite e as mulheres durante o dia. Era bom pra gente lavar a roupa. Nunca é a mesma coisa. Na fonte adianta mais. Quando D. Maria fala da saudade, se refere à dinâmica local estabelecida na localidade em função da qualidade ambiental da nascente. Percebe-se um valor afetivo atribuído àquele espaço, que fez parte de sua vivência e lhe traz na lembrança fatos da sua história pessoal de vida. Em outras falas, nota-se uma satisfação na comodidade em receber água em casa, sem precisar carregá-la. No entanto percebe-se nessas falas que existe lembranças do ambiente saudável da nascente, a qual atualmente possui suas margens cercadas por domicílios e até mesmo uma indústria metalúrgica em suas proximidades. Na fala de Marizete de Jesus, 30, ela afirma que sente saudade da nascente: só da água, mas de pegar os baldes não. Tinha época que ficava uma filona pra pegar água. Tuan (1980) faz um estudo topofílico, abordando os valores afetivos atribuídos pelo indivíduo ao espaço, assim é perceptível, principalmente nas falas de pessoas com longo período de moradia na cidade, que há a atribuição do valor afetivo, bem como o desejo de que haja a revitalização da nascente. Também é constatado que alguns dos moradores mais jovens possuem certo desapego com relação à nascente, pois quando abordados sobre a nascente, é muito comum ouvir que não conhece e que nunca foi ao local, sendo que a nascente se encontra praticamente uma rua após o local de entrevista. Observe as falas: Está em péssimo estado. Se dependesse de mim podia acabar com aquilo (Andréia, 24); Eu nem lembrava mais que tinha, tem tanto tempo que eu desci ali (Uilma, 25). Tuan (1980) define percepção como tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados. (Tuan 1980, p. 4). Nesse sentido, a percepção do lugar varia de acordo com o período de vivência do indivíduo, sendo que, cada pessoa percebe a paisagem geográfica de uma forma muito particular frente às suas ações sobre o meio e segundo seus valores.

Políticas Públicas Ambientais Segundo a Lei de Educação Ambiental, no cap. I, Art. 3 cabe ao poder público, nos termos dos art. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente. No intuito de contemplar a investigação sobre a aplicação de políticas públicas ambientais, direcionamos uma entrevista para o secretário de Meio ambiente e desenvolvimento, Sr. Bonifácio Rocha Andrade. Vale ressaltar que a entrevista, proporcionou uma importantíssima contribuição à pesquisa. Quando indagado se existe algum projeto de revitalização para a Nascente, ele informou que existe um projeto de saneamento básico, em fase de conclusão, que visa contemplar toda a cidade com a canalização de esgotamento sanitário, pois segundo as informações adquiridas, nenhum bairro da cidade possui esgoto canalizado. Por isso todo o esgoto local entra em contato com a nascente e com o riacho próximo à mesma, logo, conclui-se que a água está inteiramente comprometida em sua qualidade ambiental. Segundo Sr. Bonifácio, este projeto terá um custo em torno de 8 milhões, incluindo a estação de tratamento. Apesar da água da nascente Chafariz ser aparentemente incolor, essa informação do Sr. Bonifácio, comprovou a suspeita externa e visível de poluição. A suspeita se torna ainda mais presente devido ao fato de estar totalmente abandonada e ser rodeada de lixos e por casas em sua proximidade. Diante do planejamento e da aparente ansiedade do secretário de meio ambiente em desenvolver esse projeto, é satisfatório que, mesmo à passos lentos, tenha-se uma ação de política pública ambiental voltada para a minimizar os impactos ambientais e consequentemente para a melhoria da qualidade de vida da população tancredense. Sobre a importância da nascente, ele afirma que esta, é muito importante e que desde o período do povoado, as pessoas a utilizavam, e até mesmo ele já utilizou, mas reconhece que atualmente a nascente perdeu totalmente a sua importância, pois a sua

qualidade ambiental não permite que ninguém mais utilize a água, embora, algumas pessoas ainda utilizam para lavar roupas e carros. O projeto visa contemplar a nascente com a construção de um dique e a revitalização da área, arborizando o local, que segundo Sr. Bonifácio, não se encontra totalmente em posse da prefeitura. Ainda segundo ele, a prefeitura tem como meta, concluir o plano de saneamento básico no máximo até o ano de 2011. Durante as entrevistas com os moradores, muitos deles expressaram o desejo de rever a nascente Chafariz em boas condições, cuidado este que os moradores atribuíram, em suas falas, o poder público como principal responsável, no entanto, sabe-se que este é um papel também para todos tancredense. Desta forma, percebe-se a necessidade de uma intervenção em Educação Ambiental que vise despertar nos indivíduos o senso crítico-reflexivo que leve a uma ação concreta. Ação esta que pode se refletir em forma de maior cobrança ao poder público para que este tenha mais pressa em suas ações de políticas em Educação Ambiental. Desta forma, Loureiro (2006, p. 29) afirma que: A Educação Ambiental promove a conscientização e esta se dá na relação entre o eu e o outro, pela prática social reflexiva e fundamentada teoricamente. A ação conscientizadora é mútua, envolve capacidade crítica, diálogo, a assimilação de diferentes saberes, e a transformação ativa da realidade e das condições de vida. Refletir e questionar são exercício indispensável ao cidadão, pois compreender a realidade possibilita a consciência de que as transformações ocorridas no meio ambiente é responsabilidade de todo ser humano, pois é através da ação antrópica no espaço vivido que o homem provoca alterações no meio ambiente. Neste sentido, considerando políticas públicas como ações planejadas do governo, enquanto instância do Estado capaz de operacionalizar políticas universalistas, includentes e igualitárias (LOUREIRO, 2006. p. 87). Cabe ao poder público, instrumentalizar uma educação crítica e política capaz de preparar o indivíduo para intervir na realidade vigente. Durante as entrevistas com os moradores, algumas falas chamaram a atenção, pois evidenciam tanto o descaso, como o apego afetivo à Nascente Chafariz. Na fala de D. Maria Helena, 43, nota-se uma breve reflexão, quando afirma que: o pior é que a

gente só faz destruir ; Já D. Maria Venceslau, 58, em um tom nostálgico diz que: deveria ficar uma coisa pra história. Outras falas remetem ao descaso, como uma fala de uma jovem que preferiu não ser identificada, a qual chamou a atenção quando afirma que o Chafariz não é do meu tempo, não. Nesse sentido, a nascente Chafariz, apesar de não possuir a mesma importância de quinze anos atrás, continua sendo utilizado, mesmo que em menor frequência, por isso o que está realmente faltando são ações que possibilite a revitalização da mesma. Considerações finais A partir das entrevistas realizadas com os moradores do centro da cidade, percebemos que os relatos de alguns, dos entrevistados, vão ao encontro que está expresso em Tuan (1980), pois para o autor, aquilo que valorizamos ou amamos é algo intrínseco a individualidade de cada indivíduo em determinada época. A partir de algumas entrevistas, principalmente com o público a partir dos 50 anos, percebe-se uma relação forte e afetiva que às vezes os entrevistados retratam com certo tom nostálgico. Dessa forma a importância do vínculo afetivo com o ambiente nos reporta, contudo ao pensamento de Tuan (1980), que fortalece e contribui para ampliação do conhecimento geográfico. Propõe que a consciência do passado é um elemento importante no amor pelo lugar, encarada como uma herança ou memória que deve ser preservada e que pode ser tanto individual quanto social e reforçada nas relações pessoais espaço vivido. Entretanto, a grande contribuição que a corrente geográfica da percepção pode oferecer a questão ambiental, dada a sua grande importância nos estudos acerca do meio ambiente é não menos importante, para os estudos geográficos em geral. Diante das análises realizadas, torna-se evidente que houve grandes transformações na dinâmica da cidade desde o período em que a água da nascente deixou de fazer parte do cotidiano dos citadinos. Nota-se que a representatividade da Nascente no espaço vivido da cidade de Tancredo Neves, mobilizou o processo de formação da cidade, sendo esta, a principal fonte aquífera de abastecimento dos moradores. Por isso, tinha grande importância para o município, mas atualmente, não passa de uma nascente poluída e abandonada.

Felizmente, existe um projeto de revitalização ambiental que visa o melhoramento e qualidade da nascente, através do sistema de esgotamento sanitário da cidade e da construção de um dique arborizado. No entanto, constatou-se que a importância, principalmente dos jovens, precisa ser trabalhada em um processo educativo críticoreflexivo, que pode ser viabilizado através do processo de Educação Ambiental. Referências BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global esboço metodológico. Caderno de ciências da Terra: Universidade de São Paulo Instituto de Geografia. São Paulo, 1971. CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: Hucitec, 1996 LOUREIRO, Carlos Frederico B. Trajetória e fundamentos da educação ambiental. 2.ed.- São Paulo: Cortez, 2006. MORAES, Roque. Mergulhos discursivos: análise textual qualitativa entendida como processo integrado de aprender, comunicar e interferir em discursos. In: GALIAZZI, Maria do Carmo; FREITAS, José Vicente de (orgs.). Metodologias emergentes de pesquisa em Educação Ambiental. 2. ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007. RIEPER, Ana. Cotidiano e paisagem uma abordagem cultural. Disponível em http://www.canoadetolda.org.br/memoriasbsf/cotidiano%20e%paisagem%20- %20uma%20abordagemCultural.pdf acesso em 29 de março de 2009. TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atividades e valores do meio ambiente. São Paulo: Difel, 1980. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 acesso em: 28 de junho de 2011.