I-162 - SISTEMA DE BONIFICAÇÃO PELO USO DA ÁGUA NO BAIRRO JESUS DE NAZARETH - UMA PROPOSTA PILOTO PARA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA.



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Transcrição:

I-162 - SISTEMA DE BONIFICAÇÃO PELO USO DA ÁGUA NO BAIRRO JESUS DE NAZARETH - UMA PROPOSTA PILOTO PARA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA. Eliane Amite Alabrin (1) Janaina Anita Marques Gonçalves Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Luciana Cabral Costa Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Marcela Aparecida Soprani Graduanda em Oceanografia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Monica Pertel Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Endereço (1) : Av. Marechal Mascarenhas de Morais, 2601, edifício Jussara, apto 301 Bento Ferreira Vitória- ES- CEP: 29.050-265 - Brasil - Tel: (27) 3325-4144 Cel: (27) 9941-1240- e-mail: elianelomba@yahoo.com.br. RESUMO Este trabalho propõe sistemas de bonificação pelo uso da água para o bairro Jesus de Nazareth, comunidade periférica do município de Vitória, ES. Diferentes cenários estabelecidos para o bairro Jesus de Nazareth permitiram a avaliação dos eventuais ganhos em economia de água e de recursos financeiros que os sistemas de bonificação propostos produziram na comunidade considerada. PALAVRAS-CHAVE: Sistema de Bonificação, Redução de Consumo, Água. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS A água, além de ser um bem indispensável à sobrevivência humana e de todas as outras espécies, é um importante insumo para a maioria das atividades econômicas, exercendo grande influência sobre a qualidade de vida da população. Por isso, as comunidades, ao longo do tempo, aprimoraram formas variadas de extrair da natureza esse recurso tão necessário ao desenvolvimento de suas atividades. Sistemas de abastecimento de água individuais são indicados apenas para assentamentos de baixa densidade como, por exemplo, no caso das áreas rurais. Quando a comunidade cresce e a densidade demográfica aumenta, a solução coletiva passa a ser mais econômica e permanente sendo de maior interesse do ponto de vista sanitário, pois unifica a proteção do manancial e a supervisão do sistema. Hoje, no entanto, com o crescimento populacional, a redução na quantidade e na qualidade dos mananciais, há necessidade de se criar medidas eficientes de gestão das águas, como investimentos na diminuição das perdas nas redes de distribuição e a reeducação dos hábitos de consumo. Medidas como essas podem provocar um forte impacto em termos de uma utilização mais eficiente, podendo inclusive adequar os sistemas de água de modo a torná-los sustentáveis economicamente, garantindo sua manutenção e ampliação. Este trabalho tem por objetivo estabelecer um sistema de bonificação pelo uso da água que incentive a racionalização do consumo no bairro Jesus de Nazareth, município de Vitória, estado do Espírito Santo. Diferentes cenários estabelecidos para o bairro Jesus de Nazareth deverão permitir a avaliação dos eventuais ganhos em economia de água e de recursos financeiros que o sistema proposto eventualmente venha a produzir na comunidade considerada. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

DESENVOLVIMENTO CONSIDERAÇÕES GERAIS A água tem sido gradativamente reconhecida com um recurso escasso em âmbito mundial, seja devido às suas limitações relacionadas à qualidade ou à quantidade (Kemper, Apud Campos & Sturdart, 2003). No Brasil, de acordo com o Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto produzido pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, no ano de 2001, 92,4% da população urbana do Brasil era atendida com abastecimento de água índice considerado razoavelmente bom. Dessa porcentagem 75,5% era atendida por companhias estaduais de água e esgotos e o restante por serviços municipais. Tsutiya (2004) observa, no entanto, que se consideradas as perdas de faturamento, a situação do país é considerada preocupante, já que o valor médio nacional de tal perda foi de 40,6% no ano de 2001. Apesar de todos os problemas que são causados por falta de água, o consumidor brasileiro ainda não tem plena consciência da importância do uso racional da mesma, sendo esse um tema amplo que envolve grande diversidade de linhas de ação como mudanças de hábitos e culturas, aspectos normativos, legais e tecnológicos (Tsutiya, 2004). A situação de escassez vem incentivando a implementação de Programas de Conservação da Água em diferentes regiões do país, programas esses que têm como principal objetivo garantir o atendimento às diversas demandas nos aspectos quantitativo e qualitativo. No início da década passada (1991), a Informal Copenhagem Consultation inovou com a visão da água como um bem econômico. Aceitar tal proposta tem algumas implicações, sendo a principal delas tornar o usuário suscetível a incentivos que podem variar desde cobranças pelo uso da água, taxação da poluição e bonificação pelo uso racional da mesma (Campos & Sturdart, 2003). O BAIRRO JESUS DE NAZARETH E SEU SISTEMA PÚBLICO DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA O bairro Jesus de Nazareth está localizado no município de Vitória, às margens da baía de Vitória. Tem como principal via de acesso a avenida Beira Mar, o que facilita o trânsito de veículos para o centro da cidade, praias e bairro nobres da zona norte. Dados do último censo demográfico (IBGE, 2000) indicam que o bairro tem população de 3.374 moradores, distribuídos num total de 845 domicílios, o que conduz a uma taxa de ocupação de aproximadamente 3,9 habitantes/domicílio. O mesmo pode ser classificado como de baixa renda, com a maioria de seus moradores dedicando-se a atividades pesqueiras, artesanais ou prestação de serviços braçais. Toda a água consumida pelo bairro Jesus de Nazareth provêem do Rio Jucu, através das estações de tratamento de água de Cobi e Vale Esperança. O abastecimento é realizado a partir de uma única adutora de 150mm. As residências localizadas nas cotas mais baixas do bairro (aproximadamente 85 economias) são abastecidas por gravidade. Nas cotas mais elevadas o abastecimento é realizado por duas elevatórias instaladas em série e que operam ininterruptamente. O consumo médio de água nas residências, obtido a partir da média mensal do consumo hidrometrado no bairro, é de 11,23 m³/mês. Uma foto aérea do bairro Jesus de Nazareth é apresentada pela Figura 01. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2

Figura 01- Vista aérea do bairro Jesus de Nazareth. OS SISTEMAS DE BONIFICAÇÃO O atual sistema de tarifação da água aplicado na Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) é progressivo, classificando os consumidores por classe social e faixa de consumo. Adicionalmente prevê, para os consumidores não hidrometrados, um consumo mínimo faturável de 10 m³/mês. Os valores praticados na RMGV, por classe social e faixa de consumo, estão sumarizados na Tabela 01. Categoria Tarifa praticada por faixa de consumo (R$/m 3 ) 0 15 m 3 /mês 16 30 m 3 /mês Acima de 30 m 3 /mês Social 0,58 2,02 2,89 Popular 1,13 2,66 3,21 Padrão 1,45 2,88 3,21 Padrão superior 1,62 3,06 3,21 Tabela 01 Tarifas praticadas, por faixa de consumo, na RMGV-Fonte: CESAN (2004). Dois diferentes sistemas de bonificação são avaliados neste trabalho. Em ambos os sistemas estabelecem-se, a partir de um patamar mínimo de redução no consumo médio mensal, descontos progressivos nos valores das contas mensais de água. Estes sistemas de bonificação podem ser descritos da seguinte maneira: Primeiro sistema de bonificação: a) Um desconto de 15% sobre o valor final da conta mensal de água para o consumidor que atingir uma redução de consumo de 15% sobre o consumo médio mensal. b) Para cada 1% de redução no consumo acima da cota de 15%, um desconto adicional de 1% na conta mensal de água; c) Reduções inferiores a 15% não serão bonificadas. Segundo sistema de bonificação a) Um desconto de 20% sobre o valor final da conta mensal de água para o consumidor que atingir uma redução de 20% sobre o consumo médio mensal. b) Para cada 1% de redução no consumo acima da cota de 20%, um desconto adicional de 2% na cota mensal de água. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3

c) Reduções inferiores a 20% não serão bonificadas. AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE BONIFICAÇÃO Neste trabalho foram estimados os consumos acumulados e valores faturados que deveriam ter sido registrados entre os meses de janeiro e junho de 2003 se considerados os sistemas de bonificação apresentados no item anterior. Os consumos acumulados e valores faturados foram estimados assumindo-se reduções de consumo oscilando entre 5 e 30% e a adoção das diferentes tarifas estabelecidas pela Companhia Estadual de Saneamento. RESULTADOS Os sistemas de bonificação propostos neste trabalho estabelecem, de fato, perspectivas de reduções lineares das contas de água com as reduções de consumo de água nos domicílios, considerada uma cota mínima de redução (15% ou 20% do consumo médio mensal), abaixo das quais não ocorreriam reduções nos valores cobrados pela Companhia Estadual de Saneamento. A Figura 02 ilustra a variação do volume micromedido acumulado, que seria registrada entre os meses de janeiro e junho de 2003, se consideradas reduções de consumo entre 5 e 30%. Considerando-se uma eventual economia mensal de 15% ao longo do período em análise, praticada por todos os domicílios do bairro, a comunidade de Jesus de Nazareth teria seu consumo micromedido acumulado reduzido de 34.526,00 m³ para 29.347,10 m³. Figura 02 Volume micromedido acumulado entre janeiro e junho de 2003, consideradas diferentes reduções de consumo. A Figura 03, por sua vez, apresenta o valor faturado acumulado para o mesmo período, considerando uma redução uniforme em todos os domicílios da comunidade, a adoção da tarifa padrão para a faixa de consumo de 0 (zero) a 15m 3 /mês e as condições de contorno estabelecidas pelo primeiro sistema de bonificação discutido neste trabalho. Esse gráfico ilustra o fato de que reduções uniformes de consumo de água oscilando entre 0 e 15% (exclusive o limite de 15%) não implicariam em reduções nos valores faturados pela Companhia Estadual de Saneamento. A partir de 15%, conforme discutido anteriormente, as reduções seriam lineares e proporcionais às reduções obtidas. Para uma economia de 30% (uniforme e praticada por todos os domicílios do bairro Jesus ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4

de Nazareth), o total gasto pela comunidade em contas de água entre janeiro e junho de 2003 seria reduzido de R$ 50.062,70 para R$ 24.530,72. Figura 03 Valor faturado acumulado entre janeiro e junho de 2003, considerado o sistema de bonificação proposto. Gráficos semelhantes foram produzidos para as demais categorias e faixas de consumo. A Figura 04, por exemplo, ilustra a economia produzida no bairro Jesus de Nazareth considerando-se a cobrança da tarifa social praticada na faixa de consumo de 16 a 30 m³/mês (R$ 2,02/m³). Do gráfico pode-se observar que o total gasto pela comunidade com contas de água seria reduzido de aproximadamente R$ 70.000,00 (R$ 69.742,52) para pouco menos de R$ 35.000,00 (R$ 34.173,83), considerando um cenário no qual todas as residências diminuíssem esse consumo em 30%. Figura 04 Valor faturado acumulado entre janeiro e junho de 2003, considerando o primeiro sistema de bonificação proposto. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5

Uma outra simulação é apresentada pela Figura 05, na qual foi considerado o segundo sistema de bonificação proposto neste trabalho. Esse segundo sistema, embora não represente qualquer ganho para a comunidade para reduções de consumo inferiores a 20%, estabelece uma maior bonificação pela economia de água (para reduções de consumo superiores a 20%, 2% de redução na conta de água para cada 1% de economia). Da simples inspeção da FIGURA 04 pode-se observar que o gasto com as contas de água no bairro Jesus de Nazareth seria reduzido de aproximadamente R$ 110.000.00 (R$110.828,46) para algo em torno de R$ 42.000,00 (R$ 42.668,95), quando considerada uma redução do consumo de água de 30% em toda comunidade. Figura 05 Valor faturado acumulado entre janeiro e junho de 2003, considerando o segundo sistema de bonificação proposto. CONCLUSÕES Este trabalho permitiu avaliar os possíveis impactos da adoção de um sistema de bonificação pela economia de uso da água em uma comunidade de baixa renda da Região Metropolitana da Grande Vitória. Diversos cenários foram construídos, considerando-se diferentes possíveis reduções de consumo e diferentes sistemas de bonificação pela economia de água. As avaliações dos diferentes cenários estabelecidos neste trabalho indicaram que substancias economias de água podem ser estabelecidas com a implementação de um sistema de bonificação pelo uso da água. Os valores estimados para o bairro de Jesus de Nazareth (bairro com uma população de pouco mais de 3.000 habitantes), se extrapolados para a Região Metropolitana, podem permitir que os sistemas de abastecimento de água deixem de trabalhar no limite de suas capacidades. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. CESAN. Deliberação 2996/2004. Vitória, 2004. 2. IBGE. Censo Demográfico. Rio de Janeiro, 2000. 3. CAMPOS, Nilson; STUDART, Ticiana. Gestão das águas: princípios e práticas; 2ªed., Porto Alegre: ABRH, 2001. 4. TSUTIYA, Nilton Tomoyuki. Abastecimento de água. 1ªed. Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Policlínica da Universidade de São Paulo: São Paulo, 2004. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6