ANÁLISE DA TAXA DE REPROVAÇÃO NA DISCIPLINA DE ANATOMIA HUMANA EM CURSOS DA SAÚDE



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Transcrição:

ANÁLISE DA TAXA DE REPROVAÇÃO NA DISCIPLINA DE ANATOMIA HUMANA EM CURSOS DA SAÚDE ANALYSE OF REPROVING RATE IN DISCIPLINE OF HUMAN ANATOMY IN THE HEALTH COURSES Marco Aurélio de Azambuja Montes 1 & Claudia Teresa Vieira de Souza 2 1 Doutorando da Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde/Instituto Oswaldo Cruz/ Fundação Oswaldo Cruz -Rio de Janeiro/Brasil, e-mail: montes@ioc.fiocruz.br 2 Docente do Programa Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde/Instituto Oswaldo Cruz/Pesquisadora do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas/Fundação Oswaldo Cruz -Rio de Janeiro/Brasil, e-mail : clau@fiocruz.br Resumo No presente trabalho avaliamos as possíveis causas relacionadas às altas taxas de reprovação na disciplina de Anatomia Humana com o objetivo de conseguirmos, a partir desta análise, desenvolvermos estratégias facilitadoras para o ensino e a aprendizagem. A partir de informações dos alunos matriculados na disciplina de anatomia humana nos anos de 24 a 26 em uma instituição de ensino superior do Rio de Janeiro verificamos a alta proporção de alunos reprovados. Buscamos analisar as características relacionadas ao ensino da disciplina e identificar as principais razões a justificar o rendimento destes alunos. Esta análise visa nortear estudo que busca conhecer a percepção dos discentes em relação a seu desempenho e sugestões. A partir daí pretendemos buscar possíveis contribuições para o desenvolvimento de estratégias na disciplina com o objetivo de facilitar o processo de ensino-aprendizagem. Palavras-chave: Anatomia Humana, estratégias; ensino-aprendizagem Abstract In the present paper we evaluate the possible causes related to the high reproving rates in discipline of Human Anatomy with the aim to obtain, with this analyze, the development of facilitated strategies of teaching and learning. From information of the students registered in the university at Rio de Janeiro in the discipline of human anatomy in years of 24 to 26 we identified high ratio of disapproved students. We search to analyze the characteristics related to the education of discipline and to identify the main reasons to justify the income of these students. This analysis aims at to guide study that it search to know the perception of the learning in relation its performance and suggestions. We intend to search possible contributions for the development of strategies in discipline with the objective to facilitate the teaching-learning process. Key-words: Human Anatomy; strategies, teach-learning

Introdução A disciplina de anatomia humana que é uma disciplina obrigatória, ministrada no ciclo básico de todos os cursos da área da saúde e de alguns da área das ciências humanas apresenta desempenho insatisfatório, com níveis de reprovação elevados que podem muitas vezes ser conseqüência das características peculiares da disciplina. Em busca de aperfeiçoamento e melhoria na qualidade do ensino de anatomia humana Montes, Souza & Lemos (25b) descreveram de modo criterioso as principais dificuldades que os alunos apresentaram ao cursarem a disciplina de anatomia humana. Algumas delas foram: (a) o conteúdo programático da disciplina que costuma ser muito extenso e nem sempre é adequado aos objetivos do curso; (b) os professores muitas das vezes não possuem nem a formação ideal nem vivencia no magistério para adequar o enfoque específico do curso ao perfil cognitivo, social e afetivo dos alunos; (c) o material didático (peças cadavéricas e/ou sintéticas) é, na maioria das vezes, insuficiente para o número de alunos; (d) há reação emocional dos alunos ao contato com o material de estudo (cadáver); (e) formação inadequada dos alunos que dificultam a aprendizagem significativa de conceitos da disciplina; (f) o atual padrão de avaliação dificulta a explicitação por parte dos alunos do conhecimento que têm sobre o tema. Ao considerarmos a avaliação do aluno e da disciplina como uma etapa integrante do processo de ensino e aprendizagem o aluno mal-sucedido, para nós, não é aquele que não aprendeu, mas sim aquele que ainda não aprendeu. Enquanto professores, precisamos estar cientes de que, se a aprendizagem ainda não ocorreu, podem ter existido limitações para trabalhar as diferenças individuais, e os instrumentos utilizados podem não ter sido adequados aos objetivos propostos. Diante deste panorama desafiador nós professores acreditamos que a elaboração de estratégias de ensino e aprendizagem possa contribuir para minimizar algumas destas dificuldades. A avaliação contínua do desenvolvimento da disciplina de anatomia através da atualização de ementas, organização de conteúdos de forma facilitadora para o aprendizado e o conhecimento das principais dificuldades dos nossos aprendizes são fundamentais para o redirecionamento do processo ensino-aprendizagem. Tal pensamento é defendido por Freire (24) que destaca como eixo norteador de sua prática pedagógica que a importância de estimular os educandos é fundamental para uma reflexão crítica da realidade em que este está inserido. A contextualização do tema abordado reforça a necessidade do docente, preocupado em proporcionar algo de bom para si mesmo, para os alunos e para a sociedade em realizar um trabalho consciente e comprometido com as necessidades concretas do contexto social em que vive e desenvolve o seu ofício (Rios, 23). No presente trabalho pretendeu-se avaliar o desempenho da disciplina de anatomia humana em cursos da área da saúde, visando o re-direcionamento de estratégias facilitadoras de ensino e aprendizagem. Metodologia Inicialmente realizamos um levantamento, das informações disponíveis, a partir do registro em atas de todos os alunos matriculados na disciplina de anatomia humana por período letivo (1 o e 2 o semestres, respectivamente) referente aos anos de 24 a 26 dos cursos, de uma IES do Rio de Janeiro, que contemplam a disciplina em seu currículo: Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição e Odontologia. Embora a disciplina seja a de anatomia humana cada curso possui uma abordagem que visa priorizar os conteúdos que terão maior relevância. O ensino de anatomia no Brasil obedece a

dois critérios: utilizando-se de uma abordagem sistêmica aonde se descrevem todos os órgãos de um sistema do corpo humano ou uma abordagem segmentar na qual são descritos todos os órgãos de uma determinada região de nosso corpo. Assim na Medicina o conteúdo programático da disciplina ministrado refere-se a três períodos, conforme descrito no quadro1. Quadro 1 Conteúdo programático da disciplina de Anatomia Humana no curso de Medicina ANATOMIA 1 ANATOMIA 2 ANATOMIA 3 MEDICINA Estudo segmentar dos membros superiores e inferiores (ossos, articulações, músculos, nervos e vasos). Estudo segmentar de pescoço e tronco - tórax, abdome e pelve (ossos, músculos, órgãos, nervos e vasos). Estudo sistêmico do Sistema Nervoso (Central e Periférico). Para os cursos de Nutrição e Farmácia a disciplina é estudada ao longo de um único semestre (quadro 2) com o estudo dos diferentes sistemas do corpo humano sendo o currículo bastante semelhante. Quadro 2. Conteúdo programático da disciplina de Anatomia Humana nos cursos de Farmácia e Nutrição FARMÁCIA NUTRIÇÃO ANATOMIA Estudo sistêmico dos sistemas circulatório, respiratório, digestório, urinário e reprodutores masculino e feminino. Nos cursos de Educação Física e Fisioterapia a disciplina é ministrada em dois períodos sendo que o conteúdo do primeiro período é comum para os dois cursos, apresentando conteúdos diferentes (por conta de enfoques específicos para cada atividade profissional) no decorrer do segundo período da disciplina (quadro 3). Quadro 3.Conteúdo programático da disciplina de Anatomia Humana nos cursos de Educação Física e Fisioterapia EDUCAÇÃO FÍSICA FISIOTERAPIA ANATOMIA 1 ANATOMIA 2 Estudo sistêmico dos sistemas circulatório, respiratório, digestório, urinário e reprodutores masculino e feminino. Estudo sistêmico do aparelho locomotor sistemas esquelético, articular e muscular (ossos, articulações e músculos). Estudo sistêmico dos sistemas circulatório, respiratório e nervoso (com priorização para este ultimo).

No curso de Enfermagem a disciplina é ministrada também em dois períodos com conteúdos bastante semelhantes aos do curso de Medicina nos seus dois primeiros períodos (quadro 4) diferenciando-se um curso do outro pelo fato de que o aluno da Enfermagem não trabalha com a dissecação (o que é uma característica do aluno de Medicina em nossa instituição). Quadro 4. Conteúdo programático da disciplina de Anatomia Humana no curso de Enfermagem ENFERMAGEM ANATOMIA 1 ANATOMIA 2 Estudo segmentar dos membros superiores e inferiores (ossos, articulações, músculos, nervos e vasos). Estudo segmentar de pescoço e tronco - tórax, abdome e pelve (ossos, músculos, órgãos, nervos e vasos). No curso de Odontologia que também oferece aos seus alunos dois períodos letivos de anatomia os enfoques misturam (conforme quadro 5) o ensino da anatomia sistêmica e segmentar. Quadro 5. Conteúdo programático da disciplina de Anatomia Humana no curso de Odontologia ODONTOLOGIA ANATOMIA 1 ANATOMIA 2 Estudo dos sistemas circulatório, respiratório, digestório e nervoso. Estudo segmentar de cabeça e pescoço. Estudo segmentar de cabeça e pescoço com enfoque mais especifico para boca (estudo dos dentes). A apresentação dos resultados foi realizada a partir da proporção de alunos reprovados, ou seja, com média inferior a cinco (5,) em relação à amostra total de alunos matriculados na disciplina nos anos de 24, 25 e 26. Devemos explicar que nos cursos que possuem currículos semelhantes (conforme mostrado nos quadros acima) a análise foi feita de forma concomitante. Isto ocorreu com os cursos de Farmácia e Nutrição e no primeiro período de anatomia de Educação Física e Fisioterapia. O departamento de anatomia desta instituição conta com 22 professores com graduações diversas (médicos, odontólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, biólogos) que atuam indistintamente ministrando aulas para os diversos cursos buscando oferecer a cada um deles o enfoque necessário a uma boa formação profissional. O professor com menos tempo na instituição possui dez anos de casa. A metodologia de ensino aplicada aos diferentes cursos é semelhante: aulas teóricas expositivas (utilizando-se de slides como recurso audiovisual) e aulas práticas aonde os conteúdos teóricos são visualizados. O material para estudo em laboratório (cadáver ou órgãos isolados) é suficiente para as aulas (relação cadáver/ aluno de 1 para 8) e para que os alunos possam rever os temas abordados ao longo da semana (o anatômico permanece disponível para estudo fora do horário das aulas de segunda a sexta-feira de 7 às 22 horas). As avaliações (em número de três a cada período) são realizadas com provas teóricas seguidas por uma prova prática do tipo gincana aonde os discentes respondem a perguntas previamente marcadas nas peças cadavéricas passando a pergunta seguinte após um intervalo de

tempo (que normalmente é de um minuto). Da média aritmética da prova teórica e prática obtemos a nota da avaliação. Fundamentação do Conhecimento empírico Para favorecer o entendimento das questões abordadas neste trabalho, torna-se fundamental contextualizar alguns problemas relacionados à disciplina de anatomia humana percebidos e descritos por Montes, Souza, Lemos (25b), em relação aos seguintes itens, sucintamente apresentados a seguir: Estrutura da disciplina: a disciplina é oferecida nos primeiros períodos do ciclo básico dos cursos (primeiro, segundo e terceiro períodos) momento em que muitos dos alunos ainda não sabem com certeza se a opção feita no vestibular é realmente o que desejam como futuros profissionais (e em paralelo a isto muitos desconhecem as funções a serem desempenhadas nas profissões por eles escolhidas). Apresenta também conteúdo extenso, muitas vezes incompatível com a carga horária disponibilizada para a disciplina e com a necessidade de formação de um determinado profissional. A falta da adequação do conteúdo da AH às especificidades de cada área profissional dificulta nossos aprendizes a vislumbrarem com objetividade num futuro próximo utilizarem destes conhecimentos. Perfil dos professores: em algumas ocasiões falta de conhecimento por parte do corpo docente dos objetivos específicos do curso com o qual estão trabalhando (a graduação do docente é diversa do curso em que atua). Com alguns docentes verifica-se incoerência entre o ensino por ele ministrado e a sua forma de avaliação (muitas vezes falta ao professor didática para atrelar o conteúdo programático à realidade dos profissionais daquele curso. Porém, na elaboração de suas avaliações, mesmo que artificialmente, concebe estas associações que aumentam ainda mais as dificuldades dos alunos em responder estas avaliações). Em relação aos alunos: nossos alunos muitas vezes apresentam deficiência na quantidade e qualidade de conceitos prévios existentes na sua estrutura cognitiva (subsunçores segundo Ausubel, citado por Moreira, 1995) que dificultam quaisquer tipos de aprendizagem. Apresentam dificuldade na realização das provas práticas devido ao fato de que elas (na maioria das vezes) obrigam os alunos a resolvê-las em intervalos de tempo relativamente pequenos (os quais podem comprometer o bom desempenho por condições unicamente emocionais). A dificuldade no aprendizado da matéria prática (dentro dos laboratórios) talvez possa ser explicada pelo número pequeno de peças ou pelo número excessivo de alunos (laboratórios lotados mesmo que contendo material de estudo proporcional ao número de alunos provoca diminuição do aprendizado). Características específicas da disciplina: o contato com material cadavérico em laboratório, por exemplo, pode por si só muitas vezes bloquear o rendimento do aluno quer pela dificuldade de adaptação às condições de estudo (laboratórios caracterizados pelo cheiro provocado pela evaporação do formol, principal substância química utilizada na fixação das peças cadavéricas) quer por crenças religiosas que possam vir a dificultar a adaptação ao local e ao material (no caso peças cadavéricas). Por outro lado podemos perceber inadequação do aluno ao fato de que por ser uma disciplina de cunho eminentemente prático que requer para seu aprendizado de tempo a ser despendido no laboratório (os alunos vieram do ensino médio e, na maioria das escolas, o aprendizado passa pelo estudo em casa) o que faz com que os aprendizes demorem a se adaptar.

Entre estes itens que pontuamos percebemos a necessidade de reflexão crítica, imparcial sobre as principais razões para o rendimento de nossos alunos que nos permita adequar o desenvolvimento de nossa disciplina de forma a facilitar o processo de ensino-aprendizagem. Resultados Nos seis períodos analisados do primeiro semestre de 24 ao segundo semestre de 26 cursaram a disciplina de AH 1469 e 1794 alunos, respectivamente. A variação deste quantitativo não segue um padrão pré-determinado, pode estar associado ao número de vagas disponíveis nesta disciplina nos diferentes semestres e possivelmente a uma maior ou menor entrada de alunos na IES. As taxas de reprovação nos cursos em que a anatomia é ensinada ao longo de um único semestre (Farmácia e Nutrição) oscilaram entre 36,67% no segundo semestre de 24 e de 48,39% no primeiro semestre de 25. Esta oscilação pode sugerir além da dificuldade para a aprendizagem da disciplina em seu primeiro contato que a qualidade dos alunos (oriundos do vestibular em cursos com baixa relação candidato-vaga) que vem ingressando nesta IES tem piorado ao longo dos anos (conseqüência, por exemplo, do aumento da oferta de cursos similares em outras instituições). No curso de Enfermagem em que a anatomia é ensinada em dois semestres letivos as taxas de reprovação na anatomia 1 (primeiro período da disciplina) variaram entre 43,13% (segundo semestre de 26) e 55,15% (primeiro semestre de 26). Na anatomia 2 (segundo período da disciplina) estas taxas variaram de 24,51% (primeiro semestre de 25) a 48,72% (segundo semestre de 24). Se por um lado a diminuição relativa dos índices no segundo período de estudo demonstra uma melhor adequação às metodologias utilizadas na disciplina, percebemos que especificamente neste curso (aonde observamos uma grande quantidade de alunos que já trabalham como técnicos na área) a oscilação nos índices de reprovação pode estar relacionada ao fato de uma quantidade maior de discentes trabalhando em regime de plantão e, comprometendo, assim, o acompanhamento seqüencial dos conteúdos ministrados. Gráfico 1. Representação gráfica dos percentuais de reprovação na disciplina de Anatomia Humana do curso de enfermagem em uma IES do Rio de Janeiro, por semestre no período de 24-26. REPROVAÇÃO NO CURSO DE ENFERMAGEM 6 4 PERCENTUAL 3 2 24.1 24.2 25.1 25.2 26.1 26.2 SEMESTRES Legenda: Série 1- Anatomia 1; Série 2 - Anatomia 2 Analisando os cursos de Educação Física e Fisioterapia em que, à semelhança do curso de Enfermagem, possuem dois períodos de anatomia, e nos quais a anatomia1 (primeiro período da disciplina) possui enfoque semelhante os níveis de reprovação variaram entre 36,45% (segundo semestre de 26) e 54,37% (primeiro semestre de 26). No segundo semestre da disciplina, agora com enfoques específicos e diferentes para cada curso, na Educação Física

encontramos valores variando de 11,11% (segundo semestre de 26) e 39,7% (primeiro semestre de 25). Na Fisioterapia estes valores na anatomia 2 (segundo período da disciplina) variaram entre 31,25% (segundo semestre de 26) e 53,7% (segundo semestre de 25). Estas diferenças percentuais entre estes dois cursos, acima descritos podem relacionarse ao fato de que no curso de Educação Física os conteúdos abordados no segundo período foram tema de estudo no ensino médio, favorecendo por parte dos alunos um entendimento melhor e uma consolidação mais fácil dos mesmos. No curso de Fisioterapia o conteúdo principal do segundo período é o sistema nervoso que no ensino médio só é estudado de forma mais genérica, o que pode contribuir para tornar menos fácil o entendimento e a fixação de seus conteúdos e, desta forma, contribuir para percebermos níveis mais elevados de reprovação. Gráfico 2. Representação gráfica dos percentuais de reprovação na disciplina de Anatomia Humana dos cursos de educação física e fisioterapia em uma IES do Rio de Janeiro, por semestre no período de 24-26. REPROVAÇÃO NO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA REPROVAÇÃO NO CURSO DE FISIOTERAPIA 6 4 PERCENTUAL 3 2 6 4 PERCENTUAL 3 2 24.1 24.2 25.1 25.2 24.1 26.2 SEMESTRES 24.1 24.2 25.1 25.2 24.1 26.2 SEMESTRES Legenda: Série 1 - Anatomia 1; Série 2 - Anatomia 2 No curso de Medicina é a disciplina aplicada ao longo de três períodos letivos (anatomias 1,2 e 3). Na anatomia 1 as reprovações variaram entre 39,68% (primeiro semestre de 24) e 55,15% (primeiro semestre de 25). Na anatomia 2 obtivemos percentuais variando entre 24,17% (primeiro semestre de 24) e 46,67% (segundo semestre de 24) enquanto na anatomia 3 estes índices oscilaram entre 8,7% (primeiro semestre de 24) e 23,76% (segundo semestre de 24). A adequação progressiva de nossos discentes fica mais uma vez caracterizada com a diminuição acentuada dos índices principalmente em Anatomia 3: os alunos interagindo melhor com os objetivos da disciplina e com suas avaliações conseguem obter melhores desempenhos nas avaliações.

Gráfico 3. Representação gráfica dos percentuais de reprovação na disciplina de Anatomia Humana do curso de medicina em uma IES do Rio de Janeiro, por semestre no período de 24-26. REPROVAÇÃO NO CURSO DE MEDICINA 6 4 PERCENTUAL 3 2 Série3 24.1 24.2 25.1 25.2 26.1 26.2 SEMESTRES Legenda: Série 1 - Anatomia 1; Série 2 - Anatomia 2; Série 3 - Anatomia 3 As maiores taxas de reprovação foram evidenciados no curso de Odontologia com índices bem maiores dos encontrados nos cursos de Enfermagem, Educação Física e Fisioterapia que também aprendem a anatomia em dois períodos letivos. Seus índices na anatomia1 variaram de 43,88% (segundo semestre de 25) a 71,43% (encontrado tanto no primeiro semestre de 25 quanto no primeiro semestre de 26). Na anatomia 2 estes índices variam entre 34,25% (segundo semestre de 24) e 51,95% (primeiro semestre de 26). Neste curso a dinâmica da avaliação consiste em prova teórico-prática aonde os discentes são apresentados no laboratório a peças anatômicas que devem identificar e relaciona-las a abordagens teóricas sobre as mesmas. O impacto emocional (estresse) desta modalidade de avaliação pode estar se caracterizando como um elemento dificultador a mais que tem contribuído para que os maiores índices de reprovação aconteçam neste curso. Gráfico 4. Representação gráfica dos percentuais de reprovação na disciplina de Anatomia Humana do curso de odontologia em uma IES do Rio de Janeiro, por semestre no período de 24-26. REPROVAÇÃO NO CURSO DE ODONTOLOGIA 8 7 6 PERCENTUAL 4 3 2 24.1 24.2 25.1 25.2 26.1 26.2 SEMESTRES Legenda: Série 1 - Anatomia 1; Série 2 - Anatomia 2

Nos dados demonstrados a seguir percebemos que embora as taxas de reprovação estejam sempre altas (em todos os semestres e em todos os cursos) observamos uma diminuição relativa destes índices nos cursos com mais de um período de anatomia com um declínio maior ainda no terceiro período de medicina. Pensamos que tal fato pode estar relacionado a uma dificuldade inicial de adaptação quer no método de ensino (a metodologia da disciplina torna necessária para a fixação dos conteúdos por parte dos alunos o seu retorno ao laboratório fora do horário de aula) quanto de conteúdo. Gráfico 5. Representação gráfica dos percentuais de reprovação na disciplina de Anatomia Humana 1 em uma IES do Rio de Janeiro, por semestre no período de 24-26. 8 7 6 4 3 2 Série3 Série4 Série5 24.1 24.2 25.1 25.2 26.1 26.2 Legenda: Série 1 - Enfermagem; Série 2 - Odontologia; Série 3 - Fisioterapia/Educação Física; Série 4 - Medicina; Série 5: Nutrição. Gráfico 6. Representação gráfica dos percentuais de reprovação na disciplina de Anatomia Humana 2 em uma IES do Rio de Janeiro, por semestre no período de 24-26. 6 4 3 2 Série3 Série4 Série5 24.1 24.2 25.1 25.2 24.1 26.2 Legenda: Série 1 - Enfermagem; Série 2 - Odontologia; Série 3 - Fisioterapia; Série 4 - Educação Física; Série 5 - Medicina.

Discussão Quase todas as propostas atuais de ensino contemplam o saber específico, o saber pedagógico e o saber político-social como partes integrantes da formação dos professores (Cunha, 1999). Acreditamos que não basta para o professor atual pensar em transmitir a seus alunos conhecimentos específicos de sua disciplina: é imprescindível que trabalhe junto à atualização de suas ementas, numa melhor organização de seus conteúdos e que saiba que só existe ensino bom se a aprendizagem acontecer. Pensamos como Rios (23) quando enfatiza que ser professor é contribuir para a descoberta do mundo pelos alunos, é proporcionar crescimento e alegria com a construção e a reconstrução do conhecimento. Necessitamos, pois trabalhar de modo a conseguirmos modificar o pensar e o agir de docentes no sentido de que atuem efetivamente para conseguirem tornar comum o saber, rompendo com a idéia do conhecimento como propriedade privada, colocando-o ao alcance de todos o que se produz, para que seja apropriado e transformado. Se o desempenho dos alunos da disciplina de anatomia humana é insatisfatório, conforme os resultados apresentados devemos detectar onde as falhas estão ocorrendo para reparar possíveis equívocos que porventura estejam contribuindo para o mau desempenho de nossos aprendizes. Diante dos nossos resultados pretendemos realizar um estudo sobre a percepção dos alunos em relação ao seu desempenho na disciplina e sugestões para possíveis melhorias. Barrovecchio et al. (1998) realizou um trabalho onde aplicou um questionário direcionado aos alunos de diferentes cursos, sobre a disciplina de anatomia humana. Este autor descreve que os alunos sugeriram para a melhora do processo ensino-aprendizagem desta disciplina aumentar os espaços existentes entre as avaliações bem como o tempo necessário a sua realização. A realização de exames orais além da criação de critérios uniformes para a execução das avaliações também esteve entre as principais sugestões fornecidas pelos participantes da pesquisa. Com exceção dos docentes que atuam em cursos da área de educação, devemos reforçar que geralmente o professor universitário não tem formação pedagógica, embora habitualmente tenha sólido conhecimento dos conteúdos de seu campo de trabalho. Castanho & Castanho (2) sinalizam que é preciso considerar que a organização do trabalho pedagógico requer compromisso político e competência técnica, e que esta última abrange o conhecimento não apenas do conteúdo, mas também da forma de professores e alunos trabalharem o sucesso. Para o professor não basta saber, é preciso saber fazer. Ao analisarmos sob um olhar critico resultados negativos obtidos nas avaliações, poderemos a partir de um trabalho meticuloso verificarmos as melhores maneiras para corrigirmos possíveis distorções que possam estar comprometendo o processo de ensino-aprendizagem. No nosso entendimento a avaliação serve também para direcionar os questionamentos e levantar as necessidades de melhoria dos programas de ensino, incluindo aspectos metodológicos e políticos adotados na instituição, como também os aspectos materiais e aqueles relacionados com a atividade docente. A abordagem em relação á prática pedagógica mencionada por Zabala (1998) pode ser interpretada não apenas a partir do que não se faz com relação a um modelo teórico, mas também como o resultado da adaptação às possibilidades reais do meio em que se realiza. Perspectivas futuras Pimenta (22) afirma que o saber pedagógico é o saber que o professor constrói no cotidiano de seu trabalho e que fundamenta sua ação docente. Mostra a atividade do professor

como uma atividade que demanda uma capacidade que vai além da execução, uma atividade de grande relevância na condução do processo educacional que vise a um ensino de qualidade. O professor na heterogeneidade de seu trabalho está sempre diante de situações complexas para as quais deve encontrar respostas, e estas, repetitivas ou criativas, dependem de sua capacidade e habilidade de leitura da realidade e, também do contexto, pois pode facilitar e/ou dificultar a sua prática. Acreditamos que adequar currículos com a (re) elaboração dos conteúdos programáticos ementas às realidades profissionais dos diferentes cursos da área da saúde, otimizar a integração dos alunos, professores e conhecimento e construir materiais de ensino potencialmente significativos, são ações fundamentais para o aprendizado (Montes, Souza & Lemos, 25a). Os alunos, por sua vez, vivenciando um ensino mais dinâmico estarão mais motivados e conseqüentemente isto contribuirá para o amadurecimento profissional de cada um deles. Além disso, Paulo Freire (24) enfatiza a necessidade de uma reflexão crítica sobre a prática educativa, sem a qual a teoria pode se tornar apenas discurso e a prática uma reprodução alienada, sem questionamentos. Defende ainda que a teoria deve ser adequada à prática cotidiana do professor, que passa a ser um modelo influenciador de seus educandos, ressaltando que na verdadeira formação docente devem estar presentes á prática da criticidade ao lado da valorização das emoções. Freire (24) destaca ainda que mesmo com todos os empecilhos para se educar, ainda existem muitos professores cumprindo com excelência o seu papel, com vocação, o que significa ter afetividade, gostar do que faz, ter compromisso, competência e, primordialmente, acreditar que mesmo não podendo transformar o mundo inteiro, a semente, a prática educativa crítica e construtiva, poderá germinar, desde que plantada em bons solos, nossos corações, verdadeiramente. Referências Bibliográficas: BARROVECCHIO, JUAN CARLOS; PÉREZ, BEATRIZ; BELLA DE PAZ, LEONOR. Sugerencias acerca del proceso de enseñanza-aprendizaje en anatomía humana / Proposals regarding the learning-teaching process in human anatomy. Revista Chilena de Anatomia 6(2):219-24, 1998. CASTANHO, S & CASTANHO, M. E. L. M. O que há de novo na educação superior: do projeto pedagógico à prática transformadora. Coleção Magistério: Formação e trabalho pedagógico. Campinas, São Paulo: Papirus, 255p, 2. CUNHA, M. I. O bom professor e sua prática. Coleção Magistério: Formação e trabalho pedagógico. Campinas, São Paulo: Papirus, 184p, 1999. FELTRAN, R. C. S. Avaliação na Educação Superior. Coleção Magistério: Formação e trabalho pedagógico. Campinas, São Paulo: Papirus. 19p, 22. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 148p, 24. MONTES, M.A.A., SOUZA, C.T.V. & LEMOS, E.S. Reflexões sobre o ensino e a aprendizagem da anatomia humana à luz da teoria de aprendizagem significativa. 1º Encontro Nacional de Aprendizagem Significativa. Campo Grande/Mato Grosso do Sul Caderno de Resumos p.111, 25a. MONTES, M.A.A., SOUZA, C.T.V. & LEMOS, E.S. Reflexões sobre as principais dificuldades enfrentadas pelos alunos de cursos de graduação da área de saúde no ensino de anatomia humana. I Encontro Nacional de Ensino de Biologia. Rio de Janeiro, Anais p.49, 25b.

MOREIRA, M. A. A teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel. In: Teorias de Aprendizagem. São Paulo: Ed. Pedagógica e Universitária, cap., p. 151-165, 1995. PIMENTA, S. G. Saberes pedagógicos e atividade docente. 3ª. Ed. São Paulo: Cortez, 22. RIOS, T. A. Compreender e Ensinar: Por uma docência da melhor qualidade. 4 a Ed. São Paulo: Cortez, 158p, 23. ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed. 224p, 1998.