Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2012, v. 15, edição especial, p. 01 06 ACIDENTE DE TRABALHO DE FUNCIONÁRIOS DE UMA UNIVERSIDADE PRIVADA NO RIO DE JANEIRO BARBOSA, Bruno Ferreira do Serrado 1 SILVA, Maria Regina Bernardo da 2 CARVALHO, Christina Michele Costa Alves de 3 Palavras-chave: Prevenção. Saúde do trabalhador. Notificação. Problemática Entende-se por saúde do trabalhador o conjunto de conhecimentos oriundos de diversas disciplinas, aliado ao saber do trabalhador sobre seu ambiente de trabalho e suas vivências das situações de desgaste e reprodução estabelece uma nova forma de compreensão das relações entre saúde e trabalho e propõe uma nova prática de atenção à saúde dos trabalhadores e intervenções no ambiente de trabalho (NARDI, 1997). Esse conceito situa-se no quadro geral das relações entre saúde e trabalho e apresenta-se como um modelo teórico de orientação às ações na área da atenção à saúde dos trabalhadores, no seu sentido mais amplo, desde a promoção, prevenção, cura e reabilitação, incluídas, aí, as ações de vigilância sanitária e epidemiológica. Esse modelo vai orientar a aplicação do conhecimento técnico oriundo das disciplinas que se atêm a este campo e que foram exemplificadas anteriormente. O estudo dos modos de desgaste e reprodução da força de trabalho apresenta uma influência fundamental do materialismo histórico. Este projeto do trabalhador considera a crescente preocupação com a manutenção da saúde, compreendida agora não apenas como um estado de completo bem-estar físico, social e mental, mas, sobretudo, na dimensão de que, com o suporte efetivo do próprio desenvolvimento econômico, atingiremos o bem-estar social. A força que proporciona o desenvolvimento econômico é o trabalho, e por isso o trabalhador assume papel fundamental no progresso da instituição. 1 Doutorando UERJ, Mestre em Enfermagem UERJ, Docente da UCB/RJ email:brunoenfe@gmail.com. 2 Mestre em Saúde da Família UNESA, Docente da UCB/RJ. 3 Acadêmica de Graduação em Enfermagem, 7º período UCB/RJ, Bolsista do Projeto PIBICT Trabalhador Sem Dor.
Objetivos Realizar um levantamento dos trabalhadores de uma universidade privada que estão afastados por acidentes de trabalho e, com esses dados, promover o esclarecimento em relação à prevenção de acidentes. Procedimentos Metodológicos Estudo descritivo, retrospectivo, longitudinal com abordagem quantitativa, que prevê a mensuração de variáveis preestabelecidas para verificar e explicar sua influência sobre outras, mediante a análise da freqüência de incidência e correlações estatísticas (CHIZZOTTI, 2000). Dyniewicz (2007) refere que as pesquisas descritivas têm a premissa de observar, descrever, explorar e interpretar aspectos de fatos ou fenômenos. Suas referências são as frequências, características, relação e associação entre as variáveis. Local de Estudo O estudo foi realizado nas dependências da Universidade Castelo Branco, com funcionários de diversos setores como serviços gerais, cantina e inspetores. População do Estudo Foram 191 funcionários de uma universidade privada dos variados setores como serviços gerais, inspetoria, restaurante, administrativos e foram acumulados 19 acidentes no período analisado. Foram respeitados todos os aspectos éticos conforme a Resolução nº196 de 10 de outubro de 1996, a saber: Princípio da Autonomia, da Não Maleficência, do Princípio da Beneficência que assegura a isenção de danos, e o Princípio da Justiça, que confere o direito a tratamento justo e imparcial antes, durante e após a participação no estudo, além de garantir a privacidade e o anonimato. A técnica aplicada foi a entrevista por meio de formulário contendo questões fechadas. As variáveis foram: setor de trabalho, dias de afastamento e causas do acidente. Discussão e Análise dos dados Tivemos na pesquisa dez por cento (10%) dos funcionários que informaram acidente de trabalho e aproveitamos para reiterar os cuidados com os equipamentos e a utilização de 2
Equipamento de Proteção Individual nas suas atividades diárias e falar da importância da notificação dos acidentes e dos cuidados pessoais em relação à prevenção dos acidentes. Os acidentes e doenças relacionados ao trabalho resultam em custos sociais elevados para trabalhadores, família, empresa, estado e sociedade. Os eventos destacados são, atualmente, subregistrados, e sua real magnitude não é bem conhecida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Os acidentes de trabalho têm expressiva morbimortalidade, constituindo-se em importante problema de saúde pública. Os sistemas de informação em saúde no país são avançados, mas dados sobre acidentes de trabalho continuam a demandar melhores registros, tanto de cobertura como de qualidade dos dados. Há grande sub-registro do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN), e os dados mais amplamente utilizados, da Previdência Social, são parciais, restritos a trabalhadores segurados que perfazem apenas um terço da população economicamente ativa ocupada. A queimadura é uma lesão de grande complexidade, de difícil tratamento, multidisciplinar, com alta taxa de morbidade e mortalidade em todo o mundo, afetando mais de um milhão de pacientes ao ano. (CRISÓSTOMO, SERRA & GOMES, 2004; GOMES, SERRA & PELLOON, 1995; NASI, 2005). Geralmente, as queimaduras ocorrem num cenário de baixas condições socioeconômicas. Acontecendo assim com maior frequência no ambiente doméstico ou de trabalho, como resultado de violência interpessoal, tentativa de suicídio ou de homicídio. Os pacientes que sofrem queimaduras representam um grupo heterogêneo, desde indivíduos que necessitam apenas de acompanhamento ambulatorial àqueles que precisam de tratamento em unidade de terapia intensiva. Quedas (7) Lesões em MMII(5) Lesões em MMSS (5) Queimadura (2) Lesões em MMSS (5) Queimadura (2) Lesões em MMII(5) Quedas (7) Gráfico 1- Tipos de lesões que acometeram os sujeitos do estudo 3
Outro fato bastante significativo diz repeito à dispensa médica e seus mais variados agentes causadores. Encontramos durante nosso estudo que 12 funcionários necessitaram se ausentar. Tabela 1- Tipos de acidentes e seus respectivos dias de afastamento Tipo de acidente Quantidade Tempo de afastamento Queimadura 02 03 dias, cada Corte na mão 02 07 dias Queda 02 06 dias Queda 01 08 meses Quedas 04 05 dias Cadeira caiu no pé (varize) 01 05 meses TOTAL 12 1 ano, 1 mês e 21 dias Desses doze pacientes acima que tiveram dispensa médica, constatamos que oito fizeram acompanhamento fisioterápico e tiveram atendimento ortopédico e, depois do afastamento, um deles recebeu acompanhamento do angiologista. Faz-se necessário observar que todos os entrevistados receberam acompanhamento médico/fisioterápico depois do afastamento. No que diz respeito às relações familiares, verificamos que de forma geral não ocorreram mudanças no comportamento familiar. Entretanto, de todos os entrevistados, dois disseram que esse comportamento melhorou e dois afirmaram que o mesmo piorou. Em relação ao convívio entre os membros da família e os sujeitos afastados, constatamos que as relações familiares após o afastamento permaneceram estáveis, ou seja, a família mostrou-se acolhedora em relação ao fato acidente-afastamento, proporcionando ao sujeito sensação de conforto perante o ocorrido. No que se refere ao convívio com os amigos (relacionamento social), a maioria dos sujeitos relatou que não ocorreram mudanças nas suas relações com os amigos, alegando ser esta uma relação estável. Da mesma forma, o comportamento do sujeito afastado em relação aos seus amigos não apresentou alterações (agressividade e distanciamento). Com base nos resultados acima, é possível estabelecer uma associação entre as relações familiares e sociais do indivíduo. Observamos que em ambos os ambientes houve acolhimento e compreensão em relação à ocorrência acidente-afastamento. Quando o empregado sofre acidente de trabalho, goza dos 15 (quinze) dias de afastamento por conta do empregador e posteriormente pode receber ou não auxílio acidente do INSS; por 4
conseguinte, tem estabilidade provisória nos 12 (doze) meses subsequentes ao seu retorno. É importante destacar que a estabilidade provisória não está relacionada ao fato do empregado receber ou não o seu auxílio-acidentário, a garantia é inerente ao acidente e não ao auxílio e goza da estabilidade somente após o retorno do afastamento previdenciário. A Constituição Federal, que é a nossa lei maior, protege a saúde do trabalhador em seu artigo 7º, inciso XXII, garantindo o direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança. Contudo, nem sempre o empregador segue estas normas e, infelizmente, muitas vezes por falta de prevenção, poderá ocorrer o acidente de trabalho. Considerações Finais Observamos que os acidentes informados estão relacionados com o tipo de atividades exercidas e percebemos que os trabalhadores usam de modo sofrível os seus Equipamentos de Proteção, facilitando a ocorrência de acidentes. Foi possível perceber que poucos notificam os acidentes por desconhecer a necessidade e ou medo de notificar, pois acham que podem ser punidos por informarem o que ocorreu no acidente de trabalho. Entender que a prevenção é a melhor ferramenta neste processo é um grande desafio que não se esgota apenas em um estudo, mas na multiplicação dos saberes advindos dele. Acreditamos que tanto o enfermeiro do trabalho ou outros profissionais de saúde que atuem neste contexto saúde ocupacional devem vislumbrar ininterruptamente prevenir doenças, fazendo consultas, tratando ferimentos, ministrando vacinas, fazendo exames de admissão e periódicos nos empregados, mas também a conscientização dos profissionais na utilização correta dos Equipamentos de Proteção Individuais no dia a dia, nas diversas atividades exercidas reduzindo riscos de quedas, acidentes, queimaduras, consequentemente reduzindo as faltas ao trabalho e redução de agravos aos trabalhadores. Devemos salientar que a função da enfermagem do trabalho é sempre prevenir, porém não depende só dos profissionais, tem de haver uma conscientização de todos os trabalhadores em estar comprometidos com a execução do trabalho com responsabilidade. 5
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