CURSO DE DIREITO O USO DO TESTE DE DNA NA MEDICINA LEGAL



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Transcrição:

CURSO DE DIREITO O USO DO TESTE DE DNA NA MEDICINA LEGAL UMA NOVA PERSPECTIVA PARA IDENTIFICAÇÃO FORENSE CESAR AUGUSTUS GUTTILLA R. A. : 473079 / 8 3209H (11) 3341 7448 guttilla@uol.com.br SÃO PAULO 2004 CESAR AUGUSTUS GUTTILLA

O USO DO TESTE DE DNA NA MEDICINA LEGAL UMA NOVA PERSPECTIVA PARA IDENTIFICAÇÃO FORENSE Monografia apresentada ao Curso de Direito da UniFMU como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Direito, sob a orientação da ilustre professora Dra Regina Célia Martinez. SÃO PAULO 2004

BANCA EXAMINADORA Professora Orientadora: Professor Argüidor: Professor Argüidor:

Agradeço a todos aqueles que contribuíram para a elaboração deste trabalho, em especial a Professora Dra. Regina Célia Martinez, ao Prof. Dr. Antônio José Eça e a Profa Dra. Lílian Eça.

INTRODUÇÃO Conforme relata Franca (1998), os estudos preliminares da genética molecular no campo da investigação da identidade tiveram início em 1953, quando os cientistas James Watson e Francis Crick descobriram a estrutura em dupla hélice do DNA (ácido desoxirribonucléico), componente responsável pelo patrimônio genético dos seres. Porém, somente em 1980 começaram a surgir técnicas capazes de caracterizar no DNA as particularidades de cada pessoa. Em 1985, Alec Jeffreys criou sondas moleculares radioativas com a propriedade de reconhecer regiões altamente sensíveis do DNA, e assim, levantar os padrões específicos de cada indivíduo, que chamou de impressão digital genética dos seres vivos. De acordo com Franca (1998), as aplicações médico-legais da impressão digital genética do DNA (DNA Fingerprinting) podem contribuir para a investigação da paternidade e da maternidade, mesmo após a morte dos envolvidos, desde que essa impressão venha a ser reconstituída através de amostras de sangue dos parentes próximos, as quais possibilitam uma vinculação genética com a mesma precisão da obtida se os pais fossem vivos. Pode-se, também, determinar se existe relação de parentesco entre duas pessoas. Dentro de uma criteriosa análise, considerando-se a avaliação do risco-benefício, pode-se utilizar técnicas de vinculação genética da

paternidade intra-útero, por meio do estudo de tecidos fetais obtidos pela aminiocentese e pela amostra de vilo corial. Nesta última, a mais usada, utiliza-se o componente fetal da placenta, a partir da nona semana de gestação. Esse método só deve ser usado em situações muito especiais da determinação de paternidade de interesse judicial, pois, do contrário deve ser feito com todas as vantagens, após o nascimento da criança (FRANCA, 1998). Outra maneira de utilização da impressão genética do DNA é na identificação de suspeitos numa investigação criminal, através de amostras de material biológico encontrados em locais examinados, contribuindo assim, para apontar autores ou excluir falsas imputações (FRANCA, 1998). Franca (1998) observa que esse método também pode ser usado com certa utilidade nos casos de identificação de vítimas onde os outros métodos mostram-se ineficazes, como nas grandes mutilações ou nos carbonizados parcial ou quase totalmente, ou ainda, nas exumações adotando-se o uso de microssatélites pela técnica de PCR (Polymerase Chain Reaction), que permite o estudo do DNA degradado a partir de pequenas quantidades de material obtido dos dentes, dos ossos, do bulbo dos cabelos e de outros tecidos remanescentes. Trent (1995) afirma que a vantagem importante do DNA está em sua intrínseca variabilidade, de modo que a exclusão não é o objetivo principal. Assim, tornou-se possível ter um perfil único de DNA para cada pessoa, similar às impressões digitais.

Trent (1995) relata que em curto tempo, a tecnologia do DNA teve grande impacto no sistema judicial, considerando-se o ritmo lento com o qual o sistema geralmente caminha. Entretanto, o uso rápido da tecnologia do DNA produziu problemas significativos. Eles refletem diferenças na interpretação dos dados polimórficos do DNA, particularmente com relação a grupos étnicos minoritários, os tipos de protocolos laboratoriais e o padrão de garantia de qualidade praticados em alguns laboratórios. Tais problemas têm sido lentamente resolvidos. A legislação de muitas comunidades requer o mais alto nível de prática para os laboratórios envolvidos na tecnologia forense do DNA. O tema em questão é novo e, portanto, ainda não se conhecem suas implicações e conseqüências. A prova no Direito é sujeita a vícios e erros de todas as formas e espécies. Com o surgimento do teste de DNA tornou-se possível a identificação precisa dos sujeitos do crime. Não só a prova de paternidade foi beneficiada, mas, também, todas as provas relacionadas à participação do homem. Sem dúvida, o Direito na sua forma mais ampla será beneficiado por esse tipo de pesquisa, em especial a Medicina Legal, no seu importante papel de ajudar a desvendar os fatos e as verdades. Atualmente, muito comentado devido a sua precisão e utilização no esclarecimento da paternidade, o uso do DNA inicia uma revolução em matéria de possibilidade de esclarecimento e busca da verdade. Assim, nesse trabalho foram levantadas as seguintes questões: Será que o estudo do DNA trará todo o benefício esperado?

Poderá a Medicina Legal garantir todas as suas afirmativas com prova material incontestável? Alguns pesquisadores falam em 99,99% de certeza; outros afirmam que no caso de seu uso quando os envolvidos são gêmeos univitelinos não haveria a eficiência desejada. Em minha experiência como médico veterinário tenho visto que a genética e os estudos relacionados à reprodução têm trazido grande avanço nesse setor de conhecimento, inclusive na própria perícia forense veterinária já se emprega a tecnologia genética por exemplo, quando animais reprodutores de alto valor econômico são assegurados por apólices e também para confirmação da autenticidade de seus produtos. Com os mapeamentos genéticos sendo feitos, abrem-se a cada dia, mais possibilidades para expansão de seu uso. Por esse motivo, pretendo analisar qual a exata contribuição dessa técnica para a solução dos infindáveis casos sem solução. Com base no meu interesse e conhecimento apoiado na literatura específica sobre o assunto, procurei caracterizar como o uso do mapeamento do DNA pode ser fundamental para a perícia. Espera-se que esse trabalho contribua para apontar uma nova solução para esse problema. Assim, o presente trabalho teve como objetivos: fornecer informações sobre o DNA, sua importância e seu mecanismo; demonstrar os aspectos médicos legais da perícia do DNA; fornecer uma visão ampla sobre a possibilidade de identificação de autores de crimes através da engenharia molecular; enfatizar a questão da privacidade do teste de DNA no que se refere à possibilidade de se tornar abusivo na ausência de

proteção legal; identificar casos de condenações injustas e de impunidade gerada por falta de provas. Trata-se de um estudo dedutivo baseado em pesquisa bibliográfica exploratória, sendo estudada como fonte o trabalho realizado pela engenharia genética e pela biologia. Para o levantamento do material bibliográfico, foram realizadas visitas a bibliotecas como: Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Centro Universitário UniFMU, Biblioteca Central UNIFESP e BIBLAC, além de portais da Internet. A escolha do tema surgiu do interesse científico e pessoal sobre a possibilidade do uso do DNA nas mais diversas técnicas de identificação usadas em Direito. O problema é que, ainda não se tem acesso total a essa tecnologia, nem equipamentos disponíveis para alcançá-la. Assim sendo, há uma limitação tecnológica e política, e o incentivo e a condução desse processo de modernização depende do Estado. Pensar que hoje milhares de casos não são definitivamente solucionados por falta de provas, tem-se como questão primordial o implemento do uso de novas técnicas. A relação com o contexto jurídico é plena. É uma grande oportunidade para que através da Medicina e do Direito se faça justiça. A contribuição de conhecimento sobre esse tema será de suma importância para que o operador do direito nas mais diversas áreas possa ter mais um valioso instrumento para uma boa

prática profissional. No mais, será um estímulo aos legisladores que terão que regulamentar e autorizar essa nova prática. Os motivos que justificam esse trabalho são as perguntas ainda sem respostas. Dessa forma, o objeto de estudo é o Teste de DNA e seu uso na Medicina Legal para a identificação de pessoas suspeitas. Colocando a perícia médica a serviço da Justiça, os peritos comprometem-se a realizar um trabalho específico para trazer elucidações ao Julgador. É um trabalho de colaboração. Esse trabalho apóia-se, também, na Constituição Federal e no Código Penal, Código de Processo Penal, Código Civil e na Jurisprudência.

1- NOÇÕES GERAIS SOBRE DNA 1.1 Conceituação de DNA Nos termos do art. 3º, II, da Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995, ácido desoxirribonucléico (DNA) é material genético que contém informações determinantes dos caracteres hereditários transmissíveis à descendência. Essa lei regulamenta os incisos II e V do 1º do artigo 225 da Constituição Federal de 1998, estabelece normas para o uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiente de organismos geneticamente modificadas, autoriza o Poder Executivo a criar, no âmbito da Previdência da República, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança e dá outras providências. 1 O ácido desoxirribonucléico (DNA) é o cerne do material genético do indivíduo, sendo encontrado no núcleo das células do organismo estruturando os cromossomos. O homem possui 46 pares de cromossomos, dos quais a metade é de origem materna e a outra paterna. Os genes, portanto, compõem os cromossomos, sendo responsáveis pelos caracteres genéticos das pessoas. 2 1 ALMEIDA, Maria Christina de. Investigação de paternidade e DNA: aspectos polêmicos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 63. 2 SÉRGIO SOBRINHO, Mário. A identificação criminal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 36.

O DNA é uma macromolécula encontrada em células nucleadas, sendo possível estudá-la mediante a análise das amostras de substâncias orgânicas que contenham material genético. No homem, esse material pode ser extraído de várias substâncias. Na amostra de sangue, são examinados os glóbulos brancos (leucócitos), pois os glóbulos vermelhos (eritrócitos) são células anucleadas. 3 O estudo do ácido desoxirribonucléico foi desenvolvido no âmbito da Genética com o objetivo de identificar indivíduos que apresentassem determinado traço repetido em seus descendentes, permitindo várias aplicações, tais como detectar doenças hereditárias, verificar parentesco, constatar a evolução da espécie humana, determinar compatibilidade para transplante etc. A identificação genética pressupõe que cada indivíduo apresente seu DNA exclusivo, cujo mapeamento cromossômico é igual em todas as células do organismo, permanecendo invariável ao longo do tempo. 4 Segundo Farah (1997) 5 a análise do DNA permite a obtenção de respostas a duas questões fundamentais para a solução de crimes ou casos de disputa de paternidade: a quem pertenceu uma amostra de material biológico como, por exemplo, sangue, saliva 3 SÉRGIO SOBRINHO, op. cit., p. 36. 4 Ibid, p. 37. 5 FARAH, Solange Bento. DNA: segredos & mistérios. São Paulo: Sarvier, 1997. p. 173.

ou esperma, encontrado na cena do crime ou na vítima?; existe alguma relação de parentesco entre dois indivíduos ou não? Assim que houve o reconhecimento da importância dos genes na determinação das características individuais, conceitos e métodos genéticos passaram a ser utilizados na solução de questões relacionadas com a identificação humana. Com a introdução dos métodos de análise de DNA pode-se resolver, praticamente, qualquer caso de identidade. 6 O DNA está ligado à idéia de individualidade, no sentido de que os sinais e características variáveis de pessoa para pessoa (sexo, altura, cor, textura dos cabelos, cor dos olhos, cor da pele, voz, ouvidos, olfato, maneira de andar) são únicos em cada uma e determinados pelos seus genes, os quais estão contidos em seu genoma ou genótipo, que é todo o material genético presente nas células da pessoa. 7 A análise do DNA para a identificação dos indivíduos baseia-se no fato de que cada ser humano tem uma aparência física e características fenotípicas próprias porque possui uma composição genética única; com exceção dos gêmeos idênticos, não existem dois indivíduos com exatamente o mesmo genótipo. O DNA de um indivíduo é exatamente igual em qualquer célula do seu corpo, quer tenha sido extraído da raiz do cabelo, do sangue ou do 6 Ibid, loc cit.. 7 ALMEIDA, Investigação de paternidade e DNA, op. cit,, 173.

esperma. Esses princípios permitem identificar um perfil molecular para cada indivíduo a partir de uma amostra de qualquer tecido, isto é, o DNA é suficiente para distinguir uma pessoa da outra. 8 A análise do DNA para se determinar o perfil molecular, além de extremamente precisa, pode ser realizada com quantidades mínimas de material obtido. Outra vantagem é que, mesmo no caso de as amostras serem velhas ou de diferentes origens e misturadas, existe boa chance de se chegar a um resultado conclusivo. Por essas e outras propriedades a análise do DNA tem revolucionado os métodos de identificação humana aplicados à medicina forense e legal. 9 Farah (1997) 10 relata que existem dois tipos de variações no DNA de indivíduos normais: o que afeta um simples par de bases e o que envolve seqüências repetidas. Como as enzimas de restrição reconhecem seqüências específicas de bases no DNA, a alteração de um par de bases na seqüência do reconhecimento pode criar ou abolir um sítio de restrição em um determinado lócus do genoma, que gera um polimorfismo. Dessa forma, se o DNA humano for digerido com a enzima de restrição adequada, o locus polimórfico pode ser observado pela alteração no tamanho do fragmento de DNA, detectado pela hibridização com uma sonda específica após o método de Southern. Esse tipo de 8 FARAH, DNA: segredos & mistérios, op. cit., p. 174. 9 Ibid, loc. cit. 10 FARAH. DNA: segredos & mistérios, op. cit., p. 174.

polimorfismo ficou conhecido como RFLF polimorfismo no comprimento do fragmento de restrição. Apresenta dois alelos possíveis, dependendo se aquele determinado sítio de restrição está ausente ou presente. Portanto, cada indivíduo pode ser homo ou heterozigoto para um polimorfismo do tipo RFLP conforme os alelos que possui. Todos esses aspectos compõem um complexo de mecanismos estudados pela Engenharia Genética que vem transformando a ciência da medicina. Conforme Trent (1995) 11, o DNA que contém 3,3 x 10 9 pares de bases do genoma haplóide humano, tem várias funções. Cerca de 70% codificam genes ou estão envolvidos em várias atividades relacionadas aos genes, como a regulação da expressão. O DNA fornece os sinais para sua própria replicação e os necessários para a replicação dos cromossomos, divisão e segregação. Os restantes 30% do genoma eucarionte são compostos de seqüências repetidas de DNA que parecem não ter função, sendo essa área denominada DNA lixo. O DNA repetitivo pode ser dividido em duas classes principais. As seqüências repetidas em tandem (DNA satélites), e as repetições intercaladas. O termo satélite foi usado para descrever as seqüências repetidas de DNA que compreendem repetições curtas 11 TRENT, R. J. Introdução à medicina molecular. Rio de Janeiro: Guanbara Koogan, 1995. p. 136.

em tandem que incorporam motivos específicos. Elas compreendem um terço das repetições de DNA (10% do genoma total) e são exemplificadas pelos microssatélites, minissatélites e macrossatélites. 12 1.2 Microssatélites Os microssatélites compreendem pequenos polimorfos de DNA, geralmente com menos de 1kb(quilobase) de tamanho. As mais bem descritas são as repetições de dinucleotídeos (AC) n onde n (o número de repetições presentes) varia de 10 a 60. Devido à disposição em tandem das unidades repetidas, esses polimorfismos são exemplos do tipo chamado de número variável de repetições em tandem (VNTr) - Variable Numbers of Tandem Repeats. Individualmente, os microssatélites são considerados como sendo VTNRs de um lócus, porque cada uma pode identificar um segmento de genoma. Avalia-se que o genoma humano contenha aproximadamente 50.000 repetições (AC) n. Assim, o valor desses polimorfismos está em sua ampla distribuição pelo DNA, o que os torna ideais para o mapeamento do genoma. Como polimorfismo de DNA, elas são altamente informativas nos estudos familiais para identificar alelos selvagens versus mutantes, ou em teste de paternidade. Os 12 TRENT, Introdução à medicina molecular, op. cit., p. 137.

microssatélites, devido a sua potencial hipervariabilidade, são mais informativos do que o sistema bialélico de RFLP. 13 Uma consideração técnica com as repetições (AC) n é a necessidade de se usar a reação em cadeia do polimerase, pois as diferenças de tamanho entre os alelos são pequenas, e é essencial usar oligonucleotídeos para marcar uma região específica no genoma, de modo que apenas em locus de microssatélite seja testado. Isto significa que um procedimento automatizado e mais rápido está disponível para detectar microssatélites. No entanto, precisa ser balanceado com o problema da amplificação do DNA na situação forense. Os microssatélites que compreendem um cerne de três a quatro pares de bases permitem interpretação mais fácil dos padrões de gel que contém produtos de amplificação, pois a diferença entre os alelos é maior, de duas bases para quatro. A amplificação pela reação em cadeia da polimerase é também mais confiável em comparação à encontrada com as repetições de dois nucleotídeos (AC) n. 14 1.3 Minissatélites Segundo Trent (1995) 15 as repetições minissatélites são de maior valor para os laboratórios forenses. A seqüência cerne comum que será repetida é maior do que a encontrada com os microssatélites. 13 TRENT, Introdução à medicina molecular, op. cit., p. 137. 14 Ibid, loc. cit. 15 Ibid, lo. cit.

Isto produz fragmentos de restrição que estão na faixa dos quilobases, em comparação aos alelos microssatélites que se estendem de 20 a 120 bases nucleotídicas em tamanho. Assim, os microssatélites dão uma faixa maior para seus fragmentos polimórficos de DNA. Devido a isto, é possível usar ou a transferência de Southern do DNA, ou a reação em cadeia da polimerase para identificar os minissatélites. Os minissatélites são multilocus (repetidos no genoma em muitos loci) ou de um locus, onde a posição do minissatélite no genoma pode ser localizada em um lugar. A chance de encontrar diferenças entre dois alelos usando multissatélites é muito alta (até 99% em alguns casos), e também é possível usar os padrões polimórficos complexos que surgem dos vários loci para construir um perfil único de DNA ou fingerprinting para uma pessoa. 16 Os minissatélites de VTNRs de um só locus no genoma são aplicados em vários laboratórios comerciais e do governo envolvidos em testes de DNA para fins legais. Cada um desses VTNRs é altamente informativo, produzindo dois alelos, mas com ampla faixa de tamanhos de bandas por alelo. Assim, a chance de encontrar padrões diferentes entre pessoas é consideravelmente maior do que com a possível com um RFLP, pois a variabilidade com esse último, seria limitada a uma entre três opções (grande/grande, pequena/pequena, grande/pequena). Uma 16 TRENT, Introdução à medicina molecular, op. cit., p. 138.

combinação de 4 a 6 marcadores de VNTR de um só locus dá um perfil geral do DNA que é muito polimórfico e, portanto, é considerado como único de uma pessoa 17. Um terceiro tipo de DNA satélite hipervariável citado por Trent (1995) 18 refere-se aos macrossatélites. Estes podem ser muito grandes e, portanto, a eletroforese em gel de campo pulsado pode ser necessária para a sua identificação e caracterização. Os polimorfismos de DNA associados aos macrossatélites não são usados para as práticas forenses, pois o DNA está, até certo ponto, degradado. Portanto, o DNA de alto peso molecular, essencial para a eletroforese em gel de campo pulsado, não estaria disponível nessas circunstâncias. Em comparação com as repetições de DNA satélite, as repetições intercaladas ocorrem mais freqüentemente. Geralmente, não são encontradas dispostas em tanden, e não estão necessariamente situadas como repetições múltiplas, desempenhando pouco papel nas comparações entre amostras individuais de DNA. Dois elementos repetitivos nessa classe são as repetições Alu e as repetições Kpn. As repetições Alu têm aplicação forense, pois são específicas dos seres humanos e são úteis em determinar a origem da amostra como sendo humana ou não. 19 17 Ibid, loc. cit. 18 Ibid, p. 139. 19 TRENT, Introdução à medicina molecular, op. cit. p. 139.

Existem inúmeras aplicações para a técnica de identificação pela análise de DNA. Porque o DNA pode ser recuperado de tecido mole ou de ossos e dentes de corpos mumificados, informações genéticas sobre variações no DNA têm sido obtidas de múmias ou fósseis tão antigos quanto 8.000 anos no caso de humanos, e 53.000 anos em mamutes. Essa pesquisa gera informações fundamentais sobre a organização social, migração e estimativa sobre o número de indivíduos em populações humanas passadas e animais extintos, com óbvias contribuições à arqueologia, antropologia e evolução. 20 Apesar de terem sido feitas algumas objeções a essa metodologia, particularmente quando empregada em questões forense, a tipagem do DNA já se mostrou uma poderosa fonte de evidências, capaz de condenar um suposto inocente ou inocentar um possível culpado. 21 20 FARAH, DNA: segredos e mistérios, op. cit. p. 163. 21 FARAH, DNA: segredos & mistérios, op. cit, p. 183.

2 - MEDICINA LEGAL 2.1 DNA e paternidade Segundo Parada (2002) 22 a necessidade de se estabelecer relações de paternidade, freqüentemente surge em contextos legais, sociais ou médicos. Como a concepção ocorre no interior do corpo da mulher e não admite testemunhas, a única maneira de resolver efetivamente o problema, é através de testes genéticos. Em especial, os testes em DNA nos permitem resolver disputas de paternidade. Cada indivíduo tem o direito de conhecer sua própria biogênese. Investigar a sua origem biológica é um interesse de cada pessoa. Na atualidade, o teste de paternidade, vem sendo muito utilizado para subsidiar a Justiça da Família. Certamente o tema mais freqüente e palpitante nos últimos fóruns de debates médico-jurídicos tem sido o exame de DNA nos casos de investigação de paternidade. E com muito mais ênfase, quando na questão abordada discute-se a obrigatoriedade ou não do investigando em submeter-se ao exame hematológico para a comprovação da paternidade discutida. 23 Não existe no ordenamento jurídico brasileiro qualquer norma que obrigue o réu em uma ação de investigação de paternidade ou maternidade, a submeter-se ao exame pericial solicitado. Todavia, há 22 PARADA, C. A. S. O DNA e a lei. Monografia. São Paulo, 2003. p. 75. 23 Ibid, loc. cit.

entendimentos outros de que, a recusa do investigado em submeter-se ao exame, resulte na presunção da veracidade dos fatos que se alegam. 24 De acordo com Almeida (2001) 25 a investigação laboratorial do teste em DNA para fins de descoberta da paternidade biológica, deve conter em si uma série de medidas para garantir a confiabilidade do exame. As evidências conferidas pelo teste em DNA podem servir para excluir um homem de ser o pai biológico de determinado indivíduo, ou, se esse homem não for excluído, servir como base para calcular a probabilidade de que ele realmente seja o pai biológico. A determinação da paternidade pelo teste em DNA pode variar de 99,99% a 99,9999%, ou seja, quando um possível pai não é excluído, a evidência pode ser fortíssima de que ele realmente seja o pai da criança. O exame pericial em DNA, geralmente é realizado com trio mãe, filho e suposto pai. Todavia, essa técnica pericial não é tão versátil a ponto de se poder realizá-la mesmo quando um dos membroschave a ser analisado (mãe ou suposto pai) não esteja disponível, por falecimento ou outro motivo. Esses são os denominados casos deficientes, cuja probabilidade de paternidade poderá atingir 99,99% de segurança no resultado. Pode-se realizar exame em DNA com a presença do filho e do possível pai e, no caso de este ser falecido, a perícia pode ser feita utilizando-se O DNA de ambos os 24 PARADA, O DNA e a lei, op. cit. p. 93. 25 ALMEIDA, Investigação de paternidade e DNA, op. cit., p. 67.

possíveis avós paternos ou, na falta destes, os filhos, viúva e irmãos do investigado. 26 Ainda é possível realizar o exame pericial em DNA através da exumação de cadáver, nos casos em que o investigado falecido não deixou descendentes ou ascendentes para análise comparativa com o investigante e sua mãe, bem como, o teste pode ser feito antes do nascimento da criança, através da análise comparativa com o investigante e sua mãe, bem como, o teste pode ser feito antes do nascimento da criança, através de análise do líquido amniótico ou das vilosidades coriônicas da placenta, ao redor do início do quarto mês de gestação. 27 Almeida (2001) 28 afirma que toda pessoa humana recebe parte de seu DNA de sua mãe biológica pelo óvulo e outra parte de seu pai biológico pelo espermatozóide. À exceção dos gêmeos univitelinos, não existem dois indivíduos com seqüências de DNA iguais. Assim, comparando-se os padrões de DNA da mãe, do suposto pai e do filho, é possível determinar a correlação genética dessas pessoas. No que se refere à técnica desse exame pericial, Almeida (2001) 29 relata que extraído o DNA das pessoas envolvidas, o da mãe e o do filho são analisados primeiro. Como o filho herda apenas parte do material genético de sua mãe, a comparação deve mostrar uma igualdade entre a mãe e a criança para apenas um dos segmentos. Sabendo-se qual parte do DNA da criança veio da mãe, indica automaticamente que pedaço de 26 Ibid, loc. cit. 27 ALMEIDA, Investigação de paternidade e DNA, op. cit,, p. 67. 28 Ibid, p. 68. 29 Ibid, loc. cit.

DNA ela deve se obrigatoriamente recebido do pai biológico. Este, por sua vez, tem seu DNA comparado com a peça paterna obrigatória do filho e, havendo a paridade em diversos segmentos do material genético, resultará na conclusão positiva da paternidade. Nesse caso é necessário ter uma estimativa quantitativa da evidência em favor da paternidade apontada pelo resultado da análise dos marcadores genéticos que é o Índice de Paternidade que pode se convertido em resultado de probabilidade de paternidade a qual pode alcançar resultados precisos entre 99,99% a 99, 999%. 30 Conforme Trent (1995) 31 a tipagem de proteínas para HLA (antígenos leucócitos humanos) e outros polimorfismos, constitui um enfoque valioso para os teste de paternidade. Nessa situação, o sangue fresco pode ser obtido de vários locais, e as análises são feitas sob condições laboratoriais ótimas. A natureza polimórfica do HLA, torna-o muito útil para os estudos da paternidade. As combinações de seis alelos (A1.1, A1.2, A1.3, A2, A3 e A4) produzem 21 genótipos. Apesar de uma variabilidade em um sistema ser inadequada para uma identificação positiva de um tecido, ele fornece um marcador rápido e relativamente simples que é útil como evidência de que uma amostra de tecido não pertence a um suspeito, ou mais freqüentemente para exclusão de uma pessoa em um caso de disputa de paternidade. Uma combinação dos tipos de HLA e polimorfismos de DNA avançaria um pouco mais para permitir que se faça uma estimativa de se a pessoa em questão é de fato o pai biológico. Isto se basearia nos marcadores obtidos, sua freqüência 30 ALMEIDA, Investigação de paternidade e DNA, op. cit., p. 68.

na população, e a probabilidade de que a combinação detectada pudesse ocorrer apenas pelo acaso. O autor afirma que os microssatélites multilocus são ainda melhores do que os marcadores de HLA quanto a isto, pois eles produzem um número maior de alelos variáveis que podem permitir tanto a exclusão quanto uma identificação mais definitiva do pai biológico. O material para análise pode ser preparado em condições ótimas e, portanto, o potencial de efeitos complicadores da degradação ou contaminação nos padrões de DNA, que é uma combinação vital na cena do crime, seria menos relevante. A determinação de paternidade no caso de incesto é difícil de ser resolvida caso sejam usados métodos convencionais de proteínas, pois o suspeito e a vítima compartilham vários tipos comuns. Nessas circunstâncias, os marcadores de DNA mais altamente polimórficos tornam-se extremamente valiosos. Conforme Almeida (2001) 32, o avanço científico permite concluir que os testes de paternidade em DNA mostram se o suposto pai possui ou não a peça paterna obrigatória em um mínimo de dois pontos situados em cromossomos diferentes, o que resultará em inclusão ou exclusão da paternidade. Tomadas as devidas precauções no controle de qualidade do teste, o exame de DNA é cientificamente seguro na descoberta da paternidade. Um resultado de exclusão significa 100% de certeza que o suposto pai não é o pai biológico. Um resultado de inclusão vem acompanhado da 31 TRENT, Introdução à medicina molecular, op. cit., p. 140. 32 ALMEIDA, Investigação de paternidade e DNA, op. cit., p. 69.

probabilidade de que o suposto pai seja o pai biológico, resolvendo a disputa judicial. 33 2.2 DNA fingerprinting O advento da tipagem de DNA (DNA fingerprinting ou Impressões digitais do DNA) causou uma revolução inequívoca na descoberta do pai biológico, podendo ser considerado como o mais poderoso elemento esclarecedor da verdade a serviço dos juízes e profissionais ligados à área do Direito de Família. Com ele é possível esclarecer com alto grau de precisão a identidade de indivíduos, como também sua genealogia. 34 A biologia molecular a serviço da Lei tem demonstrado muita precisão e otimismo. O geneticista inglês Alec Jeffreys em 1985 desenvolveu em seu laboratório sondas moleculares radioativas capazes de reconhecer as variações moleculares do DNA e determinar a individualidade genética da pessoa. Essa descoberta deu-se, inicialmente, com a observação de que certos tipos do DNA exibiam polimorfismo, ou seja, ocorriam no genoma em mais de uma forma. Quando vários indivíduos sem parentesco tiveram suas seqüências repetidas analisadas, Jeffreys observou que não ocorria uma repetição na tipagem de seu DNA, sendo que cada indivíduo exibiu um padrão único. 35 33 Ibid, loc. cit. 34 ALMEIDA, Investigação de paternidade e DNA, op. cit., p. 69. 35 FRANCA, Genival Veloso de. Medicina legal. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 61.