Palavras-chave: Sistema de Direcionamento, GPS, Faixas Paralelas. ISSN 1808-8759. Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73



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Revista Energia na Agricultura ISSN 1808-8759 ENSAIO COMPARATIVO DA ACURÁCIA DE UM SISTEMA DE DIRECIONAMENTO VIA SATÉLITE E POR CABO DE AÇO NA ORIENTAÇÃO DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS 1 FÁBIO HENRIQUE ROJO BAIO 2 & ULISSES ROCHA ANTUNIASSI 3 RESUMO: O uso do Sistema de Posicionamento Global (GPS) em uma propriedade agrícola não está limitado ao monitoramento georreferenciado de fatores produtivos, mas cada vez mais esta tecnologia está sendo utilizada como um equipamento disponível e que deve ser utilizada o máximo possível para a diluição do seu custo. O objetivo deste trabalho foi realizar um ensaio comparativo da acurácia de um sistema de direcionamento via satélite por barra de luz e por cabo de aço no direcionamento, de máquinas agrícolas em percursos retos e curvos. A metodologia de campo baseou-se na mensuração direta em campo dos desvios dos alinhamentos orientados pelos sistemas de direcionamento em relação ao alinhamento programado. Os ensaios foram realizados em reta e em curva. Os sistemas de direcionamento ensaiados permitiram a orientação do operador em faixas adjacentes sucessivas. Foi constatado que as orientações das faixas de aplicação, utilizando-se de sistemas de orientação via satélite foram, semelhantes em relação ao cabo de aço nas operações em reta, entretanto, nas operações em curva o cabo de aço apresentou melhores resultados. Foi observado que a acurácia obtida com o sistema de direcionamento é depende da habilidade do operador. Palavras-chave: Sistema de Direcionamento, GPS, Faixas Paralelas. 1 Extraído da tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Agronomia - Energia na Agricultura / FCA/UNESP 2 Prof. Adjunto, CPCS / UFMS, Chapadão do Sul/MS fabiobaio@nin.ufms.br 3 Prof. Livre-Docente, Departamento de Eng. Rural, FCA / UNESP, Botucatu/SP - ulisses@fca.unesp.br Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73

ACCURACY TEST OF A GPS AND A STEEL CABLE STEERING SYSTEMS ON AGRICUL- TURAL MACHINERY ORIENTATION SUMMARY: The use of the Global Positioning System (GPS) in a farm is not limited to monitor productive factors involved on the yield production. GPS has been used as an available equipment in a farm and must work in several operations to dilute the initial cost. The purpose of this work was to perform an accuracy test of a GPS and a steel cable steering systems working in straight line and curve passes. The field methodology was based on measure directly on the field the steering error compared to the programmed steering alignment, where an operator was guided by the evaluated steering system. The tests were made in straight line and curve passes. The steering systems tested were well succeeded guiding the operators in parallel passes. The accuracy of the GPS steering system was statistically equal comparing to the steel cable system on the straight line, however, the steel cable was better on curve passes. The accuracy of the steering systems was dependent of the operator s ability. Keywords:. Steering System, GPS, Parallel Tracking. 1 INTRODUÇÃO Os equipamentos utilizados na agricultura de precisão têm por finalidade a melhoria das condições operacionais. O uso de sistemas de posicionamento em propriedades agrícolas, como o GPS, não está limitado ao monitoramento georreferenciado de fatores produtivos, mas cada vez mais esta tecnologia está sendo utilizada como um equipamento disponível e que deve ser utilizada o máximo possível para a diluição do seu custo. Como exemplo, o sistema também pode ser utilizado para auxiliar na orientação de um veículo em uma operação agrícola empregando, algumas vezes, um acessório chamado barra de luz. A barra de luz é um sistema de direcionamento via satélite e consiste em um equipamento alternativo aos métodos convencionais para orientação do operador na aplicação em faixas adjacentes, com a finalidade de diminuir as sobreposições e falhas entre as faixas consecutivas e otimizar a eficiência da operação agrícola. O sistema de direcionamento via satélite por barra de luz consiste em um conjunto de sinais luminosos, dispostos à frente do operador da máquina ou veículo, ligado a um processador que recebe a informação de posicionamento de um receptor GPS. Entretanto, existem outros sistema de direcionamento via satélite que se enquadram em outras categorias. Além do sistema por barras de luzes, existem os sistemas de direcionamento por monitor ele- Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73 61

trônico e por auto-direcionamento (Baio, 2005). De modo geral, os sistemas de direcionamento via satélite são aqueles utilizados na substituição de sistemas de direcionamento tradicionais, como riscadores de solo e marcadores de espuma. Segundo Baio & Antuniassi (2003), é comum a utilização de sistemas de direcionamento via satélite na pulverização aérea no Brasil. Porém, na pulverização terrestre a tecnologia de direcionamento via satélite está sendo empregada e implementada principalmente em pulverizadores autopropelidos e ainda há um grande mercado a ser explorado. De acordo com Baio (2005), os sistemas de direcionamento via satélite por barra de luz são operacionalizados pela ação do condutor do veículo, é para corrigir a rota programada do veículo de acordo com a informação visual dada por um conjunto de luzes indicativas dispostas à frente do operador. Este sistema de direcionamento via satélite foi o primeiro a ser oferecido ao mercado no mundo, como também o primeiro sistema a ser lançado no mercado brasileiro. Os pioneiros a publicarem ensaios comparativos sobre a acurácia de algum tipo de sistema de direcionamento via satélite, mais especificamente de barra de luz, foram Buick & White (1998). Eles realizaram uma comparação entre a operação guiada pela barra de luz e pelo marcador de espuma. O experimento foi realizado em duas áreas distintas, por dois operadores com diferentes condições de experiência; um possuía uma experiência de 10 anos com o marcador de espuma e 9 meses com a barra de luz, o outro possuía uma experiência de 1 dia com ambos os métodos. A experimentação foi realizada com uma velocidade de 12 km/h e verificaram que para o operador com maior experiência, não houve diferença estatística entre os dois métodos. Já para o operador com menor experiência, houve uma melhor acurácia da operação com a barra de luz. Os autores verificaram também que a durabilidade da espuma é alterada de acordo com a condição climática e concluíram, que o marcador de espuma pode ser substituído pela barra de luz nas operações agrícolas. Segundo Vetter (1995), o marcador de linha por espuma, conhecido como marcador de espuma, é um sistema bastante prático e econômico, contudo, passível de grandes erros no direcionamento de um trator ou pulverizador autopropelido, pois é difícil a manutenção correta da ponta da barra do pulverizador por sobre a linha de espuma formada na passada anterior, em função do ângulo de visão do operador. Segundo Baio et al. (2001), a orientação de máquinas agrícolas para a aplicação em faixas adjacentes de defensivos, adubos e corretivos é freqüentemente realizada por métodos convencionais que incluem marcadores de espuma, orientação pelas fileiras de cultivo, riscadores de solo, dentre outros. Entretanto, a utilização destas técnicas pressupõe a existência de sobreposições e/ou falhas na aplicação. Sobreposições implicam em custos adicionais na aplicação, além de danos à cultura e ao ambiente, enquanto falhas na aplicação devem ser evitadas ao máximo para garantir a eficiência da distribuição correta do insumo ou do controle fitossanitário. De acordo com Baio (2005), o sistema de direcionamento por cabo de aço é muito utilizado pelos agricultores do estado do Paraná. Por este sistema um trator é o guia e o outro o trator guiado. Na ope- Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73 62

ração em campo por este sistema, o trator guiado demarca o campo com o rastro do pneu do trator, sendo este rastro utilizado como referência para a próxima passada pelo trator guia, ou seja, dois tratores passam pelo mesmo local do campo contribuindo para a compactação do local. Vale lembrar também, que esta é uma operação em que os tratores vão somente demarcando o solo, não realizando nenhuma aplicação, pois tracionar um implemento, seja montado ou de arrasto, tornaria o processo de manobra impraticável. Durante a manobra, no final da passada, os operadores necessitam estar atentos, pois sempre há o risco do cabo ser enrolado no eixo do trator e provocar uma quebra ou aumentar o tempo perdido na manobra. O processo de manobra no final da passada é mais demorado do que os outros sistemas de direcionamento. Uma outra característica desta operação com o cabo de aço é que sempre o trator guiado força a direção do veículo para o lado contrário ao cabo de aço, fazendo com que o mesmo se mantenha esticado, no entanto, este processo pode causar uma sobrecarga sobre o eixo dianteiro e danificar o trator. São praticamente inexistentes os relatos sobre acurácia deste sistema de direcionamento. O objetivo deste trabalho foi realizar um ensaio comparativo da acurácia de um sistema de direcionamento via satélite por barra de luz e por cabo de aço no direcionamento de máquinas agrícolas em percursos retos e curvos. 2 MATERIAL E MÉTODOS O ensaio dos sistemas de direcionamento via satélite por barra de luz e por cabo de aço foi realizado em um talhão da Fazenda Augibeira localizada no município de Ponta Grossa - PR, cujas coordenadas geográficas aproximadas são: 24º 51 S e 50º 20 WG. O talhão possuía relevo plano e sem obstruções físicas para o recebimento dos sinais dos satélites GPS. O período experimental foi entre os dias 21 e 23 de abril de 2004. O campo experimental estava sendo cultivado com aveia e se encontrava no estádio inicial de desenvolvimento. Foram comparados dois sistemas de direcionamento diferentes, um via satélite (Figura 1) e outro por demarcação de campo utilizando um cabo de aço (Figura 2). Para o sistema de direcionamento via satélite foi utilizado um receptor GPS Trimble modelo AgGPS 150 e uma barra de luz Trimble modelo AgGPS Ez-Guide Plus. Este modelo utilizou o algoritmo otimizado desenvolvido pela Trimble, para a realização da correção do posicionamento fornecido pelo receptor GPS e foi posicionada à frente do operador do veículo. O receptor GPS AgGPS 150 foi utilizado tanto para o fornecimento da posição para a barra de luz Ez-Guide Plus quanto para o computador portátil, que gravou o percurso do veículo durante o ensaio. Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73 63

Figura 1: Monitor do sistema de direcionamento via satélite (a) (b) Figura 2: Sistema de marcação de rastro por cabo de aço (a) e trator utilizado como guia (b) Foi considerado também como um item do planejamento do período do ensaio as configurações das disposições dos satélites no momento do ensaio em campo. Em todas as repetições o número de satélites GPS disponíveis foi sempre superior a 7 e o nível do PDOP (Posilion Dilution of Precision), foi sempre abaixo de 5. Este nível de PDOP foi sempre monitorado, não sendo realizado ensaios quando este patamar foi ultrapassado. A antena do equipamento GPS foi posicionada sempre acima e no alinhamento central do eixo de direção do veículo. Durante todas as etapas, em todos os experimentos, a velocidade do Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73 64

veículo foi mantida constante em aproximadamente 15 km/h. Esta velocidade foi escolhida em função destes sistemas de direcionamento via satélite serem mais utilizados em pulverizadores autopropelidos e é bastante usual nessa categoria de pulverizadores. As velocidades foram estabilizadas antes do ponto inicial de cada alinhamento do ensaio e mantidas constantes pelo uso dos aceleradores manuais. Como veículo, foi utilizado um trator agrícola John Deere modelo 6300, que foi instalado o sistema de orientação por barra de luzes. Foi também, este o trator guiado no sistema de marcação de rastros por cabo de aço. Foi utilizado como guia no sistema de marcação de rastro por cabo de aço um trator agrícola New Holland modelo 7630 (Figura 2). No ensaio, os tratores demarcaram o solo pela passagem dos mesmos em função do delineamento e deixando rastros do pneu sobre o solo, o que possibilitou a medição dos desvios no alinhamento. O veículo foi conduzido por dois operadores. Cada operador guiou o veículo tanto no ensaio em reta como no ensaio em curva e praticou por cerca de uma hora antes da realização de cada ensaio. A variável resposta foi o desvio real mensurado, em campo do alinhamento, na orientação do veículo pelo sistema de orientação em relação ao alinhamento pré-determinado ou planejado para aquela passada. Assim, os desvios foram obtidos pela diferença entre a largura da faixa na ausência de erros, no alinhamento pré-determinado ou planejado (20 m) e a largura da faixa real mensurada em campo. A medição dos desvios foi realizada perpendicularmente ao alinhamento de referência com o auxílio de uma trena de 50 m entre os centros dos rastros dos pneus de duas passadas adjacentes sucessivas do veículo. Cada alinhamento de referência foi estaqueado conforme ilustra o croqui na Figura 3. Também foram estaqueados os pontos inicial e final do percurso, chamados de ponto A e ponto B, respectivamente. Foram dispostas estacas eqüidistantes em 10 m sobre o alinhamento de referência (Figura 3), facilitando o caminhamento do trator sobre a linha de referência, e mostrando os pontos onde foram tomadas as 10 medidas dos desvios dos tratamentos. Figura 3: Croqui da linha de referência para o ensaio em reta Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73 65

A linha de referência para o ensaio em curva seguiu o mesmo padrão da linha para o ensaio em reta, onde também foi construída em campo uma linha com estacas que facilitou a visualização, possibilitando que esta linha fosse utilizada como referência para o primeiro alinhamento base do sistema de direcionamento. O percurso de referência para o ensaio em curva foi formado por dois semicírculos tangenciais em um ponto, em formado de S (Figura 4). Os semicírculos possuíam raio de 100 m. Figura 4: Croqui da linha de referência para o ensaio em curva A elaboração destes semicírculos foi planejada utilizando um programa de SIG (ArcView, ES- RI), que facilitou não só o planejamento, mas a disposição prévia do percurso sobre a área disponível. Os percursos de referência foram construídos em campo com o auxílio de um programa de mapeamento de campo (Farm Site Mate, Farm Works), instalado em um computador portátil e conectado a um GPS (AgGPS 150, Trimble), via protocolo de comunicação NMEA pela RS-232. O programa mostrou na tela do computador uma grade quadrática de 50 m de lado, um ponto em que estava localizada a antena do GPS, naquele instante, e o percurso desejado em formado de S. Desta forma, foi possível a navegação sobre cada um dos pontos, eqüidistantes em aproximadamente 20 m sobre este percurso de referência, em que foram fixadas estacas, tomadas como referências para a mensuração dos desvios no ensaio comparativo em curva e como referência da passada inicial. É importante relatar que o sistema de orientação via satélite adota esta curva inicial, como referência, e cria virtualmente as outras curvas, exatamente iguais a esta primeira, seja ela uma curva perfeita ou não. Foram estaqueados também, os pontos inicial e final, chamados de pontos A e B, respectivamente. A medição dos desvios foi realizada perpendicularmente à tangente do raio da semicircunferência. Para a Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73 66

realização desta atividade, foram estaqueados os centros das semicircunferências, tomadas como referenciais. Os dados mensurados em campo obtidos em todos os ensaios, como também, os obtidos nos ensaios em reta como em curva, foram analisados separadamente. Realizou-se uma análise não paramétrica dos resultados obtidos em cada experimento. Esta análise foi possível, pela comparação dos intervalos de confiança, com um nível de 95 % de significância. Foram elaborados gráficos ilustrando a freqüência relativa acumulada dos desvios em relação ao alinhamento teórico. Estudados os efeitos do incremento do número da passada em relação ao alinhamento de referência. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Figura 5 pode ser observada a freqüência relativa acumulada dos desvios (%) para cada operador no ensaio com o sistema de direcionamento via satélite operando em reta. Nessa situação verifica-se que 90 % das observações dos desvios obtidos pelo Operador 1 foram menores que 0,47 m, sendo que o maior desvio foi de 0,63 m. Já para o Operador 2, 90 % das observações dos desvios foram menores que 0,38 m, sendo o maior desvio de 0,47 m. Comparando-se estes resultados com aqueles alcançados em um ensaio comparativo de um sistema de direcionamento via satélite realizado por Vetter (1995), onde foram observados desvios máximos de 0,38 m e 0,89 m, para 50 % e 90 % das observações, respectivamente, pode-se inferir que houve uma melhoria da acurácia destes sistemas. O erro médio entre todas as observações no ensaio, com o sistema de direcionamento via satélite, operando em reta foi de 0,20 m. Este resultado é muito semelhante a aquele alcançado por Torres et al. (2000), que também avaliou uma versão anterior de um sistema de direcionamento via satélite quando comparado ao sistema aqui apresentado. O sistema avaliado pelos autores apresentou um erro médio de 0,14 m entre todas as observações realizadas com dois operadores. Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73 67

100 90 Freqüência Relativa Acumulada (%) 80 70 60 50 40 30 20 10 Barra de Luz - Operador 1 - Reta Barra de Luz - Operador 2 - Reta 0 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 Desvio (m) Figura 5: Freqüência relativa acumulada dos desvios (%) no ensaio em reta com o sistema de direcionamento via satélite Na Figura 6, pode ser observada, a freqüência relativa acumulada dos desvios (%) para cada operador no ensaio em reta com o sistema de orientação por cabo de aço. Nesta situação, verifica-se que, 90 % das observações dos desvios obtidos pelo Operador 1 foram menores que 0,38 m, sendo que o maior desvio foi de 0,65 m. Já para o Operador 2, 90 % das observações dos desvios foram menores que 0,25 m, sendo o maior desvio de 0,47 m. O erro médio entre todas as observações no ensaio com o sistema de orientação por cabo de aço foi de 0,19 m. Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73 68

100 90 Freqüência Relativa Acumulada (%) 80 70 60 50 40 30 20 10 Cabo de aço - Operador 1 - Reta Cabo de aço - Operador 2 - Reta 0 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 Desvio (m) Figura 6: Freqüência relativa acumulada dos desvios (%) no ensaio em reta com o sistema de orientação por cabo de aço. Calculou-se o intervalo de confiança (IC) ao nível de 95 % de significância para todas as observações. O valor do IC encontrado para o sistema de direcionamento via satélite foi de 0,20 ± 0,03 m, ou seja, ao nível de significância indicado e quando todas as condições operacionais e ambientais foram as mesmas das do ensaio o erro provável estará entre 0,17 e 0,23 m com 95 % de probabilidade. O valor do IC encontrado para o cabo de aço foi de 0,19 ± 0,03 m, ou seja, ao nível de significância indicado e quando todas as condições operacionais e ambientais forem as mesmas das do ensaio o erro provável estará entre 0,16 e 0,22 m com 95 % de probabilidade. A Figura 7 ilustra um gráfico comparativo dos intervalos de confiança para os diferentes tratamentos. Pode-se observar que não houve diferença estatística ao nível de 95 % de probabilidade entre as médias dos erros, ou seja, os erros médios foram estatisticamente iguais para os sistemas de orientação (barra de luz e cabo de aço) operando em reta. Barra de Luz 0,204 Cabo de aço 0,186 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 Desvio (m) Figura 7: Gráfico comparativo dos intervalos de confiança e desvio médio (m) obtidas para cada tratamento na operação em reta. Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73 69

A Tabela 1 apresenta uma comparação estatística para as médias dos erros obtidos no ensaio em reta em função do operador. Pode-se observar que, as médias dos erros obtidas pelos dois operadores, são estatisticamente diferentes entre si ao nível de 5 % de significância. O Operador 1 apresentou um erro médio superior ao erro médio apresentado pelo Operador 2 (sem experiência com barra de luz e orientação por cabo) ao nível de 95 % de probabilidade quando operando em reta. Tabela 1: Teste estatístico para as médias dos erros obtidos no ensaio em reta em função do operador do trator Tratamentos Nº Repetições Média (m) ¹ Operador 1 80 0,22 A Operador 2 80 0,17 B ¹ Médias seguidas de mesma letra são iguais estatisticamente ao nível de 5 % de probabilidade pelo Teste de Tukey (DMS = 0,0411). Na Figura 8, observa-se a freqüência relativa acumulada dos desvios (%), para cada operador no ensaio com o sistema de direcionamento via satélite operando em curva. Nesta situação verifica-se que 90 % das observações dos desvios obtidos pelo Operador 1 foram menores que 1,04 m, sendo que o maior desvio foi de 1,53 m. Já para o Operador 2, 90 % das observações dos desvios foram menores que 0,74 m, sendo o maior desvio de 0,97 m. O erro médio entre todas as observações no ensaio com o sistema de direcionamento via satélite operando em curva foi de 0,44 m. 100 90 Freqüência Relativa Acumulada (%) 80 70 60 50 40 30 20 10 Barra de Luz - Operador 1 - Curva Barra de Luz - Operador 2 - Curva 0 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00 1,10 1,20 1,30 1,40 Desvio (m) Figura 8: Freqüência relativa acumulada dos desvios (%) no ensaio em curva com o sistema de direcionamento via satélite Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73 70

Na Figura 9, observa-se a freqüência relativa acumulada dos desvios (%), para cada operador no ensaio em reta com o sistema de orientação por cabo de aço. Nesta situação verifica-se que 90 % das observações dos desvios obtidos pelo Operador 1 foram menores que 0,47 m, sendo que o maior desvio foi de 0,67 m. Já para o Operador 2, 90 % das observações dos desvios foram menores que 0,35 m, sendo o maior desvio de 0,62 m. O erro médio entre todas as observações no ensaio com o sistema de orientação por cabo de aço foi de 0,23 m. 100 90 Freqüência Relativa Acumulada (%) 80 70 60 50 40 30 20 10 Cabo de aço - Operador 1 - Curva Cabo de aço - Operador 2 - Curva 0 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00 1,10 1,20 1,30 1,40 Desvio (m) Figura 9: Freqüência relativa acumulada dos desvios (%) no ensaio em curva com o sistema de orientação por cabo de aço. Foi calculado o intervalo de confiança (IC) ao nível de 95 % de significância para todas as observações. O valor do IC encontrado para o sistema de direcionamento via satélite foi de 0,44 ± 0,07 m, ou seja, ao nível de significância indicado e quando todas as condições operacionais e ambientais forem as mesmas das do ensaio o erro provável estará entre 0,37 e 0,51 m com 95 % de probabilidade. O valor do IC encontrado para o cabo de aço foi de 0,23 ± 0,03 m, ou seja, quando todas as condições operacionais e ambientais forem as mesmas das do ensaio o erro provável estará entre 0,20 e 0,26 m. A Figura 10 ilustra um gráfico comparativo dos intervalos de confiança para os diferentes tratamentos. Pode-se observar que houve diferença estatística entre as médias dos erros dos sistemas de orientação, onde, o sistema de orientação por cabo de aço apresentou um erro médio estatisticamente inferior ao apresentado pela barra de luz. Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73 71

Barra de Luz 0,437 Cabo de aço 0,235 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 Desvio (m) Figura 10: Gráfico comparativo dos intervalos de confiança e desvio médio (m) obtidas para cada tratamento na operação em curva. A Tabela 2 apresenta o Teste de Tukey para as médias dos erros obtidos no ensaio em curva em função do operador. Como no ensaio em reta, observa-se que na condição de curva também as médias dos erros obtidas pelos dois operadores são estatisticamente diferentes entre si ao nível de 5 % de significância, ou seja, o Operador 1 apresentou um erro médio superior ao erro médio apresentado pelo Operador 2 (sem experiência com barra de luz e orientação por cabo) ao nível de 95 % de probabilidade quando operando em curva. Este resultado mostra que embora o Operador 1 tenha maior experiência que o Operador 2, este último alcançou melhores resultados, ilustrando que o Operador 2 possui maior habilidade. Tabela 2: Teste estatístico para as médias dos erros obtidos no ensaio em curva em função do operador do trator. Tratamentos Nº Repetições Média (m) ¹ Operador 1 80 0,38 A Operador 2 80 0,29 B ¹ Médias seguidas de mesma letra são iguais estatisticamente ao nível de 5 % de probabilidade pelo Teste de Tukey (DMS = 0,0754). 4 CONCLUSÕES Foi constatado que ambos os sistemas de orientação ensaiados, direcionamento via satélite e por cabo de aço, são capazes de orientar o operador de máquinas agrícolas em alinhamentos sucessivos adjacentes tanto em operações em reta quanto em operações em curva. O sistema de direcionamento por cabo de aço apresentou erros semelhantes estatisticamente ao sistema de direcionamento por satélite, quando operando em reta. Já na operação em curva o erro médio, Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73 72

apresentado pelo sistema por cabo de aço, foi estatisticamente inferior. Os erros obtidos com os sistemas de direcionamento foram maiores para as orientações em curva. Foi verificado que a habilidade do operador pode influir diretamente sobre o erro apresentado, pelo sistema de orientação, tanto nas operações em reta quanto nas operações em curva. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAIO, F.H.R. Metodologia para ensaio de sistemas de direcionamento via satélite em percursos retos e curvos. 2005. 100 f. Tese (Doutorado em Agronomia/Energia na Agricultura) Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu. BAIO, F.H.R.; ANTUNIASSI, U.L. Direção certa: barra de luz. Cultivar Máquinas, Pelotas, n.22, p.14-16, 2003. BAIO, F.H.R. et al. Avaliação da acurácia de uma barra de luz utilizada na agricultura de precisão em relação ao marcador de espuma. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.5, n.2, p.357-360, 2001. BUICK, R.; WHITE, E. Comparing GPS guidance with foam marker guidance. ln: INTERNATIONAL CONFERENCE ON PRECISION AGRICULTURE, 1998, St. Paul. Proceedings Madison: ASA- CSSA-SSSA, 1998. p.1035-1045, TORRES, F.; RIBEIRO FILHO, A.C.; BAIO, F.H.R. Comparação da utilização da barra de luz na agricultura de precisão em relação ao marcador de espuma. In: BORÉM, A.B. et al. (Org.). Agricultura de Precisão. Viçosa: UFV, 2000. p. 357-364. VETTER, A.A. Qualitative evaluation of DGPS guidance for ground-based agricultural applications. Applied Engineering in Agriculture, St. Joseph, v. 11, n.3, p.459-464, 1995. Botucatu, vol. 23, n.3, 2008, p.60-73 73