E NAS RELAÇÕES RACIAIS



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Transcrição:

O ESTADO DA ARTE DO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA COM ÊNFASE EM RACISMO E NAS RELAÇÕES RACIAIS Lívia Jéssica Messias de Almeida, UEFS 1 RESUMO O presente artigo objetiva discutir e mapear as produções de teses e dissertações que analisam os livros didáticos de língua portuguesa, no período de 1987 a 2009, com ênfase em racismo, relações raciais e representações do negro. O levantamento de dados foi realizado junto a CAPES, sendo que para análise das produções foram considerados o problema da pesquisa, a metodologia, a fundamentação teórica, o resultado da pesquisa e os livros didáticos investigados. Como resultado observou-se que todos os autores concordam na premissa da reestruturação do livro didático de língua portuguesa para se adequar não somente a legislação brasileira, mas para contemplar milhões de alunos e alunas que fazem desse recurso seu principal aporte teórico. Palavras-chave: Estado da arte; livro didático de língua portuguesa; relações raciais; racismo 1. INTRODUÇÃO O presente artigo tem como objetivo discutir e mapear as produções de dissertações e teses sobre os livros didáticos de língua portuguesa defendidos nos programas de pós-graduação no Brasil, no período de 1987 a 2009, destacando as que discutem os temas racismo, representação do negro e relações raciais. É válido ressaltar a necessidade de conhecimento dos estudos e pesquisas a respeito desse recurso devido a sua grande relevância no contexto escolar por ser um dos mais antigos instrumentos de trabalho dos educadores brasileiros. Além de compreender que o livro didático é uma mercadoria do mundo editorial, condicionado às influências sociais, econômicas, técnicas, políticas e culturais como 1 Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Agência Financiadora CAPES. Contato: lívia.ljma@gmail.com

qualquer outra mercadoria que percorre os caminhos da produção, distribuição e consumo. De acordo com Lajolo (1996), o livro didático assumiu uma grande importância dentro da prática de ensino brasileira nestes últimos anos, isso é notável, principalmente, onde a precária situação educacional faz com que ele acabe determinando conteúdos e condicionando estratégias de ensino, pois, de forma decisiva, o que se ensina e como se ensina o que se ensina. 2. RESULTADOS E DISCUSSÕES Inicialmente foi feito um levantamento quantitativo no site da CAPES buscando teses e dissertações que versam sobre tema livro didático de língua portuguesa. Dessa forma, foram encontradas um total de 297 produções, dentre estas 40 teses e 256 dissertações, no período de 1987 a 2009. A partir de então foram selecionadas as teses e dissertações que abordam sobre racismo, relações raciais ou representações do negro no livro didático de língua portuguesa. Foram encontradas quatro dissertações e uma tese consideradas como produções recentes escritas após o ano de 2002. Isto é, não acompanha a produção do livro didático no Brasil demonstrando a carência de estudos e pesquisas na área. Cabe enfatizar que uma das dissertações trata sobre os livros didáticos de língua portuguesa e de matemática, cabendo somente a análise da especificidade de língua portuguesa. Na tabela abaixo estão citadas as dissertações e tese que serão analisadas e apresentadas, para isso foram considerados o problema da pesquisa, a fundamentação teórica, a metodologia, os resultados da pesquisa e os livros didáticos investigados. Tese/Dissertação Autor Instituição Ano As transformações da representação social do SILVA, Ana Célia da Universidade Federal da Bahia 2001

negro no livro didático e seus determinantes A representação do negro CRESTANI, Luciana Universidade de 2002 em livros didáticos de língua Maria Passo Fundo portuguesa. O Negro no Livro Didático de COSTA, Candida Universidade 2004 Língua Portuguesa: Imagens Soares da Federal de Mato e Percepções de Alunos e Grosso Professores. Relações raciais em livros SILVA, Paulo Vinícius Pontifícia 2005 didáticos de língua Baptista da Universidade portuguesa. Católica de São Paulo A representação da QUEIROZ, Renata Universidade São 2008 diversidade étnico racial e Marcos de gênero no livro didático do Ensino Fundamental brasileiro. A cor da metáfora: o racismo FREITAS, Ivana Silva Universidade 2009 no livro didático de língua Federal da portuguesa. Paraíba A tese realizada por Silva (2001) teve por objetivo identificar a existência de transformações na representação social do negro no livro didático e os determinantes dessas transformações. O objeto de investigação foi o livro didático de Língua Portuguesa de Ensino Fundamental de 1º e 2º ciclos.

A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas, na primeira etapa foram analisados quinze livros, utilizando a técnica de análise de conteúdo, selecionou-se cinco livros editados pela FTD, que apresentaram maior freqüência de transformações na representação social do negro. A categorização dos dados, feita pela autora, apoiou-se em indicadores preestabelecidos a partir dos dados de duas pesquisas realizadas anteriormente, sobre o mesmo objeto de investigação, para esta investigação foram selecionadas os textos e ilustrações dos livros. Já na segunda etapa da investigação constituiu-se de entrevistas aos autores dos textos e das ilustrações dos livros analisados, com o objetivo de identificar os fatores determinantes das transformações das representações encontradas. A interpretação dos dados da primeira etapa da pesquisa revelou a existência de transformações na representação social do negro, quanto a sua presença humanizada, com direitos de cidadania, não estigmatizado a funções e papéis considerados subalternos e em interação com outras raças/etnias. Por outro lado, continuam representados como minoria e como cidadãos abstratos, sem uma cultura específica da sua raça/etnia, sugerindo uma assimilação. A interpretação dos dados das entrevistas revelou que a convivência entre as diversas raças/etnias, os valores culturais, a identidade étnico-racial e a discriminação, foram os fatores que mais influíram para a transformação da representação social do negro. Os resultados da investigação apontam para a necessidade de trabalhar junto aos professores esses determinantes de transformação da representação social, no sentido de promover o reconhecimento, respeito e interação dos diferentes grupos étnico/raciais que compõem a sociedade. Em sua dissertação Crestani (2002) traz para o debate a representação do negro em livros didáticos tema que já foi relevante tema de estudos e de discussões, na área da educação, particularmente a partir da década de cinqüenta até meados dos anos oitenta. As pesquisas revelaram que os esses livros eram, freqüentemente, veículos de disseminação do preconceito e da discriminação racial devido às formas como os sujeitos negros neles vinham representados. Ainda, afirma que essa denúncia do caráter ideológico-discriminatório do livro didático levou o Ministério da Educação (MEC), a partir de 1996, a somente incluir no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) os livros isentos de preconceitos que levem a discriminações de qualquer natureza.

A pesquisa da referida autora tem o objetivo de analisar livros didáticos de Língua Portuguesa de 5ª a 8ª séries que fizeram parte do PNLD 2002, para verificar se houve, a partir desse novo critério de avaliação mudanças significativas nas formas de representação do negro, ou se, em essência, o preconceito sob uma forma dissimulada se mantém. Foi utilizado como arcabouço teórico-metodológico princípios da semiótica discursiva, foram analisados textos de vinte livros (cinco coleções) de Língua Portuguesa. Em suas análises, Crestani (2002), constatou que o preconceito racial ainda se faz presente nas obras que circulam nas escolas; não de maneira explícita como era diagnosticado nas primeiras pesquisas sobre o tema, mas de uma forma velada ocultando-se nas relações entre as temáticas e os diferentes sujeitos - brancos e negros - que as desenvolvem; nos papéis e ações desempenhados por uns e outros; nos seus traços de caráter e subjetividade; no universo em que atuam. A autora conclui que as formas de representação dos sujeitos negros nos textos dos livros didáticos não estão contribuindo para a construção de uma ética democrática e plural, objetivo a que visam os critérios instituídos pelo MEC. Ao contrário, dissimuladamente, os livros didáticos continuam a difundir preconceitos que mantêm e até reforçam a estrutura discriminatória da sociedade brasileira. Costa (2004) inicia sua dissertação afirmando que livro didático tem sido um importante suporte no desenvolvimento das atividades escolares, no entanto, ao portar estereótipos negativos sobre o negro, constitui-se poderoso instrumento de sustentação da discriminação racial. Nessa linha é que se define o objetivo da pesquisa de verificar a percepção de professores e alunos sobre as situações de discriminação racial contidas nesses livros. A coleta de dados foi em duas etapas: na primeira, realizou-se uma pesquisa exploratória nos livros adotados nas escolas pesquisadas, com vistas a constatar em que perspectiva, se negativa ou positiva, os negros estão sendo focalizados; e na segunda, foram entrevistados alunos e professores da 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental, disciplina Língua Portuguesa, usuários desses livros. De acordo com a autora os resultados apontaram uma contradição instaurada no ambiente escolar, pois, se por um lado, as professoras negam a existência de situações discriminatórias nesses livros, por outro, os alunos evidenciam que não só as percebem como as utilizam nas relações com os colegas. Desse modo,

demonstram percepção mais aguçada que a das docentes no que se refere às situações de discriminação racial nos livros didáticos. Por esse viés, conclui que sua pesquisa se configura como uma surpreendente problemática no que se refere à implementação de efetivas ações para o combate da discriminação racial no processo educativo. Os resultados apresentados pela autora apontam que, apesar de os livros analisados focalizarem os negros negativamente, os professores parecem apresentar uma percepção menos aguçada que os alunos, pois, ao contrário destes, alegam que não percebem nesses livros, situações discriminatórias. Silva (2005) em sua tese Relações raciais nos livros didáticos de língua portuguesa efetuou a análise dos discursos sobre os segmentos raciais negros e brancos em livros didáticos de Língua Portuguesa para a quarta série do ensino fundamental, publicados entre 1975 e 2004. A análise foi produzida nos contextos interpretativos da teoria da ideologia de Thompson (1995) e dos estudos contemporâneos sobre discursos racistas. Além disso, manteve-se como foco os possíveis impactos da movimentação em torno do tema na produção de discurso racista em livros didáticos de Língua Portuguesa, procurando apreender permanências e mudanças dos discursos no período considerado, adotando, para tanto, uma perspectiva diacrônica. O autor adotou a proposta metodológica de Hermenêutica de Profundidade/HP composta por três etapas: a primeira foi à análise sócio-histórica, tendo como objetivo analisar os contextos específicos e socialmente estruturados nos quais as formas simbólicas foram produzidas e reproduzidas. A segunda etapa, a análise formal ou discursiva, consistiu na análise interna às próprias formas simbólicas, à qual buscou-se integrar técnicas de análise de conteúdo. E a terceira e última, a interpretação/reinterpretação da ideologia, operação de síntese que buscou articular os resultados das fases anteriores. Para compor a análise quantitativa, Silva (2005) analisou uma amostra de 252 unidades de leitura, retiradas de 33 livros didáticos de Língua Portuguesa para a 4ª série do ensino fundamental, nas quais foram observados 1372 personagens nos textos e 650 personagens nas ilustrações. Foram também analisados 120 personagens observados nas ilustrações das capas dos 33 livros. Nessa linha, a análise do contexto de produção dos livros didáticos de Língua Portuguesa e a análise formal permitiram, ao autor, desenvolver a tese de que, a

despeito de toda a movimentação no campo de produção dos livros didáticos, de o tema racimo nos livros didáticos ter participado da agenda das políticas educacionais brasileiras, das avaliações promovidas pelo Ministério da Educação/MEC, o livro didático continuou produzindo e veiculando discurso racista. O resultado da pesquisa apresentado por Silva (2005) afirma que os livros didáticos de Língua Portuguesa apresentaram modificações após o início do ciclo de avaliações do Programa Nacional do Livro didático/pnld, mas continuaram produzindo e veiculando discurso que universaliza a condição do branco, tratando-o como representante da espécie, naturaliza a dominação branca e estabelece os personagens brancos como interlocutores potenciais dos textos, estigmatiza o personagem negro, situando-o como out-group, mantendo-o circunscrito a determinadas temáticas e espaços sociais e reafirma tendência a passifização dos personagens negros, mantidos como de pendentes, sem acesso à fala e com menor possibilidade de ação nas tramas. Enfim, o autor reflete sobre as limitadas possibilidades de mudanças no discurso veiculado pelos livros didáticos de Língua Portuguesa, que amiúde reproduz discurso racista produzido em outros meios, particularmente na literatura infanto-juvenil, na literatura e na mídia escrita Já na dissertação de Queiroz (2008) o autor procura compreender criticamente as alterações na representação da diversidade étnico-racial e de gênero, nos livros didáticos de língua portuguesa e matemática dos quatro primeiros anos do ensino fundamental, lançados entre 1990 e 2000, e aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático para utilização nas escolas públicas. Propõe a revisitação dos livros didáticos com o intuito de identificar como autores, ilustradores, editores, muitos deles educadores, representam a diversidade em suas publicações. Acredita-se que tal representação não é neutra e vem imbuída de valores, crenças, aspectos legais e políticas públicas em voga no período da publicação. Para o desenvolvimento da análise, foi realizada uma pesquisa documental, na qual foram avaliados seis livros didáticos de cada período selecionado, buscando-se conhecer as representações da diversidade veiculadas. Para a escolha dos dados mais relevantes, utilizaram-se as categorias analíticas: momentos de lazer, brinquedos e brincadeiras, profissões, composição e relacionamento familiar, festas e manifestações culturais, personalidades e situações do cotidiano escolar (QUEIROZ, 2008).

A pesquisa revelou que os livros dos dois períodos ainda veiculam preconceito explícito, através de imagens e ilustrações, marcadas por sexismo, racismo e manifestações de intolerância. Ainda, foi verificado pela autora, que as representações de grupos formados somente por pessoas brancas. A maioria das representações, porém, quando analisadas em profundidade, veiculam preconceito de modo sutil e são reforçadoras do mito da democracia racial e da suposta equidade entre gêneros, mesmo quando aparentemente neutras: preconceitos antigos, com nova roupagem. Foram raros os dados reveladores de uma correta representação da diversidade. Por isso, não devemos aceitar uma educação sustentada por materiais didáticos que aprofunda as desigualdades, que fortifica o poder dos poderosos, e que assiste de braços cruzados à aviltação e ao destrato dos humildes e que acalenta a impunidade. Não devemos crer numa democracia puramente formal que "lava as mãos" em face das relações entre quem pode e quem não pode porque já foi dito que "todos são iguais perante a lei (FREIRE, 2000). Freitas (2009) em sua dissertação tem como foco central verificar como se dá, no livro didático, a representação da população negra, através da análise ideoestética dos excertos literários realizada à luz não apenas das teorias literárias, mas também de outros suportes teóricos advindos das Ciências Humanas e Sociais voltados para a questão étnico-racial, que consideramos importante para a articulação da linguagem com a ideologia a ela subjacente. Na pesquisa são analisados 75% de todos os livros didáticos de língua portuguesa de disponibilizados pelo Mistério da Educação e Cultura através do Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio. No decorrer da pesquisa a autora analisa ideologias racistas disseminadas por meio dos trechos literários presentes nos livros didáticos desvendando as nuances de cunho ideológico, extrapolando análises conteudísticas, o que se torna uma tarefa árdua e minuciosa. Além de constituir como objetivo investigar sob que ótica a lei 10.639/03, vem sendo implementada e conseqüentemente oferecer alternativas práticas no sentido de minimizar o racismo tão latente na sociedade brasileira. A autora conclui apresentando propostas para o cumprimento da verdadeira função da literatura no livro didático de língua portuguesa salientando que a grande problemática dos livros didáticos analisados, não está na presença de obras e

poemas tão célebres como O cortiço e Navio Negreiro. Pelo contrário estas obras são fiéis ao período histórico-cultural no qual foram produzidos e devem constar no livro didático desde que o discurso forneça as pistas necessárias para o leitor compreender a dimensão das relações raciais na sociedade brasileira. Em suma, é evidente o abismo existente no livro didático entre o tratamento dado ao branco e ao negro chamando a atenção para a existência de uma política educacional que não faz jus a realidade brasileira. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O livro didático como importante mediador da comunicação em sala de aula, deveria ser o alicerce de novos paradigmas, uma vez que, se caracteriza como um objeto cultural que apresenta perspectivas do discurso científico, do discurso pedagógico e do discurso midiático, tornando-o um constituinte de identidades e sentidos. Deve-se evidenciar que os livros didáticos não são apenas instrumentos pedagógicos, mas sim, veículos utilizados pelos grupos dominantes que buscam perpetuar suas identidades, seus valores, suas tradições e suas culturas. A seguir esta linha de raciocínio, se trata de uma forma de comunicação que tanto possibilita o respeito às diferenças, quanto pode perpetuar preconceitos e discriminações. Observou-se com a análise das produções que se encaminha para a subrepresentação do negro no principal instrumento utilizado nas escolas públicas brasileiras, afirmando a necessidade urgente de valorização das aprendizagens segundo cada etnia-racial e, a contemplação da diversidade racial e cultural que compõem o Brasil determinando a implementação do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Desse modo, a criança negra não forma parâmetros positivos e não consegue se vê inserida como integrante da sociedade, devido ao sentimento de rejeição a sua identidade. Esse sentimento de rejeição é reforçado, quando a criança não se vê também representada nas estórias, nos contos, nas crônicas entre outros que a professora conta em sala de aula.

É preciso refletir que não vivemos em uma sociedade em que as culturas se encontram no mesmo patamar, por isso não serão representadas da mesma forma. Dentre as várias representações, percebe-se que os grupos não-dominantes são demonstrados nos meios de comunicação ou em materiais pedagógicos de maneira estereotipada, preconizada, racista e discriminatória como se não fosse integrante da sociedade. Com a análise das produções se torna evidente a necessidade de se estabelecer muito além de critérios para proibir o preconceito, o racismo e a discriminação. Pois, nota-se que medidas previstas em lei devem combinar com medidas concretas de ações afirmativas para a valorização da população no instrumento pedagógico mais utilizado em todas as escolas do país. 5. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Eliane M. Wielewski, Gladys D. Estado da Arte do Livro Didático de Matemática Produzido nobrasil Destacando a Álgebra no Ensino Fundamental e Médio. Disponível em < http://pt.scribd.com/doc/54211138/gt05-almeida-ta> Acesso: 20 de jun de 2011. COSTA, Candida Soares da. O Negro no Livro Didático de Língua Portuguesa: Imagens e Percepções de Alunos e Professores. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Mato Grosso, 2004. CRESTANI, Luciana Maria. A representação do negro em livros didáticos de língua portuguesa. Dissertação de Mestrado. Universidade de Passo Fundo. Rio Grande do Sul, 2002. FREITAS, Ivana Silva. A cor da metáfora: o racismo no livro didático de língua portuguesa.. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da Paraíba, 2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP, 2000. LAJOLO, Marisa. Livro didático: um (quase) manual de usuário. Em Aberto, Brasília, 16 (69):3-9, jan./mar. 1996. QUEIROZ, Renata. A representação da diversidade étnico racial e de gênero no livro didático do Ensino Fundamental brasileiro. Dissertação de Mestrado. Universidade São Marcos, 2008 SILVA, Paulo Vinícius Baptista da. Relações raciais em livros didáticos de língua portuguesa. Tese. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005.