Nº /2015 ASJCRIM/SAJ/PGR Protocolo n. 34996/2014 Nominado : CANDIDO ELPÍDIO DE SOUZA VACCAREZZA



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Transcrição:

Nº /2015 ASJCRIM/SAJ/PGR Protocolo n. 34996/2014 Nominado : CANDIDO ELPÍDIO DE SOUZA VACCAREZZA PROCESSO PENAL. PETIÇÃO. APURAÇÃO DE CONDU- TA QUE ENVOLVE DEPUTADO FEDERAL. NÃO-REE- LEIÇÃO. PERDA DA PRERROGATIVA DE FORO PE- RANTE O STF. DEVOLUÇÃO DOS AUTOS À ORIGEM. Investigação envolvendo Deputado Federal, que não foi reeleito. Perda da prerrogativa de foro prevista no artigo 102, inciso I, alínea b, da Constituição de 1988. Envio dos autos à 13ª Vara Federal de Curitiba/PR. O Procurador-Geral da República vem perante Vossa Excelência se manifestar nos termos que se seguem. I Contextualização dos fatos no âmbito da chamada Operação Lava Jato A intitulada Operação Lava Jato desvendou um grande esquema de corrupção de agentes públicos e de lavagem de dinheiro relacionado à sociedade de economia mista federal Petróleo Brasileiro S/A PETROBRAS. A operação assim denominada abrange, na realidade, um conjunto diversificado de investigações e ações penais vinculadas à 13ª Vara Federal da Seção Judiciária do Paraná, em Curitiba.

Inicialmente, procurava-se apurar esquema de lavagem de dinheiro envolvendo o ex-deputado Federal JOSE MOHAMED JANENE, o doleiro CARLOS HABIB CHATER e as empresas CSA Project Finance Ltda. e Dunel Indu stria e Come rcio Ltda. Essa apuração resultou no ajuizamento da ação penal objeto do Processo n. 5047229-77.2014.404.7000. A investigação inicial foi, a seu tempo, ampliada para alcançar a atuação de diversos outros doleiros, com isso revelando a ação de grupos distintos. Esses doleiros relacionavam-se entre si para o desenvolvimento das atividades criminosas. Formavam, todavia, grupos autônomos e independentes, mas com alianças ocasionais. Isso deu origem a quatro operações, que acabaram, em seu conjunto, por ser conhecidas como Operação Lava Jato : a) Operação Lava Jato (propriamente dita), referente às atividades do doleiro CARLOS HABIB CHA- TER, denunciado nos autos dos Processos n. 5025687-03.2014.404.7000 e n. 5001438-85.2014.404.7000; b) Operação Bidone, referente às atividades do doleiro ALBERTO YOUSSEF, denunciado nos autos do Processo n. 5025699-17.2014.404.7000 e em outras ac o es penais; 2

c) Operação Dolce Vitta I e II, referente às atividades da doleira NELMA MITSUE PENASSO KO- DAMA, denunciada nos autos do Processo n. 5026243-05.2014.404.7000; d) Operação Casa Blanca, referente às atividades do doleiro RAUL HENRIQUE SROUR, denunciado nos autos do Processo n. 025692-25.2014.404.7000. No decorrer das investigações sobre lavagem de dinheiro, detectaram-se elementos que apontavam no sentido da ocultação de recursos provenientes de crimes de corrupção praticados no âmbito da PETROBRAS. O aprofundamento das apurações conduziu a indícios de que, no mínimo entre os anos de 2004 e 2012, as diretorias da sociedade de economia mista estavam divididas entre partidos políticos, que eram responsáveis pela indicação e manutenção de seus respectivos diretores. Por outro lado, apurou-se que as empresas que possuíam contratos com a PETROBRAS, notadamente as maiores construtoras brasileiras, criaram um cartel, que passou a atuar de maneira mais efetiva a partir de 2004. Esse cartel era formado, dentre outras, pelas seguintes empreiteiras: GALVÃO ENGENHARIA, ODEBRECHT, UTC, CAMARGO CORRÊA, 3

TECHINT, ANDRADE GUTIERREZ, MENDES JÚNIOR, PROMON, MPE, SKANSKA, QUEIROZ GALVÃO, IESA, ENGEVIX, SETAL, GDK e OAS. Eventualmente, participavam das fraudes as empresas ALUSA, FIDENS, JARAGUÁ EQUIPAMENTOS, TOME ENGENHARIA, CONSTRUCAP e CARIOCA ENGENHARIA. Especialmente a partir de 2004, as empresas passaram a dividir entre si as obras da PETROBRAS, evitando que outras empresas não participantes do cartel fossem convidadas para os correspondentes processos seletivos. Referido cartel atuou ao longo de anos, de maneira organizada, inclusive com regras previamente estabelecidas, semelhantes ao regulamento de um campeonato de futebol. Havia, ainda, a repartição das obras ao modo da distribuição de prêmios de um bingo. Assim, antes do início do certame, já se sabia qual seria a empresa ganhadora. As demais empresas apresentavam propostas em valores maiores do que os apresentados pela empresa que deveria vencer apenas para dar aparência de legalidade ao certame, em flagrante ofensa à Lei de Licitações. Para garantir a manutenção do cartel, era relevante que as empresas cooptassem agentes públicos da PETROBRAS, especialmente os diretores 1, que possuíam grande poder de 1 A PETROBRAS, na época, possuía as seguintes Diretorias: Financeira; Gás e Energia; Exploração e Produção; Abastecimento; Internacional; e de 4

decisão no âmbito da sociedade de economia mista. Isso foi facilitado em razão de os diretores, como já ressaltado, terem sido nomeados com base no apoio de partidos, tendo havido comunhão de esforços e interesses entre os poderes econômico e político para implantação e funcionamento do esquema. Os funciona rios de alto escalão da PETROBRAS recebiam vantagens indevidas das empresas cartelizadas e, em contrapartida, não apenas se omitiam em relação ao cartel ou seja, não criavam obstáculos ao esquema nem atrapalhavam seu funcionamento, mas também atuavam em favor das empresas, restringindo os participantes das convocações e agindo para que a empresa escolhida pelo cartel fosse a vencedora do certame. Ademais, conforme apurado até o momento, esses funcionários permitiam negociações diretas injustificadas, celebravam aditivos desnecessários e com preços excessivos, aceleravam contratações com supressão de etapas relevantes e vazavam informações sigilosas, dentre outras irregularidades, todas em prol das empresas cartelizadas. As empreiteiras que participavam do cartel e ganhavam as obras incluíam um sobrepreço nas propostas apresentadas, de 1 a 5% do valor total dos contratos e eventuais aditivos (incluído no lucro das empresas ou em jogo de planilhas), que era destinado, inicialmente, ao pagamento dos altos funciona rios da PETRO- Serviços. 5

BRAS. As vantagens indevidas e os prejuízos causados à sociedade de economia mista federal provavelmente superam um bilhão de reais. Esses valores, porém, destinavam-se não apenas aos diretores da PETROBRAS, mas também aos partidos políticos e aos parlamentares responsáveis pela manutenção dos diretores nos cargos. Tais quantias eram repassadas aos agentes políticos de maneira periódica e ordinária, e também de forma episódica e extraordinária, sobretudo em épocas de eleições ou de escolhas das lideranças. Esses políticos, por sua vez, conscientes das práticas indevidas que ocorriam no bojo da PETROBRAS, não apenas patrocinavam a manutenção do diretor e dos demais agentes públicos no cargo, como também não interferiam no cartel existente. A repartição política das diretorias da PETROBRAS revelou-se mais evidente em relação à Diretoria de Abastecimento, à Diretoria de Serviços e à Diretoria Internacional, envolvendo sobretudo o Partido Progressista PP, o Partido dos Trabalhadores PT e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro PMDB, da seguinte forma: a) A Diretoria de Abastecimento, ocupada por PAULO ROBERTO COSTA entre 2004 e 2012, era de indicação do PP, 6

com posterior apoio do PMDB; 2 b) A Diretoria de Serviços, ocupada por RENATO DUQUE entre entre 2003 e 2012, era de indicação do PT; 3 c) A Diretoria Internacional, ocupada por NESTOR CERVERÓ entre 2003 e 2008, era de indicação do PMDB. Para que fosse possível transitar os valores desviados entre os dois pontos da cadeia ou seja, das empreiteiras para os diretores e políticos atuavam profissionais encarregados da lavagem de ativos, que podem ser chamados de operadores ou intermediários. Referidos operadores encarregavam-se de, mediante estratégias de ocultação da origem dos recursos, lavar o dinheiro e, assim, permitir que a propina chegasse aos seus destinatários de maneira insuspeita. 4 2 PAULO ROBERTO COSTA foi nomeado como diretor do setor de abastecimento da PETROBRAS em 2004, após manobra política realizada pelos Deputados Federais do PP José Janene, Pedro Corrêa e Pedro Henry, que chegaram a promover o trancamento de pauta do Congresso para pressionar o Governo a nomeá-lo. No entanto, PAULO ROBERTO COSTA ficou doente no final do ano de 2006. Na época, houve um movimento de políticos e funcionários da PETROBRAS para retirá-lo do cargo de Diretor de Abastecimento da sociedade de economia mista. No entanto, a bancada do PMDB no Senado interveio para que isso não ocorresse, sustentando a permanência do diretor em questão no cargo, em troca do seu apoio aos interesses do partido. 3 O PT também detinha a indicação da Diretoria de Gás e Energia e a Diretoria de Exploração e Produção da PETROBRAS, mas não há elementos indicativos de que os respectivos diretores participassem do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro em questão, pois quem executava os contratos dessas duas diretorias era a Diretoria de Serviços, no âmbito da qual se concretizavam as ilicitudes. 4 O operador do Partido Progressista, em boa parte do período em que funcionou o esquema, era ALBERTO YOUSSEF. O operador do Partido dos Trabalhadores era JOÃO VACCARI NETO. O operador do Partido do 7

Conforme descrito por ALBERTO YOUSSEF, o repasse dos valores dava-se em duas etapas. Primeiro, o dinheiro era repassado das construtoras para o operador. Para tanto, havia basicamente três formas: a) entrega de valores em espécie; b) depósito e movimentação no exterior; c) contratos simulados de consultoria com empresas de fachada 5. Uma vez disponibilizado o dinheiro ao operador, iniciava-se a segunda etapa, na qual a vantagem indevida saía do operador e Movimento Democrático Brasileiro era FERNANDO SOARES, conhecido como FERNANDO BAIANO. 5 A forma mais comum de lavagem de dinheiro, em relação ao operador do PP ALBERTO YOUSSEF, consistiu na contratação fictícia, pelas empreiteiras, de empresas de fachada dos operadores, com o intuito de justificar a ida do dinheiro das empreiteiras para os operadores. Assim, empreiteiras e operadores disfarçaram o pagamento da propina na forma de pagamento por serviços. Dentre as empresas de fachada responsáveis pelos serviços, podem ser citadas as seguintes: GFD INVESTIMENTOS, MO CONSULTORIA, EMPREITEIRA RIGIDEZ e RCI SOFTWARE. Nenhuma dessas empresas tinha atividade econômica real, três delas não tinham empregados (ou, mais exatamente, uma delas tinha um único empregado), e muito menos eram capazes de prestar os serviços contratados. Ademais, os serviços de consultoria contratados eram bastante especializados, e os objetos falsos dos contratos incluíam: prestação de serviços de consultoria para recomposição financeira de contratos; prestação de consultoria técnica empresarial, fiscal, trabalhista e de auditoria; consultoria em informática para desenvolvimento e criação de programas; projetos de estruturação financeira; auditoria fiscal e trabalhista; levantamentos quantitativos e proposta técnica e comercial para construção de shopping; consultoria na área de petróleo. Todos esses serviços existiam no papel, mas nunca foram prestados. Era, então, emitida nota fiscal pelas empresas de fachada em favor das construtoras, que depositava os valores nas contas das empresas de fachada. O valor depositado era, em seguida, sacado em espécie e entregue ao operador, transferido para contas correntes em favor do operador ou eram efetuados pagamentos em favor do operador. 8

era enviada aos destinatários finais (agentes públicos e políticos), descontada a comissão do operador. Em geral, havia pelo menos quatro formas de os operadores repassarem os valores aos destinatários finais das vantagens indevidas: a) A primeira forma uma das mais comuns entre os políticos consistia na entrega de valores em espécie, que era feita por meio de funcionários dos operadores, os quais faziam viagens em voos comerciais, com valores ocultos no corpo, ou em voos fretados 6. b) A segunda forma era a realização de transferências eletrônicas para empresas ou pessoas indicadas pelos destinatários ou, ainda, o pagamento de bens ou contas em nome dos beneficiários. c) A terceira forma ocorria por meio de transferências e depósitos em contas no exterior, em nome de empresas offshores de responsabilidade dos funciona rios públicos ou de seus familiares. d) A quarta forma, adotada sobretudo em épocas de campanhas eleitorais, era a realização de doações oficiais, devidamente declaradas, pelas construtoras ou empresas coligadas, diretamente para os políticos 6 No caso de ALBERTO YOUSSEF, para a entrega de valores em Brasília, ele também se valia dos serviços de outro doleiro da capital, CARLOS CHATER, que efetuava as entregas de dinheiro em espécie para pessoas indicadas, após o pagamento, por ALBERTO YOUSSEF, de fornecedores do posto de combustíveis de propriedade de CHATER (Posto da Torre). 9

ou para o diretório nacional ou estadual do partido respectivo, as quais, em verdade, consistiam em propinas pagas e disfarçadas do seu real propósito. As investigações da denominada Operação Lava Jato descortinaram a atuação de organização criminosa complexa. Destacam-se, nessa estrutura, basicamente quatro núcleos: a) O núcleo político, formado principalmente por parlamentares que, utilizando-se de suas agremiações partidárias, indicava e mantinha funcionários de alto escalão da PETROBRAS, em especial os diretores, recebendo vantagens indevidas pagas pelas empresas cartelizadas (componentes do núcleo econômico) contratadas pela sociedade de economia mista, após a adoção de estratégias de ocultação da origem dos valores pelos operadores financeiros do esquema. b) O núcleo econômico, formado pelas empreiteiras cartelizadas contratadas pela PETROBRAS, que pagavam vantagens indevidas a funcionários de alto escalão da sociedade de economia mista e aos componentes do núcleo político, por meio da atuação dos operadores financeiros, para manutenção do esquema. 10

c) O núcleo administrativo, formado pelos funcionários de alto escalão da PETROBRAS, especialmente os diretores, os quais eram indicados pelos integrantes do núcleo político e recebiam vantagens indevidas das empresas cartelizadas, componentes do núcleo político, para viabilizar o funcionamento do esquema. d) O núcleo financeiro, formado pelos operadores tanto do recebimento das vantagens indevidas das empresas cartelizadas integrantes do núcleo econômico como do repasse dessa propina aos componentes dos núcleos político e administrativo, mediante estratégias de ocultação da origem desses valores. No decorrer das investigações e ações penais, foram celebrados acordos de colaboração premiada com dois dos principais agentes do esquema delituoso em questão: a) PAULO ROBER- TO COSTA, Diretor de Abastecimento da PETROBRAS entre 2004 e 2012, integrante destacado do núcleo administrativo da organização criminosa; e b) ALBERTO YOUSSEF, doleiro que integrava o núcleo financeiro da organização criminosa, atuando no recebimento de vantagens indevidas das empresas cartelizadas e no seu posterior pagamento a funcionários de alto escalão da PETROBRAS, especialmente a PAULO ROBERTO COSTA, 11

bem como a políticos e seus partidos, mediante estratégias de ocultação da origem desses valores. As declarações de ambos os colaboradores apontaram o possível envolvimento de vários integrantes do núcleo político da organização criminosa, preponderantemente autoridades com prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal. II. Do caso concreto A Petição 34996/2014 noticia fato que, a rigor, não está vinculado com os desvios realizados no ambiente da PE- TROBRAS. Alguns dos personagens, contudo, se repetem. Na essência, atribui-se ao ex-deputado Federal CÂNDIDO ELPIDIO DE SOUZA VACCAREZZA o crime de corrupção passiva por haver, no ano de 2011, recebido vantagem indevida no desempenho do mandato parlamentar consistente no acolhimento de comissões advindas de negócios ilícitos para saldar despesas de sua campanha eleitoral. Com efeito, sabe-se que a interferência política nas estruturas dos fundos de pensão possui objetivos diferentes dos objetivos de gerar o máximo possível de retorno para os investidores, no caso os trabalhadores-contribuintes. Há aqui e rotineiramente 12

uma apropriação por terceiros daquilo que pertence ao universo dessa ou daquela categoria de trabalhadores-contribuintes. As palavras de CARLOS ALBERTO PEREIRA COSTA (arquivo Termo Declarações 117 130814, prestado em 15 de agosto de 2014) melhor explicam o contexto: QUE, o empreendimento MARSANS foi apresentado por RAUL a ALBERTO YOUSSEF no ano de 2009, sendo elaborada uma proposta da FOCUS para essa empresa visando a aquisição, estando os documentos em seu computador que foi apreendido; QUE, a proposta era no sentido de que fosse pago um valor de R$ 4 milhões pela GFD e mais R$ 4 milhões pela FOCUS, sendo criada uma holding denominada GRACA ARANHA para gerir o patrimônio da MAR- SANS, todavia apenas a GFD acabou investindo; QUE, a situação financeira da MARSANS quando adquirida era ruim, sendo que a mesma possuía dividas de milhões e apresentava um prejuízo mensal alto também; QUE, o banco MAXIMA investiu R$ 13 milhões na MARSANS o que nao foi suficiente, sendo criado um FIP de nome MAXIMA PRIVATE, depois denominado VIAJA BRASIL com o qual foram captados recursos de RPPSs mediante o pagamento de comissões, recordando o caso do Estado de Tocantins, todavia apesar da comissão paga, os aportes prometidos não foram feitos na sua integralidade; O pagamento da comissão a agentes públicos parece estar na base do fato investigado, como de resto em todos aqueles investigados como decorrência da Operação Lavajato. Essa parece ser a lógica do negócio. Somente isso parece explicar a injeção de dinheiro dos investidores, leia-se trabalhadores-contribuintes, em uma empresa com dividas de milhões e (que) apresen- 13

tava um prejuízo mensal alto também. ALBERTO YOUSSEF no Termo de Declarações Complementar no. 10 esclarece a dinâmica do pagamento de propina: [ ] em determinado momento o ARI ARIZA, através de ENIVALDO QUADRADO disse para o declarante que o IGEPREV queria investir 30 milhões no Fundo MAXIMA, que era gerenciado pelo MAXIMA; que o declarante deveria contribuir com comissão de 10% adiantado; QUE neste momento o declarante disse que era necessário tratar diretamente com o Presidente do Fundo; QUE o presidente do Fundo, GUSTAVO FURTADO SILBERNAGEL, foi trazido por ARI a presença do depoente e ficou acertado o pagamento de 5% de propina; QUE, este valor foi efetivamente pago para ARI, logo em seguida, em São Paulo, no escritório do depoente localizado na São Gabriel, no valor de R$ 1,5 milhão; QUE este valor foi distribuído por ARI entre ENIVALDO QUADRADO e MEIRE POZZA, sendo certo ao declarante que GUSTAVO teria recebido a maior parte; QUE, o declarante somente depois soube que MEIRE tinha apresentado o IGEPREV/TO para ARI e que somente então esse procurou o depoente, iniciando-se as conversações como antes relatado; QUE, depois soube que MEIRE afirmava que o Deputado VACCAREZZA, por meio de um de seus assessores, estaria envolvido... Uma das pessoas envolvidas nessas operações e mencionada por ALBERTO YOUSSEF, MEIRE BONFIM DA SILVA POZA afirma que nessa época o patrimônio do Grupo MARSANS era em verdade concentrado na holding GRAÇA ARANHA RJ PAR- TICIPAÇÕES, que possuía um patrimônio líquido negativo de dez milhões. Porém, continua, na época houve uma reavaliação 14

fictícia para R$ 51 milhões positivos. Essa reavaliação ocorreu no início do FIP, apenas para permitir as inversões do IGEPREV/TO, que se comprometera a investir R$30 milhões e não poderia, segundo suas palavras, ser titular de mais de 20% do patrimônio do Fundo. E conclui: em vista das dívidas contraídas pelo GRUPO MARSANS, seria pouco provável que o houvesse retorno financeiro das RPPSs. É nesse ambiente que menciona o nome do ex-deputado CÂNDIDO VACCAREZZA. Diz MEIRE POZA, em 7 de agosto de 2014: questionada acerca de envolvimento de ALBERTO YOUS- SEF com a captação de recursos de RPPS, afirma que a partir da aquisição da empresa MARSANS (EXPANDIR) surgiu uma ideia do banco MAXIMA em capitalizar a empresa por meio do MAXIMA EQUITY FIP (item 453 do auto de apreensão 682/2014 lavrado em 21/07/2014), considerado que a referida instituição financeira já havia concedido um credito por meio de CCB a MARSANS no valor de R$ 13 milhões e somente teria o retorno desse empréstimo caso a empresa estivesse saneada financeiramente e fosse vendida, que era a ideia de YOUSSEF; QUE, a primeira captação do MAXIMA EQUITY FIP (posteriormente denominado VIAJA BRASIL) partiu do IGEPREV/TO no valor aproximado de dez milhões de reais; QUE, questionado como se deu a aproximação entre o IGEPREV/TO e o FIP do banco MAXIMA, responde que no ano de 2011 foi procurada pelo assessor do Deputado CANDIDO VACAR- REZZA, de nome JOAO LIMA, o qual disse conhecer a pessoa responsável pelo investimento no IGEPREV/TO, 15

que estaria buscando opções de investimento, ao passo que o Deputado VACAREZZA possuía dividas de campanha; QUE, JOAO LIMA foi bastante claro em sua proposta e perguntou se a declarante conhecia um fundo que "pagasse comissão" ao que a declarante indicou a pessoa de ARI ARIZA da empresa BRASPREV o qual, por sua vez apresentou a JOAO LIMA um FIDC que pagaria dez por cento de comissão sobre o valor investido; QUE, JOAO LIMA colocou ARI ARIZA em contato com ALMIR BENTO, responsável pelos investimentos do IGEPREV/TO, tendo sido fechada a operação e pagas as comissões; QUE, em um segundo momento, ARI ARIZA contatou diretamente ALMIR BENTO para um segundo aporte, desta vez no FIP da empresa MARSANS, o MAXIMA EQUITY FIP, com o que evitou o pagamento de comissões aos demais intermediários; QUE, perguntado se o Deputado CANDIDO VACA- REZZA recebeu de fato tais valores, afirma que, caso tenha recebido, o foi apenas na primeira operação; QUE, recordase ainda que ALBERTO YOUSEF teria dito que em determinada oportunidade ele e o Deputado ANDRE VARGAS teriam ido a um jantar na residencia do Deputado CANDI- DO VACAREZZA situado no bairro da Mooca em São Paulo. Uma leitura atenta conduz à interpretação de que há dois investimentos realizados pelo IGEPREV/TO, ambos com pagamento de comissão. Importante distinguir: a. aporte em FIDC Fundo de Investimento em Direitos Creditórios normalmente tido como de alto risco e contraindicado para fundos vinculados a RPPSs. Os depoimentos de MEIRE POZZA não identificam precisamente o FIDC do qual o IGEPREV/TO tornara-se cotista, o administrador e os outros cotistas. b. Aporte em FIP da empresa MARSANS, o MAXIMA EQUITY FIP. 16

Numa ou noutra narrativa, parece certo que, a teor das declarações coligidas, houve pagamento de vantagem indevida a gestores do IGEPREV/TO. O Instituto de Gestão Previdenciária do Estado do Tocantins IGEPREV-TOCANTINS, é uma autarquia estadual de natureza especial, criada pela Lei nº 72, de 31 de julho de 1989. Seus gestores são, para os efeitos da lei, funcionários públicos de modo que seus atos em tese podem se amoldar às definições dos crimes de peculato ou corrupção passiva conforme o contexto. Importa, contudo, eventual participação do Deputado Federal CÂNDIDO ELPIDIO DE SOUZA VACCAREZZA nesse delito. Com relação ao Deputado CÂNDIDO VACCAREZZA, MEIRE POZA, em seu depoimento, limita o tempo verbal a uma condição. A discussão, no caso, está no exato alcance da expressão perguntado se o Deputado CÂNDIDO VACAREZZA recebeu de fato tais valores, afirma que, caso tenha recebido, o foi apenas na primeira operação contida no termo de declarações de MEIRE POZZA. Tal expressão tanto pode se referir ao inves- 17

timento em FIDC quanto ao investimento em FIP. O referencial é tudo. Se primeiro se referir ao que primeiro foi dito, então MEI- RE POZA se refere ao investimento em FIDC, e aqui, também nesse caso e embora MEIRE POZA não o diga, sabe-se que IGEPREV/TO teria investido no FIDC TRENDBANK como adiante se explanará. Importa, nesse momento, destacar que, consoante informações existentes em fontes abertas, o doleiro FAYED ANTOINE TRABOULSI 7 teria sido investigado no contexto do que se denominou Operação Miqueias. Essa operação foi decorrência de investigações de fraudes ocorridas com fundos de pensão estaduais e municipais, dentre esses o IGEPREV/TO 8. A fraude noticiada, no contexto da Operação Miquéias, dependia essencialmente de aportes em FIDC: os fundos de pensão tornavam-se cotistas do FIDC; empresas de fachada vendiam cré- 7 Jornal Opção, Quem vai pagar esta conta? Disponível em: <http://www.jornalopcao.com.br/posts/tocantins-analise/quem-vai-pagaresta-conta> Acesso em 25 de fevereiro de 2015. 8 Jornal Opção, Escândalo compromete imagem do governo Siqueira Campos. Disponível em <http://www.jornalopcao.com.br/posts/tocantinsanalise/escandalo-compromete-imagem-do-governo-siqueira-campos> Acesso em 25 de fevereiro de 205. 18

ditos podres para o fundo; essas mesmas empresas de fachada recebiam os valores aportados pelos fundos e os afastava da origem transferindo o dinheiro para outras empresas de prateleira que convertia os numerários em dinheiro vivo possibilitando que agentes públicos/gestores de fundos recebessem propinas a título de comissão. ALBERTO YOUSSEF (Termo de Declarações Complementar 10) refere-se a FAYED ANTOINE TRABOULSI em suas declarações. Diz ser de seu conhecimento as relações com SIQUEI- RINHA, filho do ex-governador do Estado do Tocantins, SI- QUEIRA CAMPOS, com FAYED ANTOINE TRABOULSI. Conclui que fora FAYED ANTOINE TRABOULSI foi quem indicara GUSTAVO FURTADO SILBERNAGEL para ocupar o cargo de presidente do IGEPREV/TO. Fora a GUSTAVO, com a intermediação de ARI ARIZA, que ALBERTO YOUSSEF pagara propina no caso do investimento realizado pelo IGEPREV/TO no FIP do Banco MAXIMA. O investimento em FIDC e o investimento no FIP, contudo, são tratados como coisas diversas. JOÃO LIMA e CÂNDIDO VACCAREZZA teriam recebido comissão apenas no investimento realizado em FIDC como antes se permitiu concluir. Nesse aspecto, chama atenção a notícia de que ALBERTO YOUSSEF operava o FIDC TRENDBANK onde os cotistas seni- 19

ores seriam, ao lado do IGEPREV/TO, o POSTALIS e o PE- TROS. Ainda em fontes abertas, há a notícia de envolvimento do tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, senhor VACCARI, com operações da mesma natureza que as agora noticiada. Em resumo: os dois fatos narrados, mudado o que deve ser mudado, possuem os mesmos personagens investigados na Operação Lava-Jato e estão no desdobramento dos fatos já apurados na Justiça Federal do Paraná e envolvendo os fundos de pensão mencionados. Por fim, reafirma-se, CÂNDIDO ELPÍDIO DE SOUZA VACCAREZZA, não mais é parlamentar. Não foi reeleito no pleito de 2014. A competência do Supremo Tribunal Federal é de direito estrito. Sob o ângulo penal e na linha dos precedentes, como regra devem tramitar sob a direção desse Tribunal os inquéritos concernentes a detentores de prerrogativa de foro, detentores do direito de, ajuizada ação penal, virem a ser julgados por ele. Nesse contexto, a despeito da certeza de que os fatos narrados amoldam-se em tese às descrições dos crimes de peculato ou corrupção passiva, bem como de lavagem de ativos, considera-se que não havendo referência a parlamentar da 55 a Legislatura (2015-2019) 20

da Câmara dos Deputados é o caso de reconhecer que o fato não está sujeito à Jurisdição do Supremo Tribunal Federal: PRERROGATIVA DE FORO - EXCEPCIONALIDADE - MA- TÉRIA DE ÍNDOLE CONSTITUCIONAL - INAPLICABILI- DADE A EX-OCUPANTES DE CARGOS PÚBLICOS E A EX- TITULARES DE MANDATOS ELETIVOS - CANCELAMEN- TO DA SÚMULA 394/STF - NÃO-INCIDÊNCIA DO PRINCÍ- PIO DA "PERPETUATIO JURISDICTIONIS" - POSTULADO REPUBLICANO E JUIZ NATURAL - RECURSO DE AGRA- VO IMPROVIDO. - O postulado republicano - que repele privilégios e não tolera discriminações - impede que prevaleça a prerrogativa de foro, perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, mesmo que a prática delituosa tenha ocorrido durante o período de atividade funcional, se sobrevier a cessação da investidura do indiciado, denunciado ou réu no cargo, função ou mandato cuja titularidade (desde que subsistente) qualifica-se como o único fator de legitimação constitucional apto a fazer instaurar a competência penal originária da Suprema Corte (CF, art. 102, I, "b" e "c"). Cancelamento da Súmula 394/STF (RTJ 179/912-913). - Nada pode autorizar o desequilíbrio entre os cidadãos da República. O reconhecimento da prerrogativa de foro, perante o Supremo Tribunal Federal, nos ilícitos penais comuns, em favor de ex-ocupantes de cargos públicos ou de ex-titulares de mandatos eletivos transgride valor fundamental à própria configuração da ideia republicana, que se orienta pelo vetor axiológico da igualdade. - A prerrogativa de foro é outorgada, constitucionalmente, "ratione muneris", a significar, portanto, que é deferida em razão de cargo ou de mandato ainda titularizado por aquele que sofre persecução penal instaurada pelo Estado, sob pena de tal prerrogativa - descaracterizando-se em sua essência mesma - degradar-se à condição de inaceitável privilégio de caráter pessoal. Precedentes. (STF, Pleno, Inq n. 1.376 AgR/MG, Rel. Min. Celso de Mello, j. 15.02.2007, v.u., DJU de 16.03.2007, p. 21) Noutra medida, estando os fatos narrados vinculados na sua 21

origem a atuação dos mesmos criminosos, operando seja no ambiente da PETROBRAS propriamente dito, seja com fundos de pensão, impõe-se reconhecer que esses fatos são conexos com aqueles investigados na Operação Lava-Jato perante a 13 a Vara Federal de Curitiba, Paraná. IV. Conclusão Em face do exposto, manifestando-se pelo reconhecimento da incompetência do Supremo Tribunal Federal para processar e julgar os fatos, remetendo-se os autos 13 a Vara da Justiça Federal em Curitiba, Paraná, requer: 1) a juntada aos autos dos Termos de Colaboração ou Depoimento abaixo indicados: a) Termo de Declarações prestadas por CARLOS ALBER- TO PEREIRA DA COSTA, em 15 de agosto de 2014; b) Termos de Declarações prestadas por MEIRE BONFIM DA SILVA POZA no IPL 1041/2013; c) Termo de Declarações Complementar 10, ALBERTO YOUSSEF; 2) juntada aos autos da decisão de compartilhamento de provas proferida pela 13ª Vara Federal da Seção Judiciária do Paraná, em Curitiba, bem assim dos anexos relativos ao presente pro- 22

cedimento; 3) juntada dos elementos informativos que seguem em anexo. Brasília (DF), 3 de março de 2015. Rodrigo Janot Monteiro de Barros Procurador-Geral da República 23