KALOS NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE O ENSINO DA FILOSOFIA: DA CRIAÇÃO À REALIZAÇÃO



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Transcrição:

KALOS NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE O ENSINO DA FILOSOFIA: DA CRIAÇÃO À REALIZAÇÃO Almiro Schulz 1 Evandson Paiva Ferreira 2 Alessandra da Silva Carrijo 3 No último semestre de 2008, o trabalho conjunto entre a Faculdade de Filosofia e o Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação - Cepae da UFG, evidenciou uma preocupação comum com a formação do professor de Filosofia e com as questões relativas ao seu ensino. A gênese da reflexão sobre o processo de formação deste profissional pode ser encontrada no conjunto de questões que emergiram das discussões desencadeadas pelos professores destas duas unidades. Essas questões estão diretamente vinculadas à constituição e desenvolvimento da profissionalidade 4 do docente de Filosofia, que é, ou pelo menos deveria ser, acredita-se, referencial maior deste processo formativo. Questões epistemológicas, de caráter metodológico, assim como de cunho políticopedagógicas, fundamentaram, pois, estas discussões, tendo sempre como pano de fundo a preocupação, em primeiro lugar, com a qualidade dos profissionais que atenderão as demandas provenientes da obrigatoriedade do ensino da Filosofia no nível médio 5 e, em segundo lugar, com as condições propriamente ditas das escolas em que esses profissionais irão atuar, tendo em vista a presença marcante dos novos dispositivos e mecanismos de dominação que crivam as sociedades contemporâneas, entre eles, as novas tecnologias da informação e o seu impacto na educação. A criação do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Ensino da Filosofia 6 surgiu, desse modo, para dar sustentação ao estágio dos licenciandos em Filosofia da UFG, por meio de um conjunto de ações que visam articular as atividades de ensino, pesquisa e extensão, com o propósito de enfrentar um dos problemas mais sérios na formação do professor de Filosofia, qual seja, o da organização dos cursos de graduação em Filosofia que, de forma equivocada, mas insistente, 1 Faculdade de Filosofia/UFG. 2 Cepae/UFG. 3 Cepae/UFG 4 Entendemos por profissionalidade docente o conjunto de comportamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que constituem a especificidade de ser professor SACRISTÁN, (1995, p. 65), ou ainda, na expressão de LIBÂNEO (2003), o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes requeridas para levar adiante o processo de ensino e aprendizagem nas escolas. 5 Lei nº 11.684 de 02 de junho de 2008. Altera o art. 36 da Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio. 6 Fazem parte deste Núcleo os seguintes docentes: Profº Drº Almiro Schulz, Profª Drª Adriana Delbó, Profº Drº Adriano Correia, Profª Msª Carmelita Brito de Freitas Felício, Profº Drº Gonçalo Armijos Palácios (Faculdade de Filosofia/UFG); Profº Doutorando Evandson Paiva e Profª Msª Alessandra Carrijo (Cepae/UFG). 1

promoveu uma separação entre ensino e pesquisa. Isso porque o incentivo à pesquisa na formação do bacharel deixa à deriva a formação do licenciando, com a justificativa de que ela dispensa a pesquisa. Sendo assim, um dos objetivos da criação deste Núcleo é justamente repensar a formação na licenciatura, para que, assim, ensino e pesquisa possam ser de fato articulados e para que os professores formadores consigam efetivamente desenvolver estratégias que possibilitem aos licenciandos refletir e intervir conscientemente na realidade configurada pelas práticas educativas das escolas em que os futuros professores de Filosofia irão atuar. Para que isso se concretize, no entanto, é preciso levar a cabo, nos cursos de formação de professores de filosofia, discussões mais aprofundadas acerca da política educacional em nosso país e suas implicações para a existência das pessoas, da escola e da sociedade, pois só a partir desta perspectiva de formação, estes futuros professores serão capazes de promover reflexões mais amplas e ao mesmo tempo contextualizadas acerca da sua profissão e dos condicionantes a ela relacionados. A articulação do ensino e pesquisa na formação do professor de Filosofia se baseia na idéia de que os cursos de formação são fundamentalmente importantes quando se trata de auxiliar os alunos em processo de formação inicial a desenvolver a disposição e as habilidades para enxergar, por meio da teoria e da prática, as conexões entre a sala de aula e os contextos social e político nos quais ela se insere. (Perrenoud, 1993). E o Núcleo, por meio de estudos e pesquisas, além da organização de encontros, palestras, seminários, da oferta de cursos e outras atividades, se propõe em não só refletir sobre esta (necessária) articulação, como também em promover ações que visem a efetivá-la. A proposta de criação deste núcleo está pautada ainda no entendimento de que as condições da presença, hoje obrigatória, da Filosofia no Ensino Médio ainda carece de reflexão, estudos e pesquisas que visem elucidar, dentre outras coisas, a verdadeira relação da filosofia com o ensino, com a educação, enfim, com outros saberes e instituições escolares. Sendo assim, é também objetivo deste Núcleo promover uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre a própria filosofia, sua razão de ser enquanto disciplina, as condições do seu ensino e os aspectos relacionados à formação da sua docência. Sua criação visa também contribuir com a produção, ainda escassa, sobre essa temática e atender em última instância, as novas demandas advindas da sua inserção nos currículos escolares no nível médio de ensino. A problemática da formação do professor de Filosofia se, por um lado, coloca-nos a exigência de nos ater às condições conjunturais de caráter político e social, por outro, coloca-nos, igualmente, a exigência de pensar para além disto. Trata-se de pensar a nossa época e os desafios postos aos professores de Filosofia neste tempo em que a escola se vê acuada diante do aumento da 2

influência a olhos vistos, dos meios de comunicação de massa, consagrando o marketing como a referência básica de uma cultura cada vez mais submetida aos impulsos do consumo. Acreditamos, porém, que há uma pletora. Lembrando Michel Foucault, não sofremos de um vazio, mas de falta de meios para pensar tudo o que acontece [...]. Já temos os meios técnicos, o desejo também está aí [...]. As pessoas que poderiam dedicar-se a esse trabalho existem. Estamos sofrendo [...] de escassez: de canais estreitos, mesquinhos, quase monopolistas, insuficientes. Não adianta adotar uma atitude protecionista para impedir que a má informação venha invadir e sufocar a boa. É preciso, isso sim, multiplicar os caminhos e as possibilidades de idas e vindas [...]. Isso não significa, como muitas vezes se acredita, uniformização e nivelamento por baixo, mas, ao contrário, diferenciação e simultaneidade de diferentes redes (1990, p. 23-25). É dessa perspectiva que se faz necessário multiplicar os caminhos e as possibilidades de idas e vindas entre a universidade e a escola. A filosofia, seguindo sua vocação de promover novas inteligibilidades, pode municiar aqueles que se sentem atingidos pelo atual estado de coisas com elementos e exemplos capazes de fortalecer uma espécie de resistência vital à cultura da resignação. Assim, as brechas que permitem escapar desse horizonte aplainado de uma cultura que depaupera a reboque da standardização estimulada pela indústria cultural (Maia, 1995, p. 279), estão respaldadas na idéia de criação de novas modalidades de organização e colaboração, de diferentes redes, como quer Foucault, dentro da rede do poder. Se na paisagem político-educacional do nosso tempo se desenha, também, uma disposição que é de resignação, de um conformismo generalizado e de uma inibição para agir, essas misérias de nossa sociedade não devem se reduzir a esse desenho austero. Assim, se a proposta do Núcleo é a de refletir sobre as condições do ensino da Filosofia no Brasil e em Goiás, e se essa reflexão requer, necessariamente, pensar sobre as próprias condições de formação docente, seja ela inicial ou continuada, esse objetivo não pode estar apartado da reflexão sobre as condições da educação no Brasil. Isso implica refletir sobre a nossa época com o intuito de questionar nossas evidências de pensamentos e nossas aderências a certas condutas e, a partir daí, delinear e anunciar um horizonte de possíveis transformações, interrogando se há condições favoráveis em nossa sociedade para a educação filosófica ressurgir como espaço de vivência da cultura, da arte e de um trabalho intelectual que possibilite a emergência de singularidades autônomas, criativas e livres. Hoje o Núcleo conta com duas linhas de estudos, a saber: Formação de professores e didática do ensino da Filosofia e Referenciais teóricos sobre a Filosofia e seu ensino ; ambas já possuem projetos de pesquisa vinculados a elas. Na linha Formação de professores e didática do ensino da Filosofia, temos o projeto Formação Ética dos docentes de Filosofia do Ensino Médio, ainda em processo de aprovação nas instâncias administrativas da UFG. O mesmo tem como objetivo verificar, por intermédio de estudo bibliográfico, documental e empírico, a importância dada à formação ética dos professores da Filosofia do Ensino Médio e qual a visão sobre a forma da sua realização. 3

Na linha de estudo Referenciais teóricos sobre a Filosofia e seu ensino, temos o projeto As condições de Ensino da Filosofia na rede Estadual de Goiás, projeto este que já vem sendo desenvolvido desde o segundo semestre de 2008. Este projeto de pesquisa tem como finalidades básicas: a) fazer um levantamento bibliográfico do estado da arte da produção acadêmica sobre ensino de filosofia em nível Stricto Sensu, no período de 1997 a 2007, ou seja, após a promulgação da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB nº 9.394/96); e b) investigar e analisar in locus as condições da presença da filosofia hoje no ensino médio na rede estadual de Goiás. O interesse em estudar as condições reais da presença da filosofia hoje na rede pública do estado de Goiás está pautado no reconhecimento de que embora a lei seja condição necessária, não é, entretanto, condição suficiente para a realização da filosofia no Ensino Médio. Sendo assim, acreditase que repensar as condições da presença da filosofia neste nível de ensino por meio da análise dos condicionantes vinculados, direta e indiretamente à práxis educativa, contribuirá para a elucidação e redefinição do seu conteúdo e da sua forma nesta etapa crucial de desenvolvimento do educando. O interesse em realizar tal estudo está pautado ainda na hipótese de que se as condições da presença da filosofia neste nível de ensino não forem satisfatórias haverá a possibilidade de os seus objetivos, enquanto disciplina serem inviabilizados, gerando uma situação tal (...) que a presença da filosofia no ensino médio pode resultar inócua e inexpressiva na formação dos educandos deste nível de ensino. (Alves, 2002, p. 71). Daí a importância e mesmo a necessidade de se examinar criteriosamente estas condições e, se for o caso, propor ações que subsidiem a construção de melhores e mais eficientes estruturas metodológicas e didático-pedagógicas. Para fazer o levantamento documental das teses e dissertações, referente à parte da pesquisa bibliográfica do referido projeto foi realizada uma criteriosa consulta eletrônica na Home Page da Capes e extraídos os resumos sintéticos de cada uma das produções discentes que continham em seus títulos (em todo ou em parte) as seguintes expressões: Ensino de Filosofia, A Filosofia na LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (N.º 9394/96), Filosofia no Ensino Médio e Professor de Filosofia. É importante ressaltar que esta análise não dispensa a necessidade de um estudo integral de todos os trabalhos encontrados. O que, aliás, já vem ocorrendo desde o final do 2º semestre de 2008, por meio do envolvimento dos estagiários do curso de Licenciatura em Filosofia da UFG. Essa iniciativa de envolvimento dos estagiários, por sua vez, é uma tentativa de oferecer resistência à tendência hoje predominante nos cursos de filosofia no Brasil, como salientado anteriormente, onde ainda é muito comum a crença de que a pesquisa esteja dissociada do ensino, como se fosse possível ser um bom professor sem pesquisar a própria prática (Gallo e Kohan, 2002). No que se refere ao levantamento do estado da arte da produção acadêmica sobre ensino de filosofia, foi possível constatar que a produção discente sobre ensino de filosofia no Brasil 4

concentra-se nas regiões sudeste, com 51,12% de todas as produções, e sul, com 28, 89% dos trabalhos produzidos. Juntas, as duas regiões contabilizam 80,01% de toda produção nacional sobre o assunto, em nível de pós-graduação Stricto Sensu, registrada pela Capes. A região que menos produziu sobre a temática foi a região norte, responsável por apenas uma produção (o que equivale a 2,23% do total encontrado). As regiões nordeste e centro-oeste possuem quatro produções cada uma, o que equivale dizer que cada uma delas é responsável pelo percentual de 8,88% da produção nacional. Em Goiás, especificamente, foram registradas apenas duas produções, todas vinculadas à Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, em nível de Mestrado. Uma delas foi defendida em 2000 e a outra em 2001. Ambas objetivaram estudar a trajetória legal e histórica da filosofia enquanto disciplina no nível médio, ainda que sob diferentes perspectivas. A dissertação defendida no ano de 2000, vinculada à linha de pesquisa Educação, Sociedade e Cultura, objetivou apresentar uma análise crítica da trajetória legal e histórica da filosofia no nível médio, no estado de Goiás. Objetivou ainda demonstrar que a filosofia, enquanto disciplina, tem servido mais para atender aos interesses dominantes do que para proporcionar o desenvolvimento crítico-reflexivo nos alunos desse nível de ensino. Já a dissertação defendida no ano de 2001, com o de objetivo compreender os limites, os avanços e as possibilidades colocadas ao ensino da filosofia, no nível médio, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Nº 9394/96 e da Lei de Diretrizes e Bases do Sistema Educativo do Estado de Goiás, Lei Complementar Nº 26/98, vincula-se à linha de pesquisa Cultura e Processos Educacionais. Verificou-se, assim, nesse levantamento preliminar, que não existe ainda nenhuma produção regional que objetive tomar o curso de filosofia e o processo de formação do professor que irá atuar no nível médio de ensino, como objeto de estudo. Não existe, sequer, nos registros da Capes, teses e dissertações que tenham partido das Faculdades de Filosofia aqui do Estado, consideradas, em tese, locus privilegiado de formação do professor desta disciplina e de fomentação de discussões relativas ao seu ensino. No que se refere às instituições responsáveis por estas produções pudemos constatar que os 46 trabalhos encontrados estão distribuídos em 24 diferentes universidades do Brasil; sendo 6 universidades pertencentes à região sul, 11 à região sudeste, 4 à região Nordeste, 2 à região centrooeste e apenas 1 pertencente à região norte. Verificou-se ainda que algumas instituições em particular têm se destacado na produção destes trabalhos, tanto em nível de mestrado quanto de doutorado, especialmente as das regiões sul e sudeste; dentre elas a USP, a Unicamp e a Universidade Federal de Santa Maria. 5

Para se ter uma idéia, a Universidade de São Paulo foi responsável pela produção de 7 dos 46 trabalhos produzidos, sendo 5 em nível de Mestrado e 3 em nível de Doutorado. Em seguida temos a Universidade de Campinas, com 4 produções em nível de mestrado e 2 em nível de doutorado. A universidade Federal de Santa Maria vem em terceiro, sendo responsável por 5 de todos os trabalhos encontrados, todos em nível de mestrado. Na Universidade Federal de Santa Catarina foram encontradas duas dissertações e uma tese, ou seja, 3 do total de trabalhos encontrados. As demais produções estão distribuídas pelas diversas universidades do Brasil (especialmente das regiões sul e sudeste), só que de forma pouco significativa em termos numéricos (já que no geral encontramos de 1 a 2 produções nestas demais instituições de ensino). Outro dado relevante é que estas produções se concentram quase que exclusivamente em instituições públicas de ensino. De fato mais de 95% dos trabalhos encontrados foram produzidos em instituições dessa natureza. Hoje, além da pesquisa bibliográfica e dos resultados que aqui apresentamos, estamos na fase de aplicação dos questionários nas escolas públicas estaduais selecionadas e pretendemos publicar os resultados completos referentes a este levantamento bibliográfico no primeiro semestre de 2010. É importante ratificar, por fim, que os trabalhos desenvolvidos nessa pesquisa, assim como outros trabalhos conjuntos realizados pelo Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação/Cepae e pela Faculdade de Filosofia, ao longo do segundo semestre de 2008 e o ano de 2009, só foram possíveis graças à criação do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Ensino de Filosofia (Kalos) e são resultado desta preocupação comum com a formação do professor de Filosofia e com as questões relativas ao seu ensino. Por fim, gostaríamos de salientar que uma das principais metas deste Núcleo é a de constituir-se em centro de referência de estudos e pesquisas sobre o processo e as condições do ensino da filosofia, bem como sobre a formação de professores desta disciplina na região Centro- Oeste. Para tanto estamos desenvolvendo estes projetos, ora apresentados, bem como realizando atividades diversas com vistas a atingir eficientemente este fim. Referências Bibliográficas ALVES, Danton José. A filosofia no Ensino Médio ambigüidades e contradições na LDB. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Dispõe sobre as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de dezembro de 1996, p. 27849. 6

BRASIL, Presidência da República, Lei Nº 11.684, de 2 de junho de 2008. Altera o art. 36 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a filosofia e a sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do Ensino Médio. FOUCAULT, Michel. O filósofo disfarçado. In: Filosofias. Entrevistas do Le Monde. São Paulo: Editora Ática, 1990. GALLO, Sílvio, KOHAN, Walter Omar (Org.) Filosofia no Ensino Médio. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. GOIÁS, Lei de Diretrizes e Bases do Sistema Educativo do Estado de Goiás, Lei Complementar Nº 26/1998. LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola. Alternativa: Goiânia, 2003. MAIA, Antonio Cavalcanti. O agenciamento Foucault/Deleuze. In: GONDRA, José e MUCHAIL, Salma T. (Org.). A filosofia e seu ensino. Petrópolis, São Paulo: Vozes/ EDUC, 1995. PERRENOUD, Philippe. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação perspectivas sociológicas. Lisboa: Dom Quixote, 1993. SACRISTÁN, J. Gimeno. Consciência e acção sobre a prática como libertação profissional dos professores. In: NÓVOA, Antônio (Org.). Profissão professor. Porto: Porto Editora, 1995. 7