Aula # 4 6 de Fevereiro 2006
Piaget A teoria de Piaget, teoria que sofreu ela própria, muitas evoluções com o tempo (Beilin, 1992: Byrnes, 1992; Davidson, 1992), apelou ainda para outros processos de desenvolvimento (Lourenço, 2005).
Piaget Processos de Desenvolvimento A equilibração e a regulação (Piaget, 1957, 1975), isto é, a actividade do sujeito no sentido de responder aos problemas (internos e externos) que se lhe deparam, como, por exemplo, corrigir a abertura da mão quando não consegue apanhar um objecto que quer alcançar (Lourenço, 2005).
Piaget Processos de Desenvolvimento A abstracção reflexiva e a generalização construtora (Piaget, 1977, 1978), isto é, a actividade do sujeito para extrair conhecimentos que vão além da experiência empírica passada, como, por exemplo, saber que uma bola posta em movimento jamais pararia se fossem eliminados o atrito e a resistência do espaço onde se desloca (Lourenço, 2005).
Piaget Processos de Desenvolvimento A tomada de consciência (Piaget, 1974), i.e., a actividade do sujeito reflecte, por exemplo, sobre os seus êxitos e fracassos (Lourenço, 2005).
Piaget Processos de Desenvolvimento Os procedimentos (Inhelder & Piaget, 1979), i.e., a actividade do sujeito no sentido de resolver um certo problema, como determinar, por exemplo, o centro de gravidade de uma barra de madeira que tem dentro de uma das suas extremidades uma pequena esfera de chumbo (Lourenço, 2005).
Piaget Processos de Desenvolvimento A abertura a novas possibilidades (Piaget, 1981, 1983), i.e., a actividade do sujeito no sentido de imaginar realidades futuras por mais virtuais que elas sejam (Lourenço, 2005). A contradição e a dialética (Piaget, 1974, 1980), i.e., a actividade do sujeito que procura articular o que, à primeira vista, parece contraditório, como, por exemplo, compreender que um copo que está meio vazio também está meio cheio, ou o contrário (Lourenço, 2005).
Piaget Processos de Desenvolvimento As aprendizagens operatórias (Inhelder, Sinclair, & Bover, 1974), i.e., a possibilidade de um certo sujeito mudar o seu nível de conhecimento estrutural quando o seu ponto de vista é confrontado com o de outrem que pensa a partir de um nível de conhecimento estrutural mais avançado do que o seu (Lourenço, 2005).
Piaget Processos de Desenvolvimento Em casos deste género, que têm muitas implicações pedagógicas, fala-se em construção da inteligência pela interacção social (Doisa & Mugny, 1981; Moshman & Geil, 1998; Perret-Clermont, 1979), ou em promoção do desenvolvimento através do conflito cognitivo e sócio-cognitivo (Roy & Howe, 1990; Taal & Oppenheimer, 1989)(Lourenço, 2005).
Em síntese... O que se desenvolve na teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget é a maturidade intelectual do sujeito, como em parte acontece nas teorias de processamento da informação (Salthouse, 1992); não como um certo brilhantismo intelectual que diferencia as pessoas em termos da sua quantidade de inteligência (geral ou específica), como ocorre nas teorias psicométricas (Gardner & Clark, 1992).
Em síntese... Não ainda como um conjunto de conhecimentos que o sujeito adquire por intermédio de processos de aprendizagem como condicionamento, reforço e observação, como se verifica nas teorias de aprendizagem (Charness & Bieman-Copland, 1992); mas sim como uma competência de tipo qualitativo, estrutural e geral que o sujeito constrói em interacção permanente com o meio e que utiliza para conhecer, pensar e raciocinar sobre a realidade (Lourenço, 2005).
Em síntese... O que se desenvolve na teoria de desenvolvimento cognitivo de Piaget não é tanto o saber mais, conhecimento declarativo, procedimental ou metacognitivo, mas o saber melhor, conhecimento fundamental, estrutural ou categorial (Lourenço, 2005).
Teorias e Modelos de Desenvolvimento Cognitivo Teorias Principais autores Piagetiana Processamento de Informação Neo-Piagetianas Life Span ou Ciclo de Vida Ecológica Sócio-cultural Psicométricas Aprendizagem Biológicas e maturacionais Sistemas dinâmicos Piaget Keil & Lockhart (1999); Klahr (1999) Case (1985); Fischer et al. (1990) Baltes (1987); Baltes et al. (1998) Bronfenbrenner & Morris (1998) Vygotsky (1978, 1981) Spearman (1927); Thurstone (1938) Bandura (1977, 1986); Bijou (1922) Bjorklund & Harnishfeger (1990) Thelen & Smith (1994, 1998)
Teorias do Processamento da Informação Ao contrário do que acontece em Piaget, nas teorias de processamento de informação não é relativamente fácil dizer o que se desenvolve com o desenvolvimento cognitivo. Isto deve-se, nas palavras de Miller (1989), ao seguinte: O processamento da informação não é uma única teoria, mas uma abordagem que caracteriza um grande número de teorias.
Teorias do Processamento da Informação A característica fundamental de todas elas é a adopção do modelo de processamento da informação. Em geral, adoptam a metáfora do computador para descreverem o suposto trabalho interno da mente. Todas elas derivam da chamada revolução cognitiva dos anos 50 (Kail & Bisanz, 1992; Keil & Lockhart, 1999; Klahr, 1992,1999; Klahr & Wallace, 1976; Salthouse, 1992; Sternberg, 1988).
Teorias do Processamento da Informação A ideia central é que o comportamento (e o seu desenvolvimento) traduz um conjunto de processos mentais tendo a ver com: A codificação de estímulos vindos do exterior, inputs. A sua retenção em diversos tipos de memória, concebida, em geral, como se de um armazém se tratasse. A sua transformação interna. A sua recuperação. E, por fim, a produção de respostas observáveis, outputs.
Teorias do Processamento da Informação Existem sobretudo duas maneiras de conceber o processamento de informação que é suposto ocorrer algures na mente ou no cérebro. Se para a teoria de produções de sistema, o processamento é sobretudo serial, modular e relativamente abrupto, para os modelos conexionistas o processamento de informação ocorre sobretudo em paralelo, não em série; é distribuído por vários módulos em conexão, não localizado num módulo relativamente independente; e mais gradual e contínuo, no sentido em que depende da maior ou menor activação das várias redes de neurónios envolvidas no processamento da informação em causa, de que abrupto e relativamente brusco (Klahr, 1999; Plunkett, 2000).
Teorias do Processamento da Informação O primeiro lembra uma instalação eléctrica em série, os segundos uma instalação em paralelo. Em vez de um circuito, há vários que são activados ao mesmo tempo. É por esta razão que os modelos conexionistas são também chamados modelos PDP (i.e., parallel distributed processing: processamento distribuído e paralelo).
Teorias do Processamento da Informação De referir ainda que a manipulação de símbolos e o apelo à memória estão para as teorias de processamento por produção produção de sistemas como a activação e a conexão entre redes de neurónios estão para os modelos conexionistas do processamento da informação (Lourenço, 2005).
Teorias do Processamento da Informação A posição das abordagens do processamento da informação em relação ao desenvolvimento cognitivo foi traçada há mais de 20 anos por Herbet Simon (1962):
Herbet Simon (1962)
Teorias do Processamento da Informação Mas afinal, o que se desenvolve com o desenvolvimento cognitivo segundo as abordagens do processamento de informação? Dado que tais abordagens assumem (a) que a actividade cognitiva do sujeito pode ser descrita em termos de processos ou operações mentais que ocorrem entre certos inputs, como ouvir um conjunto de números apresentados sequencialmente, e certos outputs, como ser capaz de recordar, logo depois, o conjunto de números ouvidos (i.e., memória a curto prazo).
Teorias do Processamento da Informação (b) que são estas operações de registo, codificação, combinação, comparação e recuperação da informação que estão envolvidas em muitas tarefas cognitivas executadas pelos sujeitos, como aprender a ler, recordar um # de telefone, resolver um problema matemático ou imaginar como fica uma determinada figura geométrica depois de sofrer uma certa rotação, então nessas abordagens, o que se desenvolve com o desenv. cog. é a capacidade e as estratégias do sujeito para processar e tratar essa informação (Lourenço, 2005).
Teorias do Processamento da Informação Porque a memória de trabalho ou a curto prazo (i.e., a que entra em jogo para recordar algo que acabou de acontecer), a longo prazo (i.e., a que entra em jogo para recordar algo mais distante), episódica (i.e., a recordação de uma vivência específica no tempo e espaço), semântica (i.e., a recordação do significado das palavras, por exemplo), implícita ou explícita, ou ainda outras é tida como uma função psicológica central no processamento e tratamento da informação, o que mais se desenvolve com o des. cog. Segundo tais abordagens é a capacidade de memória do sujeito (Schneider, 2002)(Lourenço, 2005).
Teorias do Processamento da Informação Esta capacidade, chamada também amplitude de memória (memory span) ou capacidade mental, é medida muitas vezes pela quantidade de números de uma determinada série (939355720, por exemplo) que uma pessoa é capaz de repetir pela ordem (directa ou inversa) em que os ouviu. Contudo, não existe acordo quanto à questão de saber se o aumento (efectivo) da amplitude de memória durante o desenvolvimento reflecte um aumento da capacidade de memória em si mesma, ou representa apenas uma utilização mais eficiente de uma capacidade de memória que se manteria constante (Lourenço, 2005).
Teorias do Processamento da Informação O facto dos sujeitos, em diferentes idades, terem pior desempenho em tarefas duais (tarefa primária e secundária) do que em tarefas simples, versus executar apenas uma tarefa, tem sido apresentado como um argumento a favor da hipótese da existência de recursos centrais de processamento limitados e, portanto, também a favor da ideia da existência de uma capacidade mental, amplitude de memória ou memória de trabalho que é relativamente estável ao longo da vida (Bjorklund & Harnishfeger, 1990).