LETRA DE PROFESSOR: IMPLICAÇÕES EM AULAS DE MATEMÁTICA Nilson de Matos Silva Fundação Helena Antipoff nilson.ise@gmail.com Resumo: Algumas universidades do mundo oferecem a disciplina de caligrafia em suas grades curriculares dos cursos de licenciatura, por isso pretendo mostrar aos participantes deste mini-curso, em especial aos professores de matemática, que uma boa caligrafia associada a utilização organizada do quadro de giz, pode fazer de suas aulas, um momento mais agradável e de melhor compreensão para os alunos, conforme exemplo de uma aula em vídeo conferência proferida no IMPA/RJ pelo Professor Eduardo Wagner e exibida na UFMG, em Janeiro de 2009. Não quero aqui dizer que o quadro seja o único recurso didático do qual o professor dispõe, porém em muitas escolas, ele ainda é o recurso mais utilizado. Por isso a relação entre eles, professor e quadro, deve ser a mais harmônica possível e esta harmonia tem início quando o professor faz deste, um espaço à apresentação do conteúdo a ser explorado, com conhecimento, acima de tudo, e uma caligrafia boa e legível, que aqui é a nossa proposta principal. Após a conclusão deste mini-curso, o participante perceberá que ter letra de professor 1, não é um privilégio de poucos, muito menos um dom, mas sim o resultado do conhecimento da técnica adquirida, associada à prática de exercícios. Palavras-chave: Caligrafia; Professor; Matemática. Introdução Das palavras gregas Kalli que significa beleza e Grafia, a escrita, ou seja, caligrafia é a arte da escrita bela. Nossos antepassados, devido ao não desenvolvimento da fala, comunicavam através de desenhos feitos nas paredes das cavernas e em pedras, os quais eram usados para representar, expressar idéias, transmitir desejos e necessidades. Porém, não havia organização nas mensagens expostas e conseqüentemente não eram padronizadas. Segundo o Dr. Mário Carabajal 2, a escrita passa a ser sistematizada por volta do ano de 3100 a.c. no Sul da Mesopotâmia. O processo teve início a partir de uma imagem simples, a qual evoluiu para um símbolo pictográfico, para só mais tarde se constituir numa 1 Paradigma existente em Helsinque/Finlândia que se traduz por letra bonita/legível. 2 Ph.I./Ph.D. Presidente da Academia de Letras do Brasil, Especialista em Metodologia da Pesquisa Científica/UFRR. 1
palavra, a qual se agrega ao sistema de escrita denominado Cuneiforme (a caneta da época tinha formato de cunha, daí a origem do termo). Com o decorrer do tempo outros povos aderiram à escrita Cuneiforme e novos sistemas de escrita foram criados. Os egípcios criaram os hieróglifos, os povos da América Central a escrita nahuatl e a China também criou um sistema original cerca de 3 mil anos atrás. Hoje, com os padrões já definidos, a preocupação é com o aperfeiçoamento da escrita. O que proponho nesse mini-curso é uma melhoria da caligrafia ao ponto de adequar um modelo de letra para os professores, mais especificamente aos professores de matemática, devido à grande utilização de representações numéricas e de desenhos nos quadros de giz ou pincel. Para esse desenvolvimento, apresentarei aos participantes a Caligrafia Técnica, constante da NBR 8402, que é provida de letras bem formadas e padronizadas que darão origem a uma escrita legível. Uma caligrafia com bom aspecto transmite segurança tanto ao aluno quanto ao professor de matemática, pois, utilizando-se do quadro, o professor consegue dar forma às letras com o manuseio do giz ou pincel, utilizando-se de traços, aqui denominados bastões, e curvas. Com esse trabalho o aluno terá maior compreensão do que está sendo proposto e o professor, ciente disso, gozará de tranqüilidade no desenvolvimento suas as aulas. O professor de matemática utiliza-se o tempo todo de desenhos, quando faz representações em gráficos, ao escrever palavras e números. Na sociedade contemporânea um analfabeto muitas vezes se vê impossibilitado de fazer algo, devido às exigências da sociedade, como por exemplo, preencher uma ficha de emprego, dificultando o acesso ao mercado de trabalho. Assim também um professor com uma letra feia apesar de saber e poder preencher uma ficha de emprego, escrever uma carta ou dar aulas expositivas no quadro está exposto ao constrangimento em relação à aparência de sua letra. Esse julgamento quanto ao aspecto da letra de alguém é citado pelo psicanalista Davy Bogomoletz, afirmando que: Não que escrever bonito seja fundamental. Mas escrever feio dói. E muitas vezes até atrapalha, pois a pessoa fica digamos grafologicamente inibida. Escrever não é um luxo, é uma necessidade. E todo aquele para quem é difícil resolver uma necessidade está com um problema. Pessoas que se sentem mal quando precisam comunicar algo por escrito estão em maus lençóis. Não são analfabetas, concretamente, e muitas vezes lêem muito bem, mas ficam tolhidas e muitas vezes passam por bem menos competentes do que são na realidade (BOGOMOLETZ, 2006, p. 01). 2
O processo de alfabetização não deve ser desconciliado da arte de escrever de forma legível e com uma grafia bem traçada. A criança deve sentir-se motivada a escrever, para isso é interessante à metodologia adotada provida de contextualização. Quando se pede ao aluno para copiar as palavras ou frases, seria mais agradável e construtivo usar letras de músicas, poemas receitas, etc. Com isso a criança começa a conhecer as formas de escrita, podendo classificar uma letra como sendo mais bonita ou mais feia que a outra e se utilizar da letra que mais lhe agradar. Com relação à cópia que é uma das ferramentas utilizadas na alfabetização, Fábia da Silva Oliveira 3 baseada em suas experiências como educadora, descreve o processo desenvolvido pelo aluno ao copiar. Ao copiar uma palavra a criança inicia uma discriminação visual de todos os detalhes das letras e do formato da palavra que está servindo como modelo. Depois relaciona os símbolos impressos, as letras e as palavras aos respectivos sons, aos movimentos gráficos como traçado gráfico a ser executado, aos significados, conceito, e só então reproduz graficamente a palavra modelo (OLIVEIRA, 2008, p.3). A qualidade da escrita inevitavelmente provoca um pré-julgamento por parte do leitor com relação à procedência do escritor. Então é importante o incentivo ao aprimoramento da caligrafia não somente para professores, mas para qualquer pessoa. Podemos dizer que a caligrafia é o cartão de visita em diversos ambientes da sociedade. Quando se faz algo com qualidade, normalmente é bem sucedido e terá retorno, na medida em que a pessoa melhora o aspecto de sua letra, o retorno é gratificante, pois além de agradar aos demais, a auto-avaliação de desempenho promove um reconhecimento e crescimento pessoal. Justificativa Como a escrita nos quadros é uma das formas mais usuais de condução das aulas, ter uma boa caligrafia é necessário para que o professor sinta-se à vontade em expor suas aulas de maneira mais agradável. 3 Educadora do Ensino Fundamental I na Escola La Salle, Águas Claras/DF, Pedagoga com Habilitação em Orientação Educacional pela Universidade Católica de Brasília. 3
Nesse sentido, dar ao professor de matemática e aos alunos uma condição de melhor compreensão dos textos escritos nos quadros, negro ou branco, apresentando técnicas de caligrafia, segundo normas específicas da NBR 8402, pode ser importante para o desempenho profissional. Definitivamente excluir o fantasma da letra feia, da memória do professor, através de exercícios simples e, sobretudo com demonstração de técnicas que facilitam o trabalho e a prática da escrita, para que se tenha uma letra legível, com excelente aparência, conforme o paradigma letra de professor 4, existente na Finlândia, para as Faculdades Brasileiras de Licenciatura. Objetivos - Melhorar a grafia da letra. - Correção dos vícios da escrita. - Trabalhar com todas as etapas da letra: dimensão, proporção e limpeza. - Aumentar a auto-estima dos professores de matemática e dos alunos, através de uma escrita legível e mais compreensível, usando o giz ou o pincel. - Apresentar aos participantes, uma síntese da ABNT 8402, que trata dos padrões da caligrafia técnica, para que os mesmos possam escrever dentro de um nível aceitável em relação à norma. Público alvo Graduandos dos cursos de licenciatura em matemática e profissionais que estejam interessados em aprimorar a caligrafia, conhecer técnicas e ferramentas para o bom desempenho da escrita. CONTEÚDO - NBR 8402. 4 Segundo o Departamento de Formação de professores da Universidade de Helsinque, os graduandos de Licenciatura têm caligrafia na grade curricular. 4
- Grafia padrão dos numerais, das letras minúsculas e maiúsculas. - Formação de palavras. Recursos materiais - Manual do mini-curso. - Folhas avulsas, para prática de exercícios. - Lápis e borracha. - Giz para quadro negro e pincel para quadro branco. Obs.: Todo o material necessário para a realização deste mini-curso será disponibilizado pelo autor, preciso somente de uma sala de aula com quadro negro e branco, senão, somente o quadro negro. Metodologia - Turma de no máximo 20 (vinte) alunos, com duração de 02 (duas) horas. - Técnicas de uso do giz e do pincel nos quadros negro e branco. - Exercícios práticos e de coordenação nos quadros, com o uso de giz e pincel. - Com a recomendação de escrever em letra de forma, letra de imprensa, etc. Os participantes escreverão no quadro, os seus respectivos nomes dos seus jeitos. - Após esta escrita, serão feitas algumas observações sobre as diferenças e as apropriações que cada um de nós, faz dos símbolos utilizados para traduzir palavras. - Apresentação com data show, mostrando uma síntese da ABNT 8402. - Em um segundo momento, os participantes terão contato visual com a forma correta de se grafar os símbolos e assim retornarão ao quadro para reescrever seus nomes nos quadros, procedendo uma auto-avaliação, com comparação da caligrafia antes e depois. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT 8402. Rio de Janeiro. 02 mai de 1994. 5
ASSOCIAÇÃO INSTITUTO NACIONL DE MATEMÁTICA PURA E APLICADA - IMPA. Disponível em http://strato.impa.br/capem_jan2009.html. Acesso em: 26 jan.2009 BOGOMOLETZ, Davy. A Máquina de Escrever bonito. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Arquivos Brasileiros de Psicologia, v.47, n.1, 1995. DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA UNIVERSIDADE DE HELSINQUE. Disponível em http://www.helsinki.fi/sokla/english/index.htm Acesso em: 12 set.2009. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: ed. Atlas, 1991. OLIVEIRA, Fábia da Silva. Da Caligrafia à Escrita: Experiência de Sala de Aula. Como melhorar a escrita no caderno. Brasília: ed. La Salle, 2008. OLIVEIRA, João Batista Araújo. Justifica-se ensinar caligrafia na era do computador? Disponível em: http://www.alfaebeto.com.br/entrevistadetalhe.php?id=8#52#52. Acesso em: 15 set.2009. Site da Academia de Letras do Brasil. Síntese Histórica do Surgimento e Evolução da Escrita. Disponível em http://www.academialetrasbrasil.org.br/histescrita.htm. Acesso em: 10 set.2009. 6