ENSINO E APRENDIZAGEM DE LATIM NA URCA: UM ESTUDO DE CASO SOUZA, Yascara Simão 1 ARRUDA, Francisco Edmar Cialdine 2 RESUMO Este trabalho tem como objetivo apresentar análises colhidas de materiais como avaliações e livros didáticos durante o período de monitoria da disciplina de Língua latina I e II da Universidade Regional do Cariri. Para embasamento teórico utilizamos Miotti (2006) que afirma o latim perder espaços dentro dos cursos de Letras por ser visto como uma língua morta. Durante este trabalho acompanhamos os alunos sondando as suas dificuldades e analisando o desempenho geral da disciplina, desde o semestre 2011.1 à 2012.2, as dificuldades são visualizadas desde o início dos semestres, pois todo o ensino de língua comporta certo grau de artificialismo (LIMA, 1995), e, em relação ao Latim por ter um estereótipo de ser uma língua morta e até mesmo a matemática das línguas (BORTOLANZA) [20-?]. acreditamos que o artificialismo influencia em maior proporção no desempenho das aulas. Visualizamos a necessidade de acompanhamento também fora da sala de aula, por isso, foram acompanhadas as aulas em horários alternados por monitores diferentes e disponibilizado um tempo para a apuração das dúvidas dos alunos. Assim, consideramos o fato de a Língua romana ser considerada língua morta aumente as dificuldades de ensino e aprendizagem da disciplina, assim deixando em alta os filtros afetivos dos discentes iniciantes, uma vez que a busca e uso voraz da tecnologia e modernidade diminui o espaço das línguas clássicas permitindo quase somente as línguas atuais o lugar privilegiado dos idiomas. PALAVRAS-CHAVE: Material didático; Latim; Linguística Aplicada. 1 INTRODUÇÃO Este trabalho trata de observações sobre o objetivo de ensino/ aprendizagem de latim no curso de Letras da Universidade Regional do Cariri. Sabemos a importância que o estudo dessa língua tem, tanto em relação a sua estrutura linguística como sua literatura. Por tal questão preocupamo-nos com o ensino de língua latina. O interesse a esta tarefa surgiu durante as reuniões do grupo de pesquisa GREC, de estudos clássicos, e O LiA, Linguística Aplicada que pesquisa o uso de vocabulário latino em sala de aula, onde foi percebida a pouca satisfação por parte dos discentes a disciplina, então a ideia de auxiliar e buscar saber mais sobre este ponto foi crescente e empolgante. Durante a monitoria fizemos observações em sala de aula, acompanhamentos aos discentes por meio de monitoria levantando pontos importantes, com intuito de contribuir com a língua romana, não querendo esgotar ou chegar a uma conclusão absoluta, mas questionar fatos que consequentemente engrandeçam este assunto, assim, estando em andamento quatro semestres consecutivos. Na Universidade Regional do Cariri a disciplina de Latim perdeu um pouco de espaço, consistia em três semestres com três créditos e passou a ter apenas dois semestres com quatro créditos. Assim, como as outras línguas e disciplinas o latim tem sua grande contribuição nos estudos de línguas dentro do curso de Letras, em especial aos iniciantes do mundo acadêmico. Lana(???) diz que o latim- como língua- é o veículo necessário para entrar em contato direto 1 Discente do curso de Letras da URCA (Universidade Regional do Cariri), yascara_mada@yahoo.com.br 2 Docente do curso de Letras da URCA (Universidade Regional do Cariri)), ed0904@gmail.com
com o mundo romano antigo e conhecê-lo, abordando o seu interior. Então, acreditamos ser imprescindível abordar esta temática, não apenas para ter conhecimento das regras gramaticais da língua- mãe do português, mas para expandir o mundo do conhecimento, permitindo leitura de originais latinos, documentos, dentre outros deixados como herança da sociedade romana que se faz presente na literatura, nos idiomas e em costumes de algumas sociedades. 2 POR QUE ESTUDAR LATIM? Fica claro que o latim não é a língua mais procurada e de interesse da maioria dos estudantes. A sua valorização entrou em decadência no decorrer do tempo. MEC (1999) Em determinados momentos da história do ensino de idiomas, valorizou-se o conhecimento do latim e do grego e o consequente acesso a literatura clássica, enquanto, em outras ocasiões, privilegiou-se o estudo das línguas modernas. A língua romana por não mais possuir falantes nativos quase não é dada a atenção à habilidade oral, talvez o que cause bloqueio ou rejeição por parte dos alunos iniciantes, que encontram maior facilidade quando estudam uma língua moderna, escutando e aprendendo a pronúncia. O fato de o latim não ser mais falado e pouco estudado a sua oralidade não deve ser o foco dentro de sala de aula. Segundo Longo (2006), o motivo pelo qual formam nos cursos de Letras no País especialistas em Língua e Literaturas Latinas é a conservação e a transmissão da herança literária deixada pelos antigos romanos. Alguns escritores e estudiosos da área acreditam que o objetivo ou um dos objetivos é o aprofundamento sobre língua portuguesa e o Aperfeiçoamento do Ensino/Aprendizagem da Língua Materna Furlan (1986) Apud (ARRUDA 2009). Bem como afirma Bortolanza [20-?], o latim ser a matemática das línguas, há quem diga que por ser uma língua difícil ajuda o indivíduo que a aprende desenvolvendo mais seu aparelho cognitivo, propiciando o desenvolvimento da inteligência Mioti (2006) e como certa vez numa discussão um professor de outra área mencionou. Assim, acreditamos que estudar a Língua de Cícero é mais do que conhecer a fundo a nossa língua materna, o português, será mais útil que apenas ler originais clássicos e documentos oficiais latinos é manter viva uma cultura que não mais existe, uma língua que originou várias e a história de uma sociedade que influenciou várias outras. 3 ANÁLISES Notamos desde o princípio do nosso trabalho o quanto os alunos iniciantes ficam espantados ao se depararem com a Língua latina nos primeiros semestres do curso de Letras. No começo deste trabalho no semestre de 2011.1 nos atentamos para as dificuldades apresentadas pelos discentes, quase sempre sendo as mesmas em todos os semestres. OBSERVAÇÕES EM SALA DE AULA A metodologia utilizada pelo professor da disciplina apesar de seguir o conteúdo tradicional foge um pouco da monotonia e ainda trabalha com a memorização estigmatizada como costumava o latim ser ensinado. Foram usados recursos didáticos, como livros sobre literatura e costumes romanos, gramáticas auxiliares, vídeo-aula e filmes que tratam da Roma antiga. Quanto às dúvidas e dificuldades dos discentes quase sempre são as mesmas em todos os semestres. Dentre elas destacamos identificar a conjugação dos verbos, identificar o tema e
o radical, diferenciar os casos latinos das declinações, as funções sintáticas dos casos correspondentes à função em português e a concordância dos adjetivos com os substantivos. Mencionando explicitamente algumas observações decorrentes: em mellior (adjetivo) com mellius (advérbio), pela proximidade das entradas no dicionário não atentando para as classes das palavras no contexto da frase o aluno se confunde, vendo mellius como um adjetivo, o aluno questionou quanto à palavra a qual concordaria com mellius acreditando ser um adjetivo só posteriormente o aluno identificou a classe de mellius (advérbio) quando viu mellior (adj.) logo abaixo (no dicionário). Ainda em relação a adjetivo, os alunos se confundem em relação à semelhança com o substantivo, crendo que a terminação idêntica é o que determina a concordância, não atentando que concordam em apenas gênero, número e caso. As avaliações foram aplicadas mensalmente para que assim o aluno tenha mais chances de recuperar uma possível nota não satisfatória, geralmente divididas da seguinte forma: três testes para a primeira nota parcial, de acordo com o assunto que estiver em curso, e, um ensaio, apresentação de seminário para a segunda nota parcial, é também sugerido apresentações individuais de assuntos relacionados com a língua alvo, sobre literatura, costumes da época, leis, enfim. Os erros e dificuldades vistos nas avaliações não são diferentes dos deparados durante as aulas. QUESTIONÁRIO Apresentamos nesta sessão a opinião de alguns alunos sobre a língua clássica que abordamos, nos levando a mais uma reflexão a respeito do ensino desta língua. Aplicamos um questionário, de acordo com Lakatos (2001, p.201), é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem presença do entrevistador de sete questões subjetivas a uma das turmas que acompanhamos (2011.2) dos semestres I e II, tratando apenas sobre a disciplina, não havendo questões sobre declinação, tradução ou conjugação de verbos, pois pensamos que saber a opinião dos discentes ao qual estão em total contato com a disciplina seja bastante proveitoso. As perguntas aplicadas foram as seguintes: 1. Qual o objetivo de estudar Latim? 2. Em sua opinião, qual a contribuição de estudar Latim na formação em um curso de Letras? 3. Qual a importância do aspecto histórico-cultural de uma língua? 4. O que você sugere para o aperfeiçoamento das aulas de latim? 5. O ensino apenas do aspecto gramatical do Latim é suficiente, dentro do estudo da língua na universidade? 6. Como deveria ser ensinado Latim? 7. Quais são suas dificuldades em estudar Latim? Citaremos algumas das respostas colhidas do material. Em relação ao objetivo de estudar latim: O objetivo de estudar latim é entender a língua que deu origem ao português (sujeito 1N) Para melhor entender a origem de nossa língua (sujeito 4N) Em relação à contribuição de estudar latim no curso de Letras: A importância de entender a língua materna, para melhor compreender a história da humanidade (sujeito 4N) Contribuir no entendimento da origem de língua portuguesa (sujeito 11N) Em relação à sugestão para o aperfeiçoamento da disciplina: Nada, do jeito que está, está ótimo (sujeito 13M, I sem. manhã)
O uso de textos clássicos da língua latina (sujeito 10N). 4 MATERIAL DIDÁTICO Do material didático utilizado apresentamos uma breve análise. O livro base das aulas foi o Gradus Primus de Paulo Rónai, edição do ano de 1998 a 2000, contém trinta lições iniciando com um conteúdo que consideramos de nível fácil, explicação sobre a língua latina não possuir artigos, sujeito e predicado ex.: puella cantat, onde puella está no nominativo, designado pela terminação destacada e o verbo na terceira pessoa do plural do tempo presente, destacado em negrito. Assim, o conteúdo aumenta o nível no avançar das lições até chegar a um conteúdo um pouco mais complexo, o tempo verbal particípio futuro e o tempo verbal infinitivo futuro. Em cada capitulo é apresentado um texto base, uma figura ilustrativa acima do texto, logo após segue um pequeno vocabulário, explicações sobre o assunto proposto e por fim a atividade para prática do conteúdo estudado. Ao final do livro são oferecidos quadros explicativos sobre os tempos verbais e em seguida a lista das abreviaturas utilizadas no livro e um vocabulário de A-Z. CONCLUSÕES Durante este processo nos chamou a atenção o fato de os alunos apresentarem muitas dificuldades não só com a disciplina de Latim, mas com disciplinas de Língua Portuguesa, como Morfologia e Sintaxe, assim dificultando mais ainda o estudo da língua latina, a exemplo, quando os alunos usam a comparação das línguas para fazer tradução de textos latinos eles não conseguem realizar essa atividade tendo bom desempenho. Essa dificuldade também é apresentada ao estudar os casos dos nomes, flexão dos adjetivos, e conjugação de verbos, semelhanças entre o Latim e o Português que auxiliariam na tradução dos textos, causam confusão, e exige certo cuidado. A busca pelo auxílio dos monitores não é considerada satisfatória, uma vez que o contato destes estava disponível em um blog cuja função é ajudar nas dúvidas e auxiliar na interação entre professor, alunos e monitores, percebemos que a ferramenta é pouco utilizada. E, no que se refere às praticas e aplicação do conteúdo em sala de aula, mostra-se suficiente ao tempo, mesmo os alunos tendo acesso a recortes da gramática, literatura e cultura latina. Percebemos que os sujeitos reconhecem o valor educacional formativo na experiência de aprender outras línguas Filho (2008), neste caso o latim, porém não o valorizam. Acreditamos no fato de a Língua romana ser considerada língua morta aumente as dificuldades de ensino e aprendizagem da disciplina, assim deixando em alta os filtros afetivos dos discentes iniciantes, uma vez que a busca e uso voraz da tecnologia e modernidade diminui o espaço das línguas clássicas permitindo quase somente as línguas atuais o lugar privilegiado dos idiomas.
REFERÊNCIAS ALMEIDA FILHO, José Carlos Paes de. Dimensões comunicativas no ensino de línguas, 5.ed, Campinas, São Paulo: Pontes editores, 2008. ARRUDA, Francisco Edmar Cialdine. Lexicografia pedagógica e ensino de latim: diálogos possíveis. Trabalho de conclusão de curso (Especialização). Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2009. BORTOLANZA, João. O latim e o ensino de português..net, Mato Grosso do Sul, [20-]. BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais, códigos e suas tecnologias. Língua estrangeira moderna. Brasília: MEC, 1999. pp 49-63. LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico, 2001. LONGO, Giovanna. Ensino de Latim: problemas linguísticos e uso de dicionário. 2006. 105 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, São Paulo, 2006. MIOTI, Charlene Martins. O ensino do latim nas universidades públicas do estado de São Paulo e o método inglês reading latin: um estudo de caso. 2006. 145 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.