TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS E MÍDIA: REFLEXÕES SOBRE SEUS PRINCÍPIOS E RELAÇÕES Ivan Paladino Leila Coutinho Magnani Carneiro Marcos Antonio Magnani Carneiro Resumo Neste texto, busca-se delinear a interação da mídia com o papel formador da educação e as questões emergentes desta relação, bem como fazer um esboço das influências da mídia na construção do comportamento social do indivíduo. Igualmente, busca-se investigar as tendências pedagógicas que buscam dar sustentação a esta mídia como parceira no processo de socialização consciente do educando. Palavras-Chaves Tendências Pedagógicas, Mídia. 1. Desenvolvimento Entende-se por mídia os meios de comunicação de massa: o rádio, a televisão, o jornal, a internet, as revistas, os out doors, enfim, todas as formas de veiculação das informações. Para Hall (2001), as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades (p.7). Com efeito, as informações, as mensagens divulgadas pela mídia são formadoras de cultura, e essa nova cultura é capaz de forjar identidades. Não se pode negar que a mídia é hoje a maneira mais abrangente e mais eficiente de se difundir cultura, política e também de se moldar personalidades. A mídia é capaz de formar e transformar sociedades. Como uma das vertentes da estrutura social, a educação também se vê assediada pela mídia transformadora de comportamentos sociais. As pressões externas, os Mestre em Ciências Pedagógicas pelo ISEP Instituto Superior de Estudos Pedagógicos. Professor de Geografia do Colégio Pedro II e Escolas Privadas. Mestre em Ciências Pedagógicas pelo ISEP Instituto Superior de Estudos Pedagógicos. Professora de Química do Colégio Militar do Rio de Janeiro e Escolas Privadas. Mestre em Ciências Pedagógicas pelo ISEP Instituto Superior de Estudos Pedagógicos. Professor de Biologia do Colégio Pedro II e Escolas Privadas.
padrões econômicos e sociais impostos pela globalização, entre outros fatores trazidos pela mídia, redefinem o papel da educação. As situações vivenciadas nesse mundo globalizado exigem que os valores inseridos na educação tradicional sejam substituídos por valores mais críticos, voltados para uma sociedade exposta a todo o tipo de informação veiculada pela mídia, uma sociedade mais reflexiva, conhecedora do seu potencial. Silva (1988), sobre a educação tradicional, afirma que a mesma:...valoriza uma relação educação-sociedade de caráter conservador, já que a educação não é fator determinador de mudanças ao nível social, mas atua no sentido de transmitir valores e conhecimentos indispensáveis à manutenção de estrutura e funcionamento de uma determinada sociedade. (p. 89) O momento atual impõe a substituição dessa educação centralizadora por uma educação mais reflexiva, na medida em que aprender não é copiar a realidade. Aprender significa compreender, assimilar novas práticas; implica em novas metodologias, novos valores intrínsecos a um mundo globalizado. Nas sociedades tradicionais, a identidade era fixa, sólida e estável. Os atores tinham seus papéis bem definidos. Com o advento da mídia, os valores decorrentes da globalização impactaram a identidade cultural. A moda passou a ser uniforme, a música deixou de ser regional. A própria língua foi-se tornando híbrida, adquirindo caracteres não-nacionais. Hall (2001) enfatiza que as transformações associadas à modernidade libertaram o indivíduo de seus apoios estáveis nas tradições e nas estruturas (p. 25). É nesse contexto que o papel dos educadores sofre um redimensionamento. O mundo em que vivemos exige que os valores fundamentados na educação tradicional, calcados no saber do mestre, sejam repensados. A partir da década de 60, a influência da mídia se tornou mais evidenciada com as mensagens veiculadas pela TV, alterando os hábitos. Companheira, no sentido literal da palavra, a telinha impôs sua presença a ponto de, muitos de nós, sentirmos falta de sua presença e só conseguirmos dormir embalados pelo seu som. A de se supor que as mudanças de comportamento trazidas por essa modalidade da mídia são muitas vezes perniciosas, pois acabam por reduzir o pensamento humano. Negar a ação da mídia nos processos sociais seria descompromisso com a realidade. As influências das mensagens transmitidas pela mídia na construção da personalidade da criança e do adolescente são verificáveis pela observação da maneira como se vestem e agem ou dos brinquedos com os quais se entretêm as crianças, são sempre os mesmos: comem
hambúrgueres seguindo o american way of life, compram roupas de grife e se divertem com jogos eletrônicos. Difícil é saber até onde essas mensagens podem interferir na construção do saber. Se pensarmos que a própria família abaliza as atitudes dos filhos, comprando sandalinhas X para as meninas e tênis Y para os meninos ou ainda comprando para a casa um eletrodoméstico Nonono, sem verificar se é mais econômico energeticamente falando, mas porque está todos os dias nos comerciais da TV. Cabe aqui repensar o poder de influência da mídia na capacidade crítica do indivíduo. Um dos pontos polêmicos da relação ente a mídia e a educação é a formação de identidades. Steinberg (apud SILVA, 1997) sinaliza que analisar o analfabetismo na mídia, ou seja, o desenvolvimento de habilidades trazidas pela mídia, passa a ser uma habilidade básica para negociar a identidade. A cultura imposta pela mídia seria, assim, capaz de fragmentar nossas identidades e transformar nossa cultura numa só, multifacetada, porém global. Uma pedagogia que se preocupa com o desenvolvimento do cidadão tem que se preocupar com os efeitos que os meios de comunicação provocam no seu dia-a-dia. A educação tradicional não cabe neste contexto. Se a cultura não é mais sistematizada, se o meio exterior é capaz de interferir no processo de conhecimento, o professor não pode mais continuar com uma imagem pré-estabelecida. Afirma Fischmann (2000) que essa abordagem é insuficiente porque: Embora vivamos a época, por excelência, da imagem soberana, tanto ao vivo, nas vaidades de cada dia, quanto via satélite, nos Narciso criados e/ou alimentados pela mídia, é patente a diferença entre ser e parecer (p.94). As possibilidades pedagógicas que se apresentam nas imagens, nos sons eletrônicos e nos out doors são infinitas. A pedagogia deve desenvolver estratégias para que o estudante faça a leitura correta desses símbolos em termos de ética ou valores de uma sociedade, já que esses mecanismos podem também estar relacionados à determinada linha de doutrinação de certos grupos de interesse, que queiram se impor na sociedade a ser dominada. Se nos apropriarmos do conhecimento de como os recursos usados pela mídia são utilizados para atingir o indivíduo, seremos capazes de assumir uma postura crítica em relação aos meios de comunicação de massa. Quando analisamos a mídia dos anos 60, dentro de uma visão tradicionalista, verificamos que as mensagens veiculadas eram explícitas, tinham um caráter diretivo, ou seja, as mensagens tinham a idade, a cor, o sexo e o nível cultural do indivíduo que queriam
atingir. Hoje, dentro de uma tendência mais crítica, em que o indivíduo questiona o desenvolvimento do conhecimento, verificamos que a mídia se preocupa mais com o processo. Essa diferença de visão de mundo direciona a mídia. Sabemos que as mensagens divulgadas pela mídia não são ocasionais ou inocentes. Elas são cuidadosamente planejadas, articuladas para atingir um determinado tipo de público. Elas são capazes de vender um produto, seja ele material ou ideológico. Por exemplo, em períodos que antecedem as eleições, somos seduzidos no campo ideológico por políticos. Para nos seduzirem, eles fazem propagandas eleitorais bem elaboradas; cuidam da aparência e se preocupam com o discurso. A de se entender que a sociedade de hoje encontra-se está mais crítica, mais reflexiva. Muito pertinente é a fala de Freire e Shor (1987), quando dizem que a educação que provoca criticamente a consciência do estudante necessariamente trabalha contra alguns mitos, que nos deformam (p. 26). É nesse contexto que a educação crítica se faz necessária: urge racionalizar cada discurso para não sermos robotizados. Fischmann (2000) enfatiza que o indivíduo deve aprender a adquirir informações necessárias à construção do seu saber e que, criticamente, assimile o que lhe for essencial ou interessante. Seguindo esta linha de raciocínio, a teoria crítica da educação conduz a um posicionamento capaz de orientar o ser no sentido de favorecer e formar conhecimento e estabelecer relações do eu coletivo com o eu individual. McLaren (1997) sinaliza que os educadores críticos argumentam que nós temos responsabilidades não somente pela maneira com a qual agimos individualmente ou socialmente, mas também pelo sistema no qual participamos. (p.196) Reforçando esse argumento, Giroux (apud McLAREN, 1997) sinaliza que o currículo reflete os interesses dos que o rodeiam. É incontestável que conceitos pré-estabelecidos não interessam a nossos estudantes. Para aprender, eles precisam de contexto e é isso que a mídia oferece. Diante deste quadro, eles se deixam seduzir pela mídia, já que, através dela, os conhecimentos são oferecidos de uma forma transdisciplinar. Há que se refletir sobre uma metodologia que faça uso da mídia e dela tire proveito. Fugir do convencional, do pré-estabelecido, para atingir um grau maior de comunicação, é o caminho da educação. Com muita propriedade, Anísio Teixeira (2000) argumenta que o homem moderno sabe que pode mudar as coisas e que deve mudá-las (p. 31). Se o indivíduo está inserido num mundo em transformação, se as informações caminham com a velocidade da luz ou do som, a educação tem que se transformar para atender às demandas desse mundo.
2. Considerações Finais A mídia armazena um imenso volume de informações e as transportam em grandes velocidades, em curto espaço de tempo e em diferentes formatos. Para a comunidade científica, é uma ferramenta rápida e eficiente para troca de informações e, para a educação, a mais abrangente e complexa rede de aprendizado do mundo. A mídia como um canal de construção de conhecimento pedagógico é um desafio para os educadores no século XXI, apresentando uma concepção socializadora da informação. Porém, as escolas estão caminhando de uma forma muito lenta quando comparadas a outros setores sociais. Administradores, educadores, diretores e pais estão preocupados e debatendo sobre como a mídia está adentrando na vida cotidiana dos alunos, seja por meio pedagógico, ético ou pornográfico. É necessário aumentar a instrumentalização das escolas, bem como a atualização e a preparação dos educadores frente à nova era da telemática (conjunto de tecnologias de transmissão de dados resultante da junção entre os recursos das telecomunicações e da informática). Só assim será possível alertar sobre mídias não confiáveis, além de relacionar e aumentar os conceitos, aprendidos em aulas convencionais. A mídia pode, contribuindo com o processo educacional, manifestar e confrontar idéias, opiniões e pensamentos, fazendo a sala de aula não ficar mais confinada a quatro paredes. O estudante, peça central deste processo e um dos alvos da mídia, tem importância capital no cenário da escola, da sociedade e no próprio uso das tecnologias, em face de seu papel de cidadão. Assim, é necessário desenvolverem-se esforços para que a influência da mídia e as informações passadas na escola não sejam conflitantes, mas que se somem no seu processo formativo socializante. O princípio pedagógico que nos norteia é a decodificação da mídia para incorporá-la à educação. Aprender num mundo em constante mutação implica em assimilar conhecimentos e ser capaz de transformá-los em trampolim para novas aprendizagens. Referências Bibliográficas FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Quais os temores e os riscos da transformação? In: Medo e ousadia o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. FISCHMANN, Roseli. Identidade, identidades indivíduo, escola: passividade, ruptura, construção. In: Multiculturalismo: mil e uma faces da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. MCLAREN, Peter. O surgimento da pedagogia crítica. In: A vida nas escolas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1977. SILVA, Sônia. A escola tradicional e suas bases axiológicas. In: Valores em educação. Petrópolis: Vozes, 1988. STEINBERG, Shirley R. Kindercultura: a construção da infância pelas grandes corporações. In: SILVA, Luiz Heron, AZEVEDO, José e SANTOS, Edmilson (org). Identidade social e a construção do conhecimento. Porto Alegre: SME, 1997. TEIXEIRA, Anísio. Pequena introdução à filosofia da educação: a escola progressiva ou a transformação da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.