DESENVOLVENDO ESTRATÉGIAS PARA O CONTROLE DA PEDICULOSE NA REDE ESCOLAR Developing strategies to control head lice control in the School System



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Transcrição:

DESENVOLVENDO ESTRATÉGIAS PARA O CONTROLE DA PEDICULOSE NA REDE ESCOLAR Developing strategies to control head lice control in the School System Alessandra Tomazi Franceschi 1 Bianca Bicca Franco 2 Cláudia Maria Pedezert Steiger 3 Débora Zmuda Padilha 4 Janaina Euzébio Irigaray 5 Juliana Machado Schardosim 6 Regina Rigatto Witt 7 RESUMO Este artigo relata a experiência do projeto iniciado em 2005, durante o estágio da disciplina de Fundamentos de Enfermagem Comunitária, do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na Unidade Jardim Itu do Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição. Em 2006 foi transformado em projeto de extensão. Teve como objetivo desenvolver estratégias de intervenção para o controle da pediculose na comunidade escolar das Escolas Itália e Gustavo Armbrust, a partir da análise da temática sob enfoque multidisciplinar. Para isto, envolveu a equipe da Unidade básica Jardim Itu e a comunidade educacional. A equipe reuniu-se periodicamente para discutir achados da literatura e relatos de experiências. Foram adotadas as seguintes estratégias: 1) atividade lúdica com as crianças; 2) levantamento das crianças infestadas; 3) reunião com os pais abordando a prevenção, o contágio e o tratamento da pediculose. Estas oportunizaram a realização de ações de prevenção e promoção da saúde. Palavras-chave: Infestações por Piolhos/prevenção & controle; Educação em Saúde; Atenção Primária de Saúde. ABSTRACT This paper describes the experience of the project began in 2005, during the practice of Community Nursing Fundamentals, conducted by the Nursing Undergraduate Course of the Federal University of Rio Grande do Sul at the Jardim Itu Health Unit of the Conceição Hospital Group Community Health Service. In 2006, it became an extension project. Its objective was to develop intervention strategies to control lice at the Itália and Gustavo Ambrust community schools, based on analysis of the theme from a multidisciplinary focus. For this, it evolved the 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem. Bolsista de extensão. Rua Vera Cruz, 122 Bairro Vila Ipiranga Porto Alegre/RS CEP: 91380-280, alefranceschi@gmail.com, fone: (51)33441902 2 Grupo Hospitalar Conceição. Serviço de Saúde Comunitária. Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. 3,4,5 Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem. 6 Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Agente comunitária de saúde do Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição. 7 Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora Adjunta da Escola de Enfermagem. Doutora em Enfermagem em Saúde Pública.

Jardim Itu Basic Unit and the school community. The team met periodically to discuss literature findings and experience reports. The following strategies were adopted: 1) playful activities with the children; 2) screening of the infested children; 3) meetings with the parents, to talk about lice prevention, transmission and treatment. These enabled health care prevention and promotion activities to occur. Key words: Lice Infestations/prevention & control; Health Education; Primary Health Care. INTRODUÇÃO Crianças em idade escolar constituem um grupo suscetível à pediculose. Esta se constitui em uma ectoparasitose causada pelo pediculus humanus capitis, inseto hematófago que acomete o couro cabeludo humano. O piolho do couro cabeludo comumente causa infecções secundárias e foi considerado uma das principais causas de impetigo nas populações de países em desenvolvimento (BURGESS et al., 1995). As crianças infestadas podem apresentar baixo desempenho escolar por dificuldade de concentração, conseqüência do prurido contínuo e distúrbios do sono. Em casos mais graves, crianças podem desenvolver anemia devido à hematofagia do piolho (LINARDI, 2002). O controle efetivo das ectoparasitoses é um desafio para a saúde pública, por causa da alta contagiosidade, do manejo inadequado, da negligência tanto da população como dos profissionais de saúde e/ou da presença de reservatório animais, além de ciclos de vida complexos (HEUKELBACH et al., 2003). Na comunidade escolar, a transmissão ocorre entre os alunos e a exclusão da escola é uma medida quase universal nos Estados Unidos (PRICE, apud ROBERTS, 2002). Esta prática também foi adotada em Cuba nos anos 80, sem que se tenha obtido resultados satisfatórios no controle da infestação (CRUZ; ROJAS, 2000). Esta política tem sido considerada excessiva, visto que três quartos das crianças com lêndeas não apresentam piolhos (ROBERTS, 2002). No Brasil, não existe uma política institucional na rede escolar em relação à pediculose e, de uma maneira geral, as crianças não são afastadas da escola por causa da infestação. Taxas de prevalência do piolho podem chegar a 40% em comunidades carentes no Brasil, sendo que crianças apresentam taxas mais altas (WILKE et al., 2002), o que faz com que a comunidade escolar tenha que se deparar com esta problemática em seu cotidiano de trabalho.

Como um problema de saúde pública de difícil resolução, dele dependem ações de vários setores em diversos níveis. Por isto, é necessário que se desenvolvam estratégias de intervenção que envolvam outros setores da sociedade, além das instituições de ensino, como os serviços de saúde. O presente projeto surgiu durante o estágio da disciplina Fundamentos de Enfermagem Comunitária, do Curso de Graduação em Enfermagem da UFRGS, na Unidade de Saúde Jardim Itu do Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição por solicitação da Escola Estadual de Ensino Fundamental Dr. Gustavo Armbrust, no segundo semestre de 2005. Em 2006, esta atividade foi transformada em projeto de extensão e estendida para a Escola Itália, também por solicitação desta, instituição situada na área de abrangência da Unidade Jardim Itu, distrito sanitário noroeste de Porto Alegre. O projeto teve como objetivo geral desenvolver estratégias de intervenção para o controle da pediculose na comunidade escolar e, como específicos: 1) conhecer a dimensão da problemática na comunidade atendida; 2) buscar elementos para a construção das estratégias pretendidas, tanto na literatura, como em outros recursos sociais disponíveis, como a própria comunidade; 3) desenvolver atividades de promoção da saúde, ajudando a comunidade tanto na prevenção quanto no tratamento da pediculose; 4) fazer um levantamento de tratamentos caseiros e medicamentos para a pediculose; 5) oportunizar a criação de espaços para a discussão de preconceitos e mitos existentes em torno da temática; 6) transmitir à comunidade o conhecimento adquirido durante as atividades do projeto; 7) incentivar as pessoas com pediculose a procurarem tratamento e/ou auxílio. DESENVOLVIMENTO O projeto visou analisar a temática sob enfoque multidisciplinar, não se detendo apenas na questão da pediculose. Para isto, envolvemos a equipe da Unidade Básica Jardim Itu e a comunidade educacional, promovendo um diálogo franco sobre a temática, obtendo assim um espaço de discussão e aprendizagem mútua. A equipe se reuniu periodicamente para discutir achados da literatura e relatos de experiências. Após traçarmos estratégias, entramos em contato com as escolas propondo o trabalho previamente planejado.

Foram desenvolvidas atividades lúdicas com as crianças, que envolveram conversa informal sobre o tema. No segundo semestre de 2005 foi desenvolvida a história O Ataque dos Piolhos e em 2006, um jogo de perguntas e respostas sobre a pediculose. Durante o projeto foram realizadas reuniões com os pais abordando prevenção, contágio e tratamento da pediculose. Também foram distribuídos aos pais panfletos educativos, enfatizando o tratamento. Foram realizados plantões de atendimentos individuais aos pais. Nestes plantões as alunas davam orientações especificas a cada caso. A equipe do projeto, junto com representantes da comunidade e da Unidade de Saúde, participou de uma oficina sobre a confecção de medidas caseiras a base de alfazema para o combate à pediculose. Esta oficina foi posteriormente ministrada pelas alunas aos pais de ambas as escolas. No segundo semestre de 2005 e no primeiro de 2006 a equipe trabalhou com prevenção e tratamento da infestação nos alunos, desenvolvendo atividades educativas com as crianças, levantamento da dimensão da infestação na coletividade escolar e reunião com os pais para a discussão do problema. Dentre as estratégias educacionais, foi desenvolvida uma história O Ataque dos Piolhos, que foi narrada com auxílio de uma televisão didática. A história foi contada com a participação dos alunos, procurando adequar os conceitos construídos com o nível de conhecimento de cada turma. Foi abordado o que era pediculose, formas de transmissão, formas de prevenção e a importância da verificação da cabeça por um adulto. Também foram discutidos tabus relacionados à pediculose, como por exemplo a idéia de que apenas pessoas com hábitos de higiene inadequados contraiam infestação. Segundo Downs et al. (1999), questiona-se que sua alta prevalência seja relacionada com a disponibilidade limitada de água e deficientes práticas de higiene pessoal, situação comum na população de classes baixas, pois também se pode evidenciar a infestação em pessoas pertencentes a outras classes sociais. Outra estratégia educacional realizada foi um jogo de perguntas. Os mesmos temas abordados na história eram abordados em uma conversa com os alunos que antecedia o jogo. A turma era divida em duas e a cada metade era feita uma pergunta que visava reforçar os conteúdos abordados.

No término das atividades educativas, foram distribuídos para as crianças panfletos educativos abordando formas de contágio e prevenção da pediculose. Neste momento, as crianças eram convidadas a participar da verificação das cabeças. O registro era feito de forma sigilosa com o uso de um código. A dimensão da infestação na comunidade escolar atendida está apresentada abaixo. Tabela 1. Infestação por pediculose na Escola Gustavo Armbrust nos semestres 02/2005 e 01/2006 Crianças por séries Ed. Infantil 1ª série 2ª série 3ª série 4ª série 2005 2006 2005 2006 2005 2006 2005 2006 2006 Presença de lêndeas 04 06 09 08 17 07 14 08 12 Presença de piolho 02 02 06 00 03 04 01 02 00 Sem infestação 26 20 43 54 41 46 46 52 63 Total 32 28 58 62 61 57 61 62 75 Estes resultados mostram uma taxa de prevalência de 26,41% na Escola Gustavo Ambrust em 2005. Em 2006 foi de 17,25%, sendo 22,74% na Escola Itália (tabela 2). A prevalência da pediculose é tipicamente 1 a 3 por cento nos paises desenvolvidos, podendo exceder a 25% nas escolas de educação infantil (ROBERTS, 2002). Taxas de prevalência do piolho podem chegar a 40% em comunidades carentes no Brasil, sendo que crianças apresentam taxas mais altas (WILKE et al., 2002). Em outros países latino-americanos, como no Chile, têm se observado taxas de 15% na população geral e mais de 30% na população infantil (ROSSO, 2003). Tabela 2. Infestação por pediculose por série na Escola Itália no semestre 01/2006. Crianças por séries Ed. Infantil 1ª série 2ª série 3ª série 4ª série Presença de Lêndeas 03 22 09 11 03 Presença de piolho 01 03 01 00 00 Sem infestação 26 44 29 41 41 Total 30 69 39 52 44

Nas reuniões com os pais, o principal tema discutido foi o tratamento da pediculose. Os problemas identificados para o tratamento incluem, entre outros a reinfestação, a compreensão e/ou instruções errôneas sobre o uso dos produtos pediculicidas, com conseqüente desenvolvimento de resistência, alto custo da medicação, concepções e práticas erradas em relação à infestação. O tratamento da pediculose pode ser tópico ou sistêmico. No primeiro grupo, incluem-se medicamentos a base de deltametrina, permetrina e benzoato de benzila. Como tratamento tópico o pente fino também é recomendado na literatura (BURGESS et al., 1995). A ivermectina é usada por via oral. A rede básica do município de Porto Alegre distribui permetrina 1% loção capilar e permetrina 5% solução, para uso tópico e ivermectina comprimidos, disponível somente nas Farmácias Distritais. Ainda que o tratamento da infestação com pediculicidas, bem conduzido, não traga maiores riscos, está demonstrado que o uso freqüente destas loções, aumenta rapidamente o desenvolvimento de resistência a tais compostos (PICOLLO, 2001), o que justifica a busca de tratamentos alternativos. Uma integrante da comunidade escolar nos forneceu uma reportagem sobre medidas caseiras contra pediculose. A partir disto, entramos em contato com a engenheira agrônoma responsável. Ela ministrou uma oficina para a equipe do projeto e representantes das escolas e da unidade de saúde, ensinando a preparar receitas a base de alfazema que combatem a pediculose. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com esta atividade de extensão acreditamos ter saído de uma perspectiva meramente curativa realizando ações de prevenção e promoção da saúde, partindo de uma ampla concepção do processo saúde-enfermidade e de seus determinantes, propondo a articulação de saberes técnicos e populares e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e privados para seus enfrentamento e resolução (BUSS, 2000). Recentemente, conforme as diretrizes curriculares, a enfermeira deve ser formada para planejar e implementar programas de educação e promoção à saúde, considerando a

especificidade dos diferentes grupos sociais e dos distintos processos de vida, saúde, trabalho e adoecimento (BRASIL, 2003). Estiveram envolvidos alunos do Curso de Graduação em Enfermagem que já cursaram a disciplina e iniciaram a atividade e alunos que estão sendo introduzidos na disciplina no semestre. A equipe de saúde foi atuante no projeto, além da participação de alguns funcionários durante este, as alunas proporcionaram uma capacitação para as agentes de saúde, adquirindo subsídios para dar continuidade ao controle e prevenção da pediculose proposto pelo projeto, pois foram habilitados para a realização do monitoramento da situação nas crianças da comunidade. A proximidade com a comunidade oportunizou o desenvolvimento de atividades que visaram transmitir informações de forma clara e de acordo com sua realidade, contribuindo assim para o aprendizado da prática de educação e saúde pelas acadêmicas. Neste espaço buscamos construir estratégias de intervenção para controle da pediculose que ofereçam alternativas àquelas encontradas na literatura. Em relação ao impacto do projeto, ficamos muito satisfeitas ao observar a queda na prevalência da infestação na Escola Gustavo Ambrust em 2006, embora não seja possível inferir que isto seja resultado das atividades desenvolvidas em 2005. Porém, esta situação deverá servir como estímulo para que outras atividades sigam sendo desenvolvidas, com envolvimento dos professores em motivar os pais para comparecerem às reuniões e oficinas. Mesmo assim acreditamos que o projeto foi positivo, pois conseguimos o envolvimento dos alunos e da equipe da unidade de saúde. REFERÊNCIAS BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Institui diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduação em enfermagem. Resolução nο 3, 7 Novembro 2001. In: ALMEIDA, M. Diretrizes curriculares dos cursos universitários da área da saúde. Londrina: Rede Unida, 2003. p. 8-15. BURGESS, I. F. et al. Head lice resistance to pyrethroid insecticides in Britain. Br. Méd. J.,1995;311:752. BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciên. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 163-177, 2000. CRUZ, A. M.; ROJAS, V. Conocimientos y prácticas sobre la pediculosis en un área de salud.. Rev. Cubana Méd. Trop., v.52, n. 1, p.44-7. jan,/abr. 2000.

DOWNS, A. M. et al. Evidence of double resistance to permethrin and malathion in head lice. Br. J. Dermatol., v. 141, n. 3, p. 508-11, 1999. HEUKELBACH, J. et al. Ectoparasitoses e saúde pública no Brasil: desafios para controle. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 5, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. Acesso em: 28 Ago 2006. LINARDI, P. M. Anoplura. In: NEVES, D. P.; MELO, A. L.; GENARO, O.; LINARDI, P. M. (Org.). Parasitologia humana. São Paulo: Atheneu, 2002. p. 368-72. PICOLLO, M. I. et al. Resistance to insecticides and effect of synergists on permethrin toxicity in Pediculus capitis (Anoplura: Pediculidae) from Buenos Aires. J. Med. Entomol., v. 37, p. 721-25, 2001. ROBERTS, R. J. Head Lice. N.Engl. J. Med., v. 346, n. 21, p. 1645-1649, May 2002. ROSSO, A. R. P. et al. Pediculus capitis: terapias disponibles. Rev. Chilena Infectol., v. 20, n..2, p.111-16, 2003 WILKE, T. et al. Scabies, pediculosis, tungiasis and cutaneous larva migrans in a poor community in northeast Brazil. Acta Trop., v.83, supl. 1, p. S100, 2002. Submissão: março de 2007 Aprovação:julho de 2007