Ministério da Justiça CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA - CADE Ato de Concentração nº. 08012.009860/2003-32 Requerentes: Oceaneering International, Inc. e Stolt Offshore BV. Advogados: João Guilherme Sauer, Marcus Vinicius M. Versolatto, Hermano de Villemor Amaral (filho), entre outros. Conselheiro-Relator: Roberto Augusto Castellanos Pfeiffer RELATÓRIO I - DAS REQUERENTES a) Oceaneering International, Inc.. ( Oceaneering ) A Oceaneering, empresa norte-americana, atua mundialmente no desenvolvimento de produtos e serviços de engenharia submarina que constituem soluções para as empresas petrolíferas, incluindo gás natural. As empresas que fornecem esse tipo de serviço, qual seja, o de engenharia submarina, envolvem uma alta gama de atividades que, em conjunto, constituem soluções para a indústria petrolífera. A Oceaneering, entretanto, se limita a atuar na área de prestação de serviços e fornecimento de ROV s (Veículos de Operação Remota, utilizados para a prestação de serviços de suporte à perfuração de poços submarinos), os chamados contratos individuais ou EPIC parciais, os quais atendem a empresas petrolíferas que possuem estrutura de gerenciamento dos seus próprios serviços submarinos. Dessa maneira, tais empresas demandam por serviços individuais, uma vez que estes se apresentam mais adequados aos seus projetos e estratégias contratuais. Os serviços de ROV s são utilizados na realização de inúmeras tarefas nos diversos estágios de implementação de um poço de petróleo, desde a avaliação à produção e manutenção, até ao abandono do poço. Os ROV's podem ser equipados com manipuladores, sonares, câmeras de vídeo, ferramentas especializadas, entre outros equipamentos, no intuito de facilitar a execução de atividades submarinas específicas. Os produtos e serviços ofertados pelo Grupo no Brasil se restringem a equipamentos e serviços integrados de engenharia submarina para operações em ambientes inóspitos, especialmente o ambiente submarino, fornecendo suporte para perfuração, construção submarina, planejamento, aluguel, além de operação de sistemas de produção,
sistemas de conexão de umbilicais, sistemas de conexão de linhas de fluxo, equipamentos submarinos especializados (tais como lançadores e lingotes), manutenção e reparo de equipamentos, especialmente equipamentos submarinos e serviços especializados em engenharia e inspeção onshore e offshore. A Oceaneering é empresa negociada em bolsa e, conforme informou esta requerente, não apresenta nenhum acionista com participação constante maior do que 5% do seu capital social. Não há outras empresas pelas quais o grupo atue direta ou indiretamente no Mercosul. No Brasil, o Grupo detém participação social superior a 5% na empresa Marine Production Systems Serviços Ltda.. No ano de 2002, o Grupo obteve faturamento de R$ 117.895.000,00 no Brasil, e de R$ 1.608.074.819,10 no mundo. Nos últimos três anos, o Grupo participou de 1 (um) único ato de concentração, apresentado ao Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) e que segue abaixo descritos: - Ato de Concentração nº 08012.009859/2003-16: Aquisição, pela Oceaneering, de certos ativos e contratos da Subsea7 relacionados com negócios de serviços integrados de engenharia submarina. Processo arquivado sem julgamento do mérito, nos termos do voto do Relator. b) Stolt Offshore BV ( Stolt ) A Stolt, empresa pertencente ao Grupo Stolt, com origem em Luxemburgo e constituído sob as leis do Grão Ducado de Luxemburgo, tem seu capital social com direito a voto detido em 69% pela Stolt Nielsen S.A. e atua, mundialmente, no desenvolvimento de produtos e serviços de engenharia submarina que, assim como a Oceaneering, constituem soluções submarinas para as empresas petrolíferas, incluindo gás natural. Entretanto, diferentemente da primeira requerente, a Stolt é especializada na área de prestação de serviços por empreitada global, ou EPIC total, que abrange toda a parte de planejamento, construção e instalação dos poços de petróleo, onde o contratado supervisiona os projetos e fornece muitos dos serviços solicitados, subcontratando outras empresas para prestar os serviços remanescentes. 2
A Stolt oferece, no Brasil e no Mercosul, especificamente, serviços de engenharia submarina e offshore especializados e tecnologicamente sofisticados, linhas de fluxo, trunklines e instalação de dutos, construção, inspeção e manutenção. A atuação do Grupo, tanto no Brasil, como no Mercosul, se dá por meio de participação nas empresas Stolt Offshore S.A., Sucar Participações S/A, localizadas no Brasil e Stolt Offshore Argentina S.A. (em liquidação) e Servicios Petróleos Fuegunios S.A. (em liquidação), localizadas no Mercosul. No ano de 2002, o Grupo obteve faturamento no Brasil de R$ 152.740.000,00 e de R$ 4.222.368.750,00 no mundo. Não informou o faturamento de suas subsidiárias nos demais países do Mercosul, uma vez que se encontram em estado de liquidação. Nos últimos três anos o Grupo não participou de qualquer ato de concentração que tenha sido apresentado ao SBDC. II - DA OPERAÇÃO Esta operação tem por objeto a transferência de ativos e contratos da Stolt e demais subsidiárias do grupo para a Oceaneering, sendo todos relacionados com serviços integrados de engenharia submarina, mais especificamente, serviços de suporte à perfuração de poços submarinos com o uso de Veículos de Operação Remota (ROV s). Em 1º de Dezembro de 2003 a Oceaneering executou com a Stolt um Protocolo de Entendimento com o objetivo de estabelecer as condições de negociação para a transferência objeto da operação. A Oceaneering estima que pagará, na data do fechamento do contrato, a quantia total de US$ 50.000.000,00 pelos ativos em negociação. No Brasil, de acordo com o que foi informado pelas Requerentes, serão transferidos ativos cujo faturamento estimado é de, aproximadamente, R$ 17.620.000,00. Os contratos que serão transferidos da Stolt para a Oceaneering no mercado nacional são exclusivamente celebrados com a empresa Petrobrás S.A. e, conforme foi informado pela própria Petrobrás, se tratam de contratos individuais que se referem ao fornecimento de equipamentos e serviços de ROV S por sonda, que incluem a prestação de serviços de inspeção e intervenção submarina, acompanhamento de testes de válvulas hidráulicas, apoio a operações de ancoragem, acompanhamento de início e abandono de poços, instalação e retirada de anéis de cabeça de poço, esmerilhamento e corte de cabos e parafusos, além de operações de pescaria com a utilização de embarcações a serviço ou de propriedade da Petrobrás, mediante operação e manutenção pela contratada. 3
Esta operação se restringe, entretanto, a uma compra parcial de ativos, uma vez que a Stolt, após a operação, ainda manterá a maioria dos equipamentos necessários para a prestação dos serviços integrados de engenharia submarina, concorrendo ainda em licitação, em base de empreitada global. Quanto ao mercado relevante, conforme parecer da SEAE/MF, este se define no segmento de ROV s por sonda, segmento este onde se verifica uma sobreposição de atividades. É importante ressaltar que os serviços executados por meio de ROV s por sonda são contratados por meio de licitações internacionais realizadas por cartas-convite, onde empresas que possuem a pré-qualificação necessária são convidadas a apresentar sua proposta de prestação de serviços, concorrendo entre si. Geralmente vence a proposta que apresentar um menor preço. Entretanto, devido às barreiras existentes quanto a entrada de novos competidores nesse mercado, a SEAE/MF definiu o mercado relevante geográfico como sendo o nacional. III - DA JUSTIFICATIVA DA OPERAÇÃO De acordo com o que informaram as requerentes, a razão para a realização desta operação consiste no fato de que a Oceaneering pretende aumentar sua presença global e oferta de serviços, especialmente com relação ao Brasil e ao Reino Unido, visando atender à demanda cada vez mais internacionalizada de serviços de engenharia submarina. Quanto à Stolt, esta está envolvida numa reestruturação do Grupo e deseja concentrar esforços e recursos em suas atividades principais, como os contratos de EPIC. Por isso está vendendo os ativos em questão, uma vez que estes não são vistos pela Stolt como parte de suas atividades principais permanentes. No entanto, a Stolt manterá, após a operação, alguns ROV s. IV - DA TEMPESTIVIDADE De acordo com parecer da SDE, verifica-se que o primeiro documento vinculativo da operação foi o instrumento denominado Heads of Agreement (Protocolo de Entendimento), de fls. 47/52 com tradução às fls. 158/192 firmado em 25 de novembro de 2003. O ato, por sua vez, foi apresentado em 19/12/2003, não estando, portanto, dentro do prazo legal de 15 dias úteis, tendo a SDE considerado a sua apresentação intempestiva. 4
Em relação a este tópico, a SEAE/MF, o Ministério Público Federal e Procuradoria-Geral do CADE divergiram quanto à intempestividade, uma vez que ressaltaram a diferença das datas das assinaturas contidas no documento considerado o primeiro vinculativo, Heads of Agreement (Protocolo de Entendimento), uma vez que uma se reporta ao dia 25/11/2003 e a outra, ao dia 01/12/2003, tendo essas autoridades considerado errônea a interpretação da SDE e determinando como vinculativa a data em que o Protocolo de Entedimento foi perfeitamente concluído, isso é, 01/12/2003, caracterizando, portanto, a apresentação como tempestiva, caso viesse a ser este o primeiro documento vinculativo entre as partes. V - DOS PARECERES Os pareceres da Procuradoria-Geral do CADE e do Ministério Público Federal, ambos em consonância com os pareceres técnicos da SEAE/MF e SDE/MJ, demonstram condições favoráveis à realização desta operação. Em seu parecer técnico, a SEAE/MF definiu que a operação não gerará efeitos significativos que prejudiquem esse mercado relevante do ponto de vista concorrencial, nem tampouco o nível de bem estar econômico dos consumidores brasileiros. Apesar da operação resultar num market share de 36% (é importante ressaltar que a SEAE encontrou dificuldades para estimar o market share das requerentes antes e após a operação; entretanto, pegando por base informações da Petrobrás, encontrou-se a concentração de 36% desse segmento mercado resultante da operação), constatou-se que essa não é a melhor forma de avaliar os efeitos na concorrência desse segmento, uma vez que o dado apresentado constitui-se em uma informação estática em um dado espaço de tempo, não sendo levado em consideração as mudanças significativas que ocorrem de um momento para o outro em conseqüência das licitações que são necessárias para as contratações de novos ROV s, ou até mesmo pelo término dos contratos desses veículos. Desse modo, o fato de uma empresa manter o market share alto, não garante que ela se manterá assim nos próximos períodos, podendo vir a perder as próximas licitações. Além disso, como os mercados são adquiridos por processo de licitação mediante propostas dos ofertantes, o poder de barganha das empresas contratantes restringe a possibilidade de exercício de poder de mercado pelas contratadas, uma vez que a efetiva competição entre as licitantes não ocorre no mercado, mas sim pelo mercado. Dessa forma, existe uma rivalidade entre as licitantes quanto ao preço ofertado, uma vez que o critério 5
utilizado para a seleção da empresa vencedora é o de técnica e preço. Por todo o exposto, a SEAE/MF não considera o alto percentual de mercado como estimativa razoável para essa análise, entendendo, portanto, que a operação não gerará efeitos prejudiciais significativos nesse mercado do ponto de vista concorrencial, recomendando a operação sem restrições. No mesmo sentido, a SDE/MJ, a Procuradoria Geral do CADE e o Ministério Público Federal manifestaram-se favoravelmente pela aprovação da operação, concluindo-se, portanto, que esta não gera efeitos anticoncorrenciais no Brasil, recomendando a sua aprovação sem restrições. Houve, entretanto, uma divergência entre o parecer SDE/MJ e os demais pareceres quanto ao quesito da tempestividade, uma vez que suas opiniões se diferenciaram quanto a data de assinatura do Protocolo de Entendimento. Em seu parecer, a SDE entendeu que a data da primeira assinatura, firmada em 25/11/2003, deveria ser considerada para fins da apresentação do ato, asseverando que a apresentação da operação foi intempestiva. A Procuradoria - Geral do CADE, quanto a esse quesito, entendeu que, caso o Protocolo de Entendimento viesse a ser considerado o primeiro documento vinculativo entre as partes, a operação seria tempestiva, ressaltando que a data manuscrita junto à assinatura do Sr. Steve Bradshaw, 1º de Dezembro de 2003, assegura esta interpretação. O Ministério Público Federal emitiu parecer em concordância com a Procuradoria - Geral do CADE quanto à tempestividade. É o Relatório. Brasília, 27 de setembro de 2004. Roberto Augusto Castellanos Pfeiffer Conselheiro Relator 6