BRINCAR NA ESCOLA: EM BUSCA DE UMA SAÚDE VIBRANTE



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Transcrição:

BRINCAR NA ESCOLA: EM BUSCA DE UMA SAÚDE VIBRANTE Jenifer Malgarin Kitamura RESUMO A proposta deste artigo é apresentar os benefícios da inserção de atividades lúdicas do brincar na escola. A mesma pode ser compreendida como facilitadora para o processo da aprendizagem infantil, objetivando favorecer a evolução psíquica e o seu desenvolvimento, pois é com o uso destas brincadeiras que se pode recuperar a energia vital da escola, professores e alunos. Mas de modo geral, propõe-se que com ações lúdicas, espontâneas e saudáveis, consigamos apresentar como maior benefício a prevenção a neuroses. Acredita-se que com o brinquedo a criança é capaz de reviver sua verdadeira expressão e mais facilmente encontrar a sua autorregulação, se também em seu caminho estiverem adultos instruídos para tal. Assim como a proposta da Bioenergética, brincar na escola é uma atividade que busca e objetiva sempre o prazer, e não a dor. Palavras-chave: Brincar. Crianças. Escola. Neurose. Psicologia Corporal A proposta deste artigo é apresentar os benefícios da inserção de atividades lúdicas do brincar na escola. A mesma pode ser compreendida como facilitadora para o processo da aprendizagem infantil, objetivando favorecer a evolução psíquica e o seu desenvolvimento, pois é com o uso destas brincadeiras que se pode recuperar a energia vital da escola, professores e alunos. Mas de modo geral, propõe-se que com ações lúdicas, espontâneas e saudáveis, consigamos apresentar como maior benefício a prevenção a neuroses. Diversos autores da abordagem corporal apontam a necessidade de prevenção das neuroses. A neurose é o resultado da formação de caráter que se constrói ao longo da infância. Atualmente percebe-se em consultórios médicos, psicológicos e psicopedagógicos uma vasta demanda de atendimento infantil, geralmente oriunda da demanda escolar onde a criança passa a se socializar de modo mais intenso e também onde encontra dificuldades para lidar com tal situação. Déficit de atenção, hiperatividade, distúrbios de Página 1

comportamento e desenvolvimento, entre outros sintomas, são queixas comuns a serem apresentados por pais, orientadores escolares e também crianças em idade escolar. Para justificar a importância do tema, também vale salientar a relação entre os possíveis conflitos psíquicos apresentados anteriormente ao processo de escolarização e a dificuldade de aprendizagem. Tais conflitos, se presentes podem interferir na possiblidade de muitas crianças apresentarem-se bloqueadas, ou seja, com dificuldade psíquica para adquirir novos conhecimentos. Wilhelm Reich, médico psiquiatra, criou a escola de Psicologia Corporal em 1928, com o objetivo de estudar as manifestações comportamentais e energéticas da mente e do corpo, compreendidas numa unidade funcional (VOLPI; VOLPI, 2008). Através dos seus métodos de estudo e trabalho, ele desenvolveu a técnica que se chamou de análise do caráter, possibilitando compreender o conteúdo emocional também através do corpo do seu paciente. Foi através desta técnica que ele descobriu a existência da couraça muscular, um bloqueio energético muscular e psicológico, formado ao longo do desenvolvimento humano, numa tentativa de proteção do organismo contra o estresse. Lowen (1997) aponta para o fato de que esse encouraçamento (como tentativa de defesa crônica) diminui a sensibilidade ao desprazer e dor, mas também diminui a sensibilidade ao prazer e à alegria. A contração e enrijecimento do músculo e do ego é entendida como couraça. Esta rigidez pode ser temporária e natural, quando diante de uma ameaça externa, uma pessoa se contrai e quando não existir mais esta ameaça, a contração deixa de existir. Porém em alguns casos a contração se torna crônica e permanente, correspondendo ao processo de encouraçamento, o que se apresenta como um distúrbio ao desenvolvimento (LOWEN, 1997). Caso esse escudo se prontifique diante de situações que requeiram proteção e defesa, a couraça será útil e saudável. Caso esse escudo se torne um aprisionamento constante, independente do contexto, a couraça fará parte da neurose caracterial do indivíduo, deixando de ser útil e eficaz e passando a ser muitas vezes um dificultador à vida. Página 2

O caráter corresponde à couraça psíquica, à forma preponderante de agir e reagir no mundo por meio dos seus comportamentos, naquilo que o indivíduo pensa, diz ou faz. É composto por atitudes habituais de uma pessoa e de seu padrão consciente de respostas para várias situações, podendo manifestar-se de forma consciente ou inconsciente. O caráter é formado na infância, conforme a criança vivencia a aprendizagem de cada fase do desenvolvimento, e se expressa de forma plena e mais definida na adolescência. O temperamento é a dimensão da personalidade constitucional e inata. Ele não é aprendido, mas pode ser abrandado pelo caráter, corresponde ao humor e é expresso pela personalidade e o caráter. A personalidade é um conjunto de fatores psicológicos que determinam a individualidade da pessoa, um padrão interno de funionamento, ela se formará durante o crescimento da criança, é formado de elementos biológicos e elementos provenientes do meio que a criança está inserida (VOLPI; VOLPI, 2008). Reich, através da análise do corpo de seus pacientes e com o objetivo de melhor compreender as couraças e melhor análise do caráter, fez um mapeamento da localização das couraças musculares no corpo, e estabeleceu sete segmentos de couraça muscular. Chamou-os segmentos porque estes se apresentam em forma de anel em volta do corpo, comprometendo a região onde estão situados, como os órgãos, tecidos e músculos (VOLPI. VOLPI, 2003). Os segmentos são: ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático, abdominal e pélvico. Compreendendo melhor acerca dos termos acima, passamos a saber que o ser humano age e interage com o meio ambiente de acordo com o seu caráter. Deste modo, para melhor entender os traços de caráter de uma pessoa é fundamental que possamos conhecer e entender a importância de cada uma das etapas do desenvolvimento (VOLPI; VOLPI, 2008). As experiências e aprendizagens ficam registradas no corpo por meio da memória celular, imprintings, marcas e couraça muscular, da mesma forma na mente através de lembranças, memoria emocional e as couraças psíquicas do indivíduo. Página 3

Segundo Volpi e Volpi (2008) a primeira etapa do desenvolvimento é a etapa de sustentação, corresponde ao período que vai desde o momento da fecundação até o décimo dia após o nascimento. Cabe lembrar que a etapa de sustentação continua seguindo até o final do desmame (nono mês). A segunda etapa do desenvolvimento infantil recebe o nome de etapa de incorporação. Ela começa no momento do nascimento e se estende até o desmame (nono mês). Já a terceira etapa, que é chamada de etapa de produção, tem início no desmame e término por volta do terceiro ano de vida. A quarta etapa é denominada de etapa de identificação e vai do quarto ao quinto ano de vida. A quinta e última é a etapa da formação do caráter, que vai do sexto ano de vida até a adolescência quando se estrutura, ainda que de forma imatura, o caráter. Se a criança chegar nesta fase sem bloqueios nas fases anteriores se desenvolve então o caráter genital, equilibrado e autorregulado, porém dificilmente é encontrado. A partir daí, o que segue é a formação completa do caráter do indivíduo, que define seu modo de agir e reagir diante de todas as situações. Lowen (1958, p. 149 apud VOLPI; VOLPI, 2008) afirma que o caráter específico de cada indivíduo é a resultante de todas as experiências ocorridas desde a concepção até a maturidade. A formação e o tipo de caráter neurótico estão relacionados às frustrações de impulsos naturais e aos bloqueios energéticos. Assim, se os impulsos naturais da criança forem frustrados por uma educação moralista e repressiva, se constituirão obstáculos ao desenvolvimento, representados por fixações da energia na fase do desenvolvimento que o indivíduo se encontra. Tal fixação energética ficara registrada psíquica e corporalmente e posteriormente será incorporada de forma inconsciente ao seu caráter (VOLPI; VOLPI, 2002). Lowen (apud VOLPI; VOLPI, 2003) concorda com conceitos de Reich acerca da neurose. Aponta para o fato de que a sociedade ao determinar modelos, padrões de comportamento e valores (reproduzidos pela família e todo o meio social que permeia o indivíduo) criará um individuo neurótico e ao mesmo tempo, perpetua esta neurose. Página 4

Lowen (1977, p. 141) relata que se pudermos ajustar nossas exigências culturais, das crianças aos ritmos naturais de crescimento e desenvolvimento, muitas doenças mentais podem ser evitadas. Qualquer interferência séria com o processo de crescimento produzirá um problema caracteriológico, que poderá persistir durante toda a vida. O autor ainda relata que o medo da vida é fruto da violação da criança, a qual ocorre no intuito de que essa faça parte da cultura. Cria-se um a antítese entre ego e corpo, e essa antítese produz uma tensão dinâmica que proporciona o amadurecimento da cultura, mas também comporta um potencial destrutivo (LOWEN, 1986 apud VOLPI; VOLPI, 2003). Se a criança crescer sem que suas necessidades básicas sejam suprimidas, ela se guiará pela sua natureza, pelo que é essencialmente bom ao seu organismo e se desenvolverá de modo saudável. Este processo de desenvolvimento foi denominado de autorregulação (Reich 1987). Através da autorregulação o ser humano busca satisfazer, em seu meio, as suas necessidades vitais, que se referem aos impulsos primários. Para Jeber (2005) o conceito de autorregulação deve ser compreendido e aplicado pelos educadores como princípio e fundamento essencial na formação e educação de crianças, para que estas sejam capazes de se autodirigirem com base nas suas motivações internas, capazes de expressar interesses genuínos e espontâneos em prol da vida de si e dos outros. Associar conceitos da Psicologia Corporal a rede de ensino nos permite pensar em possibilidades de intervenções que possibilitem tornar esse conceito de autorregulação mais concreto no ambiente escolar. Especialmente no que se refere a uma pratica infantil: brincar. Para Melanie Klein (apud ROCHA, 2003), brincar é um processo criativo, que possibilita a criança expresse simbolicamente suas fantasias e sofrimentos, além de reparar essas tensões e conflitos internos, explora novas situações para ela. Reich (1977 apud ROCHA, 2003) destaca a importância do educador como facilitador do desenvolvimento infantil, ele é capaz de permitir um grau de frustração tolerável sem inibir a pulsação total da criança, para que assim, haja uma satisfação nas ansiedades subseqüentes do desenvolvimento da personalidade. Ainda aponta que limites fazem parte da educação, bem como algumas frustrações são necessárias para Página 5

uma adaptação e organização social, mas ressalta também que o equilíbrio dessa função está entre a frustração e a satisfação pulsional. Reich sempre foi muito esperançoso e acreditava que era possível mudar neurose da humanidade no intuito de se construir um mundo melhor, desde que nos preparássemos para tal. Postulava que não devemos instruir as crianças qual o tipo de mundo que devem construir, e sim cuidar para que elas pudessem se desenvolver em um ambiente saudável, possibilitando que elas tenham potenciais e uma estrutura de caráter saudável, tornando-as capacitadas a tomar suas próprias decisões, trilhar seus próprios caminhos e buscar orientações para seu próprio futuro. Dessa forma, acredita-se que, é possível a criação de um mundo onde todos os seres humanos possam viver em paz consigo mesmos e com a natureza da qual também fazemos parte. Durante vários anos Reich (1987) também se dedicou ao estudo do que poderia ser uma criança saudável do ponto de vista energético, físico e emocional. Para o autor, criar crianças saudáveis não é uma tarefa simples, nem fácil; porém, não é de todo impossível. O conceito de brincar integra aspectos pedagógicos e terapêuticos, pois o brinquedo sempre apresentará a uma necessidade da criança no momento em que ela a utiliza. Brincar é uma maneira de adquirir novos conceitos e ampliara capacidade criativa e de observação. Segundo Rocha (2003) também favorece o desenvolvimento, além de possibilitar sentimentos de alegria e saúde mental. Brincar na escola á uma proposta que alia os pressupostos Reichianos do conceito da fórmula da vida associados ao simbolismo e o significador dos brinquedos, para que o profissional, no contexto educacional possa ter seu papel ativo diante do educando, podendo direcionar o fluxo energético. Para que o educador tenha esse importante papel, é fundamental que compreenda os estágios do desenvolvimento emocional da criança (já mencionados anteriormente), bem como a associação ao fluxo libidinal com o brinquedo (ROCHA, 2003). Lowen (1982) ao definir o conceito de grounding, mostrou a possibilidade de conexão com nossa própria base de sustentação o contato com a própria realidade, e Página 6

através de alguns exercícios propostos é possível facilitar o processo vibratório do organismo. Considerando que o brinquedo apresenta uma capacidade energética, capaz de mobilizar conteúdos saudáveis a serem elaborados através de intervenções, e se considerarmos que através do brinquedo e do brincar a criança entra em contato com suas necessidades, podemos associar o uso do brinquedo como uma possibilidade de grounding para crianças e adolescentes. O grounding, segundo a proposta de Lowen, é o exercício que mais pode nos aproximar do nosso verdadeiro self. Através de uma postura com algumas orientações técnicas, obtemos a possiblidade de nos sentirmos mais conectados às nossas emoções e vivenciando o prazer de movimentos involuntários em nosso corpo sem que precisemos abandonar a nós mesmos (VOLPI; VOLPI, 2003). Deste modo, o presente artigo vai de encontro com a proposta de Rocha (2003), onde se acredita que o trabalho realizado com crianças na escola não promove a remoção das defesas de caráter ou fragilização da sua resistência, mas sim mobilizar a energia vital, buscar o fluxo natural do desenvolvimento, mobilizando seu fluxo energético em busca do prazer, assim como proposto por Lowen. CONSIDERAÇÕES FINAIS Acredita-se que educar ou auxiliar no processo de crescimento e desenvolvimento de uma criança, não é tarefa fácil, mas também há de ser tão complicado, se conhecermos suas necessidades e possibilidade, isso se torna mais compreensível, e torna-se tarefa mais prazerosa, inclusive. O artigo presente não é o primeiro, e possivelmente não será o último a tratar destas duas temáticas em consonância (ou pelo menos realizar suas tentativas!). por isso, acredita-se que em breve, o que ainda é polêmico, de difícil acesso por sociedade, comunidade, escola e pais, em breve será um belo som aos seus ouvidos. A possibilidade de criar filhos, alunos e indivíduos mais saudáveis, mais autorregulados e potencialmente melhores fará todos os envolvidos a se engajarem mais em suas ações, pensamentos e comportamentos. Página 7

Pode-se pensar em vários meios de inserção da Psicologia corporal na escola, brincar talvez seja um modo simples, se olharmos para o simples fato de brincar, mas extremamente complexo se atentarmos a todo um conteúdo que se remete ao fazê-lo com orientação, instrução e conhecimento. É através dele que podemos oferecer uma base ainda mais ampla e firme para que nossas crianças encontrem meios para sua regulação e amadurecimento emocional que brevemente se tornará uma pessoa com caráter formado. É importante salientar a importância que cada meio possui no desenvolvimento, no sentido de dispor de estímulos e ambientes favoráveis. Família, escola e sociedade parecem buscar cada vez mais a necessidade de sua participação nesse processo. Pais podem interagir mais com seus filhos, ler, brincar, dar espaço para um desenvolvimento saudável dentro ou fora da escola. Professores e educadores, podem oferecer maiores e mais espaço para orientação a pais, através de maiores in(formações), atualizações inta e interdisciplinares. É necessário que os poderes públicos, bem como sociedade, valorize cada vez mais a importância dos educadores, oferecendo-lhe melhores condições de trabalho. É através destes profissionais que crianças, adolescente e adultos também são formados. O decorrer deste trabalho traz algumas contribuições à pratica da psicologia Corporal aliada a educação. Encontraram-se algumas limitações no que se refere a documentos, produções científicas e registros de trabalhos semelhantes. Encontraram-se materiais acerca da educação, do brincar, da infância, da autorregulação, mas pouco acerca dessa temática unificada. Acredita-se que seja necessário novos estudos acerca do assunto, muito do que foi desenvolvido até o presente momento, foi baseado em observações, em padrões. Padrões, que devemos concordar, mudam a cada nova geração, novas necessidades surgem, e com elas adaptações à pratica são necessárias. Fica então, a contribuição deste artigo à temática, com a possibilidade que seja ampliada, verificando possibilidades práticas de intervenção. Uma sugestão seria a introdução da temática a uma instituição de ensino e avaliar reais possibilidades e respostas ao tema. Página 8

REFERÊNCIAS JEBER, L. J. Auto-regulação: um conceito para a educação de crianças na família e na escola. In: VOLPI, J.H.; VOLPI, S. M. (Org). Revista de Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, no. 7, p. 54-59, 2006. LOWEN, A. O corpo em terapia: a abordagem bioenergética. São Paulo: Summus, 1977. LOWEN, A. Bioenergética. São Paulo: Summus, 1982. LOWEN, A. Alegria: a entrega ao corpo e à vida. 3ª ed. São Paulo: Summus, 1997. REICH, W. Bambini del futuro. Milano: SugarCo, 1987. ROCHA, B. Brinkando na escola: o espaço escolar como criação e crescimento. São Paulo, Arte & Ciência, 2003. VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. Reich: da psicanálise a análise de caráter. Curitiba: Centro Reichiano, 2003. VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. Reich: A análise bioenergética. Curitiba: Centro Reichiano, 2003. VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M.. A importância dos primeiros anos de vida na construção do sistema orgonótico de funcionamento da criança. Curitiba: Centro Reichiano, 2005. Disponível em: www.centroreichiano.com.br/artigos.htm. Acesso em: 20/01/2014 VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. Crescer é uma aventura! Desenvolvimento emocional segundo a Psicologia Corporal. 2ª ed. Curitiba: Centro Reichiano, 2008. AUTORA Jenifer Malgarin Kitamura / Balneário Camboriú / SC / Brasil - Psicóloga (CRP 12/09231) pela Universidade do Vale do Itajaí (Itajaí), 2009. Especializações: Plantão Psicológico, Espaço Viver (Florianópolis), 2011. Especialização em Psicologia Corporal, Centro Reichiano (Curitiba), em andamento. Atendimento clínico para adultos e crianças. Assessoria psicológica através de palestras e treinamentos para empresas e escolas com temáticas diversificadas. E-mail: jenifermalgarin@gmail.com Página 9