TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº 20.348/03 ACÓRDÃO



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Transcrição:

TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº 20.348/03 ACÓRDÃO N/M BOIURA. Acidente ocorrido com estivador Alcides de Jesus Barbosa a bordo do navio quando em faina de carregamento, no cais comercial do porto de Vitória, ES, com danos físicos. Arquivamento. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Trata-se de analisar o fato da navegação acidente pessoal (lesão corporal), sofrido por Alcides de Jesus Barbosa a bordo da embarcação BOIURA navio mercante de bandeira argelina, armador SNTM CNAN e agente Ausonio Navegação Ltda, ocorrido por volta de 16h do dia 7 de março de 2002, quando a embarcação estava atracada no cais comercial do porto de Vitória, ES, causando-lhe dana físico. Dos documentos colhidos e documentos acostados, extrai-se que a vítima, quando trabalhava na estivagem de bobinas de papel no porão do N/M BOIURA, foi atingido por uma bobina que se desprendeu do spreader, causando-lhe fraturas na coluna dorsal, cervical e trauma encéfalo-craniano, fato que não foi presenciado por nenhuma das testemunhas ouvidas durante a instrução destes autos. Em seu depoimento às fls. 20/22, a vítima Alcides de Jesus Barbosa, assistido por seu advogado, declarou que estava trabalhando no porão do navio quando uma das bobinas que estavam sendo arriadas desprendeu-se do dispositivo de transporte, quicou no fundo do porão e rolou em sua direção, que mesmo atingindo-o de raspão causou-lhe trauma encéfalo-craniano e fraturas na coluna dorsal e cervical. Acrescentou que prontamente foi atendido por uma médica da ambulância Help Unimed e que a mesma não permitiu sua remoção sem o equipamento adequado (uma gaiola metálica). Disse, ainda, que por não haver no local o material adequado para sua retirada (gaiola metálica), demorou a ser removido para o hospital, mas que foi assistido pela médica da ambulância durante o tempo de espera e que ficou internado no Vitória Apart Hospital do dia 7 ao dia 12 de março de 2002. O Comandante do N/M BOIURA, Bachir Souag, argelino assistido por tradutora pública em seu depoimento de fls.8/9, declarou que não presenciou o evento, pois no momento do acidente estava no escritório do agente, retornando imediatamente a bordo ao 1/7

ser avisado do ocorrido e que tomou ciência dos detalhes através dos outros estivadores. Verificou que a vítima já estava recebendo socorro médico e uma ambulância a aguardava no cais. No mesmo sentido são as declarações constantes às fls.10/11, prestadas pelo Imediato da embarcação, Mohamed Ouraghi, nas mesmas condições do depoente anterior, uma vez que o mesmo, apesar de estar a bordo, no momento do evento encontrava-se em outro porão. Manifestou sua indignação com a forma como a vítima foi tratada, pois a mesma demorou cerca de duas horas para ser removida para a ambulância, muito embora ele tivesse oferecido ajuda para executar a retirada com segurança. Foi tomado o depoimento do Contramestre Ronaldo Pereira Santos, que às fls. 24/25 declarou que no dia do evento sua função como representante do Sindicato dos Estivadores, era recolher e devolver as carteiras dos estivadores e dar apoio àqueles que estavam fazendo serviço a bordo, que não presenciou o acidente nem soube fornecer detalhes. Consta às fls. 27/28, requerimento para oitiva do operador portuário, do encarregado de segurança do OGMO, da fiscalização portuária da DRT e do representante legal do Sindicato dos Estivadores feito pela vítima através de seu advogado, que juntou os documentos de fls. 29 a 50, e foi deferido pelo r. despacho de fl. 52. O Auditor Fiscal do Trabalho em exercício na DRT/ES, José Emílio Magro, declarou às fls. 55/56, que tomou conhecimento do ocorrido através de telefonema de Hamilton (Gerente do OGMO/ES) e prontamente, dirigiu-se ao local acompanhado pelo Auditor Fiscal Levi, e pelo Engenheiro de Segurança do Trabalho do OGMO/ES, Cristian, que durante a apuração das causas do acidente e equipamento utilizado para estivagem foi fotografado, que observaram a demora na remoção da vítima por falta de equipamento exigido normativamente. Informou que, após esse trabalho, emitiu auto de infração nº 3134401/02 contra o OGMO/ES por deixar de zelar pelo cumprimento da norma de segurança e saúde dos trabalhadores portuários, como também autuou a operadora portuária Runa Logistics Transportes Ltda. (AI 3234497/02) por deixar de manter próximo ao local de trabalho e em embarcações atracadas, gaiolas e macas para resgate de acidentado. Acrescentou ainda, que a CODESA havia sido autuada (AI 3135471/02) dois dias antes do acidente por deixar de elaborar Plano de Controle de Emergência (PCE), contendo ações coordenadas a serem seguidas nas situações contidas na NR-29 (29.1.6) e forneceu cópia de todos os autos que mencionou (fls. 57/59) além do relatório de fiscalização (fls. 60/63). 2/7

As declarações acima foram confirmadas por Cristian Alex Cors Navarro, Engenheiro de Segurança do OGMO/ES, em seu depoimento de fls. 67/68, que comprometeu-se em fornecer cópia da defesa emitida pelo setor jurídico do OGMO para a DRT em resposta ao AI 3135501/02, fazendo-o às fls. 70/74. Em seu depoimento de fls. 81/82, o técnico de segurança do trabalho da companhia Docas do Espírito Santo (CODESA), Sérgio da Costa Muniz, apesar de repetir todas as observações já feitas quanto à demora na remoção da vítima do local do acidente, informou que após o ocorrido realizaram reuniões para apurar o fato, ouvindo inclusive o guindasteiro, Diran de Jesus Chagas, sem que chegassem a uma conclusão objetiva do mesmo. Ouvido às fls. 87/89, o gerente operacional da Runa Logistics Transportes Ltda, Benjoanete Rodrigues Vieira, apesar de não ter presenciado o acidente, apresentou seu entendimento sobre o que poderia ter causado a queda da bobina sem nada provar e, assim como os depoentes anteriores, repetiu todas as observações quanto à demora na remoção da vítima. Diran de Jesus Chagas, guindasteiro nomeado no depoimento de fls. 81/82, esclareceu em seu depoimento de fls. 91/93, que a bobina em questão, antes de ser arriada no porão do navio onde estava a vítima, desprendeu-se do spreader e, ao cair, bateu na borda borda do porão. Acrescentou que, no seu entendimento, a queda da bobina pode ter sido conseqüência de um mau posicionamento da mesma no spreader, ocorrido quando a lingada foi novamente içada da carreta para onde havia retornado para aguardar nova ordem de descarga. Disse, ainda, que não lembrava dos nomes nem do sinaleiro que orientava a descida da lingada no porão nem dos doqueiros (arrumadores) que operavam o spreader na carreta para que a carga fosse içada. O laudo de exame pericial indireto de fls. 114/115, não conseguiu apurar a causa determinante do evento, uma vez que o local do evento foi totalmente descaracterizado e sem condições de reconstituição, devido ao prosseguimento no carregamento. Prosseguindo nas investigações, foram tomados os depoimentos de um dos doqueiros (arrumadores) e do sinaleiro que faziam parte do mesmo quarto de serviço quando aconteceu o acidente Luiz de Souza Peixoto (arrumador, fls. 121/122) e João Manoel Nascimento (sinaleiro, fls. 134/135), os quais nada acrescentaram ao que já havia sido apurado. No relatório de fls. 137/140, o encarregado do inquérito reconheceu que a causa determinante do acidente que causou ferimentos no estivador Alcides de Jesus Barbosa, foi 3/7

impossível de ser apurada com exatidão, classificando o ocorrido como caso fortuito. Quanto ao atendimento da vítima, atribuiu a demora em sua remoção à falta do Plano de Controle de Emergência no cais considerando responsáveis a CODESA, com conivência da operadora portuária Runa e do OGMO, os quais foram notificados (fls. 147/149) para apresentar seus esclarecimentos sobre a implantação do referido plano. A operadora portuária Runa Logistics Transportes Ltda, apresentou seus esclarecimentos às fls. 151/156. Consta em fls. 158/178, o PCE Plano de Controle de Emergência da Cia. Docas do Espírito Santo CODESA, a qual apresentou seus esclarecimentos às fls. 180/181. Em fls. 185/187, a PEM, com fulcro no art. 42 alínea b da Lei nº 2.180/54, requereu o arquivamento ao argumento de que não foi possível apurar nem apontar, com precisão, a causa determinante do fato da navegação objeto destes autos. Quanto à recamada falta do Plano de Controle de Emergência, manifestou-se no sentido de que o mesmo não guarda relação de causa e efeito com o fato da navegação em apreço e já foi objeto de autuação pelo Ministério do Trabalho, consoante os documentos de fls. 57/59. Em fl. 189, consta certidão de publicação da nota do pedido de arquivamento. Tempestivamente, o advogado da vítima (Alcides de Jesus Barbosa) apresentou representação de parte requerendo a revisão do pedido de arquivamento feito pela PEM para que a representação contra Runa Logistics Transportes, CODESA e OGMO/ES fosse recebida, imputando a todos os representados, conduta negligente, na forma do art. 123 inciso I da Lei nº 2.180/54. Requereu, ainda, que os representados sejam declarados culpados por ato ilícito na área cível, para reparar o dano causado ao representante e condenados ao pagamento de custas processuais, honorários advocatícios na base de 20% do valor da causa e demais cominações legais, nos termos da petição de fls. 190/204, instruída pelos documentos de fls. 205/223, comprovando o recolhimento das custas pelas fls. 225/226. A PEM, na fl. 227, manifestou-se pelo recebimento da representação de parte. Recebida a representação de parte (fl. 232), os representados foram citados conforme fls. 243/245. A CODESA, por seu diretor de comercialização e fiscalização Danilo Roger Marçal Queiroz, sustentou sua isenção de responsabilidade no acidente em comento, com respaldo no previsto na Lei nº 8.630/1993 (fl. 253). A defesa do operador portuário Runa Logistics Transportes Ltda, apresentada por seu advogado, consta das fls. 255 a 261, instruída pelos documentos de fls. 267/276, pugnando, preliminarmente pelo indeferimento da representação de parte que alega ser 4/7

intempestiva (fl. 256) e, n mérito, pela sua improcedência ao argumento de que o teor da autuação feita peã DRT por ocasião do acidente objeto destes autos, não se traduz em responsabilidade pelo ocorrido, vez que aquela refere-se apenas à falta de equipamento para socorro. Em fls. 280 a 300 o OGMO/ES, através de advogado legalmente constituído, apresenta sua defesa instruindo-a com os documentos de fls. 301/318, requerendo em preliminar (fl. 284/291), ser reconhecido como parte ilegítima para figurar no pólo passivo da presente demanda, respaldado no determinado pelo art. 18 da Lei nº 8.630/1993. No mérito, pugna pela improcedência da representação ao argumento de que é realmente impossível apontar qualquer ato ilícito, doloso ou culposo, que tenha sido praticado pelo OGMO e tenha contribuído para a ocorrência do sinistro anunciado na peça de ingresso. Consta nas fls. 328/337, a defesa apresentada pelos advogados da CODESA, sustentando sua isenção de responsabilidade pelo ocorrido. Aberta a instrução (fl. 339), não foram produzidas provas nem pela PEM nem pelo autor da representação de parte, conforme certidão de fl. 340v, o mesmo acontecendo com os representados (fl. 341). Em fls. 343/346, estão às folhas de antecedentes dos representados CODESA e Runa. Em alegações finais, a PEM, em fl. 347v, reiterou os termos de sua exordial. O prazo para que o autor da representação de parte apresentasse suas Alegações Finais transcorreu sem que o mesmo se manifestasse (fl. 348). Nas fls. 349v e 350, consta promoção da PEM como custus legis pelo indeferimento da preliminar suscitada em fl. 256 e requerendo reabertura do prazo para as partes apresentarem suas alegações finais. Dada oportunidade ao autor da representação de parte se manifestar sobre a promoção supra citada, o prazo transcorreu in albis (fl. 351). Consta no verso da fl. 351, decisão indeferindo a preliminar apresentada na fl. 256, nos termos da promoção da PEM de fls. 349v/350, publicada conforme certidão de fl. 352. Aberto prazo para que os representados apresentassem suas alegações finais (fl. 351v), o mesmo transcorreu sem qualquer manifestação dos interessados (fl. 352). Decide-se. De tudo que consta nos presentes autos, conclui-se que a natureza e extensão do fato da navegação, sob análise, tipificado no art. 15, letra e, da Lei nº 2.180/54, ficaram 5/7

caracterizados como acidente ocorrido com o estivador Alcides de Jesus Barbosa, a bordo de navio mercante, quando em faina de carregamento de bobinas de papel, no cais comercial do Porto de Vitória, ES, ocasionando lesões corporais, no mesmo quando a bobina desprendeu-se do equipamento que a transportava (spreader). Constata-se que, no dia 07 de março de 2002, durante a estivagem de bobinas de papel no porão do navio, uma lingada de bobinas de papel veio a cair no interior do porão, quicou no piso e, finalmente, foi de encontro ao estivador Alcides de Jesus Barbosa, causando-lhe fratura na coluna cervical, coluna lombar e trauma crânio encefálico. Constata-se ainda, que o laudo pericial de fls. 114/115, não apontou a causa determinante pelo lamentável acidente, tendo em vista que a Autoridade Marítima foi somente cientificada do evento tardiamente, quando o local do acidente já encontrava-se completamente descaracterizado, o que tornou inviável a realização da perícia. Também, foi observado no inquérito a impossibilidade de se apurar, com exatidão, a causa determinante do acidente envolvendo o estivador, sustentando inclusive, que o acidente em comento decorreu de caso fortuito. Cabe ressaltar, ainda que não foi observado nos autos quaisquer elementos probatórios que denunciem culpa de qualquer dos representados. Ademais, o Plano de Controle de Emergência reclamado pelo estivador Alcides de Jesus Barbosa através da representação de parte de fls. 190 a 204, não guarda relação de causa e efeito com o fato da navegação em apreço, o qual já foi objeto de autuação pelo Ministério do Trabalho, documentos de fls. 57/59. Nessas condições, conclui que a causa determinante do fato da navegação em tela, não foi apurada com a devida precisão, devido ao prosseguimento do carregamento, o que descaracterizou o local do acidente e impossibilitou sua reconstituição. Pelo exposto, deve-se considerar improcedente a representação de parte, apresentada pelo estivador Alcides de Jesus Barbosa, através de seu patrono, razão pela qual tendo em vista a causa determinante não ter sido apurada com a devida precisão, é de se exculpar os representados RUNA Logistics Transportes, Companhia Docas do Espírito Santo (CODESA) e OGMO Orgão de Gestão de Mão-de-Obra do Trabalho Portuário Avulso do Estado do Espírito Santo, e mandar arquivar os autos. Assim, A C O R D A M os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do fato d navegação: ferimento em estivador, a bordo de navio mercante, quando em faina de carregamento de bobinas de papel, no porto de Vitória, ES, ocasionando 6/7

lesões corporais graves; b) quanto à causa determinante: não apurada com a devida precisão; c) decisão: julgar o fato da navegação, tipificado no art. 15, letra e, da Lei nº 2.180/54, como de origem indeterminada mandando arquivar os autos. P.C.R. Rio de Janeiro, RJ, 14 de novembro de 2006. EVERALDO SÉRGIO HOURCADES TORRES Juiz-Relator LUIZ AUGUSTO CORREIA Vice Almirante (RM1) Juiz-Presidente 7/7