MULHERES PORTADORAS DO VÍRUS HIV E DOENTES DE AIDS E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.



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1 MULHERES PORTADORAS DO VÍRUS HIV E DOENTES DE AIDS E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. CRISTINA FRANKLIN CUCCO 1. Este trabalho, tem por finalidade mostrar se o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, presente na Constituição da República de 1988, em seu artigo 1º, inciso III, que assim se manifesta: A República Federativa do Brasil, formada pela União indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I (...); II (...); III A Dignidade da Pessoa Humana, foi cumprido em relação às mulheres portadoras do vírus HIV ou doentes de AIDS, na cidade de Lages, Estado de Santa Catarina, nos anos de 2002 e 2003. Estado. Palavras-chave: HIV; AIDS; Mulheres; Dignidade da Pessoa Humana e SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 8 1. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS)... 10 1.1 Dignidade da pessoa humana... 10 1. 2 Síndrome da imunodeficiência adquirida AIDS... 17 1. 3 A dignidade da pessoa humana e AIDS... 21 2. A REALIDADE LOCAL E A AIDS... 24 2.1 Sintomas e efeitos das mulheres doentes de AIDS... 24 2.2 Amostragem de dados referentes às mulheres doentes de AIDS encontradas na cidade de Lages/SC... 27 2.3Análise local em comparação com dados nacionais e mundiais... 29 3. A PREVENÇÃO DA AIDS COMO POLÍTICA PÚBLICA... 36 1 Bacharel em Direito pela Universidade do Planalto Catarinense - UNIPLAC

2 3.1 O Estado, a saúde pública e a AIDS... 36 3.2 A visão local das políticas de saúde (AIDS)... 44 3.3 Diagnóstico local: mulheres e o princípio da dignidade da pessoa humana... 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 51 REFERÊNCIAS... 53 ANEXOS... 56 INTRODUÇÃO O tema escolhido é de grande importância não só as mulheres portadoras do vírus HIV ou doentes de AIDS, mas também, a todos os cidadãos brasileiros, pois refere-se a epidemia AIDS que atualmente, é considerada uma das doenças que mais mata no mundo. Não foi a primeira vez na história que os homens se depararam com tamanho flagelo, já houve a lepra, a peste, a sífilis, a febre espanhola, a tuberculose, entre outras doenças, que na maioria das vezes atacavam as populações menos favorecidas. Com a AIDS, é diferente, pois ela não escolhe a quem atingir. Iniciou-se na África com os chimpanzés há mais de quarenta anos e alastrou-se para os Estados Unidos da América, onde primeiramente foi definida como a peste gay, ou ainda, doença dos homossexuais, e posteriormente, verificou-se que qualquer pessoa poderia adquiri-la. Surto, epidemia, pandemia? Todo o imaginável possível passou pela cabeça dos povos. O fenômeno da AIDS ocorre no auge dos acontecimentos científicos e das perfeições técnico-instrumentais, porém, todo esse avanço tropeça, na busca da cura desta doença, que a casa dia se alastra, fazendo mais e mais vítimas. Um problema maior é que na história da AIDS, as vítimas (portadores e doentes), testemunham diariamente diversas formas de exclusão, e este trabalho tem por finalidade mostrar, se o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, que está previsto na Constituição da República de 1988, em seu artigo 1º, inciso III, está sendo devidamente cumprido, em relação a estes doentes. A pessoa contaminada pelo vírus HIV ou doente de AIDS, merece igual tratamento em relação a qualquer outro cidadão, sem discriminação ou preconceito referente a sua situação ou forma na qual foi contaminada, pois antes de ser doente ela é um ser humano que deve ser respeitada com tal, pois apesar da doença não ter cura, há tratamento para ela,

3 onde esta consegue viver bem, desde que use corretamente a medicação recomendada por seu médico. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, diz respeito à forma que uma pessoa deve agir com a outra, maneira esta que deve ser digna, correta, ou seja, tratar o indivíduo como um Ser e não de forma diferente só porque possui uma moléstia incurável e letal. Este trabalho desenvolveu-se na cidade de Lages/SC, onde houve a realização de uma pesquisa de campo comparativa (referente aos anos de 2002 e 2003), com mulheres de 13 (treze) a 59 (cinqüenta e nove) anos de idade, e verificou-se o número oficial de mulheres com AIDS, nesta cidade, no Estado de Santa Catarina, Brasil e no Mundo. Mas, o mais importante, foi descobrir se o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana era e ainda é respeitado em relação a essas mulheres estigmatizadas. Portanto, esta pesquisa interessa principalmente àquelas mulheres que são HIV positivas, ou que já desenvolveram a doença AIDS, a todos os que têm essa doença, e também àqueles que têm algum membro de sua família, amigos ou conhecidos nestas condições e desejam se aprofundar do assunto, conhecendo os direitos que lhes são dignos e devidos. 1. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA Em relação à Dignidade da Pessoa Humana, esta é um princípio que foi inserido na Constituição da República de 1988, em seu artigo 1º, inciso III., no qual, foi reconhecido primeiramente pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1978; pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, e muitas outras constituições tais como: Brasil, Portugal, Alemanha, Espanha, entre outras. Na Constituição da República do Brasil de 1988, a finalidade deste princípio é de estabelecer direitos e obrigações entre os cidadãos brasileiros, ou seja, direitos no sentido de alcançar seus objetivos e obrigações em relação ao fato de cumprir com seus deveres, neste caso, o dever de respeitar o próximo e tratá-lo de forma digna e humana.

4 de dignidade. Ele estuda o conceito da pessoa, com valor em si mesmo, e por isso dotado Luiz Roberto Barroso, Professor titular de Direito Constitucional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, manifestou-se no Prefácio do livro de Ana Paula Barcellos (2002), da seguinte forma: A dignidade da pessoa humana identifica um espaço de integridade moral a ser assegurado a todas as pessoas por sua só existência no mundo. É um respeito à criação, independentemente da crença que se professe quanto à sua origem. A dignidade relaciona-se tanto com a liberdade e valores de espírito como com as condições materiais de subsistência. O desrespeito a este princípio terá sido um dos estigmas do século que se encerrou e a luta por sua afirmação um símbolo do novo tempo. Ele representa a superação da intolerância, da discriminação, da exclusão social, da violência, da incapacidade de aceitar o outro, o indiferente, na plenitude de sua liberdade de ser, pensar e criar. Por isso, a dignidade da pessoa humana, é um valor fundamental para ordem jurídica num estado democrático de direito. É condição à existência da personalidade e garantia do exercício da cidadania. Os direitos à vida privada; à intimidade; à honra; à imagem; entre outros são conseqüência imediata da consagração da dignidade da pessoa humana com fundamento da República Federativa do Brasil, ou seja, todo ser humano é pessoa, dotada de personalidade, com direitos e deveres, independente de sua raça; cor; sexo; idade; doença ou por portar necessidades especiais. Portanto, não devem ser discriminadas ou estigmatizadas da comunidade na qual vivem. Em relação ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), é: [...] um retrovírus tipo I, da família lentiviridae, não possuindo DNA, mas apenas RNA em seu genoma. Pode infectar células humanas diferentes, porém, sua ação patológica decorre, principalmente, da infecção dos linfócitos Tindutores [OKT4+, CD4+ ou Helper], células estas cruciais para o desenvolvimento da resposta imunológica celular. O vírus invade o linfócito e, uma vez dentro da célula, seu RNA é traduzido para DNA por uma enzima chamada Transcriptase reversa. Esse DNA copiado do vírus entra no núcleo da célula e é incorporado ao DNA da mesma. Fazendo parte do genoma celular, o DNA viral é capaz de elaborar a síntese protéica de novas proteínas virais, utilizando o aparato da célula infectada, multiplicando-se em grande quantidade. Quando o linfócito está repleto de partículas virais, ele rompe-se liberando-as e morrendo durante o processo. (LIMA apud TRIDAPALLI, 2003, p. 30-31) Ou seja, é um vírus como seu nome já diz, no qual determina uma infecção crônica, cuja manifestação tardia é a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).

5 Existem formas específicas de sua transmissão, que ocorrem através: do sêmen, sangue, secreção vaginal ou transmissão vertical (transmissão da mãe para o filho, no caso de gestante ou no período da amamentação). As principais formas de transmissão do HIV acontecem por contato sexual não protegido e por transfusão de sangue infectado, e ainda, em relação ao uso de drogas injetáveis, nas quais se compartilha da mesma agulha e seringa não esterilizadas; transfusão sangüínea e hemoderivados, em caso de hemodiálise e cirurgias com sangues contaminados que não foram testados ou que o teste tenha falhado e por último no caso de transmissão vertical (de mãe para filho). Quanto a Síndrome da Imunodeficiência Humana, mais conhecida por AIDS (nomenclatura em inglês) ou SIDA (nomenclatura em português), é uma doença transmissível, causada pelo vírus HIV, que ataca as principais células de defesa do corpo humano, fazendo com que a imunidade do indivíduo baixe e, conseqüentemente, este estará mais propicio a aquisição de novas doenças. A SIDA é conhecida popularmente como AIDS (sigla de denominação em língua inglesa), é a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida: síndrome de conjunto de sintomas ou sinais de doença, imunodeficiência de momento na qual o sistema imunológico de uma pessoa não pode proteger o corpo, o que facilita o desenvolvimento de diversas doenças, e adquirida do fato de que não é hereditária, depende de infecção pelo Vírus de Imunodeficiência Humana (HIV). (RUDNICKI, 1996, p. 18) É uma doença transmissível, causada pelo vírus HIV, que penetra no corpo humano por vias bem definidas e ataca as principais células de defesa (T4) do corpo humano, enfraquecendo o organismo e propiciando o surgimento de novas doenças. A pessoa fica sujeita tanto a doenças graves quanto às simples que se agravam, as chamadas doenças oportunistas (principalmente a pneumonia, neoplasias e mais particularmente, o sarcoma de Kaposi 2 ). Portanto, percebe-se que a AIDS não é contagiosa, mas sim transmissível, contrai-se somente se não houverem os cuidados necessários para evita-la. A presença do vírus HIV no organismo da pessoa, não faz com que esta mude seu modo de agir, pensar, não 2 Sarcoma de Kaposi geralmente apresenta nódulos únicos ou múltiplos, com coloração variando de rosa a violeta, nas quais lembram hematomas. Essas lesões tendem a aparecer com mais freqüência em homens, nas regiões do tronco, cabeça e pescoço.

6 lhe fornece uma alma nova, apenas proporciona marcas permanentes na trajetória da vida destes seres. 2. A REALIDADE LOCAL E A AIDS São muitos os sintomas da doença. Os físicos, que geralmente apresentam-se no início da doença são: Perda de peso sem motivo aparente, até 10 % (dez por cento) do peso corpóreo; escamações na pele; suor noturno; perda de apetite; cansaço constante; diarréia crônica e febre acima de 38º, por mais de um mês consecutivo; gânglios aumentados, dor de garganta e dores musculares. Os doentes de Aids são vítimas de muitas infecções por fungos, tuberculose, pneumonia e câncer. Essas infecções são chamadas de oportunistas, porque a partir do momento que o paciente é detectado que tem AIDS, seus sistema imunológico baixa, fazendo com que facilite a obtenção de novas doenças, que na maioria das vezes são a causa de sua morte. Há ainda os sintomas emocionais, que podem surgir em qualquer fase da doença, e manifestam-se através da depressão, pois os doentes, especialmente as mulheres, sentem-se discriminadas, rejeitadas e deprimidas, em relação às outras pessoas, ao trabalho e vida pessoal. Em relação à pesquisa elaborada e realizada para a conclusão deste trabalho, desenvolveu-se no Sistema Único de Saúde (SUS), na Secretaria de Vigilância Epidemológica, setor HIV/AIDS, da cidade de Lages/SC, nos anos de 2002 e 2003, com mulheres de 13 (treze) a 59 (cinqüenta e nove) anos de idade. Verificou-se que os dados encontrados nesta pesquisa, diferem dos que foram lançados na internet, estes fazem parte de uma estatística, pois na época de seu lançamento na rede, não havia uma noção exata do número de mulheres doentes nesta cidade. Portanto, os números encontrados no site do Ministério da Saúde, em relação às mulheres doentes de AIDS, tanto no Estado de Santa Catarina, no Brasil e no Mundo, são discrepantes, pois não são exatos, no entanto, eles dão uma idéia do problema local, nacional e mundial; que a sociedade enfrenta, pois ainda não foi desvendada a cura desta doença letal.

7 Vale lembrar, que esta pesquisa foi realizada somente com mulheres que foram atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pois não há como realizar uma pesquisa com o número exato de mulheres infectadas ou que já desenvolveram a doença AIDS existentes em Lages, pois muitas não sabem que são doentes, e as que sabem, e possuem melhores condições financeiras, fazem todo o tratamento de forma privada, visando maior sigilo, com um certo receio de exporem suas vidas a público. Para a possível realização desta monografia, houve pesquisa de campo, a qual foi realizada no período de maio a setembro de 2004, e as doentes foram questionadas sobre a doença, como reagiram ao saber que eram soropositivas, a forma que formam contaminadas, quais as conseqüências da doença em suas vidas. Ao serem entrevistadas, visou-se o anonimato da pessoa ou quaisquer meios para a identificação posterior da doente. A maior parte das entrevistadas, informou que adquiriram a doença, através de relacionamento heterossexual, com seus parceiros fixos ou esposos. Na cidade de Lages/SC, em 2002, verificou-se 28 (vinte e oito) novos casos da doença, porém os números lançados na internet foram de apenas 11 (onze) novos casos de AIDS; já no ano de 2003, baixou para 27 (vinte e sete), e os dados notificados na rede foram de 02 (dois) novos casos de mulheres com AIDS. No estado de Santa Catarina, em 2002 surgiram 457 (quatrocentos e cinqüenta e sete) novos casos e em 2003, baixou para 109 (cento e nove) o número de novos casos de mulheres com AIDS. No litoral catarinense, a proporção é de 1:1, ou seja, uma mulher infectada para cada homem; já no interior, é de 1:2, uma mulher para cada dois homens. Os dados mais recentes do Programa DST/AIDS, no estado de Santa Catarina, diz que a razão é de uma mulher infectada para cada homem no litoral e de uma mulher para cada dois homens no interior. Entre as mulheres infectadas no estado, 72% (setenta e duas por cento), contraíram a doença em relações sexuais com homens e 17,5% (dezessete, cinco por cento) em relações sexuais com outras mulheres ou uso de droga injetável. A maior parte das mulheres infectadas em Santa Catarina e casada. São mulheres com relacionamento sólido, parceiro fixo. Em Santa Catarina atualmente a faixa etária mais crítica é de 15 (quinze) a 49 (quarenta e nove) anos de idade. Entre os municípios maiores Joinville é o que apresenta maior expansão da epidemia e Itajaí com o melhor controle. (BRASIL, 2005, s/p)

8 No Brasil, em 2002 houve 11.756 (onze mil, setecentos e cinqüenta e seis); e em 2003, 12.698 (doze mil, seiscentos e noventa e oito), novos casos da doença notificados em mulheres. A região sul, manteve-se como a região de taxas de incidência mais elevada, porém com todas as demais, apresentou redução. Em relação à estatística feita sobre o número de pessoas com AIDS no Brasil, no ano de 2002, para a análise de incidência, foram diagnosticados 22.295 (vinte e nove mil, duzentos e noventa e cinco) casos no Brasil, com taxa de incidência de 12,8 (doze, oito) por 100.000 (cem mil) habitantes, indicando uma redução de 13,5% (treze, cinco por cento) nesta taxa em relação ao ano de 2001. A região Sul, manteve-se como a região com taxas de incidência mais elevadas, porém, como todas as demais, apresentou redução das taxas. Os estados de Rondônia, Acre e Pernambuco, entretanto, apresentaram aumento de incidência. Desde o início da década de 80 (oitenta) até dezembro de 2003, o Ministério da Saúde notificou 310 (trezentos e dez) mil e 310 (trezentos e dez) casos de AIDS no Brasil. Desse total, 220 (duzentos e vinte) mil e 783 (setecentos e oitenta e três) casos foram verificados em homens e 89 (oitenta e nove) mil 527 (quinhentos e vinte e sete) mulheres. Os últimos dados do Ministério da Saúde apontam uma redução de 26% (vinte e seis por cento) no número de casos registrados: 30 (trinta) mil novos casos em 1998 para 22 (vinte de dois) mil em 2003. (BRASIL, 2005, s/p.) No Mundo, em 2002, o número de doentes era 17,6 (dezessete vírgula seis) milhões de casos, e em 2003, aumentou para 19 (dezenove) milhões. Oitenta por cento (80%) da população feminina doente, encontra-se em países em desenvolvimento, sendo a maior parte na África Subsaariana, pois lá a população é muito pobre. Nos EUA, atualmente 950 (novecentos e cinqüenta) mil pessoas vivem com o vírus HIV. Já na Europa há 580 (quinhentos e oitenta) mil pessoas com o vírus. Quarenta (40) milhões de pessoas vivem com AIDS no mundo, deste total, 19 (dezenove) milhões são mulheres. Conforme demonstrativo a seguir: ANO 2002 2003 A 2 2 PESQUISA REALIZADA EM LAGES DADOS LANÇADOS NA INTERNET DE LAGES/SC SANTA CATARINA BRASIL 28 11 457 11.756 27 02 109 12.698

9 3. A PREVENÇÃO DA AIDS COMO POLÍTICA PÚBLICA Não há cura para a AIDS, porém existe tratamento, o qual tem como objetivo prolongar a vida do paciente, de forma sadia, onde este possa conviver normal na sociedade, ou seja, o doente passará a ter uma vida monitorada por medicamentos, deverá realizar exames periodicamente, mas nada que o impeça de viver bem, saudável. Esses medicamentos, também chamados de coquetéis ou terapia antiretroviral, são a associação de duas ou mais drogas, que tem como finalidade inibir a replicação do vírus HIV no corpo humano. Em 19 de setembro de 1990, foi criada a Lei nº 8.080, que dispõe sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), a qual forneceu a todo cidadão brasileiro acesso gratuito a saúde. Com a criação desta lei, somente em 1991, é que o SUS começou a disponibilizar os medicamentos da AIDS, e em 1995, iniciou-se a combinação das drogas anti-retrovirais. Em face disso, o Brasil tem servido de exemplo aos outros países, quanto a produção interna e acesso dos remédios as pessoas com AIDS. Em relação à cidade de Lages SC, foi realizado um questionário com o Dr. Luiz Marcatto Ramos 3, no qual buscou-se saber qual a visão local das políticas públicas, e assim concluiu-se que o trabalho da União, frente a problemática da AIDS tem sido eficiente; há interação entre as esferas de poder em diversos setores e níveis hierárquicos, visando garantir a saúde dos portadores do vírus HIV e doentes de AIDS; a política local de saúde poderia ser melhor conduzida, se as pessoas envolvidas dedicassem seu tempo exclusivamente para isso; os medicamentos têm resgatado cada vez mais, a qualidade de vida dos pacientes doentes de aids; há constantes campanhas de esclarecimento à respeito da AIDS elaboradas pelo Estado, porém falta propaganda publicitária com mais agressividade, para que ocorra a conscientização de que a aids mata. As mulheres são quem melhor se adaptam aos medicamentos; o preconceito é extensivo a todos os pacientes de forma bastante intensa; o paciente que procurou nos anos de 2002 e 2003, e procura hoje o serviço público de Lages, é hoje pessoa pobre e na maioria mulheres. 3 O questionário foi realizado com o médico infectologista Dr. Luiz Marcatto Ramos, pois é o único da cidade de Lages/SC.

10 Infelizmente, tanto a pessoa HIV positiva ou doente de AIDS, ainda é vista pela sociedade, como um Ser que deve ser excluído desta, pois na verdade, muitos não sabem das reais formas de contaminação do vírus, e pensam que apenas com o contato físico, tais como: um aperto de mão, uso da mesma toalha ou talheres, estará contraindo a doença; portanto, muitas vezes rejeitam o doente por medo, preconceito e falta de informação. A seguir será demonstrado parte da entrevista realizada com algumas mulheres doentes de AIDS: Tenho 49 (quarenta e nove) anos de idade,sou vendedora autônoma, cursei até o 4º ano do Primário, contraí a doença na cidade de Lages, no ano de 1994, através de relação Heterossexual com meu marido, na época em que ainda era casada, mas só fui descobrir que tinha a doença quando me separei em 2000, ou seja, já fazia seis anos que tinha a doença. Estou fazendo o tratamento há três anos, e meu estado físico melhorou com o tratamento. Nunca precisei de acompanhamento da psicóloga. Tenho 39 (trinta e nove) anos de idade, contraí a doença em outra cidade através de relação heterossexual. Com o início da medicação emagreci 07 (sete) Kg, os remédios são muito fortes, não posso trabalhar devido ao fato de ter muita tontura. Atualmente estou encostada pelo INSS. Minha família só soube que eu estava com AIDS, quando foi internada por Meningite. Neste momento minha família aceitou minha doença, mas minha mãe ainda tem receio de pegar aids e lava minhas roupas separada das demais pessoas que moram comigo. Moro com meus pais, porém tenho o meu quarto e cozinha. Tenho uma filha de 12 (doze) anos de idade, sou a única soropositivo na família. Muitas pessoas fazem comentários maldosos em relação a minha doença. Minha filha não sofreu nenhuma discriminação na escola pelo fato de eu ser doente, e nem eu sofri discriminação neste sentido. Tenho 36 (trinta e seis) anos, trabalho como ajudante de cozinha, possuo o 2º Grau completo. Me tornei soropositivo há uns seis anos, através de um Pacto de Sangue. Não tomo o coquetel, porque tenho somente o vírus HIV. Sou alcoólatra, e estou fazendo tratamento há três meses. Tenho uma filha de 16 (dezesseis) anos que não é soropositiva. Tenho sofrido discriminação somente na rua e estou encontrando muita dificuldade para conseguir emprego.

11 Com todos esses relatos, verificou-se que a maioria adquiriu a doença de seu companheiro fixo, ou seja, na maior parte dos casos, de seus esposos. E ainda, relataram que têm encontrado dificuldades em conseguir emprego e algumas pessoas ainda as discriminam, quer seja, familiares como desconhecidos. Segundo Grangeiro (2005), ex-diretor do Programa Nacional de DST-AIDS na África, é preciso buscar a valorização da mulher na sociedade, buscar formas das mulheres garantirem o uso de preservativos e que a mulher tenha uma inserção social mais importante. CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluiu-se através da pesquisa de campo realizada, que o Estado, através do setor público, cumpriu o seu papel em relação ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, pois desde 1991, vem disponibilizando gratuitamente a medicação para os doentes; fornece assistência médica, social, e psicológica, a quem dele necessite. Entre os anos pesquisados, percebeu-se uma pequena queda no número de mulheres com AIDS. Isto é conseqüência do trabalho realizado em equipe, que foi auferido nesta cidade, tais como: conscientização e ensino às famílias Lageanas e toda a sociedade sobre a doença, além do apoio que o Estado e Município fornecem, já mencionado. Porém, essa queda ocorreu apenas na cidade de Lages e no estado de Santa Catarina, mas no Brasil e Mundo, os números mostram que houve um aumento significativo de pessoas com AIDS e em especial, aumentou o número de mulheres com a doença. De 01 de janeiro de 2005 a 05 de outubro do mesmo ano, já haviam sido notificados 39 (trinta e nove) novos casos de mulheres com o vírus HIV e 106 (cento e seis) com AIDS. Em relação ao gasto anual que o Estado teve, com os medicamentos para controlar a doença, foram: -2002 R$ 612 Milhões -2003 R$ 551 Milhões -2004 R$ 621 Milhões -2005 (até Julho) R$ 945 Milhões

12 E ainda, no Mundo em 2003, foram gastos 06 (seis) Bilhões de Dólares, para remédios da AIDS. Com este trabalho, percebeu-se que o Governo Brasileiro está preocupado e tomando as devidas cautelas para informar, ajudar e educar as pessoas sobre a AIDS. Infelizmente, para esta doença ainda não desvendou-se a sua cura, mas existe tratamento, o qual fará com que o doente viva melhor. E ainda, apesar da pessoa ter ou não AIDS, ser HIV positivo, merece tratamento igualitário, e acima de tudo com dignidade e respeito. REFERÊNCIAS BARCELLOS, Ana Paula de. A eficácia jurídica dos princípios constitucionais: o princípio da dignidade da pessoa humana. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. BRASIL. Lei nº 8.080, 19 set. 1990, Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível em: <www.lei.adv.br>. Acesso em: 10 abr. 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. AIDS. Disponível em: <www.aids.gov.br>. Acesso em 30 jul.2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Disponível em: <www.unesco.org.br>. Acesso 30 jul. 2005. BREGA FILHO, Vladimir. Direitos fundamentais na constituição de 1988: conteúdo jurídico das expressões. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. GRANGEIRO, Alexandre. Grupo de incentivo a vida. Disponível em: <www.giv.org.br>. Acesso em 20 ago. 2005. MARTINS, Flademir Jerônimo Belinati. Dignidade da pessoa humana: princípio constitucional fundamental. Curitiba: Juruá, 2003. RAMOS, Luiz Antônio Marcatto. Entrevista em: 29. ago. 2005. RUDNICK, Dani. AIDS e Direito: papel do estado e da sociedade na prevenção da doença. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996. TRIDAPALLI, Elídia. AIDS e seus impactos nas relações de trabalho. Florianópolis: OAB/SC, 2003. VERONESI, Ricardo et al. Tratado de infectologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2002.