O ENSINO DE ASTRONOMIA PELA PRÁTICA DO CALENDÁRIO DA VIDA



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Transcrição:

O ENSINO DE ASTRONOMIA PELA PRÁTICA DO CALENDÁRIO DA VIDA FERREIRA, Rosa Hoepers SEEDPR rosahoepers@bol.com.br NICARETTA, Giselle Marquette SEEDPR gmnicaretta@seed.pr.gov.br BUENO, Marco Aurelio Pereira SEEDPR marcobueno@seed.pr.gov.br Eixo Temático: Didática: Teorias,Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O Ensino de Astronomia vai além de ensinar conceitos e passar conhecimentos sobre os corpos celestes e/ou explicar a razão de seus movimentos. Está presente neste ensino a história da humanidade. A astronomia tem relação direta com ritmos biológicos, ritos religiosos, atividades econômicas como a agricultura e a pesca. Neste trabalho se apresenta o Calendário da Vida que tem como base os conhecimentos dos povos antigos, principalmente dos povos indígenas. Esta prática tem como base nos relógios de sol construídos pelos índios brasileiros, onde utilizavam uma estrutura chamada de gnômon. O trabalho pedagógico com o Calendário da Vida resgata a experiência empírica e a construção do trabalho científico. Este calendário é organizado na forma de uma mandala, com um espantalho como ponteiro e utilizando flores, horta, plantas medicinais. Entre os conteúdos que podem ser trabalhados a partir deste calendário estão os movimentos de rotação, translação, dias e noites, estações do ano, precessão dos equinócios e nutação. Além de trabalhar estes conceitos o calendário da vida trabalha de maneira interdisciplinar temas como a relação da inclinação do eixo da Terra, a incidência da luz solar com a biodiversidade. A própria construção da mandala já demonstra a possibilidade do trabalho interdisciplinar, não apenas com as disciplinas chamadas de afins, mas com a maioria das disciplinas, pois a Astronomia está presente na história da humanidade desde os povos da antiguidade, na cultura dos povos indígenas brasileiros e também está hoje nas pesquisas científicas e faz parte dos conhecimentos necessários para a pesquisa espacial. Palavras-chave: Astronomia, Calendário da Vida, Interdisciplinariedade

12414 Introdução A Astronomia tem feito parte da história da humanidade desde o seu inicio, e segundo alguns autores, mencionada em pinturas rupestres. Partindo deste princípio o Ensino de Astronomia se mostra fundamental para entender tanto o funcionamento da vida do planeta Terra como todo o processo histórico da humanidade. Este trabalho aborda uma prática relacionada com a criação dos calendários e relógios do sol, neste caso o projeto é Calendário da Vida que propõe uma demonstração empírica dos movimentos do Planeta Terra. Este calendário consiste num jardim circular, dividido de acordo com as estações do ano da região sul, onde foram semeadas espécies para cada período, ou seja, primavera, verão, outono e inverno; além de flores foram semeadas plantas medicinais e hortaliças de modo a formar uma mandala. O Calendário da Vida pode fazer parte de práticas pedagógicas tanto para as disciplinas de Ciências e Geografia, mas também para trabalhar de maneira interdisciplinar, estabelecendo relações com história, cultura e sociedade, além de trabalhar conhecimentos das disciplinas da Educação Básica. A montagem do Calendário da Vida resgata uma das técnicas mais simples e antigas para entender e estudar astronomia: a do relógio do sol. Desenvolvimento A Astronomia pode ser considerada uma das ciências mais antiga. A observação do céu está entre as primeiras atividades de interesse do homem pela necessidade de medir o tempo. Os povos primitivos projetaram o seu primeiro calendário com base nas fases da Lua, segundo Danhoni, 2011, Na História da Astronomia, a observação dos movimentos celestes e a utilização dos dados obtidos como marcadores de tempo foi sempre uma questão lapidar. Dos relógios solares, variando dos gnomos (vara espetadas no chão), relógios equatoriais, horizontais e verticais, aos modelos de relógios estrelares ou noturnos, o homem da mais remota antiguidade observava o céu com um objetivo prático. Já estudos sobre Astronomia além de buscar respostas como os dias e as noites acontecem; porque há semanas, meses e ano; o que são as marés; porque a lua aparece diferente no céu; também estuda os ritos, ritmos e práticas religiosas de povos e sociedades

12415 diferentes. Atualmente as pesquisas científicas incluem temáticas que vão desde a etnoastronomia 1 a pesquisa espacial. A Etnoastronomia pesquisa e discute o conhecimento empírico da astronomia de diversos povos. O relógio do sol, por exemplo, é um dos elementos estudados dos povos indígenas do Brasil, que na confecção de seus relógios, utilizavam uma haste cravada verticalmente no solo, chamada gnômon. Esta haste, segundo Afonso, da qual se observa a sombra projetada pelo Sol, sobre um terreno vertical, sendo considerado o mais simples e antigo instrumento utilizado na astronomia. Um tipo de gnômon indígena, que temos encontrado no Brasil, em diversos sítios arqueológicos, é constituído de uma rocha, pouco trabalhada artificialmente, com cerca de 1,50 metros de altura, aproximadamente em forma de tronco de pirâmide e talhada para os quatro pontos cardeais. Ele aponta verticalmente para o ponto mais alto do céu (chamado zênite), sendo que as suas faces maiores ficam voltadas para a linha norte-sul e as menores para a leste-oeste. Em volta do gnômon indígena há rochas menores (seixos) que formam uma circunferência e três linhas orientadas para a s direções dos pontos cardeais e do nascer e do pôr-do-sol nos dias do início de cada estação do ano (solstícios e equinócios) Em geral, o zênite é o domínio do deus maior da etnia considerada; os pontos cardeais são os domínios dos quatro deuses que o auxiliaram na criação do mundo e de seus habitantes; os pontos colaterais são domínios das esposas desses deuses. Chamamos esse monumento de rochas, constituído pelo gnômon e pelos seixos,de Observatório Solar Indígena, devido à sua relação com os movimentos aparentes do Sol (AFONSO, 2009). Os conhecimentos empíricos que os indígenas possuem em relação sobre a astronomia mostram uma ligação direta com a biodiversidade local e as necessidades de sobrevivência. Deste modo, o estudo dos conceitos da etnoastronomia e o estabelecimento da relação com disciplinas escolares demonstra a importância histórica, social e cultural do Ensino de Astronomia no contexto pedagógico e no cotidiano escolar. Metodologia 1 Etnoastronomia: também chamada de Astronomia Cultural, termo relacionado ao estudo da astronomia de determinados grupos e/ou etnias.

12416 A organização do Calendário da Vida pelas duas etapas: sendo a primeira a pesquisa teórica e bibliográfica, estabelece relação com as Diretrizes Curriculares Estaduais 2 DCEs do Estado do Paraná, principalmente na disciplina de Ciências, uma vez que esta disciplina trabalha com os conceitos da Astronomia, a segunda etapa é a prática da construção e a observação do calendário. Após a pesquisa e a discussão de quais conceitos seriam selecionados o Calendário da Vida foi construído com base nos relógios de Sol indígenas, utilizando a forma de uma mandala, que é uma linha fechada em círculo que simboliza o Universo. O mostrador são as linhas horárias e o como ponteiro, que recebe a luz solar um pino na forma de um espantalho. Figura 1: Mandala do Calendário da Vida. Fonte: Rosa Hoepers Para que este calendário funcione, a mandala precisar estar posicionada de acordo com os pontos norte e sul. Estes são os primeiros conceitos a serem discutidos com os alunos, pois para que o ponteiro, na forma de espantalho, funcione corretamente, o posicionamento do calendário precisa receber as marcações dos pontos norte e sul que direciona a sombra no mostrador, podendo visualizar o movimento aparente do Sol, de leste para oeste, mostrando as horas. 2 Diretrizes Curriculares Estaduais da Secretaria de Estado da Educação.

12417 A prática acontece logo em seguida, onde os alunos percebem que a Terra se movimenta de oeste para leste, acabam tendo a impressão de que o movimento é do Sol, de leste para oeste. É possível neste momento, como, por exemplo, fazer a analogia com o movimento de um carro, pois quando, ao passearmos de carro e olharmos pela janela a paisagem, temos a sensação de que é ela que passa no sentido contrário do carro. Este exemplo pode auxiliar o professor trabalhar com o movimento de Rotação de modo com que o aluno entenda o movimento da Terra em torno do seu próprio eixo, e que a duração deste movimento é aproximadamente 24 horas de oeste para leste e com isto gera os dias e as noites. Outro modo de utilizar o calendário é de realizar uma análise do percurso da Terra durante 24 horas, podemos verificar três grandes momentos: o amanhecer que é sentido pelo início da iluminação, parte da Terra vai passando da luz para a sombra e novamente da sombra para a luz. O anoitecer é o inverso. Meio dia é o ponto mais em frente do Sol (ponto mais alto do Sol no céu), e meia noite da outra face da Terra, esse lugar está no meio da região da sombra. O dia e a noite regula o ciclo da vida na Terra. Observações das posições aparentes do Sol, da Lua e dos agrupamentos das estrelas (constelações), permitiram conhecer, com certa precisão, as unidades de tempo convenientes para descrever os ciclos da agricultura e para ajudar na orientação das viagens marítimas. A medição do tempo deste a Antiguidade, está ligada ao movimento da Terra (BOCZKO E LEISTER, 2006). Já o movimento de Translação pode ser trabalhado a partir do questionamento sobre como ocorre o ano. Para demostrar este movimento pelo Calendário da Vida utiliza as estações do ano, pois quando se completa o círculo, passa pelas quatro estações e completa um ano. A explicação sobre como acontecem as diferentes estações do ano pelo professor pode ser feita a partir da órbita da Terra em torno do Sol, relacionando o fato da órbita ser elíptica e de haver um eixo de inclinação no planeta. Para compreender esse movimento, o professor pode fazer um levantamento de eventos ou datas que ocorrem durante um período, e parecem que elas repetem a cada 365 dias, a data de aniversário o primeiro dia do ano, férias escolares, datas comemorativas de cada região, as flores e as frutas também florescem em épocas diferentes, mas sempre no mesmo período do ano.

12418 Outro fator importante para ser trabalhado com os alunos é o fato de sentirmos calor e frio em diferentes épocas do ano. Questões como porque em determinado período sentimos muito frio e em outros sentimos calor? E porque isso acontece? Estas diferenças estão relacionadas com A maneira como os raios de Sol incidem sobre cada região da Terra durante o ano determina o clima e o aspecto de cada região (CANIATO,2007). Trabalhar a relação entre a incidência de raios solares, tipo de clima e aspecto de uma região, pode ir além de uma discussão sobre movimento de Translação, mas, pode possibilitar uma discussão interdisciplinar a partir de um conceito básico do Ensino de Astronomia. A Terra gira em torno de si mesma e paralelamente ao redor do Sol e o tempo que ela leva para fazer este giro e/ou volta é observado pelos povos antigos pela paisagem celeste. A cada época o céu vai mudando as suas constelações. Deste modo, é possível explicar para o aluno que depois desse tempo determinado, de um ano, a paisagem celestial volta a se repetir, e que no hemisfério sul, podemos observar que a constelação de escorpião nos meses de Inverno (que parece um ponto de interrogação) e no Verão a constelação de Orion (com as três Marias). Enquanto a Terra gira sobre si mesma, ela também se movimenta ao redor do Sol. Em um ano ela faz uma grande volta ao redor do sol. Ao mesmo tempo em que completa a volta ela faz 365 voltas mais um ¼ de volta(mais precisamente 365,249) (CANIATO,2007). As estações do ano podem iniciar o trabalho pedagógico sobre as variações climáticas que dependem da região do planeta, bem como a discussão sobre Equinócios e Solstícios, onde o primeiro acontece nos dias 21/03 e 23/09 e o segundo ocorre nos dias 22/12 e 21/03, onde a diferença do eixo de inclinação da Terra interfere na quantidade de luz e calor recebido do sol. A incidência dos raios solares no equinócio não favorece nenhum dos hemisférios. Mas nos solstícios de verão favorece o hemisfério em que ocorre, assim como nos

12419 solstícios de inverno desfavorece o hemisfério em que ocorre. No hemisfério favorecido a incidência tende a ser mais vertical(canalle e MATSUURA, 2007). Outro momento importante é o trabalho com os conceitos de Precessão dos Equinócios e Nutação, que aparecem pouco no âmbito escolar, pois se refere a pequena oscilação do eixo da Terra, onde o movimento cíclico do eixo de rotação da Terra em torno de um eixo perpendicular ao plano da órbita da Terra. Seu período é de cerca de 26.000 anos, fazendo com que as estações do ano comecem, aproximadamente, a cada 2.000 anos, numa constelação zodiacal diferente. Ao mesmo tempo em que o eixo de rotação da Terra precessiona, ele balança, com períodos máximos de cerca de 19 anos. Esse balanço é denominado Nutação. São as força de maré, da Lua e do Sol, a atração gravitacional dos outros planetas e a distribuição não uniforme de massa da Terra as principais responsáveis pela precessão e nutação (BOCZKO E LEISTER, 2006). O trabalho pedagógico com o Calendário da Vida pode ser planejado para todo o ano letivo, pois pode estabelecer relações com vários conteúdos e de maneira interdisciplinar. De acordo com a DCE de Ciências, 2008, A Astronomia tem um papel importante no Ensino Fundamental, pois é uma das ciências de referência para os conhecimentos sobre a dinâmica dos corpos celestes. Numa abordagem histórica traz as discussões sobre o geocentrismo e o heliocentrismo, bem como sobre os métodos científicos, conceitos e modelos explicativos que envolveram tais discussões. Além disso, os fenômenos celestes são de grande interesse dos estudantes porque por meio deles buscam-se explicações alternativas para acontecimentos regulares da realidade, como o movimento aparente do sol, as fases da lua, as estações do ano, as viagens espaciais, entre outros. Além de discutir os conceitos relacionados com a dinâmica dos corpos celestes, o ensino de Astronomia por meio da prática do calendário estabelece relações com vários conteúdos dependendo do recorte que o professor estabelecer em seu planejamento, pode ser alterado ao perceber que, a partir das práticas com o calendário, os alunos levantam questões, estabelecem relações com saberes do cotidiano e conteúdos tanto da disciplina que trabalha diretamente como o conteúdo de outras disciplinas. Deste modo a Astronomia pode estar presente como conteúdo em uma determinada disciplina, porém possui a característica de ser um conteúdo interdisciplinar.

12420 Considerações Finais O projeto Calendário da Vida é uma demonstração empírica dos movimentos do Planeta Terra que pode ser utilizado dentro da prática pedagógica do professor, resgatando não apenas técnicas simples para entender e estudar astronomia, mas unindo o conhecimento dos povos antigos com a ciência ensinada hoje. Este calendário tem como base o relógio do sol dos povos indígenas do Brasil, e uma organização na forma de uma mandala posicionada de acordo com os pontos cardeais. A forma com que a mandala é organizada, os elementos que definem a sua localização possibilita também ao professor trabalhar conceitos de trabalho científico na prática, ou seja, estabelecendo hipóteses, objetivos, justificativas e abrindo o diálogo entre a teoria e a prática. Com a montagem e observação deste calendário é possível demonstrar aos alunos, por exemplo: os movimentos da Terra, as estações do ano que determinam o nosso modo de vida, nossos costumes, nossa alimentação, nossa moradia e até mesmo o nosso vestuário entre outros conceitos. A Astronomia vai além do ensino de conceitos, da pesquisa científica e espacial, mas mostra como o conhecimento dos povos antiguidade está presentes até hoje, por exemplo, na agricultura, na pesca e nos ritos religiosos, sendo assim, o Ensino de Astronomia se faz não apenas importante, mas necessário para a prática pedagógica e para o processo de ensino e de aprendizagem. Em toda e qualquer cultura, imaginamos o Universo governado por algo parecido com nosso próprio sistema político. Poucos acham a similaridade suspeita" Carl Sagan REFERÊNCIAS BOCZKO, R. LEISTER N.V. Astronomia Clássica. in FRIAÇA, A.C.S. et al (Org). Astronomia: Uma Visão Geral do Universo. São Paulo: EDUSP, 2006. P35-48.

12421 CANALLE, J.B.G. MATSUURA.O.T. Astronomia: formação continuada de professores. Brasília: AEB, 2007. CANIATO, R.. O Céu. Campinas: Átomo, 2011. CANIATO, R.. (Re)Descobrindo a Astronomia. Campinas: Átomo, 2010. CANIATO, R.. A Terra em que Vivemos: texto e atividades. Campinas: Átomo, 2007. DANHONI, M.C.NEVES.(Org). Astronomia e Cosmologia: fatos, conjecturas e refutações. Maringá: EDUEM, 2011. PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Ciências, Curitiba: SEED, 2008, p. 28-29. SAGAN, Carl. Os Planetas. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1969.