ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO ENSINO SUPERIOR: um estudo sobre o perfil dos estudantes usuários dos programas de assistência estudantil da UAG/UFRPE



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Transcrição:

ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO ENSINO SUPERIOR: um estudo sobre o perfil dos estudantes usuários dos programas de assistência estudantil da UAG/UFRPE José Albuquerque Constantino 1 Joselya Claudino de Araújo 2 Simone Muniz da Silva 3 1.0 - INTRODUÇÃO Esta pesquisa traçou o perfil sócio-econômico dos estudantes de graduação da Universidade Federal Rural de Pernambuco/UFRPE da Unidade Acadêmica de Garanhuns/UAG que foram usuários do Programa de Bolsas de Permanência no ano de 2008. Na UFRPE a política de Assistência Estudantil é implementada através da Pró- Reitoria de Gestão Estudantil PROGEST. Dentre as ações desenvolvidas há o Programa de Bolsas de Permanência que consiste na transferência de um valor monetário aos estudantes em situação de vulnerabilidade social. Esse programa dispõe de quatro modalidades de bolsas, quais sejam: apoio acadêmico, informática, alimentação e transporte. Nas duas primeiras o estudante presta sessenta horas mensais de serviço na 1 Assistente Social. Universidade Federal Rural de Pernambuco. Email: j.albuquerque@uag.ufrpe.br 2 Especialista. Universidade Federal Rural de Pernambuco. E-mail: joselya@uag.ufrpe.br 3 Assistente Social. Universidade Federal Rural de Pernambuco. Email: simuniz@ymail.com 1

instituição, em atividades vinculadas a sua área de formação ou em algum setor administrativo. Nas demais modalidades não existe contrapartida por parte do estudante. Na UAG o Programa de Bolsas de Permanência é desenvolvido pelo Núcleo de Assistência Social, o qual foi o responsável pela elaboração dessa pesquisa. Os dados foram coletados a partir dos questionários sócio-econômicos preenchidos pelos 167 bolsistas no momento de inscrição no processo seletivo do Programa. Esse quantitativo corresponde a aproximadamente 18% do total de estudantes matriculados no segundo semestre de 2008. A pesquisa demonstrou tanto o perfil do discente (faixa etária, sexo, estado civil, situação econômica, trajetória escolar, local de origem e curso), como o contexto familiar (renda per capta, número de membros da família, principal provedor, origem da renda, situação da moradia e grau de escolaridade dos pais). 2.0 ANÁLISE DOS DADOS O acesso à educação superior no Brasil, apesar do aumento da oferta nos últimos anos, ainda se caracteriza pelo reduzido ingresso a esse nível de ensino. Além disso, boa parte das vagas é oferecida em instituições privadas. Segundo Pinto, em 2002 o setor privado correspondia por 70% das matrículas nessa modalidade de ensino. Esse dado demonstra que para uma parcela considerável da população a realização de um curso superior torna-se impossível, pois, muitas famílias não têm condições de arcar com as mensalidades nas entidades privadas, e as instituições públicas não têm capacidade de atender toda a demanda. No entanto, as dificuldades para a realização de um curso superior não se encontram somente no momento de ingresso na universidade. A permanência do estudante e a conclusão do curso no período regular é outro desafio, já que os universitários, mesmo aqueles das entidades públicas, têm gastos com transporte, alimentação, material didático entre outras coisas. De acordo com o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis FONAPRACE 14% dos casos de evasão e retenção no ensino superior nas instituições públicas estão associados a dificuldades econômicas e sociais enfrentadas pelo estudante e sua família. (FINATTI, 2008). Sob esse aspecto, a política de assistência estudantil é fundamental para assegurar aos alunos com dificuldades econômicas o direito de concluir o curso em condições de igualdade com os demais. Além disso, ela contribui para a eficácia dos gastos públicos no 2

sistema educacional - ao diminuir o índice de evasão e retenção - e garante o aproveitamento acadêmico. Dessa forma, conhecer o perfil sócio-econômico daqueles que são atendidos pelos programas de assistência estudantil é imprescindível para a construção de propostas adequadas à realidade dos mesmos. De acordo com a pesquisa realizada os números obtidos revelam que 74% dos bolsistas estão na faixa etária entre 17 e 24 anos (ver gráfico 1). Esses ultrapassaram a dificuldade de acesso ao nível superior de ensino, uma vez que no Brasil em 2006 menos de 10% dos jovens entre 20 e 24 anos estavam matriculados em universidades, segundo a Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (SESu/MEC). Gráfico 01- Faixa Etária 21% 5% 74% Entre 17 e 24 anos Entre 25 e 30 anos Acima de 30 Com relação às pessoas com quem os bolsistas residem os dados mostram que 74% deles moram com a família, 20% em república/pensão e 5% com amigos ou parentes. Neste caso 25% necessitaram se deslocar do contexto familiar ao ingressar na universidade, já que apenas 33% são provenientes de Garanhuns e 67% são oriundos das demais cidades do Agreste Meridional e/ou de outras regiões do Estado. Dentre esses 25% residem na zona rural. Considerando as deficiências existentes no sistema de ensino público no país, a trajetória escolar é um dos indicadores que demonstra as dificuldades enfrentadas pelos bolsistas para o acesso à universidade e o bom desempenho acadêmico, uma vez que 43% cursaram o nível fundamental na rede pública e 44% o ensino médio também em escolas públicas. Referente à situação econômica dos bolsistas, o estudo indica que 88% não possuem nenhuma fonte de renda, dentre os quais 68% nunca trabalharam com vínculo 3

empregatício e 20% estão desempregados. Portanto, eles dependem exclusivamente do apoio financeiro de suas famílias, as quais, por sua vez, possuem em 85% dos casos uma renda mensal per capita de até ½ salário e 12% entre ½ e 1 salário mínimo 4 (ver gráfico 02). Gráfico 02- Renda Familiar Per Capita 12% 3% Até ½ salário mínimo 85% Entre ½ e 1 salário mínimo Entre 1 e 2 salários mínimos De acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos DIEESE o valor do salário mínimo necessário para atender as necessidades de uma família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, como prever a Constituição Federal de 1988, sendo essa família composta por dois adultos e duas crianças, deveria ser em outubro de 2008 R$ 2.014,73. Está evidente a discrepância entre a renda familiar dos bolsistas e a indicada pelo DIEESE como necessária para suprir as necessidades básicas. Nas famílias pesquisadas 44% são chefiadas pelas mulheres com a presença do companheiro/marido, sendo as mães as principais provedoras da renda 5. O pai aparece como principal provedor em 27% e o(a) próprio(a) discente em 8% das famílias (ver gráfico 03). O quantitativo expressivo de mães chefes de família reflete o crescimento nos últimos anos do número de domicílios cujo principal provedor é a mulher. Do total de famílias pesquisadas observou-se também que 29% são monoparentais, tendo a mulher como única responsável. 4 Foi identificado em alguns casos que a renda familiar além de ser baixa, ainda é comprometida devido aos empréstimos consignados. Vale salientar que na pesquisa o cálculo da renda não levou em consideração o desconto desses empréstimos. 5 A metodologia utilizada na pesquisa não fornece condições para identificar se o fato das mães serem as principais provedoras da renda reflete nas relações de poder no âmbito familiar, por isso utiliza-se o termo família chefiada por mulher relacionado estritamente ao principal provedor da renda. 4

Gráfico 03- Principal Provedor 4% 4% 8% Pai 27% Mãe 8% Pais Cônjuge 5% Avós Irmão(a) 44% Discente Com relação à origem da renda do principal provedor 29% advém de atividades informais, ou seja, vivem na instabilidade financeira, sem a garantia de qualquer direito trabalhista. Os benefícios sociais (Bolsa Família e Auxílio doença) aparecem como fonte principal de renda em 18% dos casos 6 e as aposentadorias/pensões em 23%, sendo essas basicamente de trabalhadores rurais. Além disso, foi identificado que em 27,5% das famílias pelo menos um dos responsáveis está há mais de 2 anos desempregado. 7 Ao observar o grau de escolaridade dos pais fica evidente a dificuldade para eles retornarem ao mercado formal de trabalho, cada vez mais competitivo e exigente quanto à qualificação profissional, já que entre os homens 17% são analfabetos, apenas 11% concluíram o ensino médio e nenhum deles possui nível superior. No caso das mulheres 12% são analfabetas, 29% têm ensino médio completo e 5% concluíram curso superior. Na composição familiar foi constatado que 75% das famílias são compostas de 03 a 05 membros e 16% por 06 ou mais membros, ou seja, há uma parcela considerável de famílias numerosas. Com relação à condição de registro de nascimento dos bolsistas foi identificado que 17% deles foram registrados após 01 ano de nascimento, sendo na maioria dos casos um período superior a cinco anos. Entende-se, portanto, que eles ficaram fora do alcance das políticas sociais já que não tinham certidão de nascimento, ou seja, não existiam oficialmente. 6 Desses benefícios sociais 94,7% correspondem ao Programa Bolsa Família, o qual adota critérios rigorosos para ingresso dos usuários, sendo a exigência de renda per capita de até R$ 60,00 para famílias sem crianças e de até R$ 120,00 per capita para famílias com crianças. 7 Na pesquisa considera-se desempregado aquele que já teve registro de contrato na carteira de trabalho, portanto, não foram contabilizados os que nunca tiveram vínculo empregatício formal. 5

3.O CONCLUSÃO Como visto, uma parte considerável das famílias são chefiadas exclusivamente pelas mulheres, que na sua maioria tem baixa qualificação profissional, o que se traduz em baixos salários. Os pais, ausentes em grande parte dos casos, não pagam pensão alimentícia, sendo da mulher unicamente a responsabilidade pela manutenção da família. No entanto, não é somente a renda que reflete as dificuldades enfrentadas pelas famílias para manter seus filhos na universidade, mas um conjunto de variáveis que desenha o quadro de vulnerabilidade ao qual estão submetidas. O baixo capital cultural dos pais associado à renda insuficiente, ou o fato dos discentes já terem constituído família, contribui para que o estudante priorize em alguns casos o trabalho remunerado, mesmo os de baixo rendimento, em detrimento da conclusão do curso. Como também o desenvolvimento de estratégias para driblar as dificuldades, quando muitos deles percorrem a pé longas distâncias até a universidade e se alimentam de forma inadequada. A Política de Assistência Estudantil desenvolvida na UFRPE/UAG ao mesmo tempo em que se propõe garantir aos estudantes em vulnerabilidade social o direito à educação superior - o qual foi conquistado através da luta do movimento estudantil para garantir não apenas o acesso, mas a permanência na universidade atende aos interesses da instituição, uma vez que o trabalho prestado pelos bolsistas nos setores administrativos supre a carência de pessoal no quadro de funcionários. A utilização da mão de obra do bolsista representa uma economia para a instituição, pois o valor da bolsa é baixo e não é assegurado nenhum direito trabalhista. Essa contradição é característica da política social no modo de produção capitalista, e na conjuntura atual é agravada pela disseminação do ideário neoliberal que prevê a redução dos investimentos nas políticas sociais. Isso ocasiona a focalização das ações nos estritamente pobres e a diminuição do número de usuários atendidos. A presença da Universidade pode contribuir para a melhoria dos indicadores sociais da região do Agreste Meridional pernambucano, uma vez que a instituição tem um papel estratégico para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social da região, tanto pela formação de mão-de-obra qualificada, quanto pela garantia do acesso e da permanência no ensino superior dos estudantes com dificuldades sócio-econômicas. Esses vivem a possibilidade de romper o ciclo intergeracional de baixa escolaridade, pobreza e marginalidade em relação ao mercado formal de trabalho. Para tal, é imprescindível que a 6

política de assistência estudantil assegure as condições para que eles possam concluir os cursos em condições de igualdade com os demais estudantes. 4.0 REFERÊNCIAS BRASIL. EDUCAÇÃO SUPERIOR: OS CAMINHOS DA EMANCIPAÇÃO SOCIAL. Secretaria de Educação Superior Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Superior, 2006. DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICAS E ESTUDOS DIEESE. Disponível em:< www.dieese.org.br> Acesso em 15/12/2008; FINATTI, Betty Elmir. O perfil sócio-econômico e cultural dos estudantes da Universidade Estadual de Londrina PR. Disponível em: <www.ssrevista.uel.br>. Acesso em 15/12/2008; PINTO, José Marcelino de Rezende. O acesso à educação superior no Brasil. Educação e Sociedade, Campinas/SP, V. 25, Nº 88, p. 727-756, especial outubro, 2004. Disponível em: <www.cedes.unicamp.br>. Acesso em 16/12/2008; 7