PROJECT "WHO FIGHTS DOESN T SCUFFLE": IMPRESSIONS OF PARENTS AND TEACHERS ABOUT THE EFFECTS OF TAEKWONDO PRACTICE IN BEHAVIORAL VARIABLES



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Transcrição:

PROJETO QUEM LUTA NÃO BRIGA : IMPRESSÕES DE RESPONSÁVEIS E PROFESSORES QUANTO AOS EFEITOS DA PRÁTICA DO TAEKWONDO EM VARIÁVEIS COMPORTAMENTAIS Rossano Diniz 1 Fabrício Boscolo Del Vecchio 2 RESUMO: Introdução: O Taekwondo (TKD) é uma arte marcial coreana e esporte olímpico. Além do desenvolvimento físico, exerce grande influência na formação do cidadão através dos seus princípios básicos. Programas que envolveram o TKD foram capazes de gerar diminuição da agressividade, aumento da auto-estima e de valores sociais positivos entre adolescentes. Objetivo: Verificar se a prática de TKD contribui na formação cidadã e no aprimoramento do comportamento social de jovens. Materiais e métodos: Após 12 meses de prática da modalidade, aplicou-se questionário sobre desempenho escolar e comportamento dos praticantes do projeto Quem Luta Não Briga aos seus professores e responsáveis. Resultados: De 46 jovens envolvidos (11,1±2,8 anos de idade), 44 obtiveram resultados satisfatórios referentes a comportamentos positivos após o início da prática do Taekwondo. Conclusão: O TKD pode se constituir como estratégia relevante para formação de crianças e jovens. Palavras-chave:Taekwondo (Artes Marciais), Comportamento, Jovens. PROJECT "WHO FIGHTS DOESN T SCUFFLE": IMPRESSIONS OF PARENTS AND TEACHERS ABOUT THE EFFECTS OF TAEKWONDO PRACTICE IN BEHAVIORAL VARIABLES ABSTRACT: Introduction: Taekwondo (TKD) is a Korean martial art and Olympic discipline. Beyond the physical development, has great effect on the citizen s formation through its basic principles. Studies have shown that TKD programs were able to generate aggression s reduction, increased self-esteem and positive social values among adolescents. Objective: To determine whether the TKD practice contributes to civic education and the improvement of the social behavior of young people. 1 Prof. Esp. da Secretaria Municipal de Educação e Desporto SMED. rossanotkd@hotmail.com 2 Prof. Dr. da Universidade Federal de Pelotas UFPEL. fabricio_boscolo@uol.com.br Revista Didática Sistêmica,ISSN 1809-3108,III Extremos do Sul -Edição Especial (2013) p. 19-30

Material and methods: A questionnaire about school performance and behavior of students from the project Who Fights Does Not Scuffle was applied to their teachers and parents. Results: The study involved 46 young athletes (11.1 ± 2.8 years). Of these 44 had positive results regarding positive behavior after starting the Taekwondo practice. Conclusion: TKD can constitute a suitable strategy for civic education of children and youth. Key words: Tae Kwon Do (Martial arts), Behavior, Young. INTRODUCTIÓN: Taekwondo (TKD) es un arte marcial coreano y deporte olímpico. Más allá de lo físico, tiene una gran influencia en la formación de los ciudadanos a través de sus principios básicos. Programas relacionados con el TKD fueron capaces de generar menor agresión, aumento de la autoestima positiva y los valores sociales entre los adolescentes. Objetivo: Evaluar si la práctica TKD contribuye a la educación cívica y la mejora de la conducta social de los jóvenes. Material y métodos: Después de 12 meses de práctica modalidad se aplicó cuestionario a los profesores y tutores sobre el rendimiento escolar y la conducta de los practicantes de proyecto Quién lucha no pelea. Resultados: De 46 jóvenes participantes (11,1 ± 2,8 años), 44 resultaran en satisfactorios con respecto al comportamiento positivo después del comienzo de la práctica del Taekwondo. Conclusión: El TKD puede constituir como estrategia importante para la educación cívica de los niños y jóvenes. Palabras clave: Taekwondo (Artes Marciales), Comportamiento, Jóvenes. INTRODUÇÃO O Taekwondo (TKD) é uma arte marcial coreana que, além de modalidade esportiva, constitui-se como filosofia que visa o desenvolvimento físico, moral e social em busca da perfeição (SANTOS et al., 2011). No entanto, também é considerado esporte olímpico, praticado por mais de 50 mil pessoas em 189 países filiados à World Taekwondo Federation (WTF) (SANT ANA et al. 2009). Além do desenvolvimento físico proporcionado pelo treinamento, a modalidade também exerce grande influência na formação do cidadão através dos seus princípios básicos: cortesia, integridade, perseverança, autocontrole e espírito indomável (SANTOS et al., 2011; KIM, 1995). Neste contexto, o aprendizado de diferentes esportes de combate na infância e adolescência pode contribuir para o resgate e formação do caráter, respeito, disciplina e a promoção da saúde dos seus adeptos (KIM; DATTILO; HEO, 2011). Complementarmente, embora não haja consenso na literatura (STRAYHORN; STRAYHORN, 2009), Revista Didática Sistêmica,ISSN 1809-3108,III Extremos do Sul -Edição Especial (2013) p. 20-30

já se observou que a prática de artes marciais e esportes de combate contribui para diminuição da agressividade e comportamentos antissociais e delitivos em crianças (TWEMLOW; SACCO 1998) e adolescentes (TWEMLOW et al. 2008). Inclusive, programa que envolveu o TKD e seus princípios foi capaz de gerar diminuição da agressividade, aumento da auto-estima e de valores sociais positivos entre adolescentes (TRULSON, 1986). Em âmbito nacional, tais estudos são incomuns, mas é notável o crescimento das discussões acadêmicas acerca das lutas no cenário escolar (CAZETTO 2009; FRANCHINI; DEL VECCHIO 2012). Neste sentido, já se observou que o ensino de wushu na educação física proporciona aprimoramento das relações sociais (LIMA, 2000). Porém, não se conhecem investigações fora desta perspectiva. Assim, o objetivo da presente investigação foi verificar se a prática sistemática de TKD pode contribuir na formação e no aprimoramento do comportamento social de crianças e adolescentes. MATERIAIS E METÓDOS Tipo de estudo e grupo investigado O estudo, do tipo observacional transversal descritivo, envolveu 46 alunos de idade entre 7 e 17 anos, oriundos de 13 escolas de Pelotas/RS (cinco delas municipais, quatro estaduais e quatro privadas). Como critérios de inclusão amostral, considerou-se ser: i) vinculado ao Projeto Quem Luta Não Briga SMED/ESEF, ii) praticante de TKD por, no mínimo,12 meses. Características do projeto e delineamento do estudo O projeto de extensão universitária Quem luta não briga (QLNB) oferece aulas de TKD gratuitas, e foi implantado através de parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e Desporto (SMED) de Pelotas/RS, Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (ESEF/UFPEL) e Equipe Pelotas Fighter de Taekwondo. Revista Didática Sistêmica,ISSN 1809-3108,III Extremos do Sul -Edição Especial (2013) p. 21-30

As aulas são ministradas em núcleos da cidade em pontos específicos da região centro/bairro, proporcionando a participação de alunos de diversas escolas (figura 1). Os objetivos principais do projeto são: i) promover a iniciação a um esporte olímpico para a população da faixa etária entre 7 e 17 anos, ii) identificar e selecionar talentos para as categorias de base e futura inserção de atletas ao alto-rendimento e iii) promover, através das metodologias disciplinares do TKD, o desenvolvimento do caráter do aluno e a formação de bons cidadãos. As aulas são conduzidas por pedagogo especialista em gestão da educação, faixa preta 6º Dan na modalidade, e com experiência didática superior a 20 anos na mesma. Figura 1: Mapa da cidade de Pelotas mostrando os núcleos onde foi implantado o projeto Escala Métrica: 1 km/2000 pés. 1. Núcleo ESEF/UFPel atende alunos das escolas públicas das Três Vendas. 2. Núcleo CENTRO atende alunos das escolas privadas. 3. Núcleo BALSA atende alunos das escolas públicas da Várzea. Revista Didática Sistêmica,ISSN 1809-3108,III Extremos do Sul -Edição Especial (2013) p. 22-30

Instrumentos de coleta e registro de dados Foi aplicado aos pais (ou responsáveis) e professores dos alunos do projeto QLNB questionário com perguntas sobre diferentes variáveis comportamentais. O instrumento foi estruturado com base no teste de comportamento para crianças praticantes de TKD (KIM, 1995) e adaptado à realidade do projeto QLNB. O questionário, previamente explicado e apresentado aos responsáveis e professores, foi preenchido e assinado pelos mesmos mediante aprovação e autorização da direção das escolas envolvidas. Vale, ainda, indicar que todas as instituições de ensino foram informadas sobre a realização do procedimento de coleta dos dados com quatro semanas de antecedência, de modo a se programarem para o mesmo, e fornecer as respectivas autorizações (COCEPE # 52837040/2010). Após a coleta, os dados foram tabulados em planilha do Microsoft Excel. Logo os questionários foram reunidos em três grupos: i) Alunos da rede municipal; ii) Alunos da rede estadual; e iii) Alunos da rede privada. ANÁLISE DOS DADOS Aplicou-se média ± desvio padrão (dp) como estatística descritiva. Empregaramse frequência absoluta (n) e relativa (%), e os dados são representados na forma tabular e gráfica. Para comparação entre a proporção dos tipos de respostas dadas, realizou-se teste de qui-quadrado. Assumiu-se p < 0,05 como nível de significância. RESULTADOS Na presente investigação foram envolvidos 46 jovens praticantes de taekwondo (11,1 ± 2,8 anos de idade). Destes, 14 eram do sexo feminino e 32 eram do masculino (respectivamente 11±2,5 anos e 11,1±3 anos), com maior proporção de garotos (χ² = 7,04, p = 0,008). Revista Didática Sistêmica,ISSN 1809-3108,III Extremos do Sul -Edição Especial (2013) p. 23-30

Dos respondentes,16 pertenciam a escolas municipais, 20 a escolas estaduais e 10 de escolas particulares. Quando as instituições foram organizadas por tipo de ensino, proporcionalmente há mais jovens de escolas públicas do que privadas (χ² = 14,69, p < 0,001).Diversas questões foram feitas aos responsáveis e aos professores dos envolvidos no projeto Quem luta não briga, as respostas são apresentadas na tabela 1, ao passo que a figura 1 apresenta as respostas dos professores. Na tabela 1 pode ser observado que, proporcionalmente, há mais respostas bom do que as demais, com exceção da questão Comprometimento com tarefas em casa, a qual não apresenta distinção entre as respostas. Adicionalmente, acerca da questão Demonstrou comportamento positivo após o início da prática do Taekwondo?, todos os responsáveis responderam sim. Entre os docentes, 44 deles responderam sim e 2 responderam não. Tabela 1. Frequência absoluta (e relativa) das respostas dos responsáveis por alunos do projeto Quem luta não briga. Bom Satisfatório Deve Melhorar Total Respeito com os mais velhos* 32 (69,6) 10 (21,7) 4 (8,7) 46 (100) Respeito com os irmãos e amigos* 25 (54,3) 13 (28,3) 8 (17,4) 46 (100) Comprometimento com tarefas em casa 21 (45,7) 15 (32,6) 10 (21,7) 46 (100) Atitudes agressivas verbais* 34 (74) 6 (13) 6 (13) 46 (100) Atitudes agressivas físicas* 39 (84,8) 5 (10,9) 2 (4,3) 46 (100) Participação na escola* 39 (84,8) 6(13) 1(2,2) 46 (100) * =diferença estatística entre os três tipos de respostas apresentadas (p < 0,01) Revista Didática Sistêmica,ISSN 1809-3108,III Extremos do Sul -Edição Especial (2013) p. 24-30

De acordo com os professores (figura 2), proporcionalmente há mais respostas bom do que as demais em todas as questões (27,2 < χ² < 59,2, p < 0,001). A maior quantidade de respostas satisfatório e deve melhorar se localizou na questão sobre desempenho nas avaliações curriculares. DISCUSSÃO Neste estudo, que objetivou verificar características comportamentais dos alunos praticantes de TKD do projeto Quem luta não briga, o principal achado foi a maioria dos responsáveis e professores entrevistados (97%) informar que alunos, após iniciarem a prática de TKD, apresentam melhoras em comportamentos positivos. Somado a este achado, indica-se que as principais limitações do estudo versam sobre ausência de grupo controle e de medida pré-intervenção. Quanto à primeira delas, é sabido que em um estudo realizado com 40 jovens praticantes de TKD e outros 40 não praticantes, os primeiros demonstraram que o aprendizado desta modalidade colabora para moderação das tensões da vida associadas à saúde mental (KIM; DATTILO; HEO 2011). Acerca da segunda, como se solicitou indicação do aprimoramento em relação à situação pregressa, registram-se efeitos positivo, neutro ou negativo da prática. Revista Didática Sistêmica,ISSN 1809-3108,III Extremos do Sul -Edição Especial (2013) p. 25-30

Figura 01 Frequência relativa das respostas dos professores dos alunos participantes do projeto Quem luta não briga, segundo rede de ensino Revista Didática Sistêmica,ISSN 1809-3108,III Extremos do Sul -Edição Especial (2013) p. 26-30

Quantidade de respostas (%) Figura 02. Frequência absoluta (e relativa) das respostas dos professores dos alunos participantes do projeto Quem luta não briga. 100% 80% 60% 40% 7 7 32 34 6 4 1 2 6 6 Bom Satisfatório Deve melhorar Desempenho nas avaliações 32 7 7 Participação nas atividades 34 6 6 Atitudes agressivas verbais 40 2 4 Atitudes agressivas físicas 39 6 1 40 39 20% 0% Desempenho nas avaliações Participação nas atividades Atitudes agressivas verbais Atitudes agressivas físicas Bom Satisfatório Deve melhorar Esta mudança comportamental ocorreu, provavelmente, porque a prática de artes marciais favorece o exercício do convívio social e a busca pelo valor de si mesmo, a honra (FRANCHINI; DEL VECCHIO, 2012). Corroborando com esta afirmação, FERREIRA (2006) comenta que a prática de lutas promove o desenvolvimento cognitivo do aluno, favorecendo a percepção, o raciocínio, a formulação de estratégias e a atenção. Os jovens, ao se envolverem com o TKD, tendem a perceber os benefícios que esta modalidade traz ao praticante e, assim, demonstram muito interesse em buscar a evolução de acordo com os objetivos almejados, como boa conduta, respeito, disciplina e o desempenho escolar (SANTOS et al., 2011). As variáveis comportamentais, especificamente em relação a agressões verbais e físicas, foram as que obtiveram o maior número de respostas positivas. Revista Didática Sistêmica,ISSN 1809-3108,III Extremos do Sul -Edição Especial (2013) p. 27-30

Provavelmente, isto tenha se dado em função de que os praticantes de TKD tenderem a melhorar o seu autocontrole e autorregularão, e também parecem atenuar os efeitos do stress em suas vidas (TRULSON, 1986; KIM; DATTILO; HEO, 2011). O estudo de KIM, DATTILO e HEO (2011) compreende o TKD como estratégia de busca de lazer sério, que promove benefícios à saúde mental. É bem provável que estes benefícios psicológicos tenham sido os responsáveis pela melhora dos alunos em relação ao desempenho e participação nas aulas escolares após o início das aulas de TKD. Também se registra que o código de honra do TKD, que é citado em todas as aulas, a partir do juramento e princípios, considera que o praticante deve buscar a lealdade, obediência e bom caráter. Ademais, é pautado neste sentido que, talvez, sustente-se o melhor desempenho dos alunos do projeto Quem luta não briga nas variáveis comportamentais exploradas, como respeito aos colegas, irmãos, amigos e pessoas mais velhas (LIMA, 2005). Neste sentido, indica-se que o aprendizado das artes marciais na infância proporciona o resgate do conceito de disciplina e respeito pelo outro e pelo meio em que vive, bem como na formação do caráter da criança (SILVA 2008). Por fim, ao se observar a figura 2, percebe-se que o número de respostas satisfatório e bom estão entre 70 e 90% das apresentadas, o que leva a evidenciar o efeito positivo dos aspectos comportamentais dos alunos depois que iniciaram a prática do TKD. CONCLUSÕES Conclui-se que a prática do TKD, desenvolvida a partir de projeto de extensão à população adstrita à universidade, constitui-se como estratégia adequada para formação de crianças e jovens. As aulas de TKD promoveram representação social que favoreceu o exercício do respeito e a disciplina. Apesar disso, faz-se necessário aprimoramento do delineamento do estudo e sua continuidade por maior período, para verificação da dinâmica destas variáveis comportamentais em relação à prática contínua da modalidade. Revista Didática Sistêmica,ISSN 1809-3108,III Extremos do Sul -Edição Especial (2013) p. 28-30

REFERÊNCIAS 1. SANTOS, K. S. ; SILVA, R. V. ; CARVALHO NETO, A. F. LOPES, C. A. A representação social do taekwondo: ET 07, Cultura e Processos Educacionais, 2011. 2. SANT ANA, J. ; SILVA, J. F. ; GUGLIERMO, L. G. A. Variáveis Fisiológicas identificadas em Teste Progressivo Específico para Taekwondo. Motriz,v.15 n.3, p.611 620, 2009. 3. KIM, J. Y. Arte Marcial Coreana Taekwondo: Editora Thirê Ltda, v. 1, 1995. 4. KIM, J. ; DATTILO, J. ; HEO, J. Taekwondo Participation as Serious Leisure for Life Satisfaction and Health. Journal of Leisure Research, v. 43, n. 4, p. 545 559, 2011. 5. STRAYHORN, J. M. ; STRAYHORN, J. C. Martial arts as a mental health intervention for children? Evidence from the ECLS-K.Child and Adolescent Psychiatry and Mental Health, p. 3 32, 2009. 6. TWEMLOW, S. W.; SACCO, F. C. The application of tradicional martial arts practice and theory to the treatment of violent adolescents: Adolescence, v.22, n.131, p.505 518, 1998. 7. TWEMLOW S. W. ; BIGGS, B. K. ; NELSON, T. D. ; VERNBERG, E. M. ; FONAGY, P. ; TWEMLOW, S. W. Effects Of Participation In A Martial Arts Based Antibullying Program In Elementary Schools: Psychology in the Schools, v. 45, p.947 959, 2008. 8. TRULSON, M. E. Martial Arts Training: A Novel Cure for Juvenile Delinquency: Human Relations, v. 39 n. 12, 1986. 9. CAZETTO, F. F. Lutas e Artes Marciais na Educação Física escolar: a produção científica no CONPEFE 2009: Revista Digital Buenos Aires, n. 138, 2009. 10. FRANCHINI, E. ; DEL VECCHIO, F. B. Ensino de lutas: reflexões e propostas de programas: Scortercci, 2012. Revista Didática Sistêmica,ISSN 1809-3108,III Extremos do Sul -Edição Especial (2013) p. 29-30

11. LIMA, L. M. S. O Tao da educação: a filosofia oriental na escola ocidental: Editora Ágora, 2000. 12. FERREIRA, H. F. As lutas na educação física escolar: Revista de educação física n. 165, 2006. 13. LIMA, M. J. Contribuição do taekwondo frente a comportamentos agressivos: uma proposta pedagógica construtiva e transformadora, 2005. 14. SILVA, F. H. Lutas e artes marciais como conteúdo curricular na escola: II Seminário de Metodologia do Ensino de Educação Física da FEUSP, 2008. Revista Didática Sistêmica,ISSN 1809-3108,III Extremos do Sul -Edição Especial (2013) p. 30-30