PROSÓDIA E PRAGMÁTICA: UM ESTUDO RETÓRICO DE PALESTRAS MOTIVACIONAIS PROSODY AND PRAGMATICS: A RHETORICAL STUDY OF MOTIVATIONAL LECTURES



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Transcrição:

5 PROSÓDIA E PRAGMÁTICA: UM ESTUDO RETÓRICO DE PALESTRAS MOTIVACIONAIS PROSODY AND PRAGMATICS: A RHETORICAL STUDY OF MOTIVATIONAL LECTURES Rosana Ferrareto Lourenço Rodrigues Doutoranda em Linguística na Universidade Estadual Paulista (Unesp Araraquara). Mestre em Linguística pela Universidade de Franca (Unifran). Docente do IFSP, campus de São João da Boa Vista-SP. Maria Flávia Figueiredo Doutora em Linguística pela Universidade Estadual Paulista. Docente do Mestrado em Linguística da Universidade de Franca (Unifran). Psicanalista. RESUMO Este trabalho investiga a função pragmática dos elementos prosódicos como recurso retórico em palestras motivacionais para o segmento empresarial. O corpus eleito é a palestra Como criar uma empresa de alta performance (LUDWIG, 2007, 60 min). O arcabouço teórico está baseado nas considerações sobre Prosódia, de Cagliari (1992) e Figueiredo (2006), e nos pressupostos sobre argumentação postulados por Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005) e Reboul (2004). Como procedimento metodológico, realizamos uma pesquisa dedutivo-bibliográfica com análise qualitativa dos dados coletados com o apoio do programa computacional Praat 4.6.12. Esta pesquisa possibilita um estudo de interseção entre Prosódia, Pragmática e a Argumentação. A análise aqui realizada tem o intuito de investigar o papel da voz na rgumentação ao demonstrar a forma como os elementos prosódicos podem ser utilizados para reforçar a intenção comunicativa do palestrante. Os dados coletados da palestra motivacional investigada revelam um registro de voz predominantemente marcado

90 pela incidência da duração e pela mudança de tessitura, modulações utilizadas para conferir caráter irônico à fala do palestrante e, assim, prestar serviço ao modo de argumentar da persuasão. Palavras-chave: Prosódia; Pragmática; Retórica. ABSTRACT This work investigates the pragmatic function of prosodic elements as a rhetorical resource in motivational lectures aimed at the entrepreneurial segment. We have elected as corpus the lecture How to create an enterprise of high performance (LUDWIG, 2007, 60 min) and found the theoretical approach in the considerations concerning prosody in Cagliari (1992) and Figueiredo (2006) and, concerning argumentation, in Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005) and Reboul (2004). As a methodological procedure, we have conducted a deductive-bibliographic research with qualitative analysis of data, which were collected with the help of the software Praat 4.6.12. This research enables a study of intersection between prosody, pragmatics and argumentation. The analysis conducted aims at investigating the role of voice in argumentation by demonstrating the way the prosodic elements can be used so that they can reinforce the lecturer s communicative intention. The data collected from the motivational lecture investigated reveals a register of voice predominantly marked by the incidence of duration and by the change of pitch, modulations used for giving rise to the ironic feature of the lecturer s speech and, thus, corroborate argumentation in its persuasive module. Key words: prosody; pragmatics; rhetoric.

91 INTRODUÇÃO Este artigo visa apresentar um estudo descritivo das funções pragmáticas da prosódia ao promover uma investigação retórica das palestras motivacionais. Partindo do pressuposto de que uma palestra motivacional torna o discurso empresarial mais convincente e persuasivo, nosso objetivo é propor uma reflexão sobre a prosódia como recurso retórico nesse gênero oral. O arcabouço teórico deste estudo está baseado nas considerações sobre prosódia de Cagliari (1992), que aborda as várias funções linguísticas dos elementos prosódicos, e Figueiredo (2006), que propõe uma interseção entre prosódia e argumentação. O autor inclui, em seus pressupostos, uma classificação dos elementos prosódicos e sua função pragmática enquanto a autora mostra como essas funções podem prestar serviço ao discurso ao corroborar sua argumentatividade. Tais considerações nos possibilitam abordar os elementos prosódicos como recursos retóricos em palestras motivacionais, por exemplo. Antes de apresentar as considerações teóricas seguidas da análise, é relevante destacar que este estudo se baseia em uma pesquisa realizada pelas autoras deste artigo no Programa de Mestrado em Linguística na Universidade de Franca em 2008. É também interessante expor algumas características gerais do gênero palestra motivacional, no intuito de se contextualizar o problema de pesquisa. Algumas considerações sobre as palestras, os palestrantes e os eventos empresariais serão apresentadas a seguir para promover um entendimento sobre a produção e circulação do gênero eleito para nossa análise. PALESTRAS MOTIVACIONAIS A palestra selecionada para esta análise, Como criar uma empresa

92 de alta performance, foi ministrada em 2006 (e lançada em DVD em 2007) em um evento intitulado Encontro dos maiores conferencistas do Brasil, realizado no Hotel Transamérica de São Paulo e promovido por uma empresa de treinamento empresarial chamada KLA Educação Empresarial. O programa de treinamento teve dez horas de duração e foi composto de sete palestras. O público-alvo do evento foi um grupo de 1.206 pessoas: empresários, diretores, gerentes, supervisores, líderes e funcionários. O palestrante Waldez Luiz Ludwig trabalha no Brasil como consultor empresarial há 14 anos. Ele é também professor, psicólogo e escritor. Em suas palestras, aborda temas tais como tendências em gestão de negócios; estratégias de competitividade e marketing; perfil profissional; criatividade e inovação; melhoria da qualidade do trabalho e desenvolvimento do capital intelectual nas empresas. Na palestra investigada, ele fala sobre sucesso, qualidade e inovação. Após tomarmos conhecimento de algumas características dos palestrantes e dos eventos empresariais, e considerando que nosso objetivo é analisar a função pragmática da prosódia no corpus eleito, vamos agora proceder a considerações específicas acerca das palestras. Inicialmente, queremos lembrar que, ao recorrermos à etimologia da palavra palestra, encontramos duas origens distintas: do grego palaístra, que é o lugar onde se fazem exercícios de luta; escola; e do latim palaestra, que quer dizer lugar onde se pratica a luta, ginásio, escola, exercícios de retórica, habilidade (na política ou na oratória), graça, elegância (HOUAISS, 2001). Nos dias atuais, a acepção usada para o termo palestra é conferência ou debate sobre tema cultural ou científico (HOUAISS, 2001) e, modernamente, refere-se a uma conferência pública em tom coloquial. Dessa forma, as palestras seriam um conjunto de ensinamentos e teriam um caráter pedagógico e utilitário. Nos vários segmentos sociais, inclusive no empresarial, as palestras

93 recebem o adjetivo motivacional e tornam-se um método muito utilizado para treinar e estimular os funcionários na busca por melhores resultados em sua área de atuação. Dessa perspectiva, as palestras teriam um impacto positivo sobre o auditório. Por outro lado, há ponderações acerca do processo motivacional por meio desses grandes eventos de treinamento composto de palestras. Muitos especialistas da área de recursos humanos acreditam que esse tipo de programa de treinamento virou modismo, é usado em excesso e acaba fugindo de seu propósito. Todas essas considerações a respeito dos impactos causados pelos palestrantes, pelas palestras e pelos eventos empresariais caracterizam as condições de produção e de circulação do gênero, o que contribui para este trabalho como um breve estudo do contexto enunciativo de uma palestra motivacional do segmento empresarial. Assim, mostramos, em linhas gerais, quem o produz, onde e quando, bem como quem o lê, por que o faz, que tipo de resposta pode dar ao texto e que influência pode sofrer (LOPES-ROSSI, 2006, p. 4). Tais condições nos ajudam a delinear o componente pragmático de nosso corpus, uma vez que nosso objetivo maior é analisar as funções pragmáticas da prosódia no gênero oral eleito. Além disso, elas estão diretamente relacionadas à abordagem teórica adotada em nossa análise: a pragmática, disciplina que aborda os processos interpretativos dos enunciados em contexto. Dessa forma, esta seção sustenta a próxima, que apresentará dados teóricos relevantes sobre os seguintes conceitos: prosódia e as funções pragmáticas dos elementos selecionados, bem como seu uso como recurso retórico na fala de Waldez Ludwig em Como criar uma empresa de alta performance. PROSÓDIA E PRAGMÁTICA A fala se constitui a partir de unidades segmentais e suprassegmentais. As unidades chamadas segmentos são as que definem as vogais e as

94 consoantes. As unidades maiores do que os segmentos são chamadas prosódicas ou suprassegmentais. Massini-Cagliari (2006, p. 113), acerca dos elementos prosódicos, esclarece: Assim como na música, pode-se considerar que a fala tem melodia (entoação, tons) e harmonia (acento, ritmo). São esses fatores que fazem a música da fala. Em Scarpa (1999, p. 7), encontramos o esclarecimento para a confusão terminológica dessa área de investigação, que, durante muito tempo, equivocadamente abordou os termos prosódia e ortoépia como sinônimos. Para a linguística atual, de acordo com Figueiredo (2006, p. 114), o termo prosódia refere-se ao conjunto de fenômenos fônicos que se localiza além ou acima (hierarquicamente) da representação seg mental linear dos fonemas. Scarpa (1999, p. 8) também elucida que o termo recobre uma gama variada de fenômenos que abarcam os parâmetros de altura, intensidade, duração, pausa, velocidade de fala, tom, entoação, acento e ritmo das línguas naturais, o que o torna uma área de estudo que possibilita interfaces com os seguintes aspectos linguísticos: fonético, fonológico, sintático, semântico e pragmático. Este último, foco de nossa pesquisa, tem a função linguística de revelar as atitudes do falante e caracterizar as marcas enunciativas do discurso. OS ELEMENTOS PROSÓDICOS E SUAS FUNÇÕES PRAGMÁTICAS Cagliari (1992) organiza três grupos de categorias prosódicas: elementos prosódicos da variação da altura melódica: tessitura, entoação, tom e acento; da variação da duração: ritmo, duração, acento, pausa, concatenação e velocidade da fala; e da intensidade sonora: volume. Como nosso objetivo é uma investigação pragmática dos elementos prosódicos, vamos usufruir das funções linguísticas por eles desempenhadas. Assim, as reflexões de Cagliari (1992, p. 138-139) nos são úteis neste ponto de partida:

95 A função dos suprassegmentos depende do significado a que eles estão servindo. Assim, de um modo geral, pode-se dizer que há um significado estrutural (sintático) e um significado interpretativo (semântico). A distinção entre ambos fica relativamente fácil, quando se define significado interpretativo como sendo tudo aquilo que traz consigo uma referência do falante, ou seja, representa a atitude do falante. O significado estrutural tem a ver com o resto, ou seja, com as estruturas sintáticas dos enunciados definidos pelos grupos tonais. Dizer que uma frase é afirmativa é dar um significado estrutural à frase e não representa uma referência à atitude do falante, nem conduz a considerações de natureza interpretativa da realidade não estrutural da linguagem. Por exemplo, uma enumeração tem um significado estrutural, mas uma ironia é sempre uma atitude do falante. Verificaremos, nos tipos selecionados para esta análise duração e tessitura, como a prosódia pode deixar, à disposição dos falantes, uma variada gama de possibilidades de expressão. Alem disso, o uso de uma ou de outra possibilidade evidenciará os traços da personalidade do falante (cf. CAGLIARI, 1992, p. 150). É ainda importante destacar que nossa escolha por esses dois elementos foi motivada não só pelo número significativo de ocorrências no corpus, mas também pela relevância desses elementos em detrimentos dos demais. Antes de procedermos à análise, apresentaremos uma breve descrição da metodologia utilizada para a verificação dos marcadores prosódicos, a qual foi realizada com a ajuda do programa computacional Praat. O Praat é uma ferramenta para a análise de voz, que proporciona uma confirmação do que nossa percepção auditiva capta por meio de uma figura denominada Praat Picture. Nesse desenho, quando o trecho sonoro já está editado e selecionado para a análise, é possível visualizar, reproduzir e extrair informações importantes de um arquivo de som tais como intensidade, espectrograma, pitch e duração. A intensidade e o pitch são marcados graficamente por linhas horizontais. A intensidade no Praat tem equivalência ao que denominamos

96 volume, acento e entoação nos pressupostos teóricos adotados nesta investigação. Essa característica é indicada pela primeira linha horizontal. Abaixo dessa linha, temos uma segunda, que marca o pitch, usada para a análise da escala melódica da voz alterada para mais grave (baixa) ou para mais aguda (alta). Essas duas linhas estão localizadas na parte central da figura. O espectrograma é o gráfico mais espesso formado por ondas, que aparece na parte superior da figura e auxilia na verificação da duração prosódica. No espaço inferior, está inserida a transcrição ortográfica do trecho selecionado para a análise. As demarcações sintáticas são separadas por linhas verticais. DURAÇÃO O primeiro elemento prosódico selecionado para a análise é a duração. Para caracterizar um excerto de voz como modulado por meio da duração prosódica, é necessário haver alongamentos ou encurtamentos de segmentos. Quanto à sua função pragmática, podemos afirmar que a incidência do alongamento prosódico corrobora a presença da ironia. Segundo Cagliari (1992, p. 142), o alongamento da duração da sílaba tônica enfatizando a palavra pode indicar ironia, o que só pode ser interpretado pelo contexto (discursivo ou pragmático). Sabemos que, na ironia, zomba-se dizendo o contrário do que se quer dar a entender (REBOUL, 2004, p. 132). Cagliari (1992, p. 142) enfatiza que como acontece com quase todos os elementos suprassegmentais prosódicos, o contexto de uso da fala pode inverter o valor semântico, se a atitude do falante for de ironia forte (CAGLIARI, 1992, p. 142). Cagliari (1992) ainda observa que uma língua como o português usa, às vezes, do recurso do alongamento excessivo da pronúncia de certas palavras para significar qualidades atributivas, que normalmente são expressas por itens lexicais. Como exemplo dessas considerações, selecionamos um trecho da fala de Waldez que ridiculariza o velho e promove o jovem. Por

97 meio do alongamento de sílabas tônicas de duas palavras-chave de um trecho narrativo, usado como ilustração na argumentação sobre a valorização do jovem e a descartabilidade do velho, confirmam-se as considerações teóricas sobre a duração prosódica. Assim, convém observar o excerto da palestra seguido do resultado do tratamento acústico realizado pelo programa computacional Praat na Figura 1. O jovem está sempre certo em relação ao futuro, obviamente, que tem pessoas aqui da minha idade ou mais velhas talvez (...) Se você tem cinquenta e cinco, pergunte para um de cinquenta e quatro. Já tá bom. O importante é ser jovem. Quer dizer: O meu filho escuta rap. O que eu faço para não perder o diálogo com ele? Eu finjo que aquilo é música. Numa boa. (...) Por que você faz isso? Pra você garantir um asilo de qualidade. Quem vai pagar a porra do asilo? Pode ser que eu pague... (..) Mas quem vai escolher? Quem vai: bota ( boooota ) o velho no sol, tira ( tiiiiiira ) o velho do sol? Quem vai ser? Tem que agradar os meninos, cara... (LUDWIG, 2007, 24 32-25 30, grifo nosso). Figura 1. Duração. Na figura 1, o trecho tira o velho do sol foi inserido e a palavra tira está destacada para que possamos observar o alongamento da primeira sílaba. O formato uniforme da onda do espectrograma comprova a constância com a qual a vogal i foi pronunciada.

98 Como vimos, a atitude do falante Waldez fez criar uma situação irônica ridícula ao se adotar, de forma provisória, um argumento do outro, extraindo dele todas as conclusões por mais estapafúrdias que sejam (ABREU, 2002, p. 54). Sua modulação de voz fez rir um auditório composto de muitas pessoas idosas justamente ao desqualificar e ridicularizar o idoso por meio do comentário irônico. A ironia é a figura que condensa o argumento do ridículo pelo riso (REBOUL, 2004, p. 169). Vale lembrar que, retoricamente, o sarcasmo é o objetivo da ironia, segundo Reboul (2004, p. 132). TESSITURA O segundo elemento prosódico analisado em sua função pragmática é a tessitura. Caracterizada como ato de mudar os valores de frequência da escala melódica da fala para cima (fala aguda) ou para baixo (voz grave), a tessitura acarreta acréscimo de significação do discurso (cf. MASSINI-CAGLIARI, 2006, p. 120). Quanto à sua função pragmática, Figueiredo (2006, p. 119) acrescenta que a tessitura, em níveis mais graves, indica mais razão, autoridade; em níveis mais agudos, indica contestação, exaltação; e ainda a tessitura bem grave ou bem aguda indica estratégia para não ser interrompido. Os níveis mais agudos de tessitura podem indicar contestação e, muitas vezes, nessa característica da voz verificamos uma atitude irônica do falante. Além disso, a tessitura pode aparecer aliada a outro elemento prosódico, o volume. Cagliari (1992, p. 146) caracteriza a atitude do falante que profere seu discurso em alto volume de voz como uma tentativa de modular expressões súbitas de dor, de perigo ou de grande perturbação. A perturbação também pode ser um veículo para o enunciado irônico. Tais considerações podem ser ilustradas por este excerto de nosso corpus: Criatividade é coisa de pobre. Aquela pessoa é muito criativa, pobre. A tua filha tá no balé há três anos. Você assiste o balé, ela

99 tá na quinta fila. Tira a menina do balé (LUDWIG, 2007, 14 06, grifos nossos). O tratamento acústico do excerto acima foi realizado pelo Praat e está apresentado na Figura 2. Nela podemos perceber visualmente que o decréscimo do volume está evidenciado na linha de cima, a qual marca também a entoação descendente da palavra pobre que, na primeira sílaba (que é a tônica), recebe um volume mais alto (representado no pico) e, na segunda, sofre uma queda drástica, o que é percebido no rebaixe da linha. No espectrograma, esse dado sonoro é mostrado na parte mais espessa da onda (que representa a sílaba tônica po- ) e a tessitura grave (mais baixa) está evidente na frequência linear dos espasmos que acompanham a segunda sílaba e são mais afinados. Como o gráfico da Figura 2 ilustra a tessitura, é imprescindível salientar que a linha de baixo é a que a representa e está traçada rente ao limite inferior da intensidade sonora 50 decibéis, o que revela o som dessa palavra quase inaudível. Figura 2. Tessitura. Ainda sobre a análise do volume, podemos destacar que, no enunciado Criatividade é coisa de pobre. Aquela pessoa é muito criativa, pobre, a palavra criativa é pronunciada em volume mais alto e tessitura mais aguda que a palavra pobre, percebida em tom bem

100 mais baixo e tessitura mais grave. A função é pragmática: salientar que a força da palavra criativa deve ser desvalorizada, porque o orador atribui a ela sentido negativo: pobre. Assim, ele sugere a seu auditório o não emprego dessa palavra e oferece como alternativa, na sequência, a sua substituição por inovação. Em outros momentos da palestra, Waldez faz o mesmo: baixa drasticamente o volume da palavra pobre, sempre que ela é posposta à palavra criatividade. Aliada ao volume descendente, a tessitura também é mais grave na palavra pobre. Esse destaque acontece porque há, por parte do rétor, a manipulação da palavra criatividade na tentativa de perverter seu sentido e apresentar um significado não esperado pelo auditório, mas que está à mercê de sua argumentação. Ao definir criatividade, Waldez apresenta sua tese principal: a proposta de uso do termo inovação para sobrepor o termo criatividade. Nessa proposta, manipulada linguisticamente por meio da monossemização do termo criatividade, a atitude de ironia do falante se evidencia graças à sua modulação de voz. A PROSÓDIA COMO RECURSO RETÓRICO Segundo Figueiredo (2006), seja qual for a forma de discurso da modalidade oral, um estudo mais detalhado da função pragmática dos recursos prosódicos pode evidenciar alguns aspectos persuasivos da linguagem. Sabemos que um texto persuasivo e dialético é o que caracteriza um discurso retórico. Muito se tem falado da revitalização da retórica em nossos dias. Sistematizada por Aristóteles, a retórica ressurgiu como nova retórica recentemente no texto de Perelman e Olbretchs-Tyteca (2005). Em seu tratado, os autores discutem a relação entre Retórica e Prosódia ao tecerem algumas considerações acerca do papel da voz na pronunciação do discurso. Em sua designação, o termo prosódia é utilizado para se referir à voz como recurso persuasivo.

101 Quanto à função pragmática desse recurso, a interseção entre Prosódia e Retórica está no pressuposto de que argumentar é mover o outro em busca de adesão. E se o auditório é o conjunto de pessoas que queremos convencer e persuadir (ABREU, 2002, p. 41), é de fato, ao auditório que cabe o papel principal para determinar a qualidade da argumentação e o comportamento dos oradores (PERELMAN; OLBRETCHS-TYTECA, 2005, p. 27). Dessa forma, para a eficácia da enunciação, o orador deve ajustar seu discurso aos ouvintes. Diante disso, ele precisa fazer escolhas. Uma delas, a Prosódia, corrobora sua argumentação porque pode ser utilizada para reforçar sua intenção por meio de sua modulação de voz. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pudemos verificar neste estudo que o modo como o palestrante Waldez Ludwig fala no papel de orador durante os excertos da palestra analisada representa uma qualidade de voz que lhe é própria constantemente. Contudo, para a inscrição das vozes dos personagens de suas histórias, ilustrações e exemplos durante o discurso, aquela maneira de falar é apenas um registro momentâneo. Ela está predominantemente marcada pela incidência da duração e pela mudança de tessitura, modulações de voz utilizadas para conferir caráter irônico à sua fala e, assim, prestar serviço ao modo de argumentar da persuasão. Desse modo, a análise aqui realizada teve o intuito de demonstrar a forma com que os elementos prosódicos podem ser utilizados para reforçar a intenção argumentativa do falante do discurso empresarial na palestra motivacional investigada. Os traços prosódicos confirmaram que esses elementos deixam à disposição dos falantes uma variedade maior de possibilidades de expressão. Além disso, os elementos prosódicos permitem ao ouvinte

102 perceber e construir julgamentos a respeito de traços da personalidade do orador. Convém lembrar que, quanto ao objetivo principal desta investigação a função pragmática da Prosódia, de acordo com Cagliari (1992, p. 138), a função dos suprassegmentos depende do significado a que eles estão servindo. Assim, de um modo geral, pode-se dizer que há um significado estrutural ( sintático ) e um significado interpretativo ( semântico ). A distinção entre ambos fica relativamente fácil, quando se define significado interpretativo como sendo tudo aquilo que traz consigo uma referência ao falante, ou seja, representa a atitude do falante. E, no que se refere ao uso da Prosódia como recurso retórico, Figueiredo (2006, p. 126) considera que todo estudo mais detalhado dos recursos prosódicos que aborda as funções linguísticas desses marcadores suprassegmentais revela as marcas persuasivas do discurso e da sedução através da linguagem. REFERÊNCIAS ABREU, A. S. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 5. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2002.. Breves considerações sobre a arte de argumentar. In: FI- GUEIREDO, M. F.; MENDONÇA, M. C.; ABRIATA, V. L. R. (Orgs.). Sentidos em movimento: identidade e argumentação. Franca: Ed. Unifran, 2008. p. 63-90. (Coleção Mestrado em Linguística 3). ARISTÓTELES. Retórica. Tradução de Marcelo Silvano Madeira. São Paulo: Rideel, 2007. CAGLIARI, L. C. Prosódia: algumas funções dos supra-segmentos. Caderno de Estudos Linguísticos, Campinas, n. 23, p. 137-151, jul./ dez. 1992.

103 FIGUEIREDO, M. F. (originalmente publicado como BOLLELA, M. F. F. P.). A prosódia como instrumento de persuasão. In: LOU- ZADA, M. S. O.; NASCIMENTO, E. M. F. S.; OLIVEIRA, M. R. M. (Orgs.). Processos enunciativos em diferentes linguagens. Franca: Ed. Unifran, 2006. HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão 1.0. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. KLA. Educação empresarial. Disponível em: <http://www.kla.com. br>. Acesso em: 16 maio 2008. LOPES-ROSSI, M. A. G. Procedimentos para estudo de gêneros discursivos da escrita. Revista Intercâmbio, São Paulo, LAEL/PUC- -SP, v. XV, 2006. LUDWIG, W. Como criar uma empresa de alta performance. São Paulo: KLA, 2007. 1 DVD (60 min.) son., color. Produzido por KLA Eventos e Turismo. LUDWIG, W. Site oficial Waldez Ludwig. Disponível em: <http:// www.ludwig.com.br>. Acesso em: 14 maio 2008. MASSINI-CAGLIARI, G.; CAGLIARI, L. C. Fonética. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. v. 1. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2006. Cap. 3, p. 105-146. MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. v. 2. São Paulo: Cortez, 2001. PERELMAN, C.; OLBRETCHS-TYTECA, L. Tratado da argumentação: a nova retórica. Tradução de Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. REBOUL, O. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. Introdução à retórica. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

104 RODRIGUES, R. F. L. Palestras motivacionais para o segmento empresarial: um estudo dos aspectos retóricos com destaque à prosódia. 2008. 201p. Dissertação (Mestrado em Linguística) Universidade de Franca, Franca. SCARPA, E. M. (Org.). Estudos de prosódia. Campinas: Unicamp, 1999.