Pró-Reitoria de Graduação Curso: Educação Física Trabalho de Conclusão de curso EXPRESSÃO CORPORAL/DANÇA PARA AUTISTAS UM ESTUDO DE CASO

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Transcrição:

1 am Pró-Reitoria de Graduação Curso: Educação Física Trabalho de Conclusão de curso Brasília - DF 2010 Brasília - DF 2010 lencarla Gonçalves de Miranda Orientador: Ronaldo Rodrigues da Silva Ph.D. Prática de Ensino I EXPRESSÃO CORPORAL/DANÇA PARA AUTISTAS UM ESTUDO DE CASO Brasília - DF 2010 Autora: Meicar Carvalho Campos Orientador: Prof. MSc. Elvio Marcos Boato Brasília - DF 2010 urso Brasília - DF 2011

2 MEICAR CARVALHO CAMPOS EXPRESSÃO CORPORAL/DANÇA PARA AUTISTAS: UM ESTUDO DE CASO Artigo apresentado ao curso de graduação em Educação Física, da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Educação Física. Orientador: Prof. Msc. Elvio Marcos Boato Brasília 2011

3 Artigo de autoria de Meicar Carvalho Campos, intitulado EXPRESSÃO CORPORAL/DANÇA PARA AUTISTAS: UM ESTUDO DE CASO apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharelado em Educação física da Universidade Católica de Brasília em 18 de Junho de 2011, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: Professor Msc. Elvio Marcos Boato Orientador Professora Dra.Tânia Mara Vieira Sampaio. Avaliadora Brasília 2011

4 MEICAR CARVALHO CAMPOS EXPRESSÃO CORPORAL/DANÇA PARA AUTISTAS: UM ESTUDO DE CASO RESUMO O objetivo desse estudo foi verificar em que medida o trabalho sistematizado em Educação Física, por meio da expressão corporal e da dança, realizado na oficina Corpo e Expressão do projeto de extensão universitária Espaço Com-vivências do curso de Educação Física da Universidade Católica de Brasília pode contribuir com o desenvolvimento da expressividade do autista, melhorando sua comunicação com o meio. Para a realização do estudo optou-se pela abordagem qualitativa de pesquisa sendo adotado o Estudo de Caso como meio para coleta de dados. O Sujeito da Pesquisa foi um aluno do referido projeto, que apresenta quadro de autismo. Concluiu-se nesse estudo que cabe ao Professor ajudar o aluno autista a trilhar os caminhos do aprendizado a partir da ação espontânea e da comunicação não verbal, resgatando sua história pessoal e reconstruindo sua estrutura como sujeito. Portanto, considerando os resultados obtidos pelo aluno analisado no presente trabalho, é certo afirmar que, por meio das atividades de dança e de expressão corporal apresentadas nesse estudo, pode-se construir uma transformação, que cria na intervenção com o autista, o espaço, o corpo os gestos e as imagens, possibilitando a esse aluno expressar-se corporalmente e assim inserirse na escola e no meio social. Palavra chave: Autismo, Dança, Expressão corporal. INTRODUÇÃO Os Transtornos Globais do Desenvolvimento ou Transtornos do Espectro de Autismo - TGD se referem a um grupo de desordens do neurodesenvolvimento que englobam os seguintes transtornos: (a) Transtorno Autista; (b) Transtorno de Asperger; (c) Transtorno Desintegrativo da Infância; (d) Transtorno de Rett; e Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Sem Outra Especificação. (SILVA, 2009).

5 Apesar de cada uma destas desordens apresentarem suas características particulares, elas são agrupadas sob o rótulo de TGDs por compartilharem comprometimentos em 3 áreas específicas de funcionamento: (a) habilidades sociais; (b) habilidades comunicativas e (c) presença de comportamentos, interesses e/ou atividades restritos, repetitivos e estereotipados (WORLD HEALTH ORGANIZATION [WHO], 1992). Esses transtornos geralmente se manifestam nos primeiros anos de vida e ainda não se conhece uma causa para o aparecimento dos mesmos. Nesse trabalho, abordaremos apenas o Autismo, sendo que as características apresentadas no mesmo se manifestam também nos outros transtornos citados acima, com maior ou menor intensidade. O Autismo é um transtorno de desenvolvimento que não pode ser definido simplesmente como uma forma de retardo mental, embora muitos quadros de autismo apresentem inteligência abaixo da média. Ele se manifesta de diferentes formas, variando do mais alto ao mais leve comprometimento. A inteligência da criança autista é variável; admitese, porém, que a maioria delas (70% a 75%) apresenta algum grau de deficiência intelectual. Schwartzman (1994) ressalta que as meninas autistas apresentam, em geral, graus mais severos de retardo mental que os meninos. Sua epidemiologia corresponde a aproximadamente 1 a 5 casos em cada 10.000 crianças, numa proporção de 2 a 3 homens para 1 mulher (VOLKMAR, 1996). Entre as dificuldades que o autista apresenta está a forma de brincar que, conforme Schwartzman (1994), demonstra falta de criatividade, utilizando os brinquedos de forma peculiar e às vezes, bizarra. É freqüente explorarem os objetos e brinquedos cheirando-os e levando-os à boca. Podem entreter-se durante várias horas seguidas, passando a mão por uma superfície qualquer, ou repetindo a mesma tarefa, como montar um mesmo quebra cabeça, ouvindo a mesma música ou vendo o mesmo filme. Os indivíduos autistas utilizam gestos, porém não de forma ajustada às diferentes situações sociais (LAMPREIA 2004), mas para acompanhar e para substituir o discurso, entretanto nunca para complementá-lo. Esta utilização limitada dos gestos é um dos sinais de inabilidade de crianças autistas para o estabelecimento funcional e direcional da comunicação e no desenvolvimento de idéias (PUGLISI, 2005). Segundo Sacks (1995), há no autismo um sério comprometimento da comunicação verbal, o que faz supor que é possível compensar a expressão por meio do corpo. Porém, a linguagem verbal é, sem dúvida, importante para a representação do mundo e para a constituição do indivíduo como ser social, mas não é o único fator para o desenvolvimento do ser humano. Para o autor é preciso dar ênfase às outras formas de comunicação, como por

6 exemplo, uma comunicação menos estereotipada e mais ampla, por meio de gestos, dando um sentido e um significado na comunicação com indivíduos autistas. Sendo assim, é preciso estimular o que o autista tem para nos mostrar com sua linguagem corporal, prestando atenção à maneira de se mover, de relacionar-se com o mundo por meio de sua linguagem corporal. O objetivo não está direcionado a diagnosticar as possíveis inabilidades psicomotrizes que a criança pode evidenciar mas sim que as habilidades corporais se desenvolvam de forma espontânea, criando situações para que a criança se exteriorize. Consequentemente as limitações corporais são vistas não apenas como comprometimentos funcionais, mas decorrentes da falta de vivências na realização de determinadas tarefas (NEGRINE & MACHADO, 1999). Desta forma, abrir espaço para o brincar é muito importante para o desenvolvimento emocional, cognitivo e da autonomia, além de trabalhar essencialmente a interação social que é um dos três maiores desafios do autismo. Com relação à Psicomotricidade, a criança, em seu desenvolvimento, precisa adquirir uma organização de si, do espaço e do tempo e, de acordo com Lapierre (2002), precisa construir a sua unidade corporal, alicerce fundamental para a sua comunicação com o outro. Em função disso, para exploração do meio, do tempo e do espaço, a partir da ação espontânea e da comunicação não verbal, introduzem-se o resgate da sua história pessoal e a reconstrução de sua estrutura como sujeito. Em função das questões levantadas, surge uma dúvida: se no autista existe comprometimentos em 3 áreas específicas de funcionamento, como a educação física, especificamente nas aulas de expressão corporal/dança pode auxiliá-lo a minimizar seus problemas na comunicação e consequentemente, na sua socialização? O trabalho de expressão corporal e dança na oficina corpo e expressão do projeto de extensão universitária Espaço Com-vivências do curso de Educação Física da Universidade Católica de Brasília, visa ao desenvolvimento da corporeidade, tentando buscar a consciência da imagem do corpo, visto que o indivíduo precisa existir e constituir a sua unidade corporal. Para tanto, a corporeidade precisa ser significada, estimulando as trocas do sujeito com o meio, pois só se pode interagir com este meio quando se é visto por ele, quando se recebe reações deste, como, por exemplo, em jogos concretos, em jogos de aproximação e de afastamento etc. (LÓPEZ, 2000). Para que a criança autista desenvolva sua corporeidade e sua autonomia, tanto o corpo quanto o mundo precisam ser construídos. Essa construção nasce no corpo a partir dos estímulos recebidos, e é a estruturação da imagem desse corpo e o ato de perceber-se e ser no mundo que envolve a consciência de algo. (LAPIERRE e AUCOUTURIER, 1984).

7 Nos estudos de Leboyer (1987) vê-se que os autistas realizam melhor as tarefas que exigem aptidões motoras, viso-espaciais e mnêmicas (memória), do que aquelas que exigem aptidões intelectuais ou verbais. O autor ressalta que alguns autistas atingem desempenho excepcional em domínios como a música, a mecânica ou a matemática o que pode apontar para necessidade de desenvolvimento de trabalhos que busquem o resgate de sua corporeidade por meio da expressão corporal e dança. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho foi verificar em que medida o trabalho sistematizado em Educação Física, por meio da expressão corporal e da dança, realizado na oficina corpo e Expressão do projeto de extensão universitária Espaço Com-vivências do curso de Educação Física da Universidade Católica de Brasília pode contribuir com o desenvolvimento da expressividade do autista, melhorando sua comunicação com o meio. MATERIAIS E MÉTODO Abordagem de Pesquisa Para a realização desse estudo optou-se pela abordagem qualitativa de pesquisa. Para Goldenberg (2005), os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa em pesquisa se opõem ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, baseado no modelo de estudo das ciências da natureza. Para Dilthaey (citado por GOLDENBERG, 2005) os fatos sociais não são suscetíveis de quantificação, já que cada um deles tem um sentido próprio, diferente dos demais, e isso torna necessário que cada caso concreto seja compreendido em sua singularidade. Portanto, as ciências sociais devem se preocupar com a compreensão de casos particulares e não com a formulação de leis generalizantes, como fazem as ciências naturais. Goldenberg (2005), citando Weber, afirma que o principal interesse da ciência social é o comportamento significativo dos indivíduos engajados na ação social, ou seja, o comportamento ao qual os indivíduos agregam significado considerando o comportamento de outros indivíduos. Nesse sentido, o objetivo do pesquisador é compreender a vida do indivíduo dentro da própria sociedade em que vive. Também é importante esclarecer que, segundo Minayo e Gomes (2007), a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado, ou seja, ela trabalha com

8 o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Para os autores, o universo da produção humana que pode ser resumido no mundo das relações, das representações e da intencionalidade e é objeto da pesquisa qualitativa dificilmente pode ser traduzido em números e indicadores quantitativos. Outro ponto relevante é o que mostra González Rey (1999) quando afirma que a pesquisa qualitativa também envolve a imersão do pesquisador no campo de pesquisa, considerando este como o cenário social em que tem lugar o fenômeno estudado em todo o conjunto de elementos que o constitui, e que, por sua vez, está constituído por ele. O pesquisador vai construindo, de forma progressiva e sem seguir nenhum outro critério que não seja o de sua própria reflexão teórica, os distintos elementos relevantes que irão se configurar no modelo do problema estudado. Método Para a realização da pesquisa foi adotado o Estudo de Caso que, para Goldenberg (2005) vem de uma tradição de pesquisa médica e psicológica e que se refere a uma análise detalhada de um caso individual que explica a dinâmica e a patologia de uma doença dada. Este método supõe que se pode adquirir conhecimento do fenômeno estudado a partir da exploração intensa de um único caso. O estudo de caso não é uma técnica específica, mas uma análise holística, a mais completa possível, que considera a unidade social estudada como um todo, seja um individuo, uma família, uma instituição ou uma comunidade, com o objetivo de compreendê-los em seus próprios termos. Para Goldenber (2005), o estudo de caso reúne o maior número de informações detalhadas, por meio de diferentes técnicas de pesquisa, com o objetivo de aprender a totalidade de uma situação e descrever a complexidade de um caso concreto. Por meio de um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado o estudo de caso possibilita a penetração na realidade social, não conseguida pela análise estatística. Sujeito O Sujeito da Pesquisa foi um aluno da Oficina Corpo e Expressão, do Espaço Comvivências, parte do projeto de extensão UNIVER-cidades do curso de Educação Física da Universidade Católica de Brasília, cujo quadro é descrito abaixo:

9 Diagnostico: Autismo Data de Nascimento: 06 de setembro de 2001. Data de acolhimento no Projeto Espaço Com-vivências: 13 de fevereiro de 2010. Instrumento de coleta de dados Foi feita uma análise documental da ficha de inscrição no Projeto, acompanhamento das análises do grupo de estudo do Projeto e os relatórios das aulas de expressão corporal e dança. Análise dos dados A partir do estudo dos documentos citados foi feito um estudo das variações do comportamento do aluno apresentados a partir das aulas no projeto de expressão corporal e dança, no período entre Setembro de 2010 a Abril de 2011, e feita uma análise para verificar se as modificações foram devidas à metodologia aplicada nas aulas de expressão corporal e dança do Espaço Com-vivências. Relatório das aulas observadas e dos estudos de caso A Coleta dos dados foi realizada em três momentos diferentes: Observação em sala de aula (oficina), Estudo de caso (coordenação), Apresentação do espetáculo Vale Encantado (Teatro UCB), conforme tabela abaixo. Foi adotada a seguinte Sigla: E. S. V. para substituir o nome do aluno. Apesar das observações de aulas terem sido realizadas no período de 04 de outubro de 2010 a 17 de março de 2011, foram selecionadas 4 aulas, cujos relatórios são apresentados nesse estudo. Tais relatórios foram selecionados em função dos eventos significativos, com relação ao comportamento do aluno, que trouxeram dados importantes para o estudo de caso em questão. Atividade Data Local Envolvidos Estudo de caso I 28/09/2010 G012 Professores do projeto coordenadores e discentes e bolsistas de IC e IE

10 Observação de aula 04/10/2010 a 17/03/2011 CIAM 02 Espetáculo Vale Auditório 26/11/2010 Encantado Central Estudo de caso II 05/04/2011 G012 Professora, aluno e bolsista de IC Professores do Projeto, coordenadores, todos os alunos do projeto, pais dos alunos, discentes, bolsistas de IC e IE Professores do projeto coordenadores e discentes e bolsistas de IC e IE ESTUDO DE CASO I Data: 28 de setembro de 2010 Relatório da avaliação Psiquiátrica e interdisciplinar Quadro Inicial do Aluno: Criança com história de problemas neurológicos, desde o nascimento em função de anóxia. Apresenta dificuldades nas áreas motora e cognitiva, sua linguagem apresenta vocabulário vasto, porém, em sua comunicação, utiliza-se de frases simples ou apenas palavras-chave. Não se utiliza do jogo de faz-de-conta apesar de utilizar-se funcionalmente dos brinquedos. Não estabelece trocas com outras crianças por muito tempo. Também não se detém muito em determinada atividade, é agitado e impulsivo e, por vezes, agressivo. Seus interesses são restritos e repetitivos. É egocêntrico, não cede fácil, tem dificuldade para respeitar limites. O aluno freqüentou o Centro de Atendimento Psicossocial da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, nas áreas de terapia ocupacional e psiquiatria, apresentando progresso importante com redução de agitação e agressividade, maior atenção concentração, linguagem útil mais eficiente, comportamento mais adequado. Principais problemas apresentados: gritos, agressão física, dificuldade de socialização, dificuldade de compreender limites. Nas primeiras aulas de expressão corporal e dança ele não respondia aos comandos da professora. Fez-se uma tentativa de aula com o teclado que a mãe trouxe e, função desse instrumento ele fez a aula com a professora. Duas aulas após ele participou da aula respondendo aos comandos da professora. Na terceira aula ele não respondeu mais aos comandos. É necessário identificar o que ocorre antes do aluno ir para a aula ou durante a mesma. Identificou-se que ele é controlador e os pais cedem a alguns caprichos como dormir na cama do casal agarrado com a Mãe. Para o aluno a música é um excelente meio de estimulação, pois ele faz associação de um termo de uma música com

11 outras músicas. Faz comentários contextualizados, é curioso e observador, apresentando baixa tolerância à frustração o que dificulta o atendimento. O aluno em questão aceita determinados comandos e de forma inexplicável, em alguns momentos, os recusa. Metas estabelecidas para seu atendimento Trabalhar a independência fazendo com que ele atenda aos comandos como subir, descer, entrar, sair etc. Ampliar o tempo de interesse na atividade proposta. Buscar a colaboração da família no sentido de trabalhar a independência, fazendo com que ele tenha mais autonomia. Criar situações que visem ampliar o nível de tolerância às frustrações, tanto em sala quanto em casa no convívio com a família. No fim dos atendimentos fazer anotações das crises que ocorreram na aula e em quais momentos estas sucedem. RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO DE AULA Relatório da 1ª aula Dia: 04/10/10 Local: Universidade Católica de Brasília CIAM 2 O aluno estava muito agitado e gritando, a professora o segurou pela mão, ele queria morde-la. A professora o abraçou e começou a cantar a música Emoções do Roberto Carlos, visto que a mãe já havia informado sobre seu gosto por essa música. Sentaram no chão e a professora propôs que respirassem profundamente, que movimentassem a cabeça para um lado e para o outro, ele fez 3 vezes e começou a gritar. A professora argumentou que se ele não parasse de gritar iria para o cantinho da disciplina, (conduta sugerida pela mãe que foi orientada pela equipe multidisciplinar que o atende, e que estabeleceu isso como rotina diante de crises nervosas). Cantaram a música do Popeye fazendo gestos com os braços, na quarta vez ele cantou a música e continuou gritando. Diante desse comportamento, a professora o levou para o cantinho da disciplina, onde ficou menos de um minuto. Cantaram a música da borboletinha, com as pernas flexionadas e a parte plantar dos pés se tocando indo para a esquerda e para a direita. Cantaram a música fui a feira comprar... fazendo movimentos

12 com o olho, nariz, cotovelo, e ele fez um pouco dos movimentos. A professora pediu para ele cantar a música do gato, ele cantou e fez os movimentos com as mãos batendo palmas e batendo na mão da Professora. Cantaram a música do relógio o Tic TAC de Oswaldo Montenegro (com som), ele acompanhou os movimentos com a cabeça, ombros e perna, depois deitou, levantou e continuou com o movimento das mãos. A Professora pediu para ele cantar a música e logo ele associou a outra música de relógio e a cantou. Depois do cantinho da disciplina ele não gritou mais, participando da aula durante 30 minutos. Relatório da 2ª aula Dia: 08/11/10 Local: Universidade Católica de Brasília CIAM 2 Devido a um feriado, o aluno ficou uma semana sem aula, o que o deixou muito agitado e ansioso. A sala estava sem uma parte do espelho que é colado à parede, o que pode ter agravado seu estado emocional, visto que houve mudança no ambiente. Quando o aluno chegou, foi até a parede onde ficava o espelho, procurando e alisando a mesma. Iniciou a aula. Ele bateu na cabeça da professora que o abraçou e o lembrou do cantinho da disciplina, visto que o mesmo estava gritando. Ao comando da professora: de subir e descer os braços, ele acompanhou. Cantaram a música da canoa, balançando o corpo de um lado para o outro em posição de borboleta. Aos 8 minutos de aula chegou outro aluno que também tem autismo, e mais uma estagiária. Cantaram novamente a música da canoa com o aluno que havia chegado. Nesse momento, o aluno se comportou de forma tranqüila e, sem reclamar da chegada de outro aluno e de uma estagiária, cantou com eles a música eu com as quatro. Nesse momento, chegou mais uma estagiária e a Professora ajudou o outro aluno a fazer os movimentos sugeridos na música com os braços. Ao andarem pela sala o aluno observado, separou a mão do outro aluno da Professora, demonstrando ciúmes. A mesma sugeriu dar a mão para os dois, mas o outro aluno saiu correndo. O aluno observado viu a pesquisadora sentada com o caderno na mão a levantou para andar também. Todos andaram com a ponta dos pés, sem as mãos dadas, devagar, com passos pequenos, grandes e ele acompanhou a aula. Ao comando de mãos para cima, ele deitou no chão e ficou brincando colocando as pernas para cima e se olhando no espelho. A Professora o chamou por três vezes de longe e ele não atendeu. Sendo assim, ela foi até ele e o levantou pela mão. No final a professora colocou uma música e eles brincaram de roda abrindo e fechando a mesma. Fizeram o ensaio da participação no espetáculo que foi apresentado no dia 26 de novembro. Ele novamente tirou o

13 caderno da mão da pesquisadora, chamando-a para dançar. Após o relaxamento ele foi embora. Relatório do espetáculo Vale encantado Dia: 26/11/2010 Local: Universidade Católica de Brasília (Auditório do bloco central) Hora: início 10:00 O aluno ficou sob os cuidados do Professor de natação do projeto Espaço Comvivências, na área externa do auditório durante o início do espetáculo. Tal procedimento visou mantê-lo mais tranqüilo. Na hora dele entrar em cena, o professor o levou até a coxia, onde estavam todos os alunos concentrados. A pesquisadora o recepcionou mas ele estava agitado e não queria colocar as asas nem as meias (figurino para a apresentação, pois ele representaria um inseto mágico). O professor conversou com ele tentando distraí-lo, o que funcionou por alguns instantes. Logo depois ele queria andar e, para acalmá-lo, ele foi acompanhado por um tempo nessa tarefa. No camarim ele localizou o espelho e ficou se olhando por algum tempo e se aquietou. Em seguida, ele foi levado para junto dos outros alunos e começou a gritar sendo levado novamente para o camarim e como ele estava agitado foi segurado, mas mordeu a mão da estagiária que o segurava, começando a se debater e jogando o estojo de maquiagem no chão. O professor ficou conversando e brincando com ele, como se aquele fato não tivesse importância, uma vez que não foi intenção dele derrubar o estojo de maquiagem. Na hora de sua breve entrada no palco, ele estava muito agitado, o que impossibilitou que a mesma acontecesse. Porém, no final do espetáculo, entrou no palco junto com todos os outros alunos (no total, 82 alunos participaram do espetáculo de dança). O professor o acompanhou até a coxia e ele entrou com uma estagiária. Como a parte final do espetáculo acontecia com todos pulando, correndo, andando, girando pelo palco, como numa grande festa, ele entrou no clima, pulou e se comportou como se estivesse entendendo o que estava acontecendo e como se fizesse parte daquilo. No final do ato, todos tinham que deitar no chão e ficar em silêncio. Nesse momento, ele sentou na frente da estagiária e ficou quieto alguns instantes e logo queria arrancar as anteninhas e o figurino dos colegas que estavam ao lado. Na hora de fazer os agradecimentos ao público, ele foi até a frente do palco, de mãos dadas com a estagiária e se curvou, agradecendo e ficando mais alguns instantes no palco para ouvir a homenagem que foi feita para a coreógrafa do espetáculo. Posteriormente ele quis ir ao encontro da mãe, sendo conduzido até a escada, pois ele queria descer pelo palco.

14 Relatório da 3ª aula Dia: 03/03/11 Local: Universidade Católica de Brasília CIAM 2 Esse foi seu primeiro atendimentos após as férias de fim de ano. Ele chegou e foi direto pegar as bolas coloridas que estavam disponíveis na sala de aula. Foi sugerido que ele jogasse com a estagiária enquanto a professora conversava com sua mãe e ele aceitou a proposta. A professora o chamou para iniciar a aula e ele resistiu um pouco, pois queria ficar com as bolas. Sentou e deu um grito, porém aceitou começar o alongamento: o braço, cabeça, ombro, perna, gritou novamente na hora de fazer perna de borboleta e a professora pediu para ele cantar a música referente ao exercício que ele estava fazendo. Ele cantou muito rápido e a professora pediu para ele cantar devagar e ele gritou 2 vezes. Nesse momento, passou a cantar a música meu sininho, fazendo flexão de tornozelo dorsal e plantar. Por iniciativa própria, ele puxou a música motorista, motorista, olha a pista não é de salsicha... Ele gosta da música Popyer (popyer foi à feira...) que é uma brincadeira cantada batendo as mãos com o companheiro no caso ele e a professora. No fim da música ele bateu as duas mãos no rosto da professora o que era para fazer nas mãos dela, ela o corrigiu dizendo que não podia bater e fizeram novamente. Ele puxou uma música comprida e a cantou toda. Após esse fato, ele foi pegar as bolas, uma por uma, para guardar a pedido da Professora. Ficaram com a bola azul e brincaram de jogar um para o outro, agora quicando no chão e pegando. A pedido da professora outra aluna entrou na brincadeira e ele jogou a bola para ela. Ele gostou da brincadeira e com 3 bolas, cada um jogava para o outro. Num momento, ele jogou uma bola para o alto e a Professora insistiu que ele jogasse para a colega. Porém ele não respondeu, só jogando a bola para o alto. Ele chamou pela estagiária, que foi jogar também, interagindo no jogo com as três interlocutoras. Em frente ao espelho fizeram um relaxamento. Obs: A professora observou que na volta das férias ele perdeu um pouco da autonomia adquirida nas atividades do ano anterior. Relatório da 4ª aula Dia: 17/03/11 Local: Universidade Católica de Brasília CIAM 4 Nessa aula o atendimento do aluno foi realizado pela estagiária. Ele chegou tranqüilo, entrou na sala e depois saiu ao encontro da mãe que pediu que ele entrasse e fizesse a aula.

15 Ele voltou e gritou algumas vezes, aceitou bem os comandos. Foi colocado um cd do cantor Toquinho, direcionado para crianças e ele cantou toda a música Bê-a bá, pulando e cantando e, no fim da música, ele pediu que a mesma fosse repetida. Em seguida, ficaram, ele e a estagiária, andando pela sala um de frente para o outro, sendo que ele tentava pisar no pé da estagiária e, por vezes, a estagiária pisava no dele. Nesses momentos ele gritava como se tivesse perdido um jogo e tentava pisar no pé da estagiária. Ele ficou puxando o short da estagiária e levantando sua blusa. Na terceira vez que fez isso foi perguntado porque ele o fazia, mas ele não respondeu. Quando perguntado se podia puxar o short da professora ele respondeu que não. Nessa aula ele ficou bem à vontade para fazer os movimentos que ele quisesse e, nos momentos em que havia música ele pulou bastante e cantou gritando em voz alta. Ao final da aula ele disse que estava com preguiça e, em função disso, foram usados dois colchonetes, sendo que, em vez de deitarem, ficaram pulando de um para o outro. Em seguida sentaram e fizeram a atividade da borboleta com as pernas flexionadas, alongando as pernas. Por fim a estagiária deitou e fez movimentos estimulando para que ele também se deitasse. Ele não conseguiu relaxar. ESTUDO DE CASO II Data: 05 de abril de 2011 Aspectos Cognitivos: Tem apresentado características de simbolização em brincadeiras na piscina. Tem uma capacidade cognitiva muito boa. Dificuldades: gritos e agressões. Aspectos Sociais: Dificuldade de relacionar com os pares, mais tem se saído bem com outros adultos nos atendimentos, estabelecendo relações corporais e verbais. Dificuldade de suportar frustrações, que geram quadros de agressividade. A participação e compromisso da família são pontos de destaques. Aspectos comportamentais: Em algumas aulas repete palavrões sem parar. A família tem trabalhado esse comportamento com reforços e punições. Na piscina tem evoluído na propulsão de pernas, deslize. Também tem experimentado mais o óculos de natação e feito rápidas imersões. Ainda fica afoito após cada mergulho e costuma tirar óculos e touca e jogar longe. É capaz de realizar as entradas e saídas de forma independente. (atingindo aqui o objetivo estabelecido no primeiro estudo de caso dele). Os comportamentos têm sido estimulados com cócegas no pescoço e com a brincadeira de surfar com uma prancha. Por vezes se mostra mais agitado, porém na piscina, consegue se acalmar. Qualquer coisa o tira do

16 eixo e ainda não se conseguiu identificar o que o deixa assim, (se no percurso de casa, se em casa, na escola...) Tem um bom esquema corporal sabe identificar todas as partes do corpo. Aspecto da comunicação: A música ainda tem sido utilizada para a comunicação, por meio de paródias. Também tem demonstrado compreender bem aos comandos. Por meio da música se consegue estabelecer a comunicação com ele. Metas a serem atingidas no trabalho Autonomia dos movimentos Socializá-lo com outras crianças. Continuar trabalhando a independência dele gradativamente. Criar novas situações que visem ampliar o nível de tolerância as frustrações, tanto em sala quanto em família. Insistir nas atividades buscando aumentar seu tempo de interesse nas mesmas. No fim dos atendimentos faremos anotações das crises que ocorreram na aula e em quais momentos. Discussão Para análise desse estudo de caso nos pautamos em diferentes autores como: Schwartzman (1995), Lapierre (1984), Duarte, (1983), Mantoan (1997), buscando compreender as ações e comportamentos do aluno diante dos estímulos oferecidos pela professora, bem como, traçar uma linha de pensamento e ação que permita uma atuação de qualidade junto ao aluno com o espectro do autismo. Abordaremos nesse estudo, a questão da linguagem. Entendemos que embora a palavra seja uma representação da consciência humana, trataremos aqui não da linguagem falada e sim da linguagem expressada por meio do corpo, mais especificamente trataremos da comunicação do indivíduo autista. Esse estudo visa estimular e valorizar o contato do corpo com o movimento, utilizando-o como forma de comunicação, uma vez que compreendemos a dificuldade de verbalização do indivíduo em questão, o que consequentemente dificulta a sua socialização. As aulas da oficina Corpo e Expressão têm a proposta de ser um espaço lúdico, onde os alunos experimentam o seu corpo, através de atividades ligadas a arte. Busca oferecer aos alunos momentos de prazer, de auto-percepção, proporcionando uma liberdade de movimento

17 e de expressividade. Os alunos recebem estímulos para aumentar suas potencialidades, como observamos no espetáculo apresentado, onde todos se expressavam e onde havia espaço para que o aluno tivesse liberdade de se movimentar de acordo com suas vontades. O aluno estudado nesse trabalho pode se comunicar verbalmente e com movimentos por meio da sua expressão corporal. O que se pode observar quando, depois de se mostrar tão alheio durante o espetáculo, ao final ele foi a frente e agradeceu as palmas, demonstrando que entendeu o que estava acontecendo. A proposta da oficina corpo e expressão parte das potencialidades que o aluno trás e não das dificuldades ou limitações que ele apresenta. Portanto, as aulas foram realizadas com a proposta de trabalhar as especificidades do aluno e suas características. A professora utilizou mecanismos fazendo com que o aluno participasse da aula explorando suas capacidades e possibilidades gradativamente. Segundo relatos da professora o aluno em questão não demonstrava interesse nas atividades. A sala, os móveis, a professora, tudo lhe parecia estranho e ele rejeitava com gritos, arranhões e crises nervosas, não suportando ficar na sala por mais de 15 a 20 minutos. A professora experimentou trabalhar com um teclado, já que a música era seu único interesse. A experiência deu certo. Ele ficava na sala e começou a estabelecer vínculo afetivo com a professora. Assim, ela começou a brincadeira cantada popyer foi a feira, ele demonstrou interesse. Logo depois ela experimentou voltar a rotina da oficina de corpo e expressão, retirando o teclado e inserindo outras brincadeiras cantadas como: a canoa virou, meu sininho dentre outras. O aluno passou por processos de adaptação e readaptação, com férias, recesso e falta às aulas em virtude de contratempos da família, o que provocava quadros de instabilidade e ansiedade no aluno. Em um determinado período, devido a um feriado, ele ficou uma semana sem aula, o que o deixou muito agitado e ansioso. Isso se deve ao fato de que o indivíduo autista pode apresentar sofrimento acentuado com mudanças triviais no ambiente e insistência sem motivo em seguir rotina com detalhes precisos, conforme concebe Schwartzmann (1995). Outro momento em que isso ficou evidente, foi quando parte do espelho que fica na parede da sala de aula quebrou e teve que ser retirado. Esse fato agravou seu estado emocional. Quando o aluno chegou, foi até a parede onde ficava o espelho, ficou procurando e alisando a parede. Um dos objetivos estabelecidos pelos professores do projeto nos dois estudos de caso realizados durante o período em que realizou-se a pesquisa, foi o de buscar a autonomia nos movimentos do aluno e, nesse sentido, pode-se observar que na volta das férias ele perdeu um pouco dessa autonomia que já tinha sido adquirida nas aulas anteriores. Nesse sentido,

18 Mantoan (1997) afirma que é um grande desafio educar um autista, pois é necessário uma abordagem eficiente e adequada para que, mesmo de forma muito lenta, possa haver o desenvolvimento de suas capacidades. Conforme descrito em um dos relatórios de observação de aula, em uma aula, o aluno estava muito agitado e gritando. Quando a Professora chegou e segurou sua mão ele queria morde-la. Nesse momento, a professora o abraçou e começou a cantar. Com relação a esse fato, Kenyon citado por Jr. afirma que as respostas problemáticas tais como agressões, destruições do ambiente, autolesão, respostas estereotipadas etc., não devem ser reforçadas, o que exige uma habilidade e treino especial por parte do profissional. A professora não deu atenção para o ato de morder, mas chamou atenção para a música, mudando o foco do aluno e eliminando a atitude inadequada do mesmo.. Em outra aula, foi relatado que outra aluna entrou numa brincadeira com bola que estava sendo realizada e ele jogou a bola para ela. Ele gostou da brincadeira, porém, um pouco depois não quis mais jogar para a professora ou para a outra aluna, jogando a bola repetidas vezes para o alto. Sobre esse fato, é importante ressaltar que a criança, em seu desenvolvimento, precisa adquirir uma organização de si, do espaço e do tempo. Na visão psicomotora, e conforme citações de Bueno (1998) apoiadas em Franch (1990) e Lapierre (2004), a criança precisa construir a sua unidade corporal, alicerce para a sua comunicação com o outro, para a exploração do meio, do tempo e do espaço. A atividade executada comprova a grande dificuldade do aluno em estabelecer trocas com outras crianças, da mesma forma que comprova a necessidade de criar situações, espaço e tempo para que essas relações se concretizem. Outro aspecto analisado no atendimento ao aluno é que ele, em algumas situações apresentou resistência ao aprendizado, dificultando a aproximação da professora, ou seja quando solicitado para fazer algo que não gostava, não queria ou desconhecia, agiu como se não escutasse, não mantendo a atenção para tais atividades. Essa característica do autismo é reforçada por Boato (2004). Com relação à comunicação, Duarte (1993) afirma que, o trabalho com pessoas com deficiência deve partir das experiências vividas por elas, e que a linguagem pode ser gestual, corporal, do olhar, da fala, do grito, do silêncio, do riso da mímica, da proximidade, da distância, do carinho, do toque, dos sentimentos, dos afetos, dos objetos, mediadores. Assim sendo, o olhar do professor deve estar atento às diferentes formas de expressão, que podem se dar inclusive por meio de gritos, mordidas e até mesmo do silêncio.

19 Na quarta aula relatada nesse trabalho, o aluno cantou a música be-a-bá. Pulou e viveu aquele momento intensamente, o que nos remete aos estudos de Moura (2007, p. 246): Quando um som musical penetra no ouvido, desencadeia vibrações e reações internas que são capazes de gerar movimentos, solicitando desde a tonicidade do corpo até as elaborações estéticas, que imprimem textos e contextos, possíveis de ser interpretados. É importante enfatizar que os movimentos espontâneos não são explorados no dia-adia do aluno e, sendo assim, a sua participação em atividades que lhe proporcione o uso do corpo e que o conduzam a uma linguagem não verbal, estimula o seu desenvolvimento nos aspectos da comunicação e da expressão. Outro ponto importante, diz respeito às observações de reações extremas do aluno que variaram da agressão e do grito, às demonstrações de afeto, ainda que muito sutis. Tais atitudes podem ser compreendidas ao analisar o que afirma Bosa (2002, p.37) quando diz que conviver com o autismo é percorrer caminhos nem sempre equiparados com um mapa nas mãos, é falar e ouvir uma outra linguagem e criar oportunidades de troca e espaço para os nossos saberes e ignorância. Bosa e Baptista (2002) corroboram ainda com esse pensamento ao afirmarem que: Compreender o autismo exige uma constante aprendizagem, uma (re)visão contínua sobre nossas crenças, valores e conhecimentos sobre o mundo e, sobretudo, sobre nós mesmos. A respeito desse fato, é interessante a conduta do aluno em uma das aulas relatadas, visto que o mesmo, ao ser estimulado a cantar uma música, a associou a outra música conhecida e a cantou. É importante verificar, com relação a esse fato que, como já enfatizado na introdução desse trabalho, Leboyer (1987) mostra que os autistas realizam melhor as tarefas que exigem aptidões motoras, viso-espaciais e mnêmicas (memória), ressaltando que alguns autistas atingem desempenho excepcional em domínios como a música, fato bem explorado pela professora na realização das aulas. Outro fato interessante foi observado no dia do espetáculo, quando o aluno ficou muito agitado, pois lá se encontravam várias crianças e adultos num espaço pequeno, com barulho muito alto impedindo-o de ficar no meio de todos. Nesse momento, conforme descrito no relatório de observação do espetáculo, ele foi levado para um local mais quieto e sem a presença de outras pessoas. O autista tem problemas com relação a sons altos e muita agitação, conforme aponta Silva (2009). Porém, mesmo diante dessas dificuldades, há que se ressaltar a entrada do aluno, no final do espetáculo, no palco e sua participação, mesmo que pequena no espetáculo, inclusive agradecendo ao público pelos aplausos, o que pode apontar

20 para um processo de socialização a partir das aulas de expressão corporal e dança e da socialização proposta a partir do estímulo à expressão das capacidade e desejos do aluno, fato que precisa ser melhor pesquisado em outros estudos. Por fim, é interessante observar que os aspectos descritos no primeiro estudo de caso como necessidades a serem desenvolvidas nas aulas, foram em parte alcançados, pois o aluno mostrou, ao final do estudo, condições de apresentar independência e autonomia em várias atividades, ampliou seu interesse pelas atividades propostas nas aulas, inclusive se relacionando, em alguns momentos pontuais, com outros alunos e tendo uma considerável melhora no nível de tolerância às frustrações, inclusive seguindo voluntariamente várias orientações e sugestões da professora. Todos esses aspectos, apontam para a efetividade do trabalho proposto e para a necessidade, diante do trabalho com autistas, de respeitar sua forma momentânea de comunicação, tentando compreendê-la e oferecendo estímulos para que outras possibilidades possam ser desenvolvidas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar dos problemas referentes à comunicação e ao relacionamento com outras pessoas, apresentadas no primeiro relatório do caso realizado sobre o atendimento ao aluno estudado nesse artigo, verificou-se a partir das observações das atividades desenvolvidas pela oficina corpo e expressão que o mesmo mostrou-se gradativamente, a partir das aulas, de forma sociável, interagindo com os professores e ao seu modo respondendo aos estímulos de movimento, o que pode significar ganho na sua linguagem verbal. As atividades desenvolvidas na oficina em questão são parte de uma proposta que respeita a possibilidade de comunicação e expressão do aluno, partindo do que ele traz de experiência em sua bagagem e levando-o a um trabalho de descoberta, autoconhecimento e aprendizado de novas linguagens, melhorando sua imagem corporal. Foi notório o ganho na linguagem verbal do aluno, devido a sua participação nas aulas de expressão corporal e dança e em função das oportunidades apresentadas ao mesmo, onde ele pode se expressar livremente, em um ambiente acolhedor e afetivo que permitiu a ele gestos e expressão espontânea, soltos e livres de classificação como forma de comunicação. As tentativas de ensinar repetidas vezes é importante para que o aluno autista atinja a aprendizagem estabelecida, claro que respeitando sempre suas capacidades e seus limites.

21 Concluiu-se nesse estudo que cabe ao Professor ajudar o aluno autista a trilhar os caminhos do aprendizado a partir da ação espontânea e da comunicação não verbal, resgatando sua história pessoal e reconstruindo sua estrutura como sujeito. Portanto, considerando os resultados obtidos pelo aluno analisado no presente trabalho, é certo afirmar que por meio das atividades de dança e de expressão corporal apresentadas nesse estudo, pode-se construir uma transformação, que cria na intervenção com o autista, o espaço, o corpo os gestos e as imagens, possibilitando a esse aluno expressar-se corporalmente e assim inserirse na escola e no meio social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOATO, Elvio Marcos (org). Escola para todos: As necessidades educacionais especiais em sala de aula. Brasília: FACEB, 2004. BOSA, Cleonice; BAPTISTA, Cláudio Roberto. Autismo e Educação: atuais desafios. São Paulo: Artmed, 2002. BOSA, Cleonice. Autismo: atuais interpretações para antigas observações. In: BAPTISTA, Cláudio Roberto e BOSA, Cleonice. Autismo e educação: reflexões e propostas de intervenção. São Paulo: Artmed, 2002. DUARTE, R. M. P. Superdotados e Psicomotricidade: um resgate à unidade do ser. Petrópolis: Vozes, 1993. GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar, como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Record, 2005. JR. Walter Camargos. Transtornos Invasivos do desenvolvimento: 3º Milênio. PP. 148-154. LAMPREIA, C. Os enfoques cognitivista e desenvolvimentista no autismo: uma análise preliminar. Rev. Psicol. Reflex. Crít. 2004.

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