Por que salvar o lobo-guará?



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Transcrição:

MÓDULO DIDÁTICO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Por que salvar o lobo-guará? Habilidades básicas: Reconhecer a interdependência entre os seres vivos e entre estes e o ambiente físico; Identificar a relação do ser humano com outras espécies como parte da cultura; Reconhecer o valor da biodiversidade como parte do sistema de valores da sociedade; Perceber-se como co-responsável pela manutenção das condições de vida no planeta. Introdução A origem e o funcionamento do planeta Terra são mistérios que a humanidade busca desvendar. Apesar das pesquisas e teorias científicas a respeito do surgimento do universo e do nosso planeta, não podemos afirmar com toda certeza quando e como tudo aconteceu. Cientistas estimam que o planeta Terra tenha surgido há mais de 4 bilhões de anos e que o homem moderno, denominado Homo sapiens, surgiu há cerca de 200.000 anos. Surgido na África, o Homo sapiens teria chegado às Américas há cerca de 10.000 anos. Sobre o Brasil, comemoramos o início da história da nossa civilização que ocorreu há cerca de 500 anos, lembrando que antes da chegada dos portugueses nosso país era habitado por índios. Antes do aparecimento do ser humano na Terra, milhares de espécies vivas já existiam aqui. A história da vida na Terra começou muito antes de nosso surgimento e não sabemos se haverá um final. Há ainda muito a ser pesquisado e descoberto, tanto sobre a origem quanto sobre o funcionamento do nosso planeta. E quanto mais distante no tempo um fato ou fenômeno ocorre, maior a dificuldade de serem compreendidos por nós, habitantes recentes da Terra. No entanto, mesmo com tantos mistérios, já sabemos o suficiente para imaginarmos o que pode acontecer se nas nossas ações não considerarmos a Terra como uma grande casa onde cada habitante colabora para a sua manutenção, seja animal, vegetal ou outro ser vivo. Hoje, graças aos estudos científicos, temos milhares de espécies identificadas, mas acredita-se que a maior parte ainda está para ser descoberta (veja gráfico ao lado). Dentre as 200 nações do mundo atual, apenas 17 países possuem em seus territórios cerca de 70% da biodiversidade representada pelas espécies animais e vegetais hoje existentes. Somos hoje 5,8 bilhões de habitantes no planeta e chegaremos, a curto prazo, a oito bilhões. Os seres humanos estão ocupando cada vez mais espaço na Terra. Como resultado, nos próximos 30 anos, as atividades humanas poderão ser responsáveis pelo desaparecimento de cerca de 20% das espécies existentes. O Brasil é o campeão mundial em biodiversidade (veja o quadro dos 10 países que detêm a maior diversidade biológica do planeta. O Brasil possui 56 mil espécies, cerca 22% do total de 250 mil plantas existentes em todo o planeta).[2]

Conhecer para saber por que preservar A história relatada a seguir poderia acontecer em outros lugares do país ou do mundo. Ela vai nos ajudar a refletir sobre o funcionamento do planeta e as conseqüências das nossas atitudes quando ignoramos a Terra como uma grande casa que abriga milhares de habitantes, muitos ainda desconhecidos por nós, seres humanos.

Conhecendo o lobo-guará Nesse módulo não vamos falar apenas do lobo-guará, mas ele será o nosso personagem principal. Por isso, vamos apresentá-lo...

Projeto: Dossiê animal Parte I Realize uma pesquisa na região em que você mora: a. Quais são os animais e plantas mais representativos da região? Faça uma lista. b. O que você sabe sobre esses animais e plantas? Redija um texto com essas informações/características. c. Escolha uma espécie animal dentre aquelas que você identificou e faça uma ilustração. Desenhe também o ambiente onde o animal escolhido é encontrado. Uma casa chamada Terra Imagine uma casa onde cada pessoa tenha uma função: cozinhar, limpar, fazer compras, lavar a roupa, arrumar o quarto, estudar, trabalhar para receber o dinheiro que será usado na manutenção da casa, etc. Se alguma dessas funções deixar de ser executada, a família entrará em desequilíbrio, seja na própria organização da casa ou nas relações entre as pessoas. Isso mostra a dependência entre os indivíduos para que a casa funcione bem. Façamos uma comparação com as histórias que acabamos de ver. Elas também mostram como os habitantes da Terra são dependentes uns dos outros, sejam animais, plantas ou outros seres vivos, tais como os microrganismos. Assim, consideramos o planeta Terra como uma grande casa. Podemos conhecer melhor essa interdependência em outros módulos de Ciências. O módulo sobre Teia alimentar, por exemplo, traz informações e ilustrações que mostram que a matéria circula, ou seja, aquilo de que são feitos os organismos passa de um ser vivo para outro, através da cadeia alimentar e das reações químicas que ocorrem na atmosfera, nos solos e nos cursos d água. Por causa do conhecimento dessas relações entre os seres vivos e deles com o ambiente físico, mantendo o planeta em equilíbrio, cientistas chegaram a propor que a Terra fosse considerada um grande ser vivo. Assim, grandes alterações nas partes desse ser vivo poderiam pôr em risco a sua existência. Conhecida pelo nome Gaia, a teoria que defende essas idéias foi formulada por cientistas na década de 1970 e vem sendo discutida através dos anos. Vamos conhecê-la um pouco mais

Projeto: Dossiê animal - Parte II 1. 2. 3. Retome a ilustração que você fez na atividade anterior (Parte I). Procure em revistas figuras de animais que se relacionem de algum modo com a espécie que você escolheu. Inclua esses animais na ilustração. Descreva a relação que cada um desses animais tem com aquele que você escolheu. Por exemplo: serve como alimento; é o predador; compete por alimento; etc. Inclua na sua descrição a relação que o animal escolhido tem com os seres humanos. A teoria Gaia[4] Gaia é o nome de uma antiga deusa grega que simboliza a Terra viva. A teoria Gaia foi proposta por um cientista da NASA (Agência Espacial Americana), Lovelock, na década de 1970. Segundo ele, a Terra se comportava como um grande ser vivo e, por isso, o nome dado à teoria. Hoje, há outros nomes para essa teoria, como Geofisiologia, porque a discussão sobre a Terra viva é bastante polêmica. Muitos cientistas questionam a idéia da Terra como um ser vivo porque algumas características dos seres vivos não se aplicam a ela. No entanto, esse argumento começou a ser difundido porque os idealizadores da teoria perceberam que tudo o que não é considerado vivo na natureza - gases, rochas - interfere no perfeito funcionamento da Terra, assim como o bom funcionamento do nosso corpo, por exemplo, depende do desempenho das funções de cada órgão. Então, o que interessa para esse módulo são as contribuições que a Teoria Gaia pode dar para a compreensão sobre a relação que existe entre as condições do planeta e os seres vivos. Há uma relação muito íntima dos seres vivos com o ambiente, de modo indivisível. Isso quer dizer que os seres vivos modificam o ambiente e este, por sua vez, oferece as condições para a sobrevivência ou não das espécies. Os seres humanos e os outros seres vivos uma relação cultural A história da humanidade mostra muitas mudanças em vários aspectos. Por exemplo, o ser humano nem sempre se relacionou com a natureza da mesma maneira. É claro que o modo de ver o mundo depende do conhecimento que se tem a respeito dele, das necessidades que criamos e de outros aspectos como os valores culturais que mudam através dos tempos. A história ilustrada a seguir, foi baseada no livro O homem e o mundo natural [5], do escritor inglês, Keith Thomas, que mostra a relação do ser humano com a natureza, especialmente com animais e plantas, entre os séculos XVI e XIX. A descrição segue basicamente os costumes da Europa e de um período específico da história, mas serve também para conhecermos e avaliarmos as mudanças de atitudes de toda a humanidade através dos tempos. Conhecer essa história também poderá nos ajudar a responder a pergunta: Por que salvar os lobos-guará? Vamos à leitura... A visão tradicional era que o mundo fora criado para o bem do homem e as outras espécies deviam se subordinar a seus desejos e necessidades. O fim da ciência era devolver ao homem o domínio sobre a criação que ele perdera em parte com o pecado original. A motivação inicial para o estudo da história natural foi de teor prático e utilitário. O ocidente caracterizava-se por sua dependência dos recursos naturais, fosse para o trabalho, o alimento, o vestuário ou transporte. A botânica nasceu como uma tentativa de identificar os usos das plantas. Alguns autores distinguiam as plantas segundo o gosto, o cheiro, a comestibilidade e, acima de tudo, o seu valor medicinal, especialmente conforme a parte do corpo que pudessem curar.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia /commons /4/48/Michelangelo_Buonarroti_022.jpg http://ganhar-asas.blogspot.com /2009_04_01_archive.html http://blogs.gramado.rs.gov.br/saude/files /2009/12/fitoterapia.jpg Também entre os animais havia essencialmente três categorias aos pares: comestíveis e não-comestíveis; ferozes e mansos; úteis e inúteis. A primeira era a mais importante. Depois vieram a caça e a domesticação. O homem estava acima de todas as espécies, entre animais e anjos. Essa convicção definia o tratamento que se dava às outras formas de vida. No século XVIII, dizia-se que a verdadeira origem da sociedade humana estava na associação dos homens para se defenderem das feras. http://queiro.no.sapo.pt/caca.jpg Os filósofos ocidentais descreviam o homem como animal político; animal que ri; animal que fabrica seus utensílios; animal religioso e um animal que cozinha. A religião, sim, tornava os seres humanos muito diferentes dos animais. A alma, ausente nos animais, era imortal. Chegaram a afirmar que os animais não tinham sensações como a dor. Nesse tempo acostumado a um grande número de maravilhas mecânicas relógios de mesa e de bolso, bonecos automáticos acreditava-se que os animais também eram máquinas feitas por Deus.

A moral, a religião, a educação erudita, a civilidade tinham como objetivo elevar os homens acima dos animais. O manual da civilidade trazia boas maneiras à mesa, diferenciando os homens dos animais: não estale os lábios, como um cavalo, não engula a comida sem mastigá-la como um cegonha, não roa os ossos, como um cão, não lamba o prato, como um felino. No princípio da era moderna o valor negativo atribuído aos animais servia mais para exaltar a espécie humana. O homem atribuía aos animais os impulsos que mais temia em si mesmo a gula, a ferocidade, a sexualidade. Diziam bêbado como uma cabra. Mas quem já viu uma cabra bêbada? Esse pressuposto da superioridade humana foi sendo gradualmente minado, iniciando pelo desenvolvimento da história natural, o estudo científico dos animais e da vegetação. A classificação influenciava a forma de tratar as plantas e animais. Assim, havia um preconceito quanto a matar animais indispensáveis para o trabalho, a fim de usá-los como alimento, como os cavalos e os cães. O culto ao rosbife acompanhou bem de perto o declínio do boi como animal de trabalho. Também não podiam comer lebres, galos ou gansos, criaturas destinadas ao entretenimento. Havia uma aversão semelhante a comidas que guardassem demasiada semelhança com a carne humana, como os macacos e aquelas que se consideravam nascidos da putrefação: rãs, lesmas, cogumelos e ostras. http://cafehistoria.ning.com (modificado) As várias formas de classificação levaram os naturalistas a considerarem que havia uma escala de perfeição que subia do homem aos anjos e descia dele até os seres mais com menor grau de perfeição. Os graus de perfeição eram baseados na beleza, no caráter, na descendência e outros aspectos que, na verdade, eram importantes para a Assim, os animais feios mereciam menos respeito, aqueles considerados vis como a raposa mereciam a morte e os fracos também não deveriam sobreviver. SIM NÃO No início dos tempos modernos, ocorreu uma verdadeira revolução no conhecimento das plantas quando se deixou de descrevê-las por sua utilidade, abundância, dimensão, cheiro e cor, para se concentrar a atenção exclusivamente na disposição e na forma das partes da flor e da raiz.

sociedade humana. http://www.clkmaquinas.com.br/imagens /botanica.jpg Os botânicos do início do período moderno agrupavam as plantas de acordo com as suas características. Eles estavam interessados em conhecer o mundo natural como ele é e não através do que ele podia oferecer para o ser humano. Os animais não eram mais vistos como feios, pois havia curiosidade para estudar a função de cada parte do corpo. Assim, tudo era feito perfeitamente para cumprir a função a que se destinava. O estudo da história natural passou a ser um dos mais característicos passatempos da classe média do século XVIII. http://www.diaadia.pr.gov.br /tvpendrive/arquivos/file/imagens /6biologia/3comparacao.jpg http://c7.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/bc402651c /5425953_SWN42.png http://www.scielo.br/img/revistas /hcsm/v16n1/09f2.gif Nessa época, o trabalhador agrícola era considerado um conhecedor do mundo natural. A necessidade de conhecimento do meio circundante era e ainda é própria do ser humano. Os primeiros progressos da história natural, dos estudos sobre plantas e animais, deveram-se à sabedoria popular. Mas o saber popular ainda era muito voltado para a utilidade do mundo natural. Os cientistas passaram a substituir esse conhecimento pela investigação mais sistemática, especialmente por causa das crenças relacionadas ao mundo natural. Por exemplo, as pessoas comuns usavam partes de plantas na casa ou no corpo contra feitiços. Houve uma separação entre o saber popular e o saber erudito, apoiada por invenções como o microscópio que proporcionou a realização de experimentos que não seriam possíveis antes.

A natureza passou a ser estudada para ser compreendida, assim como a inserção do ser humano entre os elementos naturais passou a ser vista como algo a ser estudado... Projeto: Dossiê animal - Parte III Lembra-se do animal que você escolheu na Parte I? Então, vamos retomá-lo. Sua tarefa agora será responder as questões abaixo a respeito desse animal. Assim, você estará construindo a história dele e refletindo sobre a sua importância. a. Qual é a classificação atual desse animal? Para responder, procure em livros de Biologia ou pesquise na internet. b. Volte à história e leia os quadros 14 a 17. Como você classificaria o animal escolhido de acordo com a percepção das pessoas daquela época? c. Conheça um pouco da história do animal escolhido por você. Pesquise em livros, revistas e sites qual é a importância que esse animal tem para os seres humanos e para o ambiente onde ele vive. Pesquise também sobre o surgimento desse animal no planeta e a sua distribuição no mundo. Elabore um texto com as informações que você coletou. d. Complete a seqüência da ilustração que você fez na atividade 4 fazendo outra que mostre a história desse animal. O valor da biodiversidade No módulo sobre impactos ambientais e extinção de espécies, encontramos informações importantes sobre as causas e as conseqüências da diminuição na quantidade e na diversidade de espécies. Conhecer os fatores que levam à extinção é fundamental para tentar evitá-los, de modo a manter a diversidade biológica ou biodiversidade. Mas, afinal, por que manter a biodiversidade? Estudiosos do meio ambiente poderiam enumerar vários motivos pelos quais as espécies devem ser mantidas. Os argumentos em favor da manutenção das espécies vindos dessas pessoas geralmente estão relacionados à importância que cada animal, planta ou outro ser vivo tem para o ambiente onde vive e para o processo de evolução da vida sobre a Terra. Como vimos na história do homem e o mundo natural, as investigações sobre cada ser vivo não estão mais voltadas para descobertas sobre a sua utilização. Mas, antes, os pesquisadores preocupam-se em desvendar o modo de ser e de viver de cada ser vivo a fim de conhecer a grande rede de relações que mantém o nosso planeta funcionando. Muitas vezes, as relações entre os seres vivos interferem também na vida das pessoas, especialmente quando estão em jogo espécies utilizadas como recursos. Por isso, atualmente, estudiosos têm tentado conduzir o debate sobre o uso dos recursos naturais, com empresários e governantes, atribuindo valores a esses recursos. A necessidade de se atribuir um valor aos recursos naturais pode estar no seguinte argumento: As pessoas entendem mais facilmente os argumentos econômicos. Estimar o quanto vale economicamente a biodiversidade é um primeiro passo na direção de se defender a proteção dos recursos naturais. As vantagens econômicas de um país por causa de sua riqueza de recursos naturais devem ser ressaltadas e quantificadas, por mais difícil que pareça ser à primeira vista. E os danos e prejuízos também devem ser quantificados. Quando os custos da degradação ecológica não são pagos

por aqueles que a geram, estes custos afetam o ambiente sem a devida compensação. As atividades econômicas são assim planejadas sem levar em conta os prejuízos ambientais. Além disso, as gerações futuras serão deixadas com um estoque de recursos naturais resultante das decisões das gerações atuais, arcando os custos que estas decisões podem implicar[6]. De acordo com ecólogos, os valores que estão sendo atribuídos ao ambiente podem ser agrupados em quatro categorias. São elas: Alguns métodos econômicos específicos têm sido utilizados para se tentar quantificar quanto vale cada um destes tipos de uso, inclusive o valor de existência. O valor do lobo-guará Depois de tudo que vimos até agora, você acha que o lobo-guará tem valor? Tente enumerar os motivos pelos quais os lobos-guará devem ser preservados. Não faltarão argumentos! Atividade 4. Enquete: O valor de cada um Você conhece esta música? A letra traz o nome popular de diversos animais:

Utilizando a letra da música Bicho, sua tarefa será: a. Construir uma tabela com as seguintes informações: Na primeira coluna, coloque os nomes dos animais encontrados na música. Na penúltima linha dessa mesma coluna, coloque o nome do lobo-guará e, na última linha, inclua o nome do animal escolhido por você no Projeto Dossiê animal. Nas outras colunas, faça como mostra o exemplo. Exemplo: Entrevistado 1 Entrevistado 2 Entrevistado 3 Total Animal Valor de uso Valor de existência Nenhum valor Valor de uso Valor de existência Nenhum valor Valor de uso Valor de existência Nenhum valor VU VE NV Leão x x x 1 2 0 Baleia x x x 2 0 1 Total 3 2 1 b. Após construir a tabela, você deverá entrevistar três pessoas (ou outro número de pessoas decidido pela classe) perguntando a elas se cada animal da tabela tem um valor. Se a resposta for positiva, você deverá completar, perguntando qual é o valor atribuído ao animal. c. Depois das entrevistas, a turma deverá analisar o resultado da enquete. Para isso, o(a) professor(a) deverá construir uma nova tabela com os resultados obtidos por todos os alunos, excluindo o animal específico de cada aluno. Também poderão ser elaborados gráficos a partir dessa tabela. d. Em seguida, cada aluno(a) deverá elaborar um texto descrevendo e analisando os resultados. O texto deverá informar, por exemplo, qual é a visão predominante das pessoas com relação aos animais utilitária, valor de existência ou nenhum valor. Ainda poderá dizer sobre a relação das pessoas com os animais, considerando a história do homem e o mundo natural. Projeto: Dossiê animal Parte IV Considerando os dados da atividade anterior (atividade 4), faça o seguinte: a. Identifique na resposta de cada pessoa qual é o valor atribuído ao animal que você escolheu e ao lobo-guará. (valor de uso, valor de existência ou nenhum valor). O que você achou do resultado? As pessoas dão valor a esses animais? Elas achariam importante preservá-los? b. A partir desses dados, escolha o tipo de material mais apropriado para divulgar as informações ou sensibilizar as pessoas: cartilha, jornal, gibi ou outro que você quiser. Para isso, é importante conhecer exemplos de cada um desses materiais para adequar o formato, a linguagem e as ilustrações! Lobo-guará uma espécie ameaçada de extinção

O Ministério do Meio Ambiente do governo brasileiro apresenta uma lista de 627 espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção em um livro com informações sobre a biologia, distribuição geográfica, presença em unidades de conservação, principais ameaças, estratégias de conservação, indicações de especialistas e de núcleos de pesquisa e conservação envolvidos com as espécies[7]. Dentre essas espécies está o lobo-guará que é uma vítima da expansão da agricultura no Cerrado, um dos biomas mais ameaçados do país. Estudo feito pela ONG Conservação Internacional mostra que o bioma é desmatado a uma velocidade equivalente a 2,6 campos de futebol por minuto[8]. A maior ameaça para os canídeos brasileiros (assim como para a maior parte de nossa fauna) é a destruição de habitats. Pouco resta da Mata Atlântica e o Cerrado está indo pelo mesmo caminho de destruição (veja Figura 4). Doenças normalmente transmitidas por cães domésticos e a caça, muitas vezes em retaliação à predação de animais domésticos, são outras grandes ameaças. Muitas vezes os animais levam fama injustificada como se fossem os predadores de criações[9]. Projeto: Dossiê animal Parte V A partir do levantamento que você fez do animal escolhido e do seu conhecimento da região onde ele vive, identifique o que pode prejudicá-lo e levá-lo à extinção. Para isso, você deve considerar mudanças nos hábitos alimentares e no habitat desse animal e as ações dos seres humanos no ambiente. Com essas informações, elabore um texto sobre as ameaças ao (nome do animal). Ações em nível local, regional, nacional, mundial. Para pensarmos em conservação, precisamos conhecer a ecologia, a dieta do animal, a área que ocupa, enfim, não há como proteger aquilo que não se conhece. Como vimos, a Terra é uma grande casa onde cada ser vivo ou a parte que consideramos não viva, como as rochas e os gases, é importante para o bom funcionamento de um local, de uma região, ou mesmo de todo o planeta. Conservar não só o lobo-guará, mas toda espécie vivente, significa cuidar da nossa casa para que nós mesmos tenhamos um bom lugar para viver. Pensando nisso, governos, organizações não-governamentais, cientistas, empresas e cidadãos comuns têm repensado o modo como estamos cuidando dessa casa. Há várias ações, das quais destacamos aquelas que visam a preservação do lobo-guará, como exemplo. Na realidade, a espécie ocorre em várias áreas protegidas na Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e, possivelmente, Peru. Sua caça é proibida no Brasil, Paraguai e Bolívia. No Brasil, embora não existam iniciativas de conservação dedicadas ao lobo-guará, ele se beneficia dos projetos de proteção do cerrado. No entanto, há estudos e iniciativas de monitoramento da espécie, importantes para a sua manutenção.

Proteção a outros animais Você conhece o Projeto Tamar? É um dos mais bem sucedidos programas de proteção da fauna desenvolvido no Brasil. Veja as informações no quadro...

Projeto: Dossiê animal Parte VI - O que pode ser feito para proteger o animal escolhido? O animal que você escolheu pode não estar em risco de extinção. Nessa atividade, proteger não representa salvar o animal de uma extinção já anunciada, mas significa cuidar para que o animal não chegue ao ponto de necessitar de programas especiais de proteção. Se o animal escolhido já estiver na lista dos animais ameaçados de extinção, você poderá realizar a atividade da mesma maneira. Sua tarefa: a. Veja os exemplos do lobo-guará e da tartaruga marinha. Identifique medidas de proteção ao animal que você escolheu. Considere as ameaças que você identificou na atividade anterior. Para cada medida, descreva os responsáveis ou participantes do programa de proteção comunidade, governo, empresas, etc. b. Organize o Dossiê Ilustrações e textos produzidos e apresente para a turma. A forma de apresentação poderá ser oral ou através de painéis. No dia da apresentação, a cartilha (ou jornal ou gibi), assim como o livro produzido pela turma com as histórias poderão ser distribuídos. Atividade final: Depois de tudo o que estudamos, considerando a história do ser humano com as outras espécies; o valor da biodiversidade; a Terra como uma grande casa e a interdependência entre os seres vivos e entre esses e o meio ambiente, responda: Por que salvar o lobo-guará? Por que salvar o animal escolhido por você no Projeto Dossiê animal? [1] A figura é uma montagem de fotos obtidas nos seguintes sites: http://4.bp.blogspot.com/_6izfko-ee0w/smbgpantgri/aaaaaaaaari/5q3bknjut8c/s320/lobo_guara_34.2.gif http://blogs.jovempan.uol.com.br/meioambiente/wp-content/uploads/2009/11/normal_loboguara3-copia.gif https://ecoloja.art.br/userfiles/image/lobo_guara.jpg http://2.bp.blogspot.com/_a_7zlmjy35c/sschoken4ai/aaaaaaaapoq/ddszhc4aznw/s320/planeta_terra.jpg [2] Todas as informações contidas no parágrafo foram obtidas no site http://www.institutoaqualung.com.br/info_biodiversidade23.html. Acesso em 15 de fevereiro de 2010. [3] Informações obtidas nos sites: http://www.infoescola.com/mamiferos/lobo-guara/ http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/animais/lobo-guara.php [4] Para saber mais sobre a Teoria Gaia: http://www.if.ufrgs.br/public/ensino/vol6/n3/v6_n3_a4 http://www.comciencia.br/reportagens/2005/11/08_impr.shtml [5] Thomas, Keith. O homem e o mundo natural. Companhia das Letras. São Paulo. 2001. [6] As declarações sobre o valor da Biodiversidade são de autoria de Branca Medina, disponíveis no site http://www.biologo.com.br/ecologia

/ecologia7.htm. Acesso em 14/02/10. [7] O LIVRO VERMELHO DAS ESPÉCIES DA FAUNA BRASILEIRA AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO está disponível no site do Ministério do Meio Ambiente, no endereço: http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idestrutura=179&idconteudo=8122&idmenu=8631 [8] Informações obtidas no site: http://www.conservation.org.br/noticias/noticia.php?id=31 [9] Informações obtidas no site: http://biodiversityreporting.org/article.sub?docid=12464&c=brazil&cref=brazil&year=2005&date=august%202004 Módulo Didático: Por que salvar o lobo-guará? Educação Ambiental Autor(as): Junia Freguglia e Marina Fonseca Centro de Referência Virtual do Professor - SEE-MG / setembro 2010