CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE - FaC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ERIKA SILVA ALBUQUERQUE AUTISMO E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA ANÁLISE SOBRE A CONCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO ESPAÇO ARAM FORTALEZA 2014
ERIKA SILVA ALBUQUERQUE AUTISMO E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA ANÁLISE SOBRE A CONCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO ESPAÇO ARAM Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará, outorgado pela Faculdade Cearense - FAC como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Prof. Ms. Jefferson Falcão Sales. FORTALEZA 2014
A345a Albuquerque, Erika Silva Autismo e educação inclusiva: Uma análise sobre a concepção dos profissionais do Espaço ARAM / Erika Silva Albuquerque. Fortaleza 2014. 68f. Il. Orientador: Profº. Ms. Jefferson Falcão Sales. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) Faculdade Cearense, Curso de Serviço Social, 2014. 1. Autismo. 2. Educação inclusiva. 3. Família. I. Sales, Jefferson Falcão. II. Título CDU 364:37 Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
ERIKA SILVA ALBUQUERQUE AUTISMO E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA ANÁLISE SOBRE A CONCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO ESPAÇO ARAM Monografia apresentada como prérequisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovação: / / BANCA EXAMINADORA Prof. Ms. Jefferson Falcão Sales (Orientador) Prof.ª Esp. Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos Prof.ª Ms. Valdícia Falcão Sales
Eu não sou difícil de ler. Faça sua parte. Eu sou daqui, eu não sou de Marte. Vem cara, me repara. Não vê tá na cara, sou porta-bandeira de mim. Só não se perca ao entrar. No meu Infinito particular. (Infinito Particular - Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown).
A todas as Famílias Autistas. (DEDICO)
AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, por ter me concedido força, fé e coragem para pesquisar sobre uma temática tão especial na minha vida, contudo, é imensurável minha satisfação em poder repassar meus conhecimentos e experiências, por meio dessa pesquisa. Ao meu irmão Maurício Albuquerque, o destaque principal desta pesquisa, trago, aqui, meus sinceros agradecimentos, pelos ensinamentos que a presença dele trouxe para nossa família e pelo amor incondicional em todos os momentos, sendo ele, a inspiração desta pesquisa, em que a sua participação é de fundamental importância para a construção deste trabalho. Sou imensamente orgulhosa de fazer parte de uma família com a presença abençoada de um Autista. À minha amiga Sumara Frota, pela ajuda nos momentos de desespero que eu não sabia nem por onde começar minha pesquisa. Eu sou imensamente grata por ter me ajudado e me dado força nesse momento tão importante para todas nós. Obrigada por me escutar e por me receber em sua casa, para me orientar na execução deste trabalho. À minha Mãe Francisca Silva, pelo apoio, paciência e o carinho devotados a mim, sempre acreditando em mim, quando, muitas vezes, senti dificuldades. Essa vitória também é sua, por ser Mãe de um Autista e por sempre lutar e se dedicar em defesa da causa. Agradecer os profissionais do Espaço Aram e do LABRINJO por me receberem e contribuírem para a construção deste trabalho tão importante na conclusão de mais uma etapa da minha vida acadêmica. Este trabalho eu dedico a todos vocês que colaboraram com seus conhecimentos e que compartilham essa experiência dentro deste trabalho. Às minhas amigas desde o início do curso, Thaís Vieira e Jamile Ramos, pelos anos de amizade, companheirismo e paciência durante essa longa jornada. Foram diversas as dificuldades, mas o momento de colhermos os frutos do nosso esforço está bem próximo. Vocês são especiais e tenho orgulho de ter compartilhado todos os momentos com vocês, seja dentro ou fora da faculdade. A todos os professores (as) aos quais tivemos o prazer de aprender sobre conhecimentos tão importantes e que serão levados por toda nossa carreira
profissional. Vocês são os principais responsáveis por nosso sucesso como futuras Assistentes Sociais. A toda minha maravilhosa Banca, Professoras Talitta Albuquerque e Valdícia Sales, as quais aceitaram o meu convite e acolheram a temática com tanto carinho e dedicação. É uma honra dividir esse momento com vocês, onde eu compartilho todas as minhas experiências durante a realização da pesquisa. E finalmente ao meu Orientador Jefferson Sales, pai de duas filhas lindas, uma pessoa admirável, que carrega uma abrangência de conhecimentos sobre o autismo, em que consegue explicar e divulgar a temática de maneira exemplar. Venho agradecer pela sua paciência e ajuda que foi de fundamental importância para construção desse trabalho. Obrigada por me proporcionar grandes momentos de aprendizagens sobre essa temática tão maravilhosa e encantadora.
RESUMO O Autismo é caracterizado como uma temática bastante recorrente em nossa sociedade, e sua discussão vem se desenvolvendo aos poucos no decorrer dos anos. O Autismo tornou-se um dos grandes desafios a ser enfrentado, no que diz respeito à garantia dos direitos básicos, previstos em lei. Este trabalho tem como objetivo central trazer a discussão sobre a análise dos profissionais do Projeto Brincar para Incluir do Espaço Aram em relação aos desafios e possibilidades existentes dentro do processo de inclusão escolar na perspectiva da pessoa autista, tendo como referência institucional a Clínica - Escola Espaço Aram. Os objetivos específicos contemplam: analisar a vivência dos profissionais com crianças autistas; perceber como acontece o processo da inserção de crianças autistas no universo escolar e compreender a relação entre Família, Autismo e Educação Inclusiva. A pesquisa traz enfoques teóricos sobre autismo, as leis direcionadas para este público, o autismo e as relações familiares, a Educação Inclusiva para crianças autistas, o contexto histórico e as políticas de Educação Inclusiva. Contudo, a pesquisa busca contemplar todos os objetivos previstos, embasando-se teoricamente por autores renomados na área do autismo e da educação inclusiva. A pesquisa é de caráter qualitativo, com base em referências bibliográficas, pesquisa de campo com coletas de dados, por meio de entrevistas semiestruturadas e pesquisa documental. A pesquisa foi realizada no período de fevereiro até junho de 2014, tendo como sujeitos da pesquisa quatro profissionais da Educação Física e da Pedagogia, inseridos nas atividades do Espaço Aram. Os resultados deste referente ensaio monográfico busca abrir a discussão sobre a importância da inserção escolar para pessoas com autismo independente da idade, cor e classe social, ou seja, distante de qualquer forma de preconceito e que venha proporcionar ao leitor uma reflexão crítica sobre a educação inclusiva na perspectiva da pessoa autista. Palavras-Chaves: Autismo. Educação Inclusiva. Família.
ABSTRACT Autism is characterized as a theme very arising in our society and its discussion has been developing gradually over the years. Autism has become a major challenge to be faced with regard to ensuring the basic rights provided by law. This work has as main objective to bring the discussion on the analysis of professional Project "Playing to Include" Aram of space in relation to the challenges and opportunities within the school inclusion in the autistic person perspective, taking as reference the institutional Clinic - Aram Area school. The specific objectives include analyzing the experience of professionals with autistic children, realizing how does the process of integration of autistic children in the school environment and understand the relationship between Family, Autism and Inclusive Education. The research presents theoretical approaches to autism, laws directed at this audience, autism and family relations, Inclusive Education for autistic children, the history and the politics of Inclusive Education. However, the research seeks to address all the objectives set, if basing theoretically by renowned authors in autism and inclusive education area. The research is qualitative, based on references, field research with data collection through semi-structured interviews and documentary research. The survey was conducted from February to June 2014, with the four professional research subjects of Physical Education and Pedagogy, participated in the activities of Aram Area. The results concerning this monographic essay seeks to open a discussion about the importance of school integration for people with autism regardless of age, race, and social class, ie, away from any form of prejudice and that will provide the reader with a critical reflection on education inclusive perspective on the autistic person. Key Words: Autism. Inclusive Education. Family.
LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Evolução da Política de Inclusão no Ensino Regular... 48
LISTA DE SIGLAS AACD Associação de Assistência à Criança Deficiente ABA Aplied Behavioral Annalysis (Análise do Comportamento Aplicado) ABP Associação Brasileira de Psiquiatria AMA Associação de Amigos Autistas APAE Associação de Pais e Amigos Excepcionais CADEME Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais CENESP Centro Nacional de Educação Especial ECA Estatuto da Criança e do Adolescente IBC Instituto Benjamim Constant ISSEC Instituto de Saúde dos Servidores do Ceará LDB Lei de Diretrizes e Bases LABRINJO Laboratório de Brinquedos e Jogos LANGEP Liga Acadêmica de Neurologia-Genética-Psiquiatria MEC Ministério da Educação e Cultura NAS Núcleo de Atenção à Saúde NASF Núcleo de Apoio à Saúde das Famílias NAED Núcleo de Atenção Especial de Defesa à Inclusão OEA Organização dos Estados Americanos OMS Organização Mundial de Saúde ONG Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas PEAC Picture Exchange Communication System (Sistema de Comunicação de Troca de Figuras) SEESP Secretaria de Educação Especial SON - RISE Son - Rise Program (Método Educacional para Crianças com Autismo) SUS Sistema Único de Saúde TCC Trabalho de Conclusão de Curso TDAH Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade TEA Transtorno do Espectro Autista
TEACCH Treatment and Education of Autistic and Communication Handicapped Children (Treinamento e Ensino de Crianças com Autismo e Outras Dificuldades de Comunicação Relacionada) UFC Universidade Federal do Ceará UNIFOR - Universidade De Fortaleza
SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 14 1 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA... 17 1.1 Aproximação com O Objeto Pesquisado... 17 1.1.1 Lócus da Pesquisa... 20 1.2 Especificidades da Pesquisa... 24 2 ABORDAGEM TEÓRICA SOBRE O AUTISMO... 28 2.1 A Definição sobre o Autismo... 28 2.2 O Autismo no Brasil e as Leis.... 32 2.3 O Autismo e a Família.... 36 3 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA... 41 3.1 Um Breve Contexto Histórico da Educação Inclusiva... 41 3.2 Políticas de Educação Inclusiva: Avanços e Desafios... 45 3.3 Espaço Aram: A Perspectiva da Educação Inclusiva para Crianças Autistas, Uma Visão da Equipe Profissional... 50 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 57 REFERÊNCIAS... 60 APÊNDICES... 62 ANEXOS... 65
14 INTRODUÇÃO A presente pesquisa direciona-se à análise acerca dos desafios referentes à educação inclusiva com perspectiva relativa à pessoa autista, compreendendo como a equipe profissional da Clínica-Escola Espaço Aram em parceria com o projeto Brincar para Incluir da Universidade Federal do Ceará UFC vivenciam os desafios dessa trajetória sobre a inclusão da criança autista no âmbito escolar. O objetivo da pesquisa é compreender a perspectiva dos profissionais sobre a importância da Educação Inclusiva para crianças autistas, trazendo como enfoques a questão da inserção e sua trajetória no universo das escolas, as atividades que são realizadas pelos profissionais, as experiências absorvidas com crianças autistas e suas avaliações sobre o trabalho realizado pelo Espaço Aram. A pesquisa contempla em seus objetivos específicos analisar as vivências dos profissionais com crianças autistas, entender o processo de inserção escolar e por fim compreender concepções sobre educação inclusiva, família, autismo e leis de direcionamento com enfoque na temática. A partir do diálogo e das entrevistas com quatro profissionais da Educação Física e da Pedagogia, os quais trabalham na Clínica-Escola Aram e no projeto da UFC, proponho-me a compartilhar todas as opiniões sobre os aspectos facilitadores e dificultadores sobre a convivência com uma criança autista, tendo em vista que pesquisa está direcionada, desta forma, para diferentes posicionamentos, enfrentamentos e cuidados voltados às crianças autistas. Seguindo essa lógica, busco discutir a perspectiva do autismo com enfoque no cuidado e na inclusão dessas crianças autistas dentro do ambiente escolar. O interesse pelo tema surgiu por questões pessoais, por ter na família a presença de um irmão autista, despertando-me, desse modo, o interesse de pesquisar sobre a temática, tendo em vista que futuramente serei sua cuidadora e também por aspectos próprios de conhecimento sobre o assunto que é de fundamental importância para a compreensão dos desafios que são postos a todas nós familiares de crianças autistas. Alguns autores costumam trazer o termo famílias autistas, e é a partir de uma nova perspectiva sobre as mudanças de vida e aprendizagem, relatadas neste trabalho, que focamos a presença que essas crianças proporcionam para nós familiares e para toda a sociedade em geral.
15 Por ter experiência familiar com uma criança autista, a compreensão surgiu com maior facilidade sobre as ideias dos autores de referência na área. A linguagem utilizada deve proporcionar ao leitor, mesmo sem experiência com um autista, uma maior percepção acerca do assunto, com uma facilidade na leitura, à luz desses autores. Todos os relatos descritos são elaborados a partir das experiências de nossa mãe, Francisca Silva, por meio das quais ela, com sua vivência, traz para esta pesquisa uma riqueza de conhecimentos de sua prática com uma criança autista. Durante o acompanhamento de todo processo escolar do meu irmão, pude observar como a educação é importante para pessoas com autismo, ela ajuda a socializar pessoas autistas e não autistas, para ambos conhecerem a realidade um do outro, dentro dessas perspectivas foi de extrema importância a necessidade de mostrar a sociedade o quanto a educação inclusiva, com foco em pessoas autistas, é importante, reforçando nessa pesquisa a visão da equipe multiprofissional que trabalha diretamente com a criança autista desde então nasceu à pesquisa deste TCC. O atual trabalho encontra-se dividido em três capítulos, o primeiro capítulo é o de percurso metodológico, em que se busca trazer aspectos relacionados à aproximação com o tema escolhido, explicitando a metodologia utilizada e a escolha do espaço para a realização desta pesquisa. O segundo capítulo traz uma alusão sobre o autismo e o seu contexto histórico, as leis desenvolvidas para pessoas com deficiência e a importância do papel da família com uma criança autista. No terceiro capítulo, faremos menção à educação inclusiva, fazendo um resgate histórico sobre as políticas que envolvem a educação e a visão da equipe profissional em relação à inserção de crianças autistas no ambiente escolar. Por fim, é trazido de forma sucinta às análises e às compreensões, acerca das questões que foram apreendidas durante a pesquisa, trazendo de forma clara e objetiva, o que se pode concluir sobre os desafios dos cuidados à pessoa autista e sua inserção na educação, correlacionando com as vivências dos profissionais do Espaço Aram, trazendo como discussão as facilidades e dificuldades, definidas pelos mesmos, acerca do autismo, suas formas de tratamento, inserção e os cuidados em geral. Esse estudo bibliográfico foi vinculado em três categorias para qualificação da pesquisa: autismo, educação inclusiva e família, trazendo todos esses elementos de forma correlacionada. O que se espera da pesquisa é trazer um
16 conhecimento mais ampliado sobre as discussões acerca do autismo e da educação inclusiva, contribuindo para a compreensão e um olhar mais sensível da sociedade perante as diversas abordagens que o mundo do autismo tem para nos revelar.
17 1 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA Este capítulo trará ao leitor uma aproximação, em detalhes, da escolha da temática e dos percursos que foram utilizados para chegar à conclusão da pesquisa, mostrando traços das técnicas escolhidas e a metodologia abordada em maiores detalhes. 1.1 Aproximação com o Objeto Pesquisado Conforme referenciado na introdução deste trabalho, meu 1 interesse pela temática surgiu por uma motivação pessoal. Dentre os meus dois irmãos, um deles é autista e tem 19 anos, e atualmente, mora com minha mãe no interior do Ceará, em uma localizada conhecida por São Gonçalo do Amarante. Por apresentar essa experiência de ter alguém próximo da família com autismo, foi o que me motivou para pesquisar e compreender mais sobre esse assunto. Quando leio os autores que abordam essa temática, identifico-me e relaciono-me com a realidade presente em minha vida, essa articulação entre teoria e experiência prática, de lidar com a presença de uma pessoa autista na família, faz com que a pesquisa se desenvolva com mais facilidade dentro dessa perspectiva. Segundo os relatos de nossa mãe, meu irmão ao nascer, aparentemente era uma criança normal como todas as outras em seu comportamento. Teve seu crescimento normal, sua amamentação ocorreu no período certo, emitiu os sons fonéticos, começou a andar na idade certa, mas não engatinhou, contudo, o seu desenvolvimento foi considerado normal até os 03 anos de idade, após isso, ele regrediu em relação ao seu comportamento, foi então que nossa mãe percebeu que havia algo diferente com meu irmão. Ela conta que na época relatava aos médicos sua preocupação com o meu irmão, explicando que havia uma mudança significativa nos comportamentos dele e que estava ficando preocupada em relação a isso, mas simplesmente os médicos ignoraram, por falta de experiência sobre o assunto ou por não querer dar o diagnóstico, por achar que o quadro clínico poderia melhorar, não diagnosticando 1 Será utilizada a primeira pessoa neste tópico por se tratar de uma motivação pessoa da pesquisadora.
18 imediatamente como autismo, colocando o caso como um atraso normal e que iria melhorar com o passar de seu desenvolvimento. Pude constatar esse relato da minha mãe em relação às falhas dos profissionais em detectar quando a criança está com Autismo, em uma palestra, no mês de Abril de 2014, sobre o Autismo, realizada no auditório da Universidade de Fortaleza UNIFOR pelo então renomado Psiquiatra e Orientador da LANGEP - Liga Acadêmica de Neurologia-Genética-Psiquiatria da UNIFOR (Universidade De Fortaleza), Dr. André Luiz Santos Pessoa. Em seu discurso, levantaram-se essas questões da dificuldade dos diagnósticos precoces e a falta de preparo profissional, já visto em anos anteriores e que persiste até hoje, dificultando o desenvolvimento da criança autista. Quando nos deparamos com a realidade sobre a formação dos médicos, percebemos que esta formação profissional, ainda, deixa muito a desejar, no que tange às questões relacionadas à qualificação desses profissionais, no sentido de identificar e diagnosticar uma pessoa com do autismo, portanto, ainda precisa-se caminhar em direção a novas profissionalizações, devido ao surgimento de outros tipos de categorias de deficiência que necessitam desse aparato. A falta de atenção dos médicos em ouvir as famílias, muitas vezes também é um problema e faz com que haja esse atraso do diagnóstico, isso se efetiva dentro dos relatos familiares e observações feitas com os pacientes em clínica, concepção esta trazida pelo palestrante do seminário para mostrar essa realidade. Meu irmão passou por um longo processo de idas e vindas aos mais diversos especialistas, foi um período de realização de uma série de exames para detectar o que havia com ele. Nossa mãe conta que ele foi diagnosticado após várias tentativas com diferentes profissionais de diversas áreas. Com outras opiniões e possibilidades e outros olhares médicos dedicados e que buscavam sempre pesquisar sobre diversos tipos de problemas, então, foi dado um parecer final sobre o caso, isso ocorreu após os quatro anos de idade dele que foi confirmado o diagnóstico de autismo pela ausência da fala, comportamentos repetitivos e dificuldade em atender aos chamados. Somente após o surgimento desses sintomas, característicos da pessoa autista, foi que os médicos identificaram que pela idade não era normal esse atraso no comportamento.
19 Nossa mãe sempre carregou com alegria e disposição a notícia sobre o diagnóstico confirmado para o autismo, buscando sempre alternativas para que meu irmão tivesse um tratamento adequado. Inicialmente, como toda mãe, houve uma dificuldade, pois ela não sabia como prosseguir. Em vista disso, então, ela procurou um apoio psicológico e pedagógico, para enfrentar essa situação e compreender o que ela precisava fazer para ajudá-lo, idealizando permanentemente a melhora do seu desenvolvimento social. Na época de todo esse processo, entre idas e vindas aos médicos, morávamos todos em Fortaleza, foi aqui, em Fortaleza, que meu irmão iniciou suas atividades clínicas e escolares, em uma instituição conhecida como Projeto Diferente, na qual havia uma equipe multiprofissional disposta a atender esses tipos de casos. Assim sendo, ele foi encaminhado a esta instituição, através das neurologistas que o acompanhavam na época. Ele passou grande parte de sua infância nessa clínica-escola, então nossa mãe casou com outro homem, após alguns anos do falecimento do nosso pai, decidiu morar com toda a família na cidade de São Gonçalo do Amarante, e, consequentemente, ele deixou a instituição. Foi nesse período que nossa mãe procurou os apoios existentes para as pessoas com deficiência no município de São Gonçalo, e o inseriu nos serviços que a cidade disponibilizava. Nessa busca, encontrou a instituição chamada Casa de Patrícia, a qual era uma instituição de acolhimento para esse perfil de público. Neste local eram realizadas apenas atividades escolares. Ele passou muitos anos por lá, porém ocorreu, no ano de 2010, o fechamento da instituição por falta de recursos financeiros para a sua manutenção, por se tratar de uma ONG - Organização Não Governamental, e o município de São Gonçalo do Amarante não disponibilizar verbas suficientes para custear as ações que a instituição realizava. Com a extinção desta ONG, a cidade passou um grande período sem nenhuma atividade voltada para essa população, desse modo, com o apelo dos pais e familiares por melhorias, em relação ao tratamento dessas crianças, jovens e adultos, a Prefeitura de São Gonçalo do Amarante, em parceria com o NASF, lançou um projeto chamado NAEDI - Núcleo de Atenção Especial de Inclusão às Pessoas com Deficiência, que atua dentro da cidade, prestando assistência a esse público, através de atividades pedagógicas, realizadas semanalmente e que segue alguns
20 requisitos básicos para inserção dessas pessoas (estar em acompanhamento médico pelo NASF e regularmente matriculado no projeto). Com a convivência com o meu irmão, podemos observar que no comportamento cotidiano dele, é muito notável que ele é uma criança calma, não é agressivo, nem é hiperativo, muito pelo contrário, ele é admirado por todos na cidade, vizinhos, amigos e familiares por ser uma criança tranquila e alegre, sempre sorrindo para todos que se dirigem até a nossa casa. As pessoas até brincam e dizem: Ele nem parece ser um autista, pois ele tem um comportamento aparentemente normal para quem não sabe do caso. Todavia isso acontece devido ao tratamento que ele recebeu e recebe, e também pelo incentivo escolar ao qual ele é estimulado. Por isso, a escolha desta temática veio no intuito de aprofundar as questões referentes aos desafios dos cuidados familiares à pessoa autista e à inserção da criança com autismo no âmbito escolar, considerando que milhões de famílias, Brasil a fora, vivem esse dilema cotidianamente, seja em casos na família, seja de pessoas conhecidas. Porém, não há como fugir do autismo, já que estamos inseridos em um contexto no qual o número de diagnósticos de autismo cresce alarmantemente em todo o mundo. Segundo dados retirados da ONG (Organização Não Governamental) Autismo e Vida, a ONU- Organização das Nações Unidas, publicou que se estima existirem aproximadamente 70 milhões de pessoas afetadas pelo autismo no mundo. No Brasil já são mais de 2 milhões e, nos EUA, a cada 68 crianças, 1 tem autismo, números estes alarmantes, o que confere esse crescimento em relação aos diagnósticos do autismo. 1.1.1 Lócus da Pesquisa Inicialmente, escolhi como local de referência em Fortaleza para realizar a pesquisa, a Casa da Esperança, mas por motivos burocráticos, curto prazo de realização e dificuldades de locomoção, até a referida instituição, resolve-se mudar o local de realização do trabalho monográfico. Ao procurar outras instituições que atendessem esse perfil de público, o qual direcionará a pesquisa, encontramos uma instituição de atendimento às crianças com deficiência, próxima à minha residência, o que facilitou o percurso planejado para execução da pesquisa e também para que outras pessoas que terão acesso a esse ensaio monográfico possam conhecer esta
21 instituição caso venha necessitar dela. A socialização de instituições deste porte é muito importante para a sociedade, principalmente para as famílias com crianças autistas que ainda não tem conhecimento sobre a rede de apoio existente em toda cidade de Fortaleza. A instituição pesquisada denomina-se Espaço Aram, a palavra Aram, segundo a fundadora Isabelle Rabelo, origina-se do Tupi-Guarani, da língua indígena, e significa Sol, dando a ideia de levar a luz a essas crianças (o Sol vem denominado na logomarca da Instituição). O espaço atua no âmbito da educação especial, com acompanhamento multidisciplinar aos alunos e ao público em geral. As atividades desenvolvidas incluem a psicologia, fisioterapia, psicomotricidade, educação física, pedagogia, fonoaudiologia, psicopedagogia e terapia ocupacional. Está localizada na Rua Sólon Pinheiro, n. 1850, Bairro de Fátima, Fortaleza-Ce, os telefones para contato são: (85) 3214-5708 e (85) 8529-3091. A Clínica-Escola, como é caracterizada, foi fundada em 17 de Novembro de 2006, nasceu com os objetivos da responsável que é Psicóloga e fundadora Isabelle Rabelo, a razão dessa criação consiste analisar que a educação não seria completa se os alunos com deficiência tendessem a se isolar da sociedade, que muitas vezes tem preconceito contra tudo que não conhece. Ao longo de uma experiência profissional como Psicóloga, com a clientela de pessoas com deficiência e dos anseios das famílias em integrar seus filhos ao meio social, a fim de tornar-se um ser produtivo e independente, levou a fundadora do Espaço Aram a desenvolver um trabalho prestando atendimento clinico e pedagógico. Segundo o histórico da instituição, o Espaço Aram passou a funcionar com regularidade, sendo aberta aos alunos com interações educativas especializadas, a família e a comunidade em geral, por apresentar uma demanda na área especial. O objetivo da instituição é oferecer às pessoas uma educação especial, como uma proposta séria e inovadora de escola, pautada nos mais atualizados conceitos sobre educação especial. O Espaço Aram prioriza os princípios da individualização (respeito as diferenças individuais, potencialidades e limites pessoais), integração (participação das pessoas com necessidades educativas especiais em seu ambiente, direito à socialização) e normalização (proporcionar condições da vida compatíveis com a da sociedade a qual estão inseridos).
22 Ainda segundo o histórico apresentado pela instituição, o espaço oferece ensino do Infantil III ao 5º ano, com salas divididas por especialidades e idades, assegurando um planejamento de objetivos e estratégias de intervenção diferenciadas de acordo com as necessidades dos grupos trabalhados. Como complemento da proposta pedagógica, os alunos são atendidos por uma equipe especializada. De acordo com a documentação disponibilizada, referente à instituição, a equipe é composta por psicóloga, fonoaudióloga, educadores físicos, psicopedagoga, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e psicomotricista. É uma instituição de caráter privado, tendo convênio apenas com o ISSEC - Instituto de Saúde dos Servidores do Estado do Ceará. O histórico da instituição afirma que, em média, são 6 a 8 crianças atendidas por dia na instituição, trabalha-se, dessa forma, com um grupo pequeno, tendo em vista que essas crianças precisam de um cuidado e uma atenção especial, o que preserva essa quantia de integrantes diariamente atendidos. A instituição acolhe crianças com autismo, síndrome de Down, paralisia cerebral, TDAH e outros tipos de deficiências, mas segundo o relato da fundadora, a escola só tem como referencias 4 crianças autistas assistidas na instituição. O número total de alunos não foi revelado durante a realização da pesquisa, sendo dificultoso o acesso de algumas informações importantes para demonstração dos dados quantitativos neste ensaio monográfico. O espaço físico observado é bem agradável e aconchegante, os compartimentos são bem divididos, contendo por escrito nas portas as informações do que representam cada sala, sempre utilizando cores bem chamativas. Na recepção, o que chamou atenção é que há uma mesa com brinquedos educativos, para que as crianças se sintam à vontade, e muitos quadros espalhados que expõem todas as artes realizadas pelas crianças, contudo, é um local bastante organizado, arejado e bem localizado, que realiza um trabalho incrível de ressocialização e reinserção dessas crianças, através de atividades educacionais e interativas. De acordo com a explicação de Isabelle Monteiro, existem os atendimentos da parte clínica durante o período da manhã e durante a tarde são realizadas as atividades escolares. Existem dois grupos semanais que são realizados, um na Brinquedoteca da UFC - Universidade Federal do Ceará ou LABRINJO - Laboratório de Brinquedos e Jogos, localizado no bairro Pici e os outros