Moda, cidade e estilos de vida: Cena e cultura mod em Curitiba



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Transcrição:

Moda, cidade e estilos de vida: Cena e cultura mod em Curitiba Fashion, city and lifestyle: Scene and culture mod in Curitiba Acunha, André; graduando; Pontifícia Universidade Católica do Paraná, andrefp.acunha@gmail.com Duarte, Gabriela; mestre; Pontifícia Universidade Católica do Paraná, gabriela.garcezduarte@gmail.com Introdução Ao conotar a identidade de um grupo, além dos seus hábitos de consumo é necessário a transmissão de sinais legítimos de sua identidade no ambiente em que estão inseridos, o que acontece por meio de seus bens vestíveis. Helena Abramo (1994, p.32) defende que os grupos subculturais desenvolvem um estilo próprio de vestimenta, carregado de simbolismos, e elegem elementos privilegiados de consumo, que se tornam também simbólicos e em torno dos quais marcam uma identidade distintiva. Além dos bens e produtos, a formação de estilos distintivos se dá também pelos espaços com os quais os atores sociais interagem no meio urbano, ocorrendo a formação de manchas urbanas que é conceituado por José G. C. Magnani (2007, p.20) como áreas contíguas do espaço urbano dotadas de equipamentos que marcam seus limites e viabilizam uma atividade ou prática predominante. Além disso, percebe-se que há a apropriação por parte dos grupos de certos pedaços, que é uma área da cidade mais particularista, ponto de referência, estreitamente ligado à dinâmica do grupo com que ele se identifica (MAGNANI, 2007, Pg. 20), dentro das manchas urbanas na metrópole. Portanto, esse estudo parcial de iniciação científica busca compreender a cena e cultura mod em Curitiba por meio da estética de moda do grupo, sendo essa carregada de símbolos e utilizada como um demarcador distintivo de identidade em relação a outros grupos presentes no mesmo contexto da metrópole. Metodologia Para a pesquisa inicial e melhor entendimento da sociedade de consumo, estilo de vida e formação de grupos, foram utilizados os livros Enfeitada de Sonhos de Elizabeth Wilson(1987), Cultura de consumo e pós modernismo de Mike Featherstone (1987), "Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano de Helena Abramo (1994) e Carecas do subúrbio: caminhos de um Nomadismo Moderno de Maria Regina Da Costa (1993). O autor José G. C. Magnani (2007) em sua obra Jovens na metrópole: etnografias de circuitos de lazer, encontro e sociabilidade adota o conceito de manchas e pedaços que são utilizados nesse trabalho. Por fim, a dissertação de Christine Feldman (2009) intitulada We are the Mods : A Transnational History of a Youth Culture, auxiliou como principal meio de informação sobre os símbolos mods do passado.

A rede de internet, bem como as mídias digitais sociais, serviu como fonte de conhecimento obtida sobre a cultura mod no Brasil e em Curitiba. Através do blog A cena agitos culturais, existente desde 2011 pelo curitibano cognominado André Mod, foi possível encontrar dados qualitativos para a pesquisa. Um segundo blog chamado de Skadrophenia Sound System, criado em 2010 por Willian Ornelas, de Araucária-PR e André MOD, também auxiliou com informações que englobassem a história e os eventos para o público mod de Curitiba. Resultados e Discussões Segundo Feldman (2009, p.43), os jovens mods em Londres buscavam uma forma de fuga e escape de suas vidas nas fábricas através dos ritmos do jazz: working-class kids seemed to find both figurative (the free souding rhythms of Jazz) and literal (a new kind of work) means of scape. Em relação ao vestuário adotado pelos adeptos do grupo, ela cita que o jazz, por ser uma música de origem na comunidade afro-americana e assim paralela ao império britânico, falava diretamente com eles: Since Jazz was created by black Americans, working-class Britons believed they had a cultural position within the British Empire parallel to them. This was a music that could speak directly to and for them (FELDMAN, 2009, p.67) Para a aplicação dos conhecimentos teóricos adquiridos e uma análise assertiva, uma pesquisa de observação participante foi realizada no evento Snap!, produzido por Liana C. Martins, no local 92 Graus The Underground Pub em Curitiba e divulgado virtualmente pelo curitibano André Mod na comunidade digital Mods Brasil na rede social facebook. Figura 1 Cartaz de divulgação do evento Snap!criado por Gean Santos. (https://www.facebook.com/groups/modsbrasil),. 1

O público ali presente poderia ser identificado distintivamente como mod pelo seu vestuário, sendo possível apontar a presença de poucos não mods, tornando aquele espaço fechado de forma social para os que não apresentam sinais de pertencimento ao grupo. Para Wilson (1989, p.186), na vida moderna as aparências escondem segredos e dizem mentiras, percebendo assim uma dificuldade em analisar os indivíduos que compareceram à celebração eram mods por uma afinidade visual e musical ou se tinham a consciência ideológica de democratização entre as classes, como foi assinalado por Feldman (2009, p.9) nos mods do passado. Feldman (2009, p.14) conceitua a lógica retro-forward que é definida como: the dialect of tradition and futuristc aspirations operating whitin Mod fashion and music, onde os elementos do passado e as aspirações do futuro estão presentes nas influências da moda e música mod. A lógica defendida pela autora pode ser utilizada em Curitiba, pois ao questionar 5 pessoas que estavam presentes no evento, paradoxalmente, as roupas que representavam anseios de modernidade, como os cortes retos, padronagens geométricas e minimalistas, são compradas em sua maioria em brechós, criando uma individualidade no estilo, pois dificilmente serão encontradas peças de um mesmo modelo em um brechó. O local do evento pode ser considerado um equipamento dentro de uma mancha urbana, inserido em uma zona mista de bares, praças públicas e estabelecimentos distintos, pois como aponta Magnani (2007, p.20), a mancha é mais aberta e oferece possibilidades de encontro para diversos frequentadores, sem saber ao certo o que ou quem vai se encontrar. Os equipamentos disponíveis para diferentes grupos de pessoas na região do bairro São Francisco são inúmeros, onde o seu centro antigo e as ruas Trajano Reis, Jaime Reis, Paula Gomes, Inácio Lustosa, Mateus Leme e São Francisco podem ser consideradas uma zona de mancha urbana, pois servem como principal palco para o lazer e entretenimento na noite underground de Curitiba. Vale ressaltar que durante o período diurno e os dias de semana, esses espaços se tornam lugares comuns na transição de indivíduos que não possuem conhecimento do que acontece ali durante a noite. Esse processo cabe comparar ao trecho: circuitos, trajetos, manchas e até pedaços, constituem distintas modulações de uso e desfrute do espaço público: são diferentes versões da rua enquanto suporte do tributo público. (MAGNANI e SOUZA, 2007, p.252-253) Atualmente não é notável a presença de um pedaço mod em Curitiba, devido ao declínio da cultura na cidade. Liana C. Martins, organizadora e produtora do evento, em uma abordagem informal, relatou que vivenciou a cena mod em Curitiba em seu auge durante os anos 2000 até 2005 e é categórica ao dizer que a cena não existe mais e que são poucas pessoas que ainda revivem o estilo de vida e música na cidade. Featherstone (1995, p.39) defende que a cidade apresenta uma oferta excessiva e uma circulação veloz de bens simbólicos e mercadorias, trazendo um risco de ameaça a legibilidade dos bens usados como sinais. Sendo assim, devido a essa oferta excessiva, é possível apontar o declínio da cultura mod como um processo previsível, principalmente pelo surgimento de novos estilos que ora ganham novos adeptos. 2

Apesar de o número de adeptos ao estilo de vida reduzido em relação aos anos de 2000 à 2005 na cidade de Curitiba, é possível notar a presença de jovens mods que estão utilizando símbolos do passado como demarcadores de sua identidade em determinados locais de atuação na cidade. Estes não devem ser lidos como uma rejeição do presente, mas sim como uma colagem de atitudes e interesses do passado, como a dança e a música negra, e que ainda podem ter uma grande relevância na vida dos indivíduos do grupo tão quanto no seu relacionamento com a sociedade e ambiente que estão inseridos. Considerações Finais Para reafirmar a sua posição perante as classes convencionais, os mods imitaram e se apoiaram em uma minoria e símbolos do passado, ressaltando que os estilos subculturais só são notáveis quando há um claro sinal de resistência ao que é considerado convencional. Esses estilos são uma aglutinação de influências do jazz e do anseio pela modernidade. Nessa conjuntura, os adolescentes da classe trabalhadora tentaram formular a sua própria área de liberdade e identidade como uma forma de se distanciar de suas comunidades e valores tradicionais. Como um efeito da desterritorialização defendida por Renato Ortiz (1994), o estudo do autor serve como uma base para a análise das transições das referências visuais e ideologias inglesas do passado para o estilo de vida mod em Curitiba atualmente, entretanto, adaptado para o clima e o contexto social brasileiro. O vestuário mod, tanto em Curitiba quanto no passado, é tido como um tom irônico com relação a valores sociais estabelecidos, parodiando a elegância de vestir à lugares e danças com infraestrutura opostas aos trajes, tal como o Bar Flamingo, em Londres da década de 1960 e o 92 Graus The Underground Bar, em Curitiba hoje. É através desses eventos e espaços que os indivíduos do grupo se comunicam dentro da metrópole, expondo não apenas sua moda, mas também sua identidade e música. Sendo assim, os meios pesquisados até então desenvolveram percepções relevantes. Entretanto, para uma melhor compreensão do estilo de vida do grupo e sua relação com a cidade de Curitiba, o foco da pesquisa será por meio de entrevistas e novas observações em manchas que atraiam esses jovens mods, tornando a pesquisa qualitativa enriquecida. Referências ABRAMO, Helena W. Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano. São Paulo: Scritta, 1994. BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. Cultura, consumo e identidade. 4 Edição, Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. COSTA, Maria Regina. Os carecas do subúrbio: caminhos de um nomadismo moderno. Petrópolis: Vozes, 1993. FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1987. 3

FELDMAN, Christine. We are the Mods : A Transnational History of a Youth Culture. 2009. 656 f. Dissertação. (Mestrado em Filosofia) Universidade de Pittsburgh, Pittsburgh, 2009. GUILHERME CANTOR MAGNANI, José; MANTESE DE SOUZA, Bruna (orgs.). Jovens na Metrópole: etnografias de circuitos de lazer, encontros e sociabilidade. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2007. JAMESON, Frederic. Pós-Modernismo A lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Editora Ática, 1997. MOD, André. A CENA, AGITOS CULTURAIS: simple life, hard fight. Disponível em: <http://cwblacks.wordpress.com/> Acesso em: 19/01/. ORNELLAS, William. SKADROPHENIA SOUND SYSTEM PARANÁ: a música negra na melhor esssência. Disponível em: <http://cwblacks.wordpress.com> Acesso em: 21/01/20 ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. WILSON, Elizabeth (trad. Maria João Freire). Enfeitada de sonhos. Rio de Janeiro, Edições 70, 1985. 4