OPORTUNIDADES DO SETOR FLORESTAL BRASILEIRO



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OPORTUNIDADES DO SETOR FLORESTAL BRASILEIRO Eny Duboc Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, Caixa Postal 08223, 73010-970 Planaltina, DF. E-mail: enyduboc@cpac.embrapa.br RESUMO Com 477 milhões de hectares, o Brasil possui a segunda maior cobertura florestal do planeta. Em 2005 possuía a sexta maior área reflorestada do mundo, com 5,38 milhões de hectares de florestas plantadas. A produção da matéria-prima gerada a partir de florestas plantadas cresce, mas ainda é insuficiente para atender às crescentes quantidades demandadas pelas indústrias, que continuam aproveitando-se de matérias-prima oriundas de matas nativas. A escassez de madeira afeta mais significativamente indústrias sem base florestal própria, tais como pequenas serrarias e olarias, fábricas de móveis e outros pequenos consumidores de madeira. Estima-se que cerca de 52 % das florestas plantadas estejam vinculadas aos seus consumidores. Entre os anos de 2000 e 2005, houve aumento de 40,3 % da quantidade total de madeira em tora oriunda da silvicultura no Brasil, alcançando 118 milhões de toneladas e de 261 % na região do Cerrado, alcançando 6,4 milhões de toneladas. Esse aumento foi acompanhado pela redução do extrativismo tanto no Brasil, como no Cerrado. Contudo, a vegetação nativa, em especial a do Cerrado, ainda tem atendido ao aumento da demanda por carvão vegetal no Brasil. Da produção brasileira em 2005 de 5,5 milhões de metros cúbicos de carvão vegetal, cerca de 67 % foi produzido no bioma Cerrado, sendo que 1,9 milhões de metros cúbicos, ou 34,5 % da produção total, teve origem no carvoejamento da vegetação nativa do Cerrado. Apesar do esforço do governo brasileiro em criar novas linhas de crédito para fomento de florestas comerciais, os recursos financeiros captados por produtores rurais têm sido insignificantes. Os sistemas agroflorestais são uma alternativa viável para o aumento de área plantada, porque proporcionam ingressos financeiros durante o período de crescimento das plantas perenes, amortizando os custos de implantação e elevando as taxas internas de retorno dos investimentos. O objetivo deste trabalho foi analisar o setor florestal brasileiro, suas limitações e oportunidades e o potencial para utilização de sistemas agroflorestais para produção florestal. Palavras chave: florestas plantadas, florestas nativas, sistemas agroflorestais. INTRODUÇÃO Da superfície total da América Latina e Caribe, cerca de 47 % são cobertos por recursos florestais nativos, os quais representam 22 % da superfície florestal mundial. O Brasil possui a segunda maior cobertura florestal do planeta, com 477 milhões de hectares, menor apenas do que a da Rússia, com 808 milhões de hectares. As plantações florestais no mundo representam cerca de 4 % da superfície florestal total. Na região da América Latina e Caribe, representam 1,4 % da superfície florestal total. Embora se trate de um valor relativamente pequeno, as plantações estão aumentando a uma taxa de cerca de 1,6 % ao ano. Entretanto, essa região representa apenas cerca de 7 % do valor do setor florestal mundial e 18 % do valor agregado do setor das florestas primárias (produção de madeira em tora). E ainda, somente cerca de 3 % do valor agregado das indústrias de elaboração de madeira e 6 % da indústria de papel e celulose. Isto indica que a região é uma fonte importante de matériasprimas, mas que grande parte de sua transformação em produtos acabados se realiza em outras regiões (FAO, 2007). Estudos e projeções, realizados por organismos internacionais, apontam para uma contínua demanda da maioria dos produtos florestais, pelo menos nos próximos 20 anos. Estimativas da FAO, a partir do aumento da população mundial e do consumo per capita, projetam um consumo de madeira de 1,6 bilhão de m 3 /ano, podendo chegar a 2 a 3 bilhões m 3 /ano, em 2050, com um aumento aproximado de 60 milhões m 3 /ano. Em diferentes cenários têm sido estimados défices mundiais de oferta de madeira, da ordem de 335 a 500 milhões de m 3 em 2020. Há estimativas de que a demanda mundial por madeira e por fibras, pela indústria de base florestal, tenderá a ser suprida pelas plantações florestais, em 30 % e 60 %, respectivamente. Grande parte das plantações possui, hoje, menos de quinze anos e, segundo a FAO, a América do Sul - Argentina, Brasil e Chile, detêm cerca de 80 % das mesmas. Nesse cenário, o Brasil destaca-se como um dos principais fornecedores de madeira para os mercados internacionais (HOEFLICH, 2005). Em 2005, o Brasil possuía 5,38 milhões de hectares de florestas plantadas, correspondendo a sexta maior área reflorestada do mundo, menor apenas que as áreas da China, dos Estados Unidos, da Rússia, do Japão e do Sudão. Já em 2006, a área reflorestada com pinus, eucalipto e demais

espécies alcançou 5,74 milhões de hectares (FAO, 2007; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS, 2007). O objetivo deste trabalho foi analisar o setor florestal brasileiro, suas limitações e oportunidades e o potencial para utilização de sistemas agroflorestais para produção florestal. METODOLOGIA Utilizou-se análise gráfica e tabular dos dados publicados por órgãos públicos e entidades representativas das empresas do setor florestal, além de dados secundários de pesquisa. RESULTADOS E REFLEXÃO No Brasil, o reflorestamento inclui principalmente as espécies de pinus e eucalipto e, cerca de 370 mil hectares plantados com outros gêneros, como acácia (Acacia spp), seringueira (Hevea brasiliensis), teca (Tectona grandis) e araucária (Araucaria angustifolia), entre outros. Em 2006, o eucalipto representava 66 % da área total plantada (3,55 milhões de ha), concentrando-se na região Sudeste, principalmente em Minas Gerais, São Paulo, e Bahia, na região Nordeste. As florestas plantadas com pinus, 1,82 milhões de ha, em 2006, concentravam-se na região Sul do país, distribuídos principalmente entre os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Entre os anos de 2000 a 2007, houve aumento da produção de madeira em tora, de carvão vegetal e de lenha, com aumento da participação originada da silvicultura no total da produção florestal brasileira (Tabela 1). Tabela 1. Quantidade dos produtos da silvicultura e da extração vegetal no Brasil e no Cerrado. Produto Origem 2000 2005 2007 Brasil Cerrado Brasil Cerrado Brasil Carvão vegetal (m 3 ) Total 3.814.696 2.487.317 5.498.642 3.663.010 6.336.469 Plantada 2.385.516 1.909.943 2.526.237 1.766.139 3.806.044 Extrativa 1.429.180 577.374 2.972.405 1.896.871 2.530.425 Lenha (ton) Total 90.864.804 11.611.199 80.965.198 10.738.371 82.999.329 Plantada 40.469.405 3.350.762 35.542.255 3.075.307 39.089.275 Extrativa 50.395.399 8.260.437 45.422.943 7.663.064 43.910.054 Madeira em tora (ton) Total 93.636.038 2.649.513 117.987.071 6.369.386 121.520.350 Para papel e celulose Plantada 46.009.475 273.115 54.698.479 2.228.867 60.964.307 Extrativa - - - - - Para outros fins Plantada 25.708.036 1.330.743 45.916.164 3.568.980 44.167.434 Extrativa 21.918.527 1.045.655 17.372.428 569.539 16.388.609 Fonte: IBGE (2000; 2005a, b; 2007). A produção total de carvão vegetal no Brasil aumentou em 66 % no período compreendido entre 2000 e 2007 alcançando 6,3 milhões de metros cúbicos. Entretanto, até 2005, esse aumento foi mais influenciado pelo extrativismo do que pela produção originada da silvicultura. No bioma Cerrado concentra-se a exploração de madeira nativa para produção de carvão vegetal, como também os maiores reflorestamentos energéticos do país (DUBOC et al., 2007). No período de 2000 a 2005, houve diminuição da quantidade de carvão oriundo da silvicultura em 7,5 %, enquanto que a quantidade produzida pelo extrativismo da vegetação nativa do Cerrado aumentou em 228 %, alcançando 1,9 milhões de metros cúbicos. A produção de madeira em tora para produção de papel e celulose que, no Brasil tem sua origem apenas na silvicultura, com um valor de 61 milhões de toneladas em 2007 superou em 32 % a do ano 2000. Na região do Cerrado, esse aumento foi bastante expressivo sendo a produção de 2,2 milhões de toneladas do ano de 2005 cerca de oito vezes superior à do ano 2000. A madeira em tora para outras finalidades apresentou aumento constante na produção originada da silvicultura e decréscimo do extrativismo, tanto no Brasil como no Cerrado. No Brasil, a produção originada da silvicultura, no qüinqüênio 2000 2005, apresentou aumento de 78,6 %, alcançando 45,9 milhões de toneladas, acompanhada de queda 20,7 % no extrativismo, reduzido para 17,4 milhões de toneladas. Já no bioma Cerrado, nesse mesmo período, a produção de 3,6 milhões de toneladas de madeira em tora para outras finalidades oriunda da silvicultura aumentou em 261 %, com respectiva redução de 45,5 %, na produção originada do extrativismo, que passou de 1,05 milhões para 570 mil toneladas. A produção total de lenha diminuiu entre 2000 e 2007 em função da redução da produção, tanto da silvicultura como da oriunda do extrativismo. Essa redução ocorreu tanto no Brasil como no bioma Cerrado. Entretanto, o extrativismo ainda responde pela maior parte da produção de lenha no Brasil.

Em 2005, o valor da produção do setor florestal foi de US$ 27,8 bilhões, ou seja, 3,5 % do PIB nacional. Nesse valor estão incluídos: celulose, papel, madeira industrializada sob todos os processos, móveis, siderurgia a carvão vegetal e produtos florestais não madeireiros (SOCIEDADE BRASILEIRA DE SILVICULTURA, 2006). No cenário internacional, o Brasil contribuiu com 4,6 % das exportações mundiais de produtos florestais madeireiros, destacando-se como o maior produtor e exportador de celulose branqueada de eucalipto e o primeiro exportador mundial de compensados de pinus. De acordo com análise da Balança Comercial do Agronegócio, divulgada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), as exportações do grupo de produtos florestais madeireiros, como celulose e papel, madeira sólida, painéis e móveis, foram superadas apenas pelos complexos soja e carnes, gerando uma receita de US$ 7,4 bilhões em 2005 (SOCIEDADE BRASILEIRA DE SILVICULTURA, 2006), respondendo por 15,1 % das exportações do agronegócio (HOEFLICH, 2005). Em 2007, a produção primária florestal do país somou R$ 12,1 bilhões, deste total, 68,7 % (R$ 8,3 bilhões) foram provenientes do segmento da silvicultura e 31,3 % (R$ 3,8 bilhões) do extrativismo vegetal. No segmento do extrativismo vegetal, a produção madeireira totalizou R$ 3,2 bilhões, ao passo que o valor da extração vegetal não madeireira alcançou R$ 585,3 milhões (IBGE, 2007). A procura por matéria-prima energética no país diminuiu nos últimos dez anos, mas aumentou o consumo de material nobre, como painéis e elementos estruturais de fibras médias de madeira. O Brasil experimenta, em alguns setores, escassez de madeira oriunda de reflorestamento, com consequentes altas nos preços. Essa escassez afeta mais significativamente as empresas sem base florestal própria, tais como pequenas serrarias e olarias, fábricas de móveis e outros pequenos consumidores de madeira, tais como, pizzarias, padarias e pequenas empresas de manufaturas de madeira (BACHA, 2005), ou seja, a produção gerada em florestas plantadas cresce, mas não compensa a menor produção originada de matas nativas. O consumo de madeira é estimado em aproximadamente 300 milhões de m 3 por ano. Somente 40 %, ou seja, 120 milhões de m 3 são provenientes de florestas plantadas. Há consenso que esse valor deveria ser ao redor de 80 % (FRANCISCO et al., 2004). Além dos programas de fomento florestal desenvolvido pelas empresas florestais nos últimos anos, várias instituições nacionais, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS), o Banco do Brasil (BB), o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA), têm criado e desenvolvido programas de financiamento ao setor florestal com apoio através de empréstimos a produtores e a empresas florestais (POU et al., 2006), como o PROPFLORA (Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas), PRONAF Florestal, (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), além dos Fundos Constitucionais do Norte, Centro Oeste e Nordeste: FNO - Floresta; FCO Pronatureza e o FNE - Verde. Entretanto, são linhas de crédito relativamente novas e ainda em fase de implementação e ajustes (SOCIEDADE BRASILEIRA DE SILVICULTURA, 2006). No ano de 2005, foram plantadas, entre reformas e novas áreas 553 mil ha. Desse total, cerca de 130 mil ha (23,6 %) originaram-se de programas de fomento florestal coordenados por diferentes empresas, entidades e instituições em pequenas e médias propriedades e 442 mil ha (76,4 %) de plantios próprios. A área plantada aumentou principalmente nas regiões Sudeste (48 %) e Sul (23 %), com destaque para os Estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Nas outras regiões, destaque para a Bahia, no Nordeste, Mato Grosso do Sul, no Centro- Oeste e Amapá, no Norte (SOCIEDADE BRASILEIRA DE SILVICULTURA, 2006). Apesar de as taxas internas de retorno (TIR) serem razoáveis, como o retorno vem somente a médio e longo prazos, as taxas de juros ainda elevadas desestimulam os produtores rurais a captarem crédito (BACHA, 2005). Em conjunto, o PRONAF - Florestal e o PROPFLORA permitiram, até 2003, a implantação de, no máximo, 11,8 mil ha de florestas. Isto é muito pouco, pois apenas os programas públicos no Paraná, nos anos de 2001 a 2003, permitiram a implantação de cerca de 23,8 mil hectares de florestas plantadas, ou seja, duas vezes mais do que os programas federais, de abrangência nacional (BACHA, 2005). Desde a safra 2002/2003 até o mês de maio de 2006, haviam sido fechados 4.881 contratos, somando um total de R$ 23 milhões financiados pelo PRONAF Florestal (FLORESTAR ESTATÍSTICO, 2006). Em 2005 e 2006 os valores totais desembolsados pelos Programas PRONAF - Florestal e PROPFLORA foram R$ 50,1 milhões e R$ 60,5 milhões, respectivamente (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS, 2007). Nesse contexto de oportunidades e limitações para o setor florestal, destacam-se os sistemas agroflorestais - sistemas de uso da terra nos quais espécies lenhosas são cultivadas de forma interativa com cultivos agrícolas, pastagens e/ou animais, visando a múltiplos propósitos, produtos e serviços. O principal objetivo dos sistemas agroflorestais é otimizar o uso da terra, conciliando produção de alimentos, energia e serviços ambientais com a produção florestal, diminuindo a pressão

pelo uso da terra para a produção agropecuária, possibilitando a conservação do potencial produtivo dos recursos naturais renováveis, através de sistemas agroecológicos mais estáveis (DUBOC, 2008). Os sistemas agroflorestais, além de propiciarem ingressos financeiros antes da maturidade da espécie florestal, podem aumentar a TIR (taxa interna de retorno) dos investimentos, além do VPL (valor presente líquido), do VAE (valor anual equivalente) e do VET (valor esperado da terra) (RODIGHERI, 1998; DUBE et al., 2002; SILVA, 2004; VALE, 2004), aumentando a atratividade do cultivo de florestas. Tais sistemas, se desenhados e manejados adequadamente, podem ser lucrativos e potencialmente sustentáveis, em especial para a região do Cerrado, proporcionando controle à erosão, manutenção da biodiversidade, sequestro de carbono, balanço de nutrientes e uso estratégico de fertilizantes, especialmente fósforo (DUBOC, 2008). No sistema agrissilvicultural denominado taungya, a espécie florestal é plantada junto a cultivos agrícolas de ciclo curto como milho, arroz, feijão e mandioca, com o objetivo de reduzir o custo de estabelecimento dos plantios florestais. No Brasil, esse sistema tem sido utilizado para baratear a formação de florestas, em especial a de eucalipto. Outro exemplo é a integração lavoura, pecuária e floresta. No Cerrado brasileiro, uma experiência bem sucedida é o programa adotado pela Fazenda Bom Sucesso da Companhia Mineira de Metais, no município de Vazante (SILVA, 2004). Nesse sistema agrissilvipastoril, o eucalipto é plantado em amplos espaçamentos (10 m x 4 m) junto com arroz no primeiro ano, seguido por soja e com a formação da pastagem, no terceiro ano. O gado, para recria e engorda, convive com o eucalipto do 4º ao 10º ano, quando é feito o corte, e conduzida a rebrota do eucalipto, com início de novo ciclo de cultivo agrícola. CONCLUSÕES Considerando as perspectivas futuras dos diversos segmentos consumidores de madeira e a oferta futura de madeira em função da maturação da atual base florestal plantada, pode-se constatar que a oferta de matéria-prima poderá ser o grande limitador para o crescimento da atividade industrial florestal (POU et al., 2006), o que pode ainda acarretar aumento de pressão sobre a vegetação nativa. Apesar do esforço brasileiro para fomento e disponibilização de crédito para produção de florestas, as tomadas de investimentos pelos produtores rurais ainda são tímidas. Assim, a característica dos sistemas agroflorestais de proporcionar entradas durante o período de imaturidade do povoamento florestal pode ser um fator de estímulo para aumento da oferta de produtos madeireiros no Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS (ABRAF). Anuário Estatístico da ABRAF 2007. Disponível em: <http://abraflor.org.br/estatisticas/anuario-abraf.pdf>. Acesso em 15 ago. 2008. BACHA, C.J.C. Muita mata e pouca madeira. Agroanalyses, Rio de Janeiro, p.36-39, 2005. DUBE, F. et al. A simulation model for evaluating technical and economic aspects of an industrial eucalyptus-based agroforestry system in Minas Gerais, Brazil. Agroforestry Systems, Neetherlands v.55, p.73-80, 2002. DUBOC, E. Cerrado: sistemas agroflorestais potenciais. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2008. 145p. DUBOC, E.; COSTA, C. J.; VELOSO, R. F.; OLIVEIRA, L. dos S.; PALUDO, A. Panorama atual da produção de carvão vegetal no Brasil e no Cerrado. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2007. 37p. (Documentos, 197). FAO. Situación de los Bosques del mundo. Roma: FAO. 2007. 144p. FLORESTAR ESTATÍSICO. Anuário 2006. Florestar Estatístico, v.9, n.18, 2006. FRANCISO, V.L.F.dos S.; CASER, D.V.; AMARO, A.A. Tipificação de produtores rurais com área reflorestada. Informações Econômicas, São Paulo, v.34, n.12, p.29-44, 2004. HOEFLICH, V.A. Plantações florestais: contribuições socioeconômicas e ambientais. 2005. Disponível em: <www.revistaopinioes.com.br/conteudo/celulosepapel/edicao005/artigos/artigo005-25-g.htm>. Acesso em: 5 jun. 2008. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Produção da extração vegetal e silvicultura. Rio de Janeiro: IBGE, v.22, 2007, p.1-47.. Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura do IBGE na base de dados AGROTEC da Embrapa, 2005a.. Produção da extração vegetal e silvicultura. Rio de Janeiro: IBGE, v.20, 2005b, p.1-50.. Produção da extração vegetal e silvicultura. Rio de Janeiro: IBGE, v.15, 2000, p.1-286. POU, M. S.; TOTTI, J. A.; MALINOVSKI, R. A. O presente e o futuro do setor florestal brasileiro. In: SEMINARIO DE ATUALIZAÇÃO SOBRE SISTEMAS DE COLHEITA DE MADEIRA E TRANSPORTE

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