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Transcrição:

DOCUMENTO PARA AUTORIDADES Situação da educação infantil no Brasil A Constituição de 1988 foi o primeiro instrumento legal a garantir o direito das crianças e de suas famílias ao atendimento em creches e pré-escolas 1. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96) definiu a educação infantil como a primeira etapa da educação básica, direito da criança e dever do Estado. A matrícula na pré-escola é obrigatória, como determina a Emenda Constitucional nº 59/2009 (EC 59/09), devendo ser implementada progressivamente até 2016, ou seja, até este prazo, tanto os administradores públicos quanto os responsáveis legais deverão garantir e efetivar, respectivamente, a matrícula das crianças de 4 e 5 anos de idade na pré-escola e se não garantirem vagas de qualidade para todos, poderão sofrer punição. Já a matrícula em creche, ainda que não tenha se tornado obrigatória, é um direito constitucional da criança e uma opção da família, e o poder público deve assegurar o acesso aos interessados. Contudo, os números do acesso à educação infantil mostram que esse direito não está garantido a todas as crianças. Apenas 18,4% das crianças brasileiras de 0 a 3 anos e 81,3% das crianças de 4 a 6 anos estão matriculadas na educação infantil 2. Além de esta média ser baixa e estar aquém da meta colocada pelo Plano Nacional de Educação (PNE) 2001-2011, recortes de renda, etnia, raça, campo, cidade e regiões do Brasil revelam o quanto este índice esconde desigualdades: 20,2% das crianças de 0 a 3 anos que moram na zona urbana frequentam a creche, mas a taxa cai para 8,8% na zona rural. Entre as famílias mais pobres, apenas 11,8% das crianças são atendidas em creches. Já entre as famílias mais ricas, a taxa sobe para 34,9%. 1 Constituição Federal de 1988. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) 2 Estudo realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2009. 1

Enquanto na região Sul 24,1% das crianças de 0 a 3 anos frequentam a creche, na região Norte este índice cai para 8,2%. cai para 16,6%. 19,9% das crianças brancas nesta faixa etária têm acesso à creche; entre as crianças negras, o acesso Entre as crianças de 4 a 6 anos da camada mais rica, 93,6% estão na pré-escola; a taxa cai para 75,2% na camada mais pobre. 73,1%. 83,1% das crianças de 4 a 6 anos da zona urbana frequentam a escola; na zona rural a taxa cai para Creches Considerando a obrigatoriedade de universalização da oferta de atendimento em pré-escola a partir de 2016, e a demanda de 50% de cobertura em creche até o último ano de vigência do novo Plano Nacional de Educação, estima-se a necessidade de construção de 39 mil unidades de educação infantil, cada uma atendendo 120 crianças. Por meio do Proinfância, o Ministério da Educação prevê a construção de 6 mil unidades até 2014. Porém, é necessária uma estratégia muito mais audaciosa, que envolva todos os entes federados, para garantir atendimento a todas as crianças de 4 e 5 anos, assim como para o atendimento à demanda da faixa etária de 0 a 3 anos. Segundo dados do próprio Ministério da Educação, foram firmados mais de 1,5 mil convênios no ano passado, mas as novas unidades ainda não estão prontas. A garantia do direito das crianças à educação deve ser cumprida, respeitando-se o conceito de instituição de educação infantil definido pela Resolução da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação nº 5, de 17 de dezembro de 2009: Art. 5º A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do 2

sistema de ensino e submetidos a controle social. (Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução CNE/CEB 5/2009). [grifos nossos] Neste sentido, consideramos inadequada qualquer proposta de mudança na Lei nº 9.394/1996 que possa ferir esse princípio da educação infantil. Diversidade Qualidade na educação infantil exige que sejam tomadas medidas efetivas para garantir o respeito à diversidade, quanto ao acesso, à formação dos profissionais, à adoção de materiais didáticos e práticas pedagógicas. Estudos têm demonstrado o impacto das atitudes e dos símbolos na reprodução de preconceitos desde a infância. Essa forma silenciosa de discriminação pode ser notada na diferença de tratamento dado às crianças, com a tendência a desvalorizar e dar menos atenção às crianças negras. Além da equidade de acesso às crianças negras, é preciso adotar práticas pedagógicas e materiais que valorizem a diversidade étnico-racial no cotidiano, por meio das interações e brincadeiras na creche e na pré-escola. 3 É preciso, ainda o reconhecimento e o respeito à história dos quilombos e dos espaços e dos tempos nos quais as crianças quilombolas aprendem e se educam. Dados preliminares do Censo da Educação Básica 2011 mostram que tem avançado a inclusão de crianças com deficiência na educação infantil. Entre 2007 e 2011, diminuiu em 33% o número de matrículas em classes especiais, passando de 64.501 crianças, em 2007, para 23.750, em 2011. Por outro lado, cresceu em 15,6% o número de crianças com deficiência matriculadas em instituições do ensino regular: eram 24.634 em 2007, e já são 39.367 em 2011. Mas ainda faltam recursos materiais, humanos e formação específica para melhor atender as crianças com deficiência. De acordo com o Censo Escolar 2010, 22.048 crianças indígenas de 4 a 6 anos de idade frequentavam a escola, um pequeno crescimento em relação a 2007, quando 18.389 crianças estavam matriculadas. Para garantir o direito das crianças indígenas à educação de qualidade desde a primeira infância, é preciso 3 Subsídios para o desenvolvimento de práticas pedagógicas promotoras da igualdade racial na educação infantil, publicado pelo Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades). 3

oferecer às escolas estrutura adequada e melhorar o acesso a material didático específico e a formação dos professores, de modo a valorizar a cultura dos povos indígenas e o ensino intercultural. Educação de qualidade Qualidade em educação é um conceito dinâmico, que depende de circunstâncias históricas, políticas, sociais e culturais. Assim, cada comunidade, município, estado ou país pode definir, de tempos em tempos, o que considera qualidade na educação infantil. Contudo, alguns princípios devem nortear a discussão em torno da qualidade: A criança deve ser respeitada como sujeito histórico, social, produtor de cultura, ativo e criativo. A educação infantil deve responder às exigências contemporâneas de aprendizagem e respeitar o direito das crianças e dos profissionais de se desenvolverem como seres humanos. Devem ser respeitados os modos como as crianças aprendem e a própria diversidade das infâncias. A educação infantil de qualidade integra cuidado, aprendizagem, interações e brincadeiras como elementos inseparáveis para esta faixa etária. Deve haver participação das equipes das creches e pré-escolas, das crianças, das famílias e das comunidades. É preciso investir mais na infraestrutura das instituições de educação infantil e no atendimento oferecido às crianças. A pesquisa Educação Infantil no Brasil: Avaliação Qualitativa e Quantitativa avaliou 150 instituições de educação infantil de seis capitais brasileiras e concluiu que quase a metade das creches e 30,4% das turmas de pré-escola da amostra têm nível de atendimento inadequado. Infraestrutura, atividades e interação com as crianças, materiais e brinquedos disponíveis foram alguns dos aspectos considerados. O estudo foi realizado pela Fundação Carlos Chagas, em parceria com o Ministério da Educação e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, e publicado em julho de 2010. As secretarias de educação ainda não adquiriram conhecimento mais especializado sobre bebês e crianças pequenas, os prédios e o mobiliário são planejados segundo o modelo escolar tradicional e os materiais pedagógicos não são apropriados para a creche. Deve-se considerar ainda que as condições inadequadas de infraestrutura e de formação dos profissionais nas instituições públicas e conveniadas de educação infantil reproduzem e reforçam desigualdades sociais. 4

Muitas vezes, o ambiente da creche ou da pré-escola não é diferente da casa da criança ou do entorno, dando poucas oportunidades para que as crianças desenvolvam novas habilidades e de acesso a conhecimentos diversificados. Risco: expansão e universalização com precarização 4 O texto do novo Plano Nacional de Educação prevê em suas entrelinhas a opção de compartilhamento da expansão das vagas entre a rede pública e privada. A emenda apresentada pelo relator propõe: 1.7) Articular a oferta de matrículas gratuitas em creches certificadas como entidades beneficentes de assistência social na área de educação com a expansão da oferta na rede escolar pública. Com isso, há um claro incentivo ao modelo precarizado de atendimento, por meio da prestação de serviço por meio de convênios, especialmente em creche. Em 2010, apenas 23,6% das crianças de zero a três anos estavam matriculadas, sendo que 36% dessas vagas eram privadas. No dia 20 de março de 2012, o governo federal editou a Medida Provisória nº 562 que modifica a redação do parágrafo 3º do artigo 8º da Lei nº 11.494/2007. A Medida Provisória prorroga a contabilização das matrículas conveniadas de pré-escola para efeitos redistributivos do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação). A proposta de redação do parágrafo 3º do artigo 8º da Lei nº 11494/2007 passaria a ser a seguinte: Artigo 8º... 3º. Será admitido, até o ano de 2016, o cômputo das matrículas das pré-escolas, comunitárias, confessionais ou filantrópicas, sem fins lucrativos, conveniadas com o poder público e que atendam às crianças de quatro e cinco anos, observadas as condições previstas nos incisos I a V do 2 o, efetivadas, conforme o censo escolar mais atualizado até a data de publicação desta Lei. [grifos nossos] Essa nova redação permite que todas as matrículas de pré-escola em instituições comunitárias, confessionais e filantrópicas, que sejam sem fins lucrativos e conveniadas com o poder público, voltem a ser contabilizadas no Fundeb. 4 Os dados deste item foram retirados do artigo Que caminho sinalizar?, publicado em 12 de abril de 2012 no blog Escola Pública, de Luiz Araújo, mestre e especialista em financiamento educacional. Acessado em: http://rluizaraujo.blogspot.com.br/2012/04/que-caminho-sinalizar.html 5

Em 2007 a decisão do Legislativo, a partir das pressões da sociedade civil (movimento Fundeb pra Valer! ), estabeleceu um prazo de quatro anos para esta medida e determinou que o contingente de matrículas ficasse congelado nos dados do Censo Escolar de 2006. De acordo com a MP nº 562, as matrículas não somente voltarão a ser contabilizadas como serão descongeladas! Os dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) mostram que o número de creches e pré-escolas conveniadas tem aumentado. Em 2009, o número de matrículas de creches em tempo integral que receberam recursos do Fundeb foi de 186.550 e, em apenas quatro anos, passou para 303.135. As matrículas de creches em tempo parcial que receberam repasses do Fundo passaram de 27.765 (2009) para 39.773 (2012). Se compararmos a taxa de crescimento nos últimos quatro anos entre oferta pública e oferta conveniada, o resultado também é preocupante: a creche integral pública cresceu 26%, enquanto a conveniada cresceu 62%. A oferta pública de creche em tempo parcial cresceu 35% e a conveniada cresceu 43%. Com a edição dessa Medida Provisória, estendeu-se o modelo para a pré-escola. Nada menos que 27,2% das matrículas privadas de pré-escola foram subvencionadas pelo poder público em 2011, incluindo instituições que sequer se enquadram como sem fins lucrativos. Se a MP for mantida, as matrículas de pré-escolas conveniadas subvencionadas pelo Fundeb cresceriam 28,5%. Tabela 1. Pré-escola conveniada no Fundeb no período de 2008 a 2011 (matrículas congeladas segundo Censo Escolar de 2006) versus pré-escola conveniada sem congelamento (Censo Escolar 2011) 2008-2011 2012 Regime 163.104 209.511 Total Tabela elaborada por Iracema Nascimento, com dados de Luiz Araújo. Fonte: Mec/Inep/Deed; FNDE. 6

Tabela 2. Evolução das matrículas em creche no Fundeb no período de 2009 a 2012 (sem congelamento) 2009 2012 Regime Conveniadas Públicas Conveniadas Públicas 186.550 740.192 303.135 931.407 Integral 27.765 388.469 39.773 526.253 Parcial Tabela elaborada por Iracema Nascimento, com dados de Luiz Araújo. Fonte: Mec/Inep/Deed; FNDE. Brasil Carinhoso O Brasil Carinhoso inclui antecipação de recursos do Fundeb para criação de novas vagas em creches públicas e conveniadas. Porém, segundo a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, a medida também pretende contribuir para a ampliação da oferta, uma vez que a construção por meio do Proinfância não vai atender a tempo a demanda existente nem em relação à creche, nem em relação à pré-escola. Haverá aumento do Bolsa Família, com garantia de renda superior a R$ 70,00 por pessoa a todas as famílias extremamente pobres com crianças de 0 a 6 anos. Isso representa aumento anual de R$ 1.362 por criança. O recurso será repassado não só para as creches públicas, mas também para as conveniadas que abram novas vagas e acolham as crianças atendidas pelo Bolsa Família. Também foi ampliado em 67% o repasse de recursos para a merenda escolar de todas as crianças matriculadas nesses estabelecimentos. Em que pese a relevância da proposição de políticas públicas para os segmentos menos favorecidos, que articulem setores do governo e ações já em andamento, cabe aqui manifestarmos preocupação com a expansão de convênios com instituições privadas que, em grande parte, não atendem às exigências dos respectivos sistemas de educação. Torna-se maior nossa preocupação quando observamos que, desde a EC 59/2009, alguns municípios vêm assumindo a expansão da oferta de vagas na pré-escola com paralela ampliação de convênios para o atendimento à demanda referente à faixa etária de 0 a 3 anos. Acreditamos que, tratando-se a ação Brasil Carinhoso de uma política interministerial, o Ministério da Educação deve assumir o papel de incluir ações de indução no sentido do cumprimento das exigências de regularização das instituições privadas, evitando a privatização da oferta de educação para as crianças bem pequenas dentro de parâmetros que ferem os documentos legais da área. 7

Transição da educação infantil para o ensino fundamental 5 Algumas redes públicas estaduais e municipais de ensino e instâncias do Poder Judiciário têm permitido o ingresso de crianças com 5 anos e até mesmo com 4 anos de idade no ensino fundamental. Essas decisões contrariam as resoluções do Conselho Nacional de Educação e a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação. A resolução do Conselho Nacional de Educação nº 1, de 14 de janeiro de 2010, instrui que somente crianças com 6 anos completos até o dia 31 de março devem ser matriculadas no ensino fundamental. A definição da faixa etária adequada está relacionada à concepção de educação infantil e de seu papel como primeira etapa da educação básica. A resolução do Conselho Nacional de Educação prevê que a organização curricular da educação infantil deve ter como eixo interações e brincadeira, ou seja, experiências adequadas às necessidades e potencialidades das crianças de até 6 anos 6. A matrícula de crianças com idade inferior a 6 anos no ensino fundamental fere o direito à infância dessas crianças, atendendo apenas à ansiedade de seus pais, familiares e/ou responsáveis por uma escolarização precoce que, supostamente, garantiria mais sucesso acadêmico e profissional no futuro, expectativas infelizmente amparadas pelo senso comum. Avaliação na educação infantil A avaliação na educação infantil deve se constituir no acompanhamento e registro do desenvolvimento da criança, não tendo o caráter de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. Esta etapa não pode ser vista como um momento de preparação das crianças para os anos posteriores em uma instituição de educação. A criança não deve ser vista como um adulto em miniatura, mas como um ser humano único, completo e, ao mesmo tempo, em crescimento e em desenvolvimento. 5 Corte etário em defesa da infância e da educação infantil, João Paulo Faustinoni e Silva (Promotor de Justiça da Infância e da Juventude, integrante do Grupo de Atuação Especial de Educação do Ministério Público do Estado de São Paulo). 6 Sobre o direito à Educação Infantil para as crianças de 5 anos, Maria Luiza Rodrigues Flores. 8

Por isso, deve ser repudiada qualquer tentativa de aplicar avaliações em larga escala para as crianças de educação infantil. Segundo a legislação brasileira, nessa etapa a avaliação deve considerar uma concepção de desenvolvimento integrado da criança, e por isso, deve ser processual, sistemática e contínua. Com base na observação, na reflexão sobre o desenvolvimento de atividades e de projetos, nas descobertas das crianças, a avaliação tem objetivos de diagnóstico e jamais de classificação, promoção ou retenção. A finalidade é a redefinição das estratégias metodológicas 7, que, de maneira variada e abrangente, documente a vivência da criança na creche ou pré-escola, dando visibilidade às suas realizações e conquistas, tornando explícitas suas hipóteses, pontos de vista, sentimentos e desejos. Nessa perspectiva, a documentação é um processo que contribui fortemente para a observação e escuta das crianças, de modo a possibilitar a realização de experiências significativas com elas. Cabe destacar que, de fato, precisamos desenvolver condições para avaliar a oferta de educação infantil, de forma a que todos os estabelecimentos sejam credenciados e tenham autorização de funcionamento dentro das normativas vigentes no respectivo sistema de ensino, sendo que estas devem estar em consonância com o ordenamento legal vigente, considerando os documentos nacionais elaborados nas últimas décadas de maneira democrática e participativa, representando o acúmulo da área. Da mesma maneira, criticamos as sugestões de que sejam aplicados testes de aprendizagem para avaliar as crianças aptas a serem matriculadas no ensino fundamental antes de completarem 6 anos. Além de contrariar os princípios estabelecidos por leis e resoluções, tais práticas criam um perverso mecanismo de punição às crianças que não são aprovadas em tais testes 8. Profissionais da educação infantil A valorização dos profissionais é parte imprescindível do compromisso de garantir educação infantil de qualidade. Além da garantia da remuneração justa, é preciso oferecer a esses profissionais formação adequada e recursos materiais e didáticos para atender as particularidades dos cuidados e da aprendizagem na creche e na pré-escola. Os cursos de formação inicial de professores tratam a educação infantil de maneira insuficiente e geralmente não incluem as creches em sua programação de disciplinas e estágios. 7 LDB (Lei 9.394/1996); Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil, Brasília: MEC, SEB, 2010; Parecer do Conselho Nacional de Educação n. 20/2009. 8 Sobre o direito à Educação Infantil para as crianças de 5 anos, Maria Luiza Rodrigues Flores. 9

Também é comum os programas de formação em serviço oferecidos para as pré-escolas não incluírem os trabalhadores das creches. Segundo a Sinopse do Professor 2009, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), dos quase 2 milhões de docentes na educação básica, 369 mil trabalham na educação infantil, sendo que destes últimos, 97% são mulheres. Destes, menos da metade possui nível superior (48,1%), outra quantidade praticamente igual possui apenas o nível médio (41,3%) e 10,7% são leigos. De acordo com a legislação, para atuar na educação infantil é preciso ter nível superior em curso de licenciatura, sendo aceito o curso de magistério de nível médio. No entanto, dos 369 mil professores da educação infantil, menos da metade possui nível superior (48,1%), outra quantidade praticamente igual possui apenas o nível médio (41,3%) e 10,7% são leigos. A LDB estabelece para os professores da educação infantil os mesmos direitos dos outros docentes da educação básica, como a valorização nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público, ingresso exclusivamente por concurso de provas e títulos, formação continuada, piso salarial profissional, progressão funcional, período reservado a estudos, planejamento e avaliação incluído na carga horária e condições adequadas de trabalho. No entanto, mais de dez anos depois do prazo para a transição da educação infantil da assistência social para a educação, persistem, sobretudo nas creches, cargos com nomenclaturas herdadas da assistência (educador infantil, monitores, recreadores, agentes e auxiliares de creche, pajem, etc.). O mecanismo é utilizado com dois objetivos: dispensar a formação adequada prevista na lei e fugir da obrigação de pagamento do piso salarial nacional para o magistério, como dos demais direitos dos profissionais de educação. Outro aspecto que não podemos deixar de mencionar é o quanto isso representa um retrocesso para a educação brasileira e, de modo especial para a educação das crianças, pois para minimizar custos é este profissional que assume as turmas em período em que não há professores ou, ainda, assume sozinho as ações de educação e cuidado junto às crianças de 0 a 3 anos de idade. 10

O que o Brasil deve fazer? Nossas reivindicações estão baseadas nas emendas do movimento PNE pra Valer! à proposta de Plano Nacional da Educação que tramita no Congresso Nacional e no Plano Nacional da Primeira Infância. São fruto do acúmulo de pesquisas e reflexões feitas por organizações da sociedade civil, educadores, universidades, além da população, sobre o tema. Acesso e qualidade são aspectos inseparáveis na educação. Uma instituição de educação infantil de qualidade para poucos ou uma sem qualidade para muitos não garante o direito à educação das crianças em território nacional. Para que o direito à educação infantil de qualidade seja garantido de fato, são necessárias mudanças estruturais na educação brasileira. Para isso é preciso: Universalizar, até 2016, o atendimento das crianças de 4 e 5 anos de idade na educação infantil e ampliar a oferta de vagas em creches de forma a atender, no mínimo, 30% das crianças de até 3 anos de idade até o quinto ano de vigência do novo Plano Nacional de Educação e 50% desta população até o último ano. Manter programa nacional de construção, reestruturação e aquisição de equipamentos para a rede pública de educação infantil, voltado à expansão e à melhoria da rede física de creches e pré-escolas públicas estipulada no item anterior, assegurando que os entes federados compartilhem as responsabilidades financeiras na seguinte proporção dos investimentos: 50% por parte da União, 25% por parte dos Estados e 25% por parte dos Municípios, conforme o número de unidades de ensino de educação infantil construídas, reestruturadas e adquiridas nos respectivos territórios municipais e estaduais. Prever espaços físicos com padrões de infraestrutura que correspondam à diversidade das crianças, suas características físicas e psicológicas e às atividades de educação e cuidado que devem ser realizadas no estabelecimento de educação infantil, incorporando os parâmetros do Desenho Universal e da acessibilidade. Garantir que, ao final da vigência do novo PNE, seja inferior a dez por cento a diferença entre as matrículas da educação infantil das crianças de até três anos oriundas das camadas mais rica e mais pobre da população. 11

Estimular o acesso à educação em tempo integral para todas as crianças de 0 a 5 anos conforme a função social, pedagógica e política da educação infantil expressa nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, definidas na Resolução 05/2009 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. O Distrito Federal e os municípios deverão realizar e publicar a cada três anos, a partir da aprovação do novo PNE, com a colaboração técnica e financeira da União e dos Estados, levantamento da demanda por educação infantil em creches e pré-escola, como forma de planejar e verificar o atendimento da demanda manifesta. O atendimento às crianças de 0 a 3 anos de idade em estabelecimentos de educação coletiva deve ser feito em tempo integral. A família é que pode optar pelo regime parcial ou integral. O aporte financeiro destinado à educação infantil deve ser ampliado, tomando-se como base os cálculos do Custo Aluno-Qualidade (CAQ), para que se possa aumentar o número de escolas e de matrículas em creche no Brasil, pois os recursos previstos no Fundeb são insuficientes para garantir o atendimento das crianças de 0 a 3 anos que ainda estão fora da creche. Implementar propostas curriculares e políticas educacionais capazes de articular adequadamente a educação infantil e o ensino fundamental, de forma a preservar as especificidades da faixa etária de 0 a 6 anos, com espaços físicos, materiais e brinquedos adequados, e visando evitar rupturas abruptas entre a primeira e a segunda etapa da educação básica, especialmente no tocante à alfabetização. Assegurar o cumprimento da Resolução CNE/CEB n 1/2010, do Conselho Nacional de Educação, que estabelece que somente crianças com 6 anos completos até o dia 31 de março sejam matriculadas no ensino fundamental. Para isso, devem ser suspensas as decisões judiciais e administrativas que contrariam tal norma através do julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade n 17 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). 12

10ª Semana de Ação Mundial O profissional de educação infantil deve ser incorporado aos sistemas públicos de ensino por meio de concurso público, como professor, e deve partilhar das mesmas condições de trabalho, incluindo-se planos de cargos e salários. Estabelecer um programa nacional de formação inicial e continuada dos profissionais de educação infantil, com a participação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de modo que: em cinco anos, 70% dos dirigentes de instituições de educação infantil possuam a formação em nível superior requerida pela legislação e que a taxa chegue aos 100% em 10 anos; em seis anos, 100% dos professores tenham formação específica de nível superior; em dez anos, todos os professores tenham formação em educação inclusiva e em libras. Estimular a articulação entre programas de pós-graduação stricto sensu e cursos de formação de professores para a educação infantil, de modo a garantir a construção de currículos capazes de incorporar os avanços das ciências no atendimento da população de 0 até 6 anos. Manter programas de formação de pessoal especializado, de produção de material didático e de desenvolvimento de currículos e programas específicos para educação escolar nas comunidades indígenas e quilombolas, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades e considerando o fortalecimento das práticas socioculturais e da língua materna de cada comunidade indígena. Garantir, por meio de programas de formação de profissionais e de materiais didáticos e pedagógicos, o reconhecimento e a valorização das diferenças de gênero, étnico-racial, religiosa, cultural e de pessoas com deficiência na educação infantil. Prever e estimular formas de garantir a participação dos professores e das famílias na formulação da proposta pedagógica das instituições de educação infantil. Criar um programa nacional de brinquedos para a educação infantil, complementar ao programa de materiais pedagógicos, adequados às faixas etárias e às necessidades do trabalho educacional. 13

10ª Semana de Ação Mundial A ampliação da matrícula das crianças de 0 a 3 anos deve ocorrer em estabelecimentos de educação coletiva da rede pública de ensino e não em instituições privadas de redes conveniadas ou a partir da compra de vagas. Os Estados e municípios devem unir esforços para o cadastramento, o credenciamento e a autorização de funcionamento de todos os estabelecimentos de educação infantil junto aos respectivos sistemas de ensino. A autorização de funcionamento deve exigir a elaboração e o desenvolvimento de propostas pedagógicas que considerem as potencialidades e as necessidades das crianças de 0 a 6 anos, conforme orientam as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil. Implementar o Plano Nacional Primeira Infância, aprovado pelo Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) em 14/12/2010 e adotado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, prevendo a integração de políticas de educação, proteção, assistência social e saúde para as crianças de 0 a 6 anos. Subscrevem este documento: Comitê Diretivo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação Ação Educativa ActionAid CCLF (Centro de Cultura Luiz Freire) Cedeca-CE (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará) CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação) Fundação Abrinq-Save The Children Mieib (Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil) MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) Uncme (União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação) Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) Comitê Técnico da Semana de Ação Mundial 2012 Ação Educativa Aliança pela Infância Cedeca-CE 14

Fundação Abrinq-Save the Children Instituto C&A Mieib (Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil) RNPI (Rede Nacional Primeira Infância) Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) Unesco Unicef 15