A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS: QUALIFICAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA E GESTÃO DOS RESÍDUOS DE GESSO ACARTONADO

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Transcrição:

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS: QUALIFICAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA E GESTÃO DOS RESÍDUOS DE GESSO ACARTONADO WAGNER COSTA BOTELHO (BASILIDES) wagner_botelho@terra.com.br RENATA MACIEL BOTELHO (BASILIDES) renatabotelho@hotmail.com ODUVALDO VENDRAMETTO (UNIP) oduvaldov@uol.com.br O mercado brasileiro da Construção Civil, inicia processos de Inovações Tecnológicas radicais. Novos materiais, industrialização, novos equipamentos, sistemas modernos de gestão, novo perfil de mãode-obra, estão rompendo metodologias e fillosofias tradicionais. Tratando-se de setor em que utiliza mão-de-obra intensiva e de baixa qualificação, se providências não forem tomadas a tempo, as mudanças que começam a acontecer, trarão significativas alterações na mão-de-obra, com conseqüente aprofundamento da atual crise de desemprego. Outro aspecto a ser considerado em função da Inovação deste setor, é a utilização constante do gesso acartonado deste o stand de vendas até o término da obra, gerando assim o gesso como resíduo, até então muito pouco reciclável, gerador de impacto ambiental. O objetivo deste trabalho é prospectar conclusões que possibilitem antecipar decisões que minorem o agravamento do desemprego de trabalhadores da Construção Civil de baixa qualificação, bem como apresentar as práticas de descarte do gesso acartonado em obras civis. Esta pesquisa revela, no canteiro de obra, o uso de mão-de-obra má qualificada, sem treinamento, para atividades em que a Inovação Tecnológica se faz presente, além do descarte pouco consciente do gesso acartonado, mais comumente nomeado de Drywall. A Inovação Tecnológica vem sendo implantada por terceiros usando mão-de-obra diferenciada daquela tradicional e em menor número, com responsabilidades de descarte dos resíduos, dividida entre a construtora / incorporadora e os empreiteiros. Não está havendo transferência do trabalhador tradicional para as novas ocupações e necessidades que estão surgindo decorrente da Inovação Tecnológica. Painéis de gesso acartonado do tipo Drywall substituem a alvenaria convencional de tijolos, porém, deixando resíduos de difícil reciclagem, não considerado como entulho da Construção Civil.

Palavras-chaves: Inovação tecnológica; Construção civil de edifícios; Desemprego; Resíduo da construção civil; Gesso acartonado. 2

1. Introdução a situação problema A dinâmica da economia de mercado à qual o país aderiu mais claramente a partir da década de noventa, levou as empresas de um modo geral, a buscarem a eficiência no seu processo de produção para tornarem-se competitivas, por meio da implantação de ações que resultem na redução dos custos, sem negligenciar a qualidade exigida para o produto. Neste período, empresas sem base tecnológica, outras que em função de seus produtos tiveram fortes concorrentes, a entrada de empresas internacionais em estágio de produção mais evoluído em termos de tecnologia. Isso vem forçando uma mudança rápida na atualização dos processos de gestão sob pena de ficarem completamente fora do mercado. Nos passado, setores de autopeças, eletrodomésticos, eletrônicos, como os segmentos da Construção Civil, não se viram ameaçados. Esse fato começa a mudar. A redução de programas públicos para investimentos em moradias populares e outras grandes obras passou a exigir das empresas uma concorrência acirrada entre empreendimentos privados como a construção de hotéis, prédios para escritório e apartamentos de alto padrão. Os clientes, mais exigentes, alguns com padrão internacional como o caso das redes hoteleiras, passaram a exigir que a construção fosse feita mais rapidamente, utilizando tecnologias e materiais que assegurassem a qualidade, facilidades de manutenção e que o preço fosse compatível. Hoje, as mudanças que estão ocorrendo na Construção Civil dão a denominação de Indústria da Construção Civil e coloca fora do canteiro de obras, a responsabilidade pela elaboração e eventualmente montagem de um número cada vez maior de componentes que farão à edificação, além de imputarem a estes fornecedores responsabilidades solidárias, quanto aos impactos ambientais. Este trabalho ocupou-se em pesquisar as propostas de novas tecnologias, materiais, processo e perfil do trabalhador dos componentes Drywall e os aspectos e impactos ao meio ambiente antes, durante e após da obra, frente a um quadro onde as empresas passaram a exigir um trabalhador com nova qualificação e com visão globalizada, porém, onde os efeitos negativos e positivos ao meio ambiente são observados de forma diminuta. 1.1. Evolução tecnológica da gestão na construção civil Tradicionalmente resistentes à modernização de seus meios de produção, as empresas construtoras brasileiras do setor de edificações vêem-se hoje pressionadas a investir continuamente na melhoria de seus produtos e na evolução de seus processos de produção em busca de maior competitividade com foco na qualidade, segurança, meio ambiente, responsabilidade social e saúde de seus trabalhadores como garantia de sobrevivência no mercado. (SILVA, 2003) Observam-se inserções de inúmeras Inovações Tecnológicas relativamente a materiais, processos, projetos e gestão. São visíveis na Construção Civil os sinais de mudanças tecnológicas que por vezes afetam o meio ambiente. As obras civis que se colocam nesse conjunto, são executadas por especialistas como em uma linha de montagem em regime de 3

Just-In-Time 1. Novas tecnologias têm substituído os equipamentos, materiais ambientalmente incorretos, métodos e pessoas. Esta pesquisa estará concentrada em um aspecto evolutivo: parede de gesso acartonado Drywall. Taniguti (2000) avalia que as construtoras vêm procurando, por exemplo, entre outras ações, racionalizar as vedações verticais dos edifícios, seja, através da utilização da alvenaria 2 racionalizada 3 ou, mais recentemente, com paredes 4 divisórias de gesso acartonado 5. Atualmente coexistem, no mercado, vários processos de produção de vedações verticais: processos de montagem no próprio local e de montagem mecânica de componentes industrializados fora da obra. 2. Objetivos do trabalho Tendo em vista a complexidade, o tamanho e a abrangência da cadeia produtiva da Construção Civil, optou-se em limitar pelo estudo da interferência de processos produtivos e inovados tecnologicamente, como o da Parede de Vedação Vertical Interna, ou somente Vedação Vertical Interna, quanto à capacitação dos trabalhadores e o impacto ao meio ambiente. Portanto, este trabalho se restringe a Parede em Drywall, abstendo-se do processo produtivo da parede de alvenaria tradicional 6. O objetivo proposto com este trabalho está direcionado para processos inovados tecnologicamente e os tradicionais, no estudo da mudança do perfil, dos requisitos de conhecimento exigidos dos novos profissionais, a provável redução de postos de trabalho disponíveis, a trabalhadores de baixa qualificação atuantes em obras com processos inovados tecnologicamente, além das alternativas de gestão dos resíduos de gesso acartonado. De forma explicita os objetivos podem ser apresentados: 1) Avaliar impactos, tendo como foco a mudança do perfil do trabalhador e os requisitos de conhecimento exigidos para os novos profissionais e a provável redução de postos de trabalho disponíveis a trabalhadores de baixa qualificação no caso pesquisado, atuante no modelo atual; 2) Discutir as alternativas para gestão dos resíduos de gesso acartonado de construção civil à luz do conhecimento, hoje disponível dentro da realidade brasileira. Esta discussão se insere no quadro de ações que foram geradas pela aprovação da resolução do CONAMA nº. 307. Segundo Campbell (2008), nos EUA a perda na construção civil devido às atividades de corte do gesso acartonado transformado em resíduos está estimada entre 10 a 12 %. No Brasil, estima-se que 5% do gesso acartonado é transformado em resíduos durante a construção, que em se tratando de uma obra nova, vai desde a demolição do stande de vendas até mesmo as aparas geradas durante a construção, além do resíduo gerado nas reformas e demolição em 1 Just-In-Time: significa que, em um processo de fluxo, as partes corretas necessárias à montagem alcançam a linha de montagem no momento em que são necessárias e somente na quantidade necessária. Uma empresa que estabeleça este fluxo integralmente pode chegar ao estoque zero. (SIMÃO, 2004) 2 Alvenaria: é um componente construído em obra através da união entre tijolos ou blocos por juntas de argamassa, formando um conjunto rígido e coeso. (LORDSLEEM, 2001) 3 Alvenaria Racionalizada: é um dos exemplos de aplicação da racionalização às atividades de racionalização construtiva. Entende-se por racionalização construtiva todas as ações que objetivam otimizar o uso dos recursos disponíveis na construção em todas as suas fases, ou seja, a aplicação mais eficiente dos recursos em todas as atividades que se desenvolvem para a construção do edifício. A alvenaria racionalizada se deu em contraponto à alvenaria denominada tradicional. (LORDSLEEM, 2001) 4 Paredes: Elementos de vedação ou separação de ambientes, geralmente construído em alvenaria. 5 Divisórias de gesso acartonado: Paredes que separam compartimentos de uma construção. As placas de gesso acartonado, são compostas por um miolo de gesso e aditivos, envolto por cartão especial. A soma destes elementos, resistentes a esforços de compressão, o gesso, e tração, o cartão, resultam em uma superfície de revestimento e acabamento, a qual se pode pregar aparafusar, serrar e trabalhar inclusive superfícies curvas. 6 Alvenaria Tradicional: é caracterizada por grandes desperdícios, adoção de soluções construtivas no próprio canteiro de obra, ou seja, no momento da realização da obra, pelo pedreiro, com ausência de fiscalização dos serviços, deficiente padronização do processo de produção e ausência de planejamento prévio à execução. (LORDSLEEM, 2001) 4

geral. Chiavenato (1996) explica que, a medida em que ocorre o avanço tecnológico, aumenta a necessidade do preparo dos recursos humanos e da utilização de um sistema de administração aberto, participativo e democrático. Além deste fato identificado por Chiavenato, o avanço tecnológico, por vezes, também, impacta o meio ambiente. Este impacto pode ter aspectos positivos ou negativos. O presente trabalho procura assim, prospectar a mudança de perfil do trabalhador na Construção Civil que está transitando da construção para a montagem, com uma tendência futura de desemprego tecnológico em função do novo perfil profissional exigido para este setor, além de procurar discutir as alternativas para gestão dos resíduos de gesso acartonado de construção à luz do conhecimento hoje disponível dentro da realidade Brasileira. 3. Metodologia Este trabalho de pesquisa é de caráter exploratório. A pesquisa de caráter exploratório segundo Martins (1993) apud Mihalik (2001), é colocada como o passo inicial para a tomada de consciência de um problema, para posterior formulação das hipóteses sobre o mesmo. A ferramenta técnica de investigação Delphi-Web foi o método proposto para entendimento ao estudo da mão-de-obra na Construção Civil. Mattar (1996) esclarece que a pesquisa exploratória visa prover o pesquisador de um maior conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva, sendo útil quando ainda não se tem um conhecimento seguro sobre o tema em questão, proporcionando ao pesquisador um maior aprofundamento e esclarecimento sobre o tema. Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. A escolha do método estudo de caso para este trabalho, está na necessidade de um exame detalhado de um pequeno número de ocorrências concretas e específicas, selecionadas como representativas de um grupo relevante, para questões consideradas, mas, não necessariamente, representativas da população como um todo. É fundamental ressaltar que, apesar de as atividades pesquisadas serem significativas de acordo com o referencial teórico apresentado, não esgota as possibilidades do tema em estudo. Entretanto, em função dos objetivos propostos, o método estudo de caso é o adequado. 3.1. Técnica de investigação delphi-web A técnica de investigação Delphi-Web, que é a ferramenta de prospecção de tendências, foi escolhida para a análise do ambiente externo de obtenção de dados, recomendada para a previsão de cenários quanto a mão-de-obra na Construção Civil. Por meio desta técnica, especialistas trocaram informações que foram submetidas a diversas rodadas de respostas. Esta técnica, segundo Wright (2003), é uma ferramenta de pesquisa qualitativa utilizada em situações nas quais se pretende identificar fatores que tenham probabilidade de influenciar o futuro. Entrevistas sucessivas foram realizadas na forma de um processo de opiniões, até que se atinjisse uma convergência das informações existentes, ou seja, uma variação do Brainstorming, objetivando um consenso relativo de especialistas sobre a época em que alguns eventos selecionados devem ocorrer. Seqüência básica na execução da técnica: Elaboração do questionário da primeira rodada da pesquisa e seleção dos painelistas; Preenchimento do questionário estruturado pela Internet: <www.zoomerang.com>. Os respondentes são comunicados por e-mail e preenchem o 5

questionário diretamente pela Internet; Análise dos resultados. Após a análise da 1ª Rodada, decidir da necessidade de incorporação de novas questões na 2ª Rodada, o que é bastante comum; Elaboração do questionário da segunda rodada com o uso do feedback dos resultados da rodada 1 e análise dos resultados da rodada 2. No mínimo, duas rodadas são necessárias; Complementação da pesquisa. Nas visitas os entrevistados devem ser os responsáveis pelo(s) processo(s) pesquisado(s); Conclusões gerais e relatório final. 4. Organização do trabalho na construção civil O trabalhar é essencial à vida humana, porém, a preservação do meio ambiente deve estar intrinseca na cultura desse trabalhador. Junto às transformações que o trabalho vem passando ao longo da história, foram introduzidas inovações tecnológicas nos processos de trabalho e produção, principalmente através das máquinas. Estas mudaram substancialmente a composição do trabalho e da mão-de-obra. Quanto a interação do trabalho na Construção Civil com o meio ambiente, a sociedade está exercendo forte pressão para que haja uma diminuição do impacto de suas atividades. Hoje as empresas têm cuidado de alguns de seus resíduos, a medida em que haja tecnologia específa de reciclagem e disposição em locais aproporiados. Corroborando com Farah (1992) e Grandi (2003), Franco (1995) descreve que a Indústria da Construção Civil é de grande importância para o desenvolvimento da Nação Brasileira, tanto do ponto de vista econômico, destacando-se pela quantidade de atividades que intervêm em seu ciclo de produção, gerando consumos de bens e serviços de outros setores, como do ponto de vista social, pela capacidade de absorção da mão-de-obra. Quanto à origem dos trabalhadores de alguns setores da Indústria da Construção Civil, Lamera (2000) constata que a Construção Civil é um ramo da indústria que absorve o fluxo migratório para os centros urbanos, sendo os trabalhadores migrantes, quase sempre com baixo nível de escolaridade e precária formação profissional, encontrando na Construção Civil a possibilidade de venda da sua força física de trabalho. Este contexto gera a terceirização, a alta rotatividade e a fragilidade dos vínculos empregatícios tornando difícil para o gerenciador controlar a obra, distanciando os elos da produção e dificultando o controle da qualidade. No entanto, o governo brasileiro por meio de programas setoriais, tem demonstrado preocupação, no sentido de reduzir as enormes disparidades regionais do país, e ao mesmo tempo, procura formas de aumentar ou estabilizar os níveis de renda e emprego da população. Face às características sócio-econômicas do Brasil, há grande necessidade de se buscar alternativas que permitam consolidar setores com perfil absorvedor de mão-de-obra de baixa qualificação. (VENDRAMETO, 2002) 5. Construção civil e o meio ambiente A Indústria da Construção Civil, segundo Guerrini (1999), se relaciona com grande parte dos setores industriais, desde a fase extrativista de minérios para fabricação de materiais e componentes até a automação de edifícios, onde não obstante a questão ambiental se faz presente. Ela é considerada por alguns autores como o coração da economia, devido ao fato de ser um dos setores mais sensíveis às mudanças. Sua participação decresce nos períodos recessivos, enquanto que seu crescimento é maior que a média do país, em épocas de expansão. (PICCHI, 1993 apud FRANCO, 1995) A ação necessária para que isto ocorra de modo gradual e sem impactos aos recursos humanos 6

do setor, é proporcionar aos trabalhadores qualificação e conscientizarão para que absorvam esta fase de transição e sejam capazes de colaborar na execução de novas tarefas com qualidade nas tarefas, segurança em seus atos e ações positivas com o meio ambiente. A implantação de um programa de Gestão Integrada com base nos requisitos das normas NBRISO9001:2000, NBRISO14001:2004 e OHSAS18001:2007 (qualidade 7, segurança e meio ambiente, respectivamente) contribui para esse êxito. Estas características estão inter-relacionadas em um contexto geral com outras áreas da engenharia mecânica, elétrica, produção, etc., que leva a concluir que em todos estes subsetores os aspectos e impactos ambientais se fazem presentes. Portanto, a decisão sobre a qualidade, segurança e impacto ambiental do produto é dada ao cliente, o maior interessado. 5.1. Tendências A reestruturação produtiva da Cindústria da Construção Civil está mais ligada à utilização de novos materiais do que à introdução de novas máquinas e equipamentos. É o caso das estruturas metálicas (que substituem as estruturas de concreto armado), dos painéis de gesso acartonado Drywall, que substituem as paredes de alvenaria, dos sistemas de tubos flexíveis PEX (que substituem os tubos rígidos PVC e Cobre) e da argamassa semi-pronta, adquirida em embalagens (que substitui a argamassa roladaro). É visível uma forte tendência à utilização de sistemas construtivos baseados na pré-fabricação de elementos antes produzidos no próprio canteiro, transformando o processo de construção em sistemas de montagem, carecendo de um controle direto e efetivo sobre os aspectos e impactos ambientais produzidos neste meio. Espera-se que com a implantação de Sistemas de Gestão Integrada, como a norma NBR ISO9001:2000 (qualidade), NBR ISO14001:2004 (meio ambiente) e OHSAS 18001:2007 (saúde e segurança ocupacional) que enfatizam a importância do treinamento e exige que sejam assegurados e comprovados seus resultados qualitativos, ambientais e de saúde e segurança. Como este trabalho se preocupa entre outros, em analisar também o aspecto humano envolvido nessas modificações do processo construtivo, pela introdução de novos materiais e conseqüentemente novo perfil de mão-de-obra, a conclusão de Farah (1992) compartilha com a preocupação deste trabalho ao afirmar que:... os ofícios sofrem assim um novo processo de empobrecimento e extinção, apesar da continuidade da necessidade de domínio de um saber fazer que não se subordina integralmente a uma prescrição padronizada. É nítido que os aspectos logísticos passaram a ter extrema relevância dentro deste novo cenário da Construção Civil e obrigatoriamente este modelo somente atingirá o sucesso mediante um trabalho exaustivo de planejamento e responsável, dentro e fora dos canteiros de obra: A escolha do sistema construtivo determina também a especificiadade e habilidade da mão-de-obra. (SACOMANO et al, 2004) 6. Tecnologia x aspectos e impáctos gerados no descarte do gesso acartonado No entendimento popular e de muitos empresários, a tecnologia é o equipamento, a máquina, o software. A confusão se estabelece com a capacidade da máquina ou equipamento de realizar operações complexas, controlar e até decidir em determinadas situações pela parte física, concreta desses aplicadores de tecnologia. O pragmatismo do empresário leva a 7 Um programa de qualidade significa a implantação de novas tecnologias, na medida em que deve subverter a situação reinante e fazer prevalecer novos processos. Por outro lado, o trabalhador, disposto a participar e a colaborar, anseia por um tratamento justo e digno. Os trabalhadores podem oferecer mais do que mãos capazes, devendo ser integrados ao processo de trabalho como pessoas completas. 7

considerações do tipo a compra dessa tecnologia possibilitará dobrar a produção pelo simples fato de ter adquirido uma máquina. (VENDRAMETO, 2003) Não é objeto deste item se aprofundar na discussão epistemológica sobre o termo tecnologia, no entanto, uma definição é apresentada: Porter (2004) define que tecnologia é sobretudo conhecimento. Esse conhecimento instrumentaliza-se quando se incorpora numa ferramenta ou equipamento tangível, em procedimentos, métodos, técnicas, algoritmos, softwares e anotações:... de todas as coisas que podem modificar as regras da concorrência, a transformação da tecnologia figura entre as mais proeminentes. Nesse contexto, a tecnologia tem dado vantagem competitiva para as organizações que nela investem, como resultado de serem melhor sucedidas que seus concorrentes ou serem diferentes de seus concorrentes naquilo que oferecem. 6.1. Tecnologia na construção civil O atual modelo tecnológico da Indústria da Construção Civil, não se estabeleceu em um curto prazo. Houve um longo período de desenvolvimento. Observa-se, assim, que é recente a preocupação do setor da Construção Civil em alterar as suas características de produção, com a implantação de novas tecnologias e com a redução dos aspectos e impactos ao meio ambiente. Não obstante a realidade, com a retração do mercado, existe uma tendência do setor da Construção Civil em buscar a racionalização 8 da produção, a fim de obter ganhos de produtividade e minimização de custos e prazos, com o uso de novos materiais e novas tecnologias construtivas. Sobre esse assunto, Grandi (2003), afirma que a produção na Construção Civil inovada com diferentes materiais,... gera uma mudança na consciência profissional (...) o profissional executa uma parede em blocos de concreto e é automaticamente forçado a executá-la com precisão, ao contrário do que faria com material cerâmico (...) todo o sistema leva o profissional a produzir mais e melhor e, como conseqüência, a ganhar mais. Assim reduz-se o desperdício, de materiais e de mão-de-obra. 7. Inovação tecnológica A Inovação Tecnológica não é invenção empírica de gênios criadores e que surge da noite para o dia. O processo de Inovação Tecnológica envolve a criação de tecnologia continuamente, baseada em pesquisa de desenvolvimento, criação, uso e validação pelo mercado. (MANZONE, 2005) Tomando como base Porter (2004), a Inovação Tecnológica pode ser divida em: Substituição de equipamentos; e Aquisição de novos conhecimentos e métodos. Rifkin (2001) observa que enquanto as primeiras tecnologias industriais substituíram a força física do trabalho humano, trocando força muscular por máquinas, a Inovação Tecnológica baseada no computador promete substituir a própria mente humana, colocando máquinas inteligentes no lugar dos seres humanos em toda a escala de atividade econômica. Inovação Tecnológica na Construção Civil não depende somente de fatores intrínsecos aos canteiros. A melhoria do ambiente de negócios e a união dos elos que compõe a cadeia produtiva são fundamentais. (COZZA, 2005) 7.1. Inovação tecnológica na construção de edifícios Lino (2005) considera que a Construção Civil iniciou uma nova rota em busca da industrialização de seus processos. A idéia consiste em eliminar os aspectos artesanais do 8 Estratégia de ação adotada pelas empresas construtoras para enfrentar a concorrência de mercado. (FARAH, 1996) 8

processo de produção e passar a operar como uma indústria. Para tanto são necessárias algumas quebras de paradigmas e apostas em novas soluções tais como painéis pré-fabricados para fachadas, gesso acartonado, banheiros prontos, estruturas metálicas, estruturas préfabricadas de concreto, sistemas hidráulicos flexíveis, entre tantas alternativas. Estes novos sistemas além de trazerem melhores índices de desempenho em relação aos utilizados anteriormente, permitem um melhor controie na produção e execução dos mesmos. 7.2. Inovação na construção civil e o meio ambiente como estratégia competitiva Segundo Porter (2004), a tecnologia como arma competitiva deve trazer de alguma forma uma liderança de custo, uma diferenciação do produto e um novo enfoque no mercado. Para Sacomano et al. (2004):... a adoção de critérios competitivos para as empresas de Construção Civil baseados em qualidade, saúde e segurança, custo, flexibilidade, gestão da cadeia de suprimentos, meio ambiente e prazo de entrega, suporta a tomada de decisões gerenciais que serão desenvolvidas por intermédio de uma estrutura operacional de planejamento e controle de produção. Nesse sentido, os fornecedores deverão conduzir o processo de desenvolvimento de novos produtos a partir de uma estratégia de princípios de colaboração e confiança junto aos construtores: A tecnologia pode dar vantagem competitiva para uma empresa como resultado de ser melhor que seus concorrentes naquilo que oferece. (SLACK, 2002) 8. Emprego Alguns analistas vêem o progresso técnico como o grande e único responsável pela redução de empregos, sendo a Inovação Tecnológica pela desigualdade de renda. Porém, a coincidência do avanço tecnológico com o aumento do desemprego não é suficiente para se concluir que o avanço da tecnologia produz desempregos. Segundo Vendrametto (2002), a nova configuração, dada pela globalização econômica em termos de organização da produção, tem como conseqüência dois destaques: 1) A perda de identidade de cadeias produtivas (fracionamento das cadeias) e, 2) A exclusão social (redução de postos de trabalho e seletividade externa para os novos postos). Quanto a Construção Civil brasileira, Sacomano (2002), neste contexto, relata que as construtoras passam a cobrar maior capacitação de seus subcontratados e estabelece novos parâmetros para a terceirização de serviços/produtos dentro e fora da obra, podendo assim agir de modo mais formal (Contratos de Prestação de Serviços bem específicos) na cobrança de aspectos qualitativos, de saúde e segurança e ambiental. Portanto, a mão-de-obra que foi educada e preparada até a pouco, vem perdendo espaço rapidamente sem entender o que se passa, principalmente em razão da rapidez dos acontecimentos, que não permitem tempo para digerir e adequar-se à nova realidade. No Brasil, com respeito à oportunidade de empregos, a Indústria da Construção Civil é responsável por grande parte dos empregos diretos, sendo uma grande geradora de ocupação da mão-de-obra quando se compara com outras atividades industriais. Aponta-se este setor como sendo aquele que mais emprega no setor industrial. 9. Desemprego Uma conseqüência da Inovação Tecnológica é a eliminação de empregos, pois um trabalhador monitorara três robôs de soldagem onde antes exigia-se quatro trabalhadores. Em 1966, Makham já advertia que... a tecnologia traria a pobreza devido ao desemprego provocado pela automação de processos, principalmente para os que levavam para o local de trabalho, apenas músculos e 9

força, aos quais, faltava não só especialização, mas também o potencial básico para adquirir especialização. Hoje, todos os três setores tradicionais da economia agricultura, indústria e serviços estão vivenciando a Inovação Tecnológica, encaminhando milhões de trabalhadores para as filas do desemprego. Segundo Rifkin (2001), o único novo setor emergente é o setor do conhecimento, formado por uma pequena elite de empreendedores, cientistas, técnicos, programadores de computador, profissionais, educadores e consultores. É por isso que este trabalho pretende prospectar algumas referências que possibilitem antecipar decisões que minorem o agravamento do desemprego de trabalhadores da Construção Civil de baixa qualificação considerando suas dificuldades em migrar para outras funções, bem como, apresentar as práticas de descarte do gesso acartonado DryWall em obras civis. 10. Materiais estudados e as alternativas de gestão dos resíduos de gesso acartonado A atual situação sócio econômica do Brasil tem levado as empresas construtoras a buscarem eficiência no seu processo de produção. Nesse contexto, o uso das chapas de gesso acartonado do tipo Drywall na produção de vedações verticais (ESGA Execução em Sistema de Gesso Acartonado) bem como o sistema hidráulico tipo PEX (Polietileno Reticulado), vem se tornando cada vez mais intenso, substituindo respectivamente a tradicional vedação em alvenaria e tubulação hidráulica em PVC (Policloreto de Vinilo - Policloroeteno). No interior de edifícios, no emprego de paredes que não estão sujeitas a esforços, constituindo meros elementos de divisão, há o interesse, sob o ponto de vista econômico, em usar materiais leves e de rápida execução. Painéis de gesso acartonado Drywall é um dos elementos de inovação à ser estudado nesta pesquisa, figura 01. Figura 01: Parede de Drywall Fonte própria - Foto tirada pelos autores em feira de exposição FEICON 2009 10.1. Paredes de gesso acartonado No atual setor da Construção Civil, sub-setor de edificações, entre tantos métodos construtivos tecnologicamente inovadores, pode-se citar a Execução do Sistema de Gesso Acartonado (ESGA) para fechamento vertical. De acordo com a definição da ABFCD (2008) 10

Associação Brasileira de Fabricantes de Chapa de Drywall, a concepção básica do sistema de paredes é de uma estrutura leve em perfis de chapas de aço galvanizado, constituída basicamente por guias e montantes, sobre os quais são fixadas chapas de gesso, em uma ou mais camadas, gerando uma superfície pronta para receber o acabamento final (pintura, papel de parede, cerâmica, laminados plásticos, etc.). Segundo Ceotto (2005), outra vantagem das paredes de Drywall é que por serem ocas, conseguem alojar com facilidade qualquer tipo de sistema predial, permitindo inclusive modificações futuras sem qualquer necessidade de rasgos adicionais. Do ponto de vista da seqüência de construção e da trajetória dos serviços na obra, as paredes de Drywall também introduziram grandes modificações, permitindo uma montagem muito rápida da parte interna do edifício. Considerando que na parte elétrica, o mercado já oferece caixas para tomadas e interruptores desenvolvidas especialmente para o gesso acartonado. Elas possuem formato adequado ao material, presilhas especiais para prendê-las nas chapas e marcação para se fazer os furos. Porém, um dos pontos negativos na utilização do Drywall em substituição plena à alvenaria convencional, é o que foi constatado pelos autores deste trabalho: de ordem ambiental foi observado em campo que o gesso acartonado é utilizado na obra, desde a montagem do stand de vendas (em se tratando de prédios comerciais, residenciais e hotéis) até o término da obra, não se tendo o menor cuidado por parte das construtoras e empreiteiras, quanto ao descarte correto deste material, conforme evidenciado nas figuras 02 e 03. Figura 02: Grande Stand de vendas construído com gesso acartonado - Drywall Fonte: Foto tirada pelos autores deste trabalho em ruas da cidade de São Paulo - 2009. Figura 03: Descaso com o descarte do gesso acartonado (Drywall) ao longo da obra Fonte: Foto tirada pelos autores deste trabalho em ruas da Cidade de São Paulo - 2009. 11

11. Desenvolvimento da pesquisa e análise de dados A Pesquisa foi realizada em 2 etapas. A investigação utilizou como ferramenta a técnica Delphi-Web com as Etapas: 1, 2. Para dirimir divergências remanescentes das etapas 1 e 2, uma terceira e quarta etapas foram realizadas, intituladas como: Etapa 3: Pesquisa de campo com aplicação de questionário não-estruturado; Etapa 4: Organização de Workshop e conclusão das Etapas 1, 2, 3 e 4. (BOTELHO, 2005) Esta pesquisa apontou para um crescimento percentual do ritmo de modernização do setor da Construção Civil, o que converge com os estudos do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo, ao prospectar que a Construção Civil fechará com um crescimento nos métodos, equipamentos e materiais inovados tecnologicamente que é inversamente proporcional ao númerode postos de trabalhos e os resíduos gerados. 11.1. Descarte do gesso acartonado Os danos ao meio ambiente assumem proporções maiores ao se considerar a produção total de entulho originada pelas perdas previstas em projeto acrescido do desperdício ocasionado pela falta de processos construtivos racionalizados e/ou industrializados, para a execução de obras civis. Além disso, em toda a vida útil de uma edificação são gerados resíduos seja na fase de manutenção como na fase de reforma e adequação ao uso e até na fase de desocupação e demolição das construções. A geração e o descarte de material de construção civil de maneira desordenada levam a sociedade a bradar por providências das autoridades governamentais e dos responsáveis pela geração de entulho, para que encontrem soluções que dêem tratamento adequado aos materiais descartados pelas construções. Uma entre as diferentes formas de amenizar os impactos dos resíduos da construção civil é a reciclagem desses materiais. Para John (2004), a reciclagem é uma oportunidade de transformação de uma fonte importante de despesa em uma fonte de faturamento. Dessa forma, os resíduos são considerados um importante insumo no processo produtivo e com valor econômico agregado. Segundo esse autor, processos de coleta seletiva e reciclagem, promovidos por diversos governos locais, representantes do setor privado e por uma população de catadores, vêm se multiplicando nos países em desenvolvimento, sendo responsáveis por um sistema informal de coleta. Todos os dias, 11 mil toneladas de entulho vindo da construção civil são gerados na cidade de São Paulo, segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). O equivalente a praticamente todo o lixo produzido pelos paulistanos diariamente. Acomodados primeiramente em caçambas, muitas construtoras, depois, deixam o entulho às margens de rios, como o Tietê, em calçadas ou à beira de rodovias figura 3. Isso pode terminar, pois há experiência internacional da reciclagem inclusive do gesso acartonado que contém outros compostos, na produção de aglomerantes, desde que sejam removidos contaminantes incorporados no processo de geração de resíduos (CAMPBELL, 2003; MARVIN, 2000; HUMMEL, 1997). 12. Resultados e conclusão: Propostas de ações ao setor visando estabelecer uma política de desenvolvimento profissional e reciclagem do gesso acartonado A modernização da Construção Civil, que tem exigido mais produtividade e qualidade do produto utilizado nas obras, não tem sido acompanhada de preparação e da valorização da mão-de-obra e a correspondente preocupação com o meio ambiente no que tange o destino do gesso acartonado. Porém, os profissionais tradicionais da Construção Civil não estão sendo 12

qualificados para aplicar os novos materiais de base tecnológica, tão pouco instruídos e estimulados para o correto descarte do gesso acartonado. Os seus efeitos mais profundos deverão ser sentidos na medida em que os materiais e equipamentos advindos da Inovação Tecnológica se popularizem e tenham seus preços mais competitivos. Para reduzir os efeitos dessas mudanças é preciso qualificar o trabalhador a enfrentar o desafio e se ajustar às exigências dos novos mercados de trabalho, que está reduzindo antigas atividades, onde muitos talentos estão deixando de ser necessários. A escolarização em massa de boa qualidade será o melhor antídoto para superar essas dificuldades abrindo para esses trabalhadores janelas de oportunidades que os levaram a ascensão profissional e a inclusão ambiental, possibilitando a mudar culturas como a da própria empresa. As conseqüências sociais, ambientais e industriais da Inovação Tecnológica com maior intensidade na Construção Civil estão acontecendo ainda em pequena escala. O levantamento bibliográfico realizado para o embasamento deste trabalho englobou os principais assuntos correlatos e necessários à estruturação da desta pesquisa. O estudo de caso foi realizado de acordo com os objetivos estabelecidos. Cabem, ainda quanto aos objetivos propostos às conclusões que trata o próximo item. 12.1. Conclusão Pode-se observar que as obras da Construção Civil, são geradoras em potencial de entulho. Um fator que vem sendo discutido é que no processo construtivo, existe um alto índice de desperdício do material utilizado e também o não reaproveitamento do entulho. O resíduo da construção é gerado em vários momentos do ciclo de vida das construções: a) Montágem e desmontágem do stand de vendas (no caso do mercado imobiliário); b) Fase de construção (canteiro); c) Fase de manutenção e reformas; d) Demolição de edifícios. A geração do resíduo durante a fase de montágem e desmontágem dos stands, principalmente o caso em estudo, Drywall, pode ser visto claramente quando para baratear o custo da construção do stand de vendas e para se ganhar tempo, as construtoras optam por este tipo de material inovado tecnologicamente. Porém, a pós o período de comercialização, o aterro é o destino. A geração do resíduo durante a fase de construção é decorrência das perdas dos processosconstrutivos. Parte das perdas do processo permanece incorporada nas construções, na forma componentes cujas dimensões finais são superiores àquelas projetadas. Este é o caso de argamassas de revestimento, concretos, etc. Outra parcela vai se converter em resíduo de construção. A proporção entre as duas não é conhecida em detalhes. Mudanças tecnológicas também podem reduzir as perdas e o entulho da construção. Processos como a incorporação de instalações em paredes de alvenaria que exigem a quebra parcial da parede recém construída e sua reconstrução com argamassa, por exemplo, devem ser abandonados. No entanto, nem todas as novas tecnologias adotadas recentemente colaboram com a redução das perdas. A geração de resíduo na fase de manutenção está associada à fatores de correção de defeitos; reformas ou modernização do edifício ou de partes do mesmo, que normalmente exigem demolições parciais; descarte de componentes que tenham degradado e atingido o final da vida útil e por isso necessitam ser substituídos. A redução da geração de resíduos nesta fase vai exigir melhoria da qualidade da construção, de forma a reduzir manutenção causadas pela correção de defeitos; projetos flexíveis, que permitam modificações substanciais nos edifícios 13

através da desmontagem que permita a reutilização dos componentes não mais necessários; aumento da vida útil física dos diferentes componentes e da estrutura dos edifícios. Projetos flexíveis dependem de novas tecnologias, que apenas agora chegam ao país. No entanto, mesmo estas novas tecnologias não permitem a desmontagem com reaproveitamento dos componentes. A redução dos resíduos causados pela demolição de edifícios depende do prolongamento da vida útil dos edifícios e seus componentes, que depende tanto de tecnologia de projeto quanto de materiais; da existência de incentivos para que os proprietários realizem modernização e não demolições; de tecnologia de projeto e demolição ou desmontagem que permita a reutilização dos componentes. Portanto, a redução da geração de resíduos nesta fase depende de medidas de prazo muito longo. No caso do gesso acartonado, deve-se tomar cuidado para não misturar com resíduos cimentícios, pois a mistura expande em contato com a água e prejudica o desempenho do material. No caso de revestimento de gesso em paredes de alvenaria, a proporção de gesso é inferior ao limite de comprometimento. O maior cuidado deve ser tomado com paredes e forros de gesso acartonado. A educação e o treinamento facilitam o aperfeiçoamento pessoal e das habilidades do trabalhador, assim como a consciência ambiental. Abrem possibilidades para melhor entender e evoluir para utilização de novas tecnologias, ou mesmo migrar para outra atividade. A concorrência e a busca de competitividade, imperiosa para a sobrevivência da empresa, age de maneira perversa com o trabalhador menos qualificado e menos habilitado, ao adotar Inovações Tecnológicas que de modo direto ou indireto, imediato ou futuro afetam a sua existência. O trabalhador sem qualificação é sumariamente descartado a menos que haja uma preocupação permanente, por parte de governo e empresas, em equipá-lo com conhecimentos e treinamentos que lhe dê oportunidade de permanecer no mundo do trabalho moderno dentro dos preceitos de sustentabilidade do planeta. Referências bibliográficas ABFCD Associação Brasileira de Fabricantes de Chapa de Drywall <http://www.abragesso.org.br/index.php/2 acesso em 11-03-2008 11:50h> BOTELHO, W. C. A inovação tecnológica na Construção Civil de edifícios e a qualificação da mão-de-obra. São Paulo, 2005. 150p. Dissertação (Mestrado) Universidade Paulista, 2005. CAMPBELL, Steve Lead by Example Walls and Cieling. 2003 <Acesso em: http://www.wconline.com - 08/05/2008>. CEOTTO, L. Retrocesso, não! Revista Téchne, São Paulo, n. 69, dez. 2005. CHIAVENATO, I. Os novos paradigmas: como as mudanças estão mexendo com as empresas. São Paulo: E. Atlas, 1996. COZZA, E. Ação em cada dia. In: Inovação em construção civil: coletânea dc artigos / Ricardo ToIedo Silva... [et al.] São Paulo Instituto UNIEMP- 2005. (Coleção Uniemp inovação) GRANDI, S. L. Alvenaria estrutural: a memória de um sistema construtivo. Revista Eletrônica Prisma número 05 22/01/2003. <acesso em: http://www.revistaprisma.com.br/n5/artigo1.htm - 20/02/20048-07:00h>. JOHN, V. M. e ÂNGULO, S. C. Metodologia para o desenvolvimento de reciclagem de resíduos. Utilização de Resíduos na Construção Habitacional. 2004. Disponível em <http://www.habitare.infohab.org.br/habitare.htm> acessado em 01/02/2008. HUMMEL, Hans-Ulrich. Recycling von Gipsplatten. Beitrag zum Darmstädter Massivbau-Seminar 1997, Band 18, Oktober 1997 (http://www.bi9/m.de/public/addframe.asp?_left=/doku_inhalt.htm&url_main=/public/bvgips/damasemhummel.htm) acesso em 03/03/2008. MARVIN, Emma. Gypsum Wallboard Recycling and Reuse Opportunities in the State of Vermont. Vermont Agency of Natural Resources. 2000. 14

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