1 OBJETIVAS E COMPOSIÇÃO Ao se falar sobre fotografia cinematográfica estão envolvidos diversos elementos que devem ser levados em consideração: 1 - AS LENTES: As objetivas são comumente chamadas de lentes, que é um nome errôneo. As lentes são lâminas de cristal de podem ser côncavas, convexas, bicôncavas ou biconvexas. Observe a imagem abaixo: Figura 1 ao lado, da esquerda para a direita, as lentes: bicôncava, planocôncava, convexa- côncava, biconvexa, plano- convexa e côncava- convexa. A imagem também se forma de maneira diferente de acordo com as lentes que compõem nossa objetiva: Figura 2 - Como podemos observar ao lado, as lentes mais grossas produzem a imagem menor e mais próxima, enquanto as mais finas vão produzir imagens maiores e mais distantes. 1
2 As objetivas por sua vez, são um conjunto de lentes que vão fazer com que a imagem se forme maior ou menor no CCD, no vidicon 1, ou no filme. Figuras 3 e 4 - Na imagem à esquerda, o corte lateral da objetiva observe que se unirmos a e d teremos uma lente biconvexa, ou seja, ela vai captar os raios luminosos de um determinado ponto da imagem e os convergirá a um único ponto como podemos observar no esquema. Na imagem acima, um esquema dessa refração. 2 - TIPO DE OBJETIVA UTILIZADA: Portanto, como foi mencionado no capítulo anterior, o conjunto de lentes que formará as objetivas pode lhes atribuir algumas características específicas que as destacam e passam a ter nomes específicos que variam de acordo com as distâncias focais de cada uma. As distâncias focais (comprimento ótico da objetiva medido em milímetros) podem variar de acordo com a construção do corpo da câmara e com o captador 2 de imagens utilizado. Porém, pode-se considerar que dada uma distância focal Xmm para a objetiva normal do equipamento que se está utilizando, a distância focal da objetiva grande-angular do mesmo equipamento será sempre menor que a da normal, e a da teleobjetiva será sempre maior que a da normal. 2.1 - A OBJETIVA GRANDE-ANGULAR: Esta objetiva, como o próprio nome diz, vai estar captando um grande ângulo de visão 3. Como se pode verificar na imagem abaixo, além de captar um grande ângulo (que pode chegar até a 180º), esta objetiva também tem grande profundidade de campo 4 e às vezes 1 Sensor utilizado nas câmaras VHS. 2 Captador de imagens pode ser o CCD, o vidicom ou o filme. O CCD como o filme pode apresentar variações de tamanho, e o filme pode variar também o formato, mudando a proporção. 3 Ângulo de visão - vide gráfico na p. 06. 4 Profundidade de campo vide capítulo 3. 2
3 acaba causando distorções laterais como a curvatura do poste devido à sua construção que utiliza lentes mais grossas. Figura 5 - Pode-se dizer que esta imagem reflete o sentimento de alguém que está cansado voltando para casa. 2.1.1 DISTORÇÃO DA GRANDE-ANGULAR USOS: Além da distorção vista acima que é considerada desagradável, ela produz outra muito usada no dia-a-dia publicitário e no cinema em filmes de suspense. Esta distorção é causada por dois fatores, o primeiro por conta da espessura das lentes que a compõem, e o segundo, por sua capacidade de focalização de objetos a pequenas distâncias (em torno de 25cm). Ao aproximarmos a câmara com a objetiva grande-angular de um objeto ou pessoa, o que estiver mais próximo será ampliado em relação ao que está mais distante da câmara. Observe o exemplo abaixo: Figura 6 - Na imagem publicitária à esquerda, temos a garrafa de cerveja muito maior que a mulher que a segura no segundo plano. Compare o tamanho da garrafa com o tamanho do corpo da mulher e com as pessoas ao fundo. No cinema, a grande angular é utilizada por sua capacidade de focalização próxima, pois dessa forma pode-se aproximar bastante a câmara da pessoa (que vai adotar uma postura defensiva), acentuando a sensação de medo. E por isso é mais usada em filmes de suspense e terror. 3
4 2.2 - A OBJETIVA NORMAL: Esta objetiva é a que nos permite captar as imagens de maneira mais semelhante àquela que nossos olhos enxergam normalmente. Figura 7 - Pode-se dizer que esta imagem reflete o sentimento de alguém que está voltando para casa em um dia normal. 2.3 - A TELEOBJETIVA: Seu objetivo é restringir o ângulo de visão (que pode chegar a até 2º) que faz com que a imagem seja formada maior no captador. Por ter seu comprimento maior, precisa de mais luz para captar a imagem e, portanto seus diafragmas são mais abertos 5 que os das outras objetivas. Portanto, a teleobjetiva é a que oferece a menor profundidade de campo. Além disso, ela também vai causar um achatamento dos planos, fazendo com que as coisas pareçam mais próximas que na realidade. É comum vê-la utilizado quando temos uma imagem com a lua gigante no céu. Figura 8 - Agora sim! Esta imagem reflete aquele sentimento em que a volta de uma viagem para casa é sempre mais rápida que a ida. 5 Diafragmas mais abertos veja mais no sub-capítulo 3. 4
5 2.4 - AS OBJETIVAS MACRO: As objetivas macro são as que permitem fazer foco em um determinado objeto que está bem próximo da câmara. Normalmente, esta distância é de uns dez centímetros, mas nas mais potentes, pode-se chegar a até uns dois centímetros. O resultado visual de uma objetiva macro é bastante semelhante ao de uma teleobjetiva, uma imagem ampliada e com pequena profundidade de campo, porém com a vantagem da aproximação, que numa teleobjetiva comum, só se pode conseguir foco numa distância em torno de um metro. Elas são muito usadas em fotografias de botânica, especialmente de insetos e de pequenas plantas como fungos. 2.5 - AS OBJETIVAS ZOOM: São as mais usadas e também as mais versáteis, pois são objetivas compostas, ou seja, seu conjunto de lentes propicia o resultado ótico de duas ou mais objetivas citadas acima num mesmo corpo. Elas podem ser: de grande angular a normal, ou de grande angular a teleobjetiva com ou sem macro, ou ainda, de normal a teleobjetiva também com ou sem macro. O zoom pode ser ótico ou digital. O zoom ótico é aquele que é feito pela movimentação das lentes da objetiva, alterando então a refração da luz. É o melhor zoom em termos de qualidade visual, mas é o que gasta maior bateria da câmara. Já o zoom digital é obtido pela duplicação da informação dos pixels o que faz com que aumente a sua relação de tamanho com a imagem, favorecendo a percepção dos quadrados. Observe o gráfico abaixo: Figura 9 Ao lado, têm-se dois CCD s esquematizados. No CCD à esquerda, um raio de luz de determinada cor atinge apenas um pixel. No à direita, ao se utilizar o zoom digital de 2X, a informação luminosa captada pelo primeiro pixel é duplicada e transferida aos demais à sua volta. Dessa forma o tamanho do pixel aumenta, e por isso, passamos a enxergá-lo na imagem. Portanto, o zoom digital não deve ser usado em hipótese alguma, salvo em alguma emergência na qual a qualidade da imagem não é tão importante, o que é raro acontecer. 2.6 - DISTÂNCIAS FOCAIS X ÂNGULOS DE VISÃO: As imagens a seguir são uma síntese do que foi visto até agora, em relação a uma câmara com filme 35mm (fotográfica ou cinematográfica). 5
6 6
7 2.7 DISTORÇÕES VISUAIS CAUSADAS PELAS OBJETIVAS: 7
8 3 - PROFUNDIDADE DE CAMPO: Determinamos a profundidade de campo de acordo com a área de nossa imagem que está em foco. Ou seja, a partir de que distância da câmara até qual outra distância minha imagem aparecerá focalizada. Esta característica da imagem pode variar de acordo com três principais variáveis: o tipo de objetiva utilizada, a distância da câmara em relação ao objeto enquadrado, e o diafragma utilizado. 3.1 TIPO DE OBJETIVA: A profundidade de campo é influenciada por vários fatores, e como já foi dito, o primeiro deles é a objetiva que se está usando. Isso acontece por conta da diferença de tamanho dos diafragmas de objetiva para objetiva. Observando as imagens abaixo, pode-se entender melhor: Figura 10 - A objetiva de cima é uma grande-angular (28mm), mais curta e, portanto, mais luminosa que a de baixo, uma normal (50mm). Para deixar passar a mesma quantidade de luz usando o mesmo diafragma em todas as objetivas, torna-se necessário um diferente diâmetro de abertura física. Figuras 11 e 12 - Um orifício maior, deixa que um número maior de raios luminosos partindo de um mesmo ponto da imagem atinja o captador, fazendo com que as imagens produzidas por objetivas longas se formem menos nítidas, o que explica a menor profundidade de campo. Compare as duas imagens a seguir: 8
9 Figura 13 - A primeira feita com uma objetiva grande-angular e a segunda com uma objetiva normal. Vale lembrar que ambas foram feitas à mesma distância e com o mesmo diafragma. 3.2 DISTÂNCIA DO OBJETO FOCALIZADO DA CÂMARA: Quanto mais próxima está a câmara do objeto focalizado, menor é a profundidade de campo, pois a distância relativa entre os objetos da cena é aumentada. Observe as imagens abaixo: Figuras 14 e 15 - Na primeira imagem, a câmara está no máximo 20cm de distância do ponto a onde o foco está feito, a distância relativa entre a e b nesta imagem é maior que na segunda, em que a câmara está uns 2 metros distante de a. 9
10 3.3 DIAFRAGMA UTILIZADO: Como já foi dito, quanto menor o orifício do diafragma, maior a profundidade de campo. Portanto, quanto mais fechado o diafragma (números maiores), maior a profundidade de campo e quanto mais aberto (números menores), menor a profundidade. Observe as três imagens abaixo: Figura 16 - Nas duas próximas fotos a situação é a mesma: o fotógrafo à esquerda fez o foco no menino em b que está a cerca de 2 metros dele. Figura 17 - Com o diafragma f 2, apenas o menino b, ficou em foco, daí pode-se dizer que a profundidade de campo é pequena. Figura 18 - Com o diafragma f 16, toda a cena ficou em foco, daí pode-se dizer que a profundidade de campo é grande, senão infinita. 10
11 4 COMPOSIÇÃO: Compor é o primeiro passo a ser dado em qualquer trabalho visual 6. Há quem diga que é complicado ou praticamente impossível pensar em composição quando tratamos de imagens em movimento, pois a ação está acontecendo e tem-se que registrá-la. Porém, com um pouco mais de atenção àquilo que está sendo gravado e treino, a preocupação com a composição deixa de existir, pois esta se automatiza. Para compor bem é preciso ter consciência dos limites impostos pelo captador que seja ele qual for, teremos o mesmo formato. O quadrado é um formato muito equilibrado, o triângulo, dinâmico e o círculo, movimentado. Portanto, não foi à toa que o formato retangular foi escolhido como padrão em várias formas de expressão, não somente no cinema. Basta lembrar do formato das telas de pintura, das folhas de papel usadas diariamente, dos cadernos, livros, das fotografias, etc. As cores também terão efeito sobre a composição, basta lembrar que a cor vibrante chama muita atenção e causa uma desestruturação da composição caso apareçam em algum ponto da imagem que não seja o principal, enquanto a cor neutra vai colaborar para uma composição mais harmoniosa. É claro que numa reportagem, como o registro de um casamento, não dá para pedir para a mãe do noivo que está de vermelho sair de perto do filho, de preto. Mas numa criação publicitária ou num clipe (de casamento ou quinze anos), há a necessidade de se ter atenção com o ambiente à sua volta; por exemplo, uma menina vestida de azul claro caminhando numa praça e ao fundo, um outdoor vermelho: certamente a atenção do espectador será desviada para o fundo. 4.1 PROPORÇÃO ÁUREA: A proporção dos diversos elementos citados no item anterior, como da tela da TV e do cinema segue um padrão. Essa proporção é bastante próxima da proporção áurea, termo cunhado na Grécia Antiga por estudiosos de matemática e estética, que significa a proporção perfeita. Figura 19 O retângulo CDAF compreende a área do captador e conseqüentemente, da tela. O retângulo DGHF compreende a área leve da cena, enquanto o retângulo GCAH, a área pesada. O ponto Y é o ponto focal visualmente, o olho gravita até este ponto naturalmente e é o ponto de equilíbrio de todo o espaço. Geralmente a composição é organizada em volta do ponto focal, e a base dos objetos principais deve ser colocada dentro da parte pesada. 6 HALLAWELL, Philip. À mão livre. p 15. 11
12 4.2 COMPOSIÇÃO CENTRAL: A tarefa de compor equilibradamente é facilitada quando o assunto principal é centralizado, porque o peso visual dos elementos colocados na imagem equivale-se na direita e na esquerda. Se forem colocados elementos num lado e nada em outro, um desequilíbrio terá sido provocado 7. O enquadramento jornalístico mais usado em cobertura de eventos é o central, enquanto se usa uma objetiva grande-angular. Este tipo de enquadramento é o que propicia o menor índice de erros, mas é também aquele menos interessante e o que pode ter a maior quantidade de objetos que desviem a atenção, que podem ser tanto pela cor, como uma pessoa de vermelho ao fundo, quanto pelo movimento, como uma criança correndo. 4.3 VARIAÇÕES NA COMPOSIÇÃO: A composição pode ser também lateral, como composição lateral entende-se uma cena em que o objeto principal não está centralizado, devendo-se, portanto respeitar os espaços vazios, como por exemplo, em cenas em que aparece alguém de perfil o lado para onde a pessoa está olhando deverá ser obrigatoriamente um lado vazio, e não o contrário, o espaço vazio não pode ficar atrás da pessoa. Bibliografia: HALLAWELL, Philip. À mão livre. 2 ed. Melhoramentos: São Paulo, c 1990. Fotografia: Manual completo de arte e técnica. São Paulo: Ed. Abril cultural, 1981. http://www.skol.com.br/janela.asp?tipo_url=redondo, ativo em 09/12/2005 Última revisão em 04 de Março de 2006 7 Veja mais no ítem 4.3 Variações na composição. 12