Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado*



Documentos relacionados
150 ISSN Sete Lagoas, MG Dezembro, 2007

PRODUTIVIDADE DO FEIJOEIRO COMUM EM FUNÇÃO DA SATURAÇÃO POR BASES DO SOLO E DA GESSAGEM. Acadêmico PVIC/UEG do Curso de Agronomia, UnU Ipameri - UEG.

Recomendações para o Controle Químico da Mancha Branca do Milho

EFICIENCIA DE SISTEMAS DE APLICAÇÃO DE VINHAÇA VISANDO ECONOMIA E CONSCIENCIA AMBIENTAL

Influência do Espaçamento de Plantio de Milho na Produtividade de Silagem.

Graviola: Nutrição, calagem e adubação 36. Apresentação. Objetivo

Aplicação de dejetos líquidos de suínos no sulco: maior rendimento de grãos e menor impacto ambiental. Comunicado Técnico

DESENVOLVIMENTO VEGETATIVO DE MUDAS DE CAFEEIRO SOB DOSES DE CAMA DE FRANGO E ESTERCO BOVINO CURTIDO

Pesquisa e Desenvolvimento em Agricultura Familiar na Embrapa Arroz e Feijão

APLICAÇÃO FOLIAR DE ZINCO NO FEIJOEIRO COM EMPREGO DE DIFERENTES FONTES E DOSES

PLANTIO DIRETO. Definição JFMELO / AGRUFBA 1

INFLUÊNCIA DO USO DE ÁGUA RESIDUÁRIA E DOSES DE FÓSFORO NA ÁREA FOLIAR DO PINHÃO MANSO

AMOSTRAGEM DE SOLO PARA AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE 1 INTRODUÇÃO

COMPORTAMENTO DE GENÓTIPOS DE FEIJOEIRO AO ATAQUE DE Bemisia tabaci (Genn.) BIÓTIPO B (HEMIPTERA: ALEYRODIDAE)

EFEITO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA SOBRE O RENDIMENTO DE FORRAGEM E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE PASPALUM ATRATUM BRA

Análise da Época de Semeadura do Algodoeiro em Mato Grosso com Base na Precipitação Provável

Recomendação de Adubação N, P e K....para os estados do RS e SC

Considerações sobre redimensionamento de motores elétricos de indução

SUGESTÃO DE ADUBAÇÃO E CALAGEM PARA CULTURAS DE INTERESSE ECONÔMICO NO ESTADO DO PARANÁ

CALAGEM, GESSAGEM E AO MANEJO DA ADUBAÇÃO (SAFRAS 2011 E

PLANTIO DE MILHO COM BRAQUIÁRIA. INTEGRAÇÃO LAVOURA PECUÁRIA - ILP

7 Transporte e Logística

RELATÓRIO PROJETO DE ATIVIDADE DE PESQUISA Nº 021/ Projeto: PRODUTO ORGANOMINERAL VITAN NA PRODUÇÃO DE BATATA

INDICAÇÃO N o, DE 2015

Avaliação da influência de coberturas mortas sobre o desenvolvimento da cultura da alface na região de Fernandópolis- SP.

Interpretação da análise de solo

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Avaliação agronômica de variedades de cana-de-açúcar, cultivadas na região de Bambuí em Minas Gerais

Eng Civil Washington Peres Núñez Dr. em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

PLANTIOS FLORESTAIS E SISTEMAS AGROFLORESTAIS: ALTERNATIVAS PARA O AUMENTO O DE EMPREGO E RENDA NA PROPRIEDADE RURAL RESUMO

8 Cálculo da Opção de Conversão

INTEGRAÇÃO LAVOURA/ PECUÁRIA. Wilson José Rosa Coordenador Técnico Estadual de Culturas DEPARTAMENTO TÉCNICO - EMATER-MG

CALAGEM PARA O FEIJÃO-CAUPI [Vigna unguiculata (L.) WALP], CV. BR3 TRACUATEUA, EM SOLO ÁCIDO DE SALVATERRA, MARAJÓ, PARÁ

DESSECAÇÃO DE BRAQUIÁRIA COM GLYPHOSATE SOB DIFERENTES VOLUMES DE CALDA RESUMO

Identificação e correção de deficiências nutricionais na cultura do arroz

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

Utilização de jato de água e ar no controle de cochonilhas farinhentas em videira

INSTRUÇÕES PARA SUBMISSÃO DE TRABALHOS NA JOURNAL OF AGRONOMIC SCIENCES

3 O Panorama Social Brasileiro

3. AMOSTRAGEM DO SOLO

ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE ETENE INFORME RURAL ETENE PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE CANA DE AÇÚCAR NO NORDESTE.

TRATAMENTO QUÍMICO DE RESÍDUOS AGRÍCOLAS COM SOLUÇÃO DE URÉIA NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES

TIJOLOS CRUS COM SOLO ESTABILIZADO

Alta do dólar eleva preços, atrasa aquisições de insumos e reduz poder de compra

DESEMPENHO PRODUTIVO DE MIRTILEIRO (Vaccinium corymbosum) EM FUNÇÃO DO USO DE TORTA DE MAMONA

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE UMA SEMEADORA-ADUBADORA DE PLANTIO DIRETO NA CULTURA DA SOJA

Referências Bibliográficas

Aregião de Cerrados no Brasil Central, ao longo

Circular. Técnica. GestFrut_Pêssego: Sistema para Avaliações Econômico-financeiras da Produção de Pêssego. Apresentação Geral do Sistema.

MERCADO PARA O CAFÉ EM GRÃO DO ACRE 1

A necessidade do profissional em projetos de recuperação de áreas degradadas

CURSO de CIÊNCIAS ECONÔMICAS - Gabarito

PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE SOJA NO NORDESTE

POPULAçÃO DE PLANTAS DE SOJA NO SISTEMA DE SEMEADURA DIRETA PARA O CENTRO-SUL DO ESTADO DO PARANÁ

CADUB 2.1. Tutorial de auxílio ao usuário

Tabela 01 Mundo Soja Área, produção e produtividade Safra 2009/10 a 2013/14

Há sempre resposta à adubação de manutenção do eucalipto? Um estudo de caso em Porto Velho (RO)

Um sistema bem dimensionado permite poupar, em média, 70% a 80% da energia necessária para o aquecimento de água que usamos em casa.

ENSAIO COMPARATIVO AVANÇADO DE ARROZ DE VÁRZEAS EM MINAS GERAIS: ANO AGRÍCOLA 2004/2005

COMPORTAMENTO DE FRANGOS DE CORTE EM SISTEMAS DE AQUECIMENTO

IRRIGAÇÃO DO ALGODOEIRO NO CERRADO BAIANO. (ALGODÃO IRRIGADO NO CERRADO BAIANO) (ALGODÃO COM IRRIGAÇÃO COMPLEMENTAR NO CERRADO BAIANO) Pedro Brugnera*

Pesquisas em Andamento pelas Fundações e Embrapa sobre os Temas Indicados pelo Fórum do Ano Passado

RELATÓRIO PARA AUXÍLIO DE EVENTO

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA ORÇAMENTÁRIA

O uso de pó de rocha fosfática para o desenvolvimento da agricultura familiar no Semi-Árido brasileiro.

7 Considerações finais

Acidentes com tratores agrícolas

E-learning para servidores públicos de nível médio

PRODUÇÃO DE MUDAS PRÉ BROTADAS (MPB) DE CANA-DE-AÇUCAR EM DIFERENTE ESTRATÉGIAS DE IRRIGAÇÃO

Produção e consumo de óleos vegetais no Brasil Sidemar Presotto Nunes

ADENSAMENTO DE PLANTIO: ESTRATÉGIA PARA A PRODUTIVIDADE E LUCRATIVIDADE NA CITRICULTURA.

REMOÇÃO DE NITROGÊNIO DE UM EFLUENTE ANAERÓBIO DE ORIGEM DOMÉSTICA POR MÉTODO DE IRRIGAÇÃO EM SULCOS RASOS

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO CULTIVO DA CANOLA NO BRASIL E IMPACTOS NO CUSTO DE PRODUÇÃO E NA RENTABILIDADE.

Ciclos do elementos Carbono, Nitrogênio e Enxofre

Identificação e análise de gargalos produtivos: impactos potenciais sobre a rentabilidade empresarial

Destes temas prioritários, apenas a Educação teve a Câmara temática instalada no mês de março, quando da realização do primeiro Pleno do CDES.

Janeiro de 2013 Volume 01

Integração Lavoura Pecuária

SISTEMATIZAÇÃO DE TERRENOS PARA IRRIGAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

IT AGRICULTURA IRRIGADA. (parte 1)

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DA RECUPERAÇÃO DE UMA ÁREA DEGRADADA POR EFLUENTE INDUSTRIAL

Depreciação, um item importante a se considerar!

Documento apresentado para discussão. II Encontro Nacional de Produtores e Usuários de Informações Sociais, Econômicas e Territoriais

Como estimar peso vivo de novilhas quando a balança não está disponível? Métodos indiretos: fita torácica e hipômetro

O desafio das correlações espúrias. Série Matemática na Escola

ORIENTAÇÕES SOBRE SEGURO, PROAGRO E RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDAS

MARGENS ESTREITAS PARA O PRODUTOR DE ALGODÃO

Resumidamente, vamos apresentar o que cada item influenciou no cálculo do PumaWin.

DIFERENTES DOSES DE ADUBAÇÃO DE COBERTURA EM MILHO (Zea mays L.) COM SULFATO DE AMÔNIO FARELADO

ESTUDO DA ESPACIALIDADE DO LIMITE DE PLASTICIDADE E DA MASSA ESPECIFICA APARENTE SECA EM UM SOLO MANEJADO SOB PLANTIO DIRETO RESUMO

Análise Econômica do Mercado de Resseguro no Brasil

ZONEAMENTO EDAFOCLIMÁTICO DA CULTURA DO COCO INTRODUÇÃO

Fertilidade do Solo, Adubação e 12 Nutrição da Cultura do Milho

UTILIZAÇÃO DO LODO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO PARA ADUBAÇÃO DA GOIABEIRA

COMPARAÇÃO ECONÔMICA ENTRE O TRANSPORTE DE GÁS E LINHA DE TRANSMISSÃO

Transcrição:

ISSN 1678-9636 Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado* 49 O feijoeiro é uma das principais culturas plantadas na entressafra em sistemas irrigados nas regiões Central e Sudeste do Brasil. Entre as tecnologias indicadas para este sistema de cultivo, a adubação nitrogenada é a que tem gerado maior número de questionamentos. As dúvidas vão desde reações e mecanismos controladores da disponibilidade do N no solo, características e reações no solo das diferentes fontes de nitrogênio, até a prática da adubação, quanto a fontes, doses, métodos de aplicação, época mais adequada de aplicação durante o ciclo da cultura e a necessidade de seu parcelamento e, sobretudo, quanto aos seus aspectos econômicos. Estas técnicas de manejo de adubação, ainda são a melhor estratégia utilizada para maximizar a eficiência de uso do nitrogênio e permitir aos produtores obterem máximo retorno econômico do uso de fertilizantes. Santo Antônio de Goiás, GO novembro, 2001 Autores Morel P. Barbosa Filho Eng. Agr., Doutor, Embrapa Arroz e Feijão, Caixa postal 179, 75375-000 Santo Antônio de Goiás, GO Nand Kumar Fageria Eng. Agr. Ph.D. Embrapa Arroz e Feijão Osmira Fátima da Silva Economista, Bacharel, Embrapa Arroz e Feijão. Com o objetivo de esclarecer estas dúvidas, são apresentados e discutidos a seguir resultados de rendimento de grãos de dois experimentos e da análise econômica da utilização da uréia e sulfato de amônio na adubação de cobertura do feijoeiro irrigado, nas safras de inverno de 1999, 2000 e 2001. Aplicação da Uréia Fertilizante e Sulfato de Amônio na Superfície e Incorporados ao Solo O aumento de rendimento de grãos devido à aplicação de N em cobertura foi de 13%, não havendo, na média das três safras, diferença entre a uréia e o sulfato de amônio, bem como entre os métodos de aplicação do nitrogênio de cobertura na forma de sulfato de amônio, isto é, superficial ou incorporado ao solo (Tabela 1). Quanto à forma de aplicação da uréia, esta chegou, inclusive, a superar o sulfato de amônio quando aplicada na superfície do solo, o que contraria, de certa forma, inúmeros resultados de pesquisa que relatam a existência de elevadas perdas de NH 3 quando a uréia é aplicada na superfície do solo. Porém, duas explicações podem ser apresentadas para justificar a não existência de diferenças entre a uréia fertilizante e o sulfato de amônio, bem como entre a aplicação superficial e incorporada ao solo. Primeiramente, deve-se considerar que no dia seguinte à adubação foi feita uma irrigação de 12 mm de água via pivô central. Isto pode ter favorecido a movimentação do N em profundidade, reduzindo, assim, as perdas para a atmosfera (volatilização). Em segundo lugar, aventa-se a hipótese de as *Apoio Petrobrás

2 Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado Tabela 1 Produtividade média de três anos do feijoeiro irrigado e acumulação de N nas plantas, atribuídas aos tratamentos com N aplicado em cobertura, sob a forma de uréia fertilizante e sulfato de amônio incorporados e na superfície de solo, em três níveis de calcário. Tratamentos Produtividade Acumulação de N... kg ha -1... Ano 3.828 109 1999 2.422-2000 2.751 64 2001 3.000 (13%) 1 - Nitrogênio Uréia superficial 3.179 a 2 111 a Uréia incorporada 3.024 b 100 a S. Amônio superficial 3.102 a 109 a S. Amônio incorporado 3.049 a 114 a Média (Uréia) 3.102 a 106 a Média (S. Amônio) 3.076 a 112 a Testemunha 2.647 b 88 b Calcário 0 2.835 95 3,5 3.016 106 7,0 3.149 113 1 O número entre parêntese representa a porcentagem de aumento de produtividade devido à aplicação de nitrogênio em cobertura. 2) Nas colunas, médias seguindas pela mesma letra não diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidfade pelol teste de Tukey. plantas de feijão se auto-sombrearem e cobrirem toda área livre entre as fileiras, formando, abaixo das plantas, uma atmosfera rica em N que é absorvido pelas folhas inferiores. Houve resposta positiva e linear ao calcário e não ocorreu interação significativa entre calcário e nitrogênio, em relação a produtividade de grãos e acumulação de N na planta. Nos tratamentos onde não se aplicou N em cobertura, as produtividades atribuídas à calagem foram menores, comparadas aos tratamentos com nitrogênio (Fig. 1). Outro aspecto importante que vale ressaltar são os elevados níveis de rendimento de grãos alcançados, demonstrando o alto potencial produtivo da cultivar Pérola e sua capacidade de responder à adubação nitrogenada. A resposta ao N é influenciada pelos resíduos de cultura deixados na superfície pelo cultivo anterior, o que explica a diferença de rendimentos de grãos das três safras. A fonte de resíduos na superfície para o plantio de inverno/1999 foi a soja cultivada no verão, enquanto para os plantios de inverno/2000 e 2001 foi o arroz. Portanto, com o plantio da soja no verão/1998, desenvolveu-se no solo um ambiente de menor imobilização e maior disponibilidade Produtividade (kg ha -1 ) 3500-3000 - 2500-2000 - 1500 - C/N = 2972,5 + 30,71428X (R 2 = 0,99***) S/N = 2341,0 + 87,42857X (R 2 = 0,95***) 1000-0 3,7 7 Calcário (t ha -1 ) Fig. 1. Resposta do feijoeiro irrigado a doses de calcário, com e sem aplicação de nitrogênio em cobertura.

Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado 3 disponibilidade de N para as plantas de feijão do que nos plantios de inverno de 2000 e 2001, onde parte do N aplicado foi consumida pela população microbiana do solo no processo de decomposição da palhada do arroz, causando, assim, um déficit de N para o feijoeiro (Fig. 2). Rendimento (kg ha -1 ) 4500-4000 - 3500-3000 - 2500-2000 - 1500 - Após soja Após arroz Safra 1999 Y=3394,082+3,675225X (R 2 =0,778) Safra 2000 Y=1932,648+8,301802X (R 2 =0,996) Safra 2001 Y=2172,027+6,947297X (R 2 =0,996) 1000-0 30 60 120 150 Dose de N (kg ha -1 ) Fig 2. Efeito da cultura antecedente na resposta do feijoeiro irrigado à aplicação de doses crescentes de nitrogênio em cobertura nas safras de 1999, 2000 e 2001. Desses resultados pode-se inferir que a necessidade de N para adubação de cobertura do feijoeiro cultivado nestas condições de plantio direto, em que os resíduos culturais forem de difícil decomposição (relação C:N superior a 30:1), deve ser maior que 80 kg ha -1 (testada neste experimento). A influência dos resíduos culturais deixados na superfície do solo sobre o rendimento das culturas é bastante reconhecida na literatura, inclusive com indicações de que a quantidade de N nessas condições, num mesmo solo, deva ser da ordem de 20 a 25% superior. Efeito das Fontes e Doses de Nitrogênio no ph do Solo Após três anos de nitrificação do amônio das duas fontes de N, seja a aplicação superficial ou incorporada ao solo, houve uma diminuição nos valores de ph de 0,2 unidades na camada de 0-10 cm nas três doses de calcário (Tabela 2). Esta alteração de ph é considerada muito pequena, em razão da baixa quantidade de N aplicada (80 kg ha -1 ) e do valor de ph inicial (6,0), relativamente elevado para as condições de solos de cerrado. A nitrificação do amônio provocou o que era esperado, quando fontes amoniacais são aplicadas na superfície do solo em adubações de cobertura: (1) diminuição de ph; (2) maior redução de ph nas doses maiores de nitrogênio; (3) diferença entre uréia fertilizante e sulfato de amônio no seus efeitos sobre o ph, principalmente na camada de 0-10 cm de solo, em qualquer Tabela 2. Valores de ph na camada de 0-10 cm de profundidade, após três anos de cultivo com arroz e feijão, semeados, respectivamente, no verão e no inverno, em função de fontes e métodos de aplicação de N, em três níveis de calcário aplicado na superfície do solo. Fontes Método Calcário (t ha -1 ) 0 35 7,0 Média Uréia Superficial 5,7 6,4 6,8 6,5 Incorporado 5,8 6,3 6,8 6,3 Média 5,8 6,4 6,8 6,4 Sulfato de amônio Superficial 5,1 6,0 6,5 5,9 Incorporado 5,1 5,9 6,2 5,7 Média 5,1 5,9 6,3 5,8 Testemunha 6,0 6,6 7,0 6,5 Dose de N = kg ha -1 no plantio e 80 kg ha -1 em cobertura, parcelados em duas vezes, metade aos 15 e metade aos 30 dias após emergência.

4 Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado Tabela 3. Valores de ph nas camadas de 0-10 e de 0-20 cm de profundidade, após três anos de cultivo com arroz e feijão, semeados, respectivamente, no verão e no inverno, em função de doses e fontes de N na adubação de cobertura. Doses de N 1 Uréia fertilizante Sulfato de amônio kg ha -1 0-10 cm 10-20 cm Média 0-10 cm 0-20 cm Média 0 6,0 2 5,5 5,7 5,9 5,4 5,6 60 6,0 5,4 5,1 5,3 5,1 5,2 90 5,9 5,4 5,1 5,1 4,9 5,0 120 5,8 5,3 5,5 5,0 4,8 4,7 150 5,7 5,2 5,4 4,9 4,7 4,8 1 Tratamento de doses de N referem-se à aplicação em cobertura. Em todos os tratamentos foram aplicados 30 kg ha -1 de N no plantio. 2 Média de seis repetições, agrupando os três parcelamentos de N (P1 = aplicação aos 30 dias após emergência - DAE, P2 = aos 15 e 30 DAE e P3 = aos 15, 30 e 45 DAE). 5 cm 20 cm que seja a dose de nitrogênio em cobertura. A diferença entre as duas fontes sobre o ph foi de 0,8 unidades, sendo a maior redução do ph devido ao sulfato do amônio (Tabela 3). O menor efeito da uréia fertilizante em relação ao sulfato de amônio no ph do solo, pode ser devido à perda de NH 3 da uréia, por volatilização. Apesar de ter sido minimizada pela irrigação, teve como conseqüência quantidades menores de NH 4 + disponível para nitrificação e produção de acidez. Infere-se, assim, que em solos adubados por muitos anos com sulfato de amônio, pode ser necessárias doses mais elevadas de calcário em relação à solos adubados com uréia, para neutralizar a acidez do solo. Fontes, Doses e Parcelamento de Nitrogênio em Cobertura O máximo rendimento de grãos, em termos médios, foi de aproximadamente 3.000 kg ha -1 para o sulfato de amônio e 3.100 kg ha -1 para a uréia fertilizante, não havendo diferença significativa entre as duas fontes nas safras de 1999 e 2001 (Tabela 4). As explicações são as mesmas apresentadas anteriormente anteriormente para o primeiro experimento. Pela análise conjunta das três Tabela 4. Produtividade do feijoeiro o irrigado nas safras de 1999, 2000 e 2001, atribuídas a doses, fontes e parcelamento do N aplicado na forma de uréia fertilizante e sulfato de amônio. Variável Safras 1999 2000 2001 Média Dose 0 3.404 kg ha -1 1.944 2.165 2.504 60 3.614 2.397 2.610 2.874 90 3.612 2.679 2.768 3.020 120 4.016 2.975 3.036 3.342 150 3.869 3.155 3.199 3.408 Fonte Uréia 3.753 a 1 2.686 a 2.806 a 3.082 a Sulfato de Amônio 3.615 a 2.575 b 2.705 a 2.977 Parcelamento P1 2 3.535 b 2.521 b 2.627 b 2.894 P2 3.725 ab 2.665 a 2.820 a 3.070 P3 3.848 a 2.705 a 2.819 a 3.124 1 Nas colunas, médias seguidas pelas mesmas letra não diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. 2 P1 = aplicação aos 30 dias após emergência - DAE, P2 = aos 15 e 30 dias DAE; e P3 = aos 15, 30 e 45 DAE.

Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado 5 safras, verificou-se que houve efeito de ano e da interação ano x tratamento, razão pela qual se fez uma análise individual dos tratamentos, apresentada em cada safra (1999-2001). Verificou-se um efeito significativo de dose e parcelamento nas três safras e não se observou interação das relações fonte x parcelamento, fonte x dose, dose x parcelamento e fonte x dose x parcelamento. A aplicação da uréia fertilizante em duas vezes, aos 15 e 30 dias após a emergência das plântulas (DAE), e em três vezes, aos 15, 30 e 45 DAE, resultou em rendimentos de grãos significativamente maiores do que a aplicação apenas uma vez, aos 30 DAE (Figura 3). Efeito significativo e positivo das doses sobre o rendimento de grãos foi verificado para as duas fontes (Figura 3). O modelo matemático que melhor expressou esta relação do rendimento com as doses de N e o número de aplicações em cobertura foi a equação de regressão linear, demonstrando, do ponto de vista técnico, que o feijoeiro irrigado pode responder a doses de N em cobertura acima de 150 kg ha -1 e que é necessário parcelar a dose em duas ou três vezes durante o ciclo. Rendimento (kg ha -1 ) 4000-3500 - 3000-2500 - 2000-1500 - SAFRA 2001 Uréia Y=2026,892+9,277477X (R 2 =0,98) S. amônio Y=2316,081+4,625X (R 2 =0,89) 1000-0 30 60 120 150 Dose de N (kg ha -1 ) O fato de o feijoeiro irrigado responder a altas doses de N, conforme demonstrado neste estudo e em outro realizado, em condições muito semelhantes na Embrapa Arroz e feijão, também reforça a necessidade de outros estudos que levem em consideração os aspectos econômicos da adubação nitrogenada de cobertura do feijoeiro irrigado, principalmente, se cultivado em sistema plantio direto. Economicidade das Fontes de Nitrogênio Os tratamentos com uréia fertilizante apresentaram um retorno econômico superior em relação aos tratamentos com sulfato de amônio nas três safras, demonstrando a importância da escolha da fonte e da adoção de um manejo adequado desta prática (Tabela 5). Não havendo diferença entre as duas fontes de N, uréia fertilizante e sulfato de amônio, quanto à sua eficiência, e podendo estes fertilizantes serem aplicados na superfície do solo sem o custo de incorporação, a adoção deste manejo pode resultar em uma redução significativa de custo e, conseqüentemente, em maior renda para o produtor de feijão irrigado. Pelos valores apresentados na Tabela 5, observa-se que o retorno financeiro ou margem líquida por hectare, resultante da adubação superficial com uréia é maior, com exceção ao ano de 2001 (R$ 532,00 na safra de 1999; R$ 320,00 em 2000; e R$ 131,00 na safra 2001) do que o retorno obtido com o uso do sulfato de amônio, também aplicado em superfície (R$ 305,00, R$ 143,00 e R$ 210,00 respectivamente, para as safras de 1999, 2000 e 2001). O maior retorno econômico da adubação de cobertura foi obtido na safra de 1999. Isto foi devido ao alto rendimento de grãos alcançado nesta safra (68,7 sc. 60 kg ha -1 ) e ao menor custo da adubação em relação ao preço do feijão na época. Fig 3. Rendimento de feijoeiro irrigado em função de doses e parcelamento do nitrogênio aplicado em cobertura.

6 Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado Tabela 5. Balanço econômico e produção de grãos em função da utilização de uréia fertilizante e sulfato de amônio (SA), aplicados na superfície do solo, via tratorizada, na adubação de cobertura do feijoeiro irrigado sob plantio direto, no inverno de 1999, 2000 e 20001. Safra Produção de grãos Receita marginal Custo da adubação Margem líquida Uréia SA Uréia SA Uréia SA Uréia SA... (sc. 60 kg ha -1 )...... (R$ ha -1 )... 1999 68,7 65,3 625 455 93 150 532 305 2000 42,0 39,3 423 302 103 159 320 143 2001 46,4 48,7 258 383 127 182 131 201 Total 157,1 153,3 1.306 1.140 323 491 983 649 Média 1 5,1 sc 3,7 sc Produção de grãos da testemunha:(sc 60 kg ha -1 ) 1999 = 56,2; 2000 = 32,6; 2001 = 41,7. 1 Considerou-se a média das três safras e valores atualizados para abril/2001 (fertilizante) e outubro/2001 (feijão). A aplicação superficial tanto da uréia quanto do sulfato de amônio, também é mais vantajosa economicamente do que a aplicação incorporada. Em função do custo para incorporação desses fertilizantes, considerando um trator de 90 a 110 CV, o ganho líquido, evidentemente, foi sempre menor em relação à aplicação superficial nas três safras (Tabela 5). Admitindo-se os mesmos níveis de rendimento de grãos obtidos nas três safras, a aplicação superficial das duas fontes de nitrogênio em questão, via pivô central, certamente é ainda mais vantajosa economicamente, dado ao baixíssimo custo total desta operação, variando de R$ 0,70 a R$ 1,00 por hectare, considerando o período experimental de 1999 a 2001. Do ponto de vista econômico, a dose de N que corresponde ao maior rendimento de grãos pode não corresponder à dose mais rentável e, portanto não ser a mais adequada para recomendação ao produtor. Com este propósito, foi feita uma análise financeira do uso de cada dose de N da uréia fertilizante e do sulfato de amônio, considerando duas aplicações por via tratorizada (Tabela 6). Observa-se que a renda líquida aumenta com as doses de N, sendo a uréia fertilizante a que apresentou maior vantagem econômica. Apesar de o parcelamento do N na forma de sulfato de amônio não ter sido significativo, houve aumento de aproximadamente 100 kg ha -1 no rendimento de grãos, quando as doses de N foram aplicadas em cobertura em duas e três vezes, respectivamente aos 15 e 30 DAE e 15, 30 e 45 DAE, o que, pode ser rentável, considerando o baixo custo de aplicação do N via pivô central. Considerações Finais A aplicação de nitrogênio em cobertura para diferentes culturas tem sido, em geral, uma prática de manejo muito eficiente (rendimento/unidade de N aplicado). A eficiência dos fertilizantes nitrogenados, entretanto, tem sido menor quando aplicados na superfície sem a sua imediata incorporação ao solo, como é demonstrada em numerosas publicações. A explicação é fundamentada nos processos de perdas do nitrogênio por volatilização da amônia. Por outro lado, entretanto, quando a eficiência dos fertilizantes nitrogenados (principalmente uréia e sulfato de amônio) é comparada em termos de produtividade, e não de perdas por volatilização de NH 3 para a atmosfera, são encontrados na literatura inúmeros trabalhos de pesquisa demonstrando que a uréia em cobertura pode ser tão eficiente quanto outras fontes de nitrogênio.

Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado 7 Tabela 6. Ganho líquido proporcionado pela adubação de cobertura do feijoeiro irrigado com uréia fertilizante e sulfato de amônio (SA), aplicado em diferentes doses na superfície do solo, via tratorizada, no inverno de 2000 e 2001. Doses Produção de grãos Receita marginal Custo da adubação Margem líquida Safra de N Uréia SA Uréia SA Uréia SA Uréia SA kg ha -1... sc. 60 kg ha -1...... -1 R$ ha... 2000 60 38,4 39,0 238 338 88 130 150 208 90 48,0 45,0 673 608 111 173 562 435 120 51,9 50,2 845 838 133 217 712 621 150 55,8 52,2 1.020 886 156 260 864 626 2001 60 42,2 43,8 402 193 106 147 296 46 90 48,1 46,3 732 330 137 199 595 131 120 51,6 49,4 919 495 168 251 751 244 150 59,2 54,1 1.326 759 199 303 1.127 456 Testemunha: (sem N em cobertura): Uréia, ano 2000 = 33, 1 sacas de 60 kg ha -1 e ano 2001 = 34,9 sacas de 60 kg ha -1 ; Sulfato de amônio (SA), ano 2000 = 31,5 sacas de 60 kg ha -1 e ano 2001 = 40,4 sacas de 60 kg ha -1 (foram consideradas duas aplicações). Vários fatores concorrem para que isto aconteça. Primeiro, é necessário que o nitrogênio seja aplicado na época mais apropriada e de maior exigência pelas plantas, pois o nitrogênio que não é absorvido, é perdido de alguma forma, seja por lixiviação ou volatilização. Segundo, a presença das plantas na época da aplicação pode também reduzir as perdas por volatilização devido a arquitetura da planta do feijoeiro que, ao permitir a perfeita cobertura da superfície do solo, favorece a absorção do NH 3 presente na atmosfera abaixo das folhas inferiores das plantas. Terceiro, deve-se considerar que a eficiência da adubação nitrogenada é maior quando ocorre precipitação ou se realiza uma irrigação logo após sua aplicação. Uma prática como esta, que favorece a penetração do N no solo, é perfeitamente factível nas condições de cultivo do feijoeiro irrigado no inverno. Além da possibilidade de irrigação imediata após a adubação de cobertura e não havendo diferença de eficiência, em termos de rendimento de grãos, entre a uréia e o sulfato de amônio aplicados na superfície do solo, a opção pelo uso da uréia (menor custo da uréia em relação a outros nitrogenados), pode garantir ao produtor, um ganho econômico considerável, além disso, deve-se levar em consideração que uma das dificuldades da adubação nitrogenada em cobertura tem sido a incorporação do adubo ao solo abaixo da camada de resíduos deixados pelas culturas anteriores. Conclusões e Recomendações Não há diferença entre uréia fertilizante e sulfato de amônio, como fontes de N para a cultura do feijoeiro irrigado. Não há diferença entre as aplicações de uréia fertilizante e sulfato de amônio na superfície ou incorporados ao solo. A aplicação de uréia fertilizante na superfície do solo, seguida de irrigação é a opção mais econômica de adubação de cobertura do feijoeiro irrigado. Recomenda-se aplicar 120 a 150 kg -1 de N, dependendo da relação de preços entre o produto e o fertilizante, metade aos 15 e metade aos 30 DAE, em aplicação superficial no solo seguida de irrigação ou via água de irrigação, utilizando como fonte de N a uréia fertilizante.

8 Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado Referências Bibliográficas Barbosa Filho, M.P. & Silva, O. F. da. Adubação e calagem para o feijoeiro em solo de cerrado. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 35, n.7, (p. 1317-1324, jul. 2000). Circular Técnica, 49 Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Embrapa Arroz e Feijão Rodovia Goiânia a Nova Veneza km 12 Zona Rural Caixa Postal 179 75375-000 Santo Antônio de Goiás, GO Fone: (62) 533 2110 Fax: (62) 533 2100 E-mail: sac@cnpaf.embrapa.br 1 a edição 1 a impressão (2001): 1.000 exemplares Comitê de publicações Expediente Presidente: Carlos Agustin Rava Secretário-Executivo: Luiz Roberto da Silva Membros: Itamar Pereira de Oliveira Luis Fernando Stone Supervisor editorial: Marina A. Souza de Oliveira Revisão de texto: Vera Maria Tietzmann Silva Tratamento das ilustrações: Dulce Abreu Normalização bibliográfica: Ana Lucia D. de Faria Editoração eletrônica: Dulce Abreu