Feira do livro: acesso ao livro, descoberta da leitura.



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Transcrição:

Feira do livro: acesso ao livro, descoberta da leitura. Helgair Kretschmer Aguirre (Graduanda em Licenciatura em Letras/Unipampa Bagé) Sheyla de Jesus Meireles Teixeira (Graduanda em Licenciatura em Letras/Unipampa Bagé) Resumo: O mini-projeto 1ª Feira do Livro foi realizado na Escola Municipal de Ensino Fundamental Manoel Arideu Monteiro, localizada na periferia da cidade de Bagé - RS. em parceria com o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) Entre a Universidade e a escola: redes que tecem saberes docentes, do qual faz parte o Subprojeto de Letras 2011 Uma Proposta de Letramento Literário. O subprojeto tem como objetivo a formação do leitor literário, e isso faz com que os desafios se apresentem a cada dia. Palavras chave: Formação do leitor literário; Livro; Iniciação à docência. A leitura literária nos dias atuais é que, ao contrário dos textos funcionais que ganham cada vez mais espaço nas aulas de língua portuguesa, a cada ano a literatura perde mais espaço dentro das escolas e nas salas de aula. O que detectamos é que, quando se trabalha com literatura, ela é fragmentada e utilizada como pretexto para o ensino da gramática tradicional ou estuda-se apenas sua estrutura textual, funcional e análise da narrativa. Nesse sentido, a obra A literatura em perigo, de Todorov nos apresenta a seguinte reflexão: A literatura refere-se a tudo. Não pode separada da política, da religião, da moral. É a expressão das opiniões dos homens sobre cada uma das coisas. Como tudo na natureza, ela é ao mesmo tempo efeito e causa. Imaginá-la como fenômeno isolado é não imaginá-la (CONSTANT apud TODOROV 2010. p. 60). Todorov nos mostra que a leitura da literatura não deve ser reduzida a um conjunto de instruções em que o foco não é a fruição literária, a descoberta de variadas concepções de mundo e de diferentes contextos. Ela não pode seguir um modelo de ensino repetitivo, formal e fora de contexto da experiência subjetiva. Ela deve visar o trabalho de formação de um leitor capaz de se reconhecer dentro de uma sociedade, reconhecer o outro e refletir sobre seu papel no mundo em que vive. Atualmente a literatura deixa de ser vista como parte de um processo histórico, cultural, linguístico e social para ocupar um espaço minoritário no ensino. Diz Todorov que: O leitor não profissional lê essas obras para nelas encontrar um sentido que lhe permita compreender melhor o homem e o mundo, para nelas descobrir uma beleza que enriqueça sua existência: ao fazê-lo, ele compreende melhor a si mesmo. O conhecimento da literatura não é um fim em si, mas uma das vias régias que conduzem à realização pessoal de cada um. O caminho tomado atualmente pelo ensino literário, que dá as costas a esse horizonte,

arrisca-se a nos conduzir a um impasse sem falar que dificilmente poderá ter como conseqüência o amor pela literatura. (TODOROV, 2010. p.33) Segundo Colomer (2007) compartilhar a leitura é essencial, porém os alunos também necessitam de outras artimanhas para desenvolver o hábito pela leitura: tempo na aula para praticar a leitura individual e rotinas cotidianas para que se lembrem que podem ler um livro e não o controle remoto da tevê; atenção e é preciso que esse seja supervisionado e atividades organizadas pela escola em projetos de trabalho que dêem incentivo à leitura na escola. Na busca de compartilhamos nossas experiências como leitoras literárias, as seguintes palavras de Todorov além de coincidir com os nossos ideais para a realização do subprojeto citado, vem a complementar a nossa proposta para explorarmos com os alunos o papel da literatura na vida do individuo. Hoje, me pergunto por que amo a literatura, a resposta que me vem espontaneamente à cabeça é: porque ela me ajuda a viver (...) ela me faz descobrir mundos que se colocam em continuidade com essas experiências e me permite melhor compreendê-las. Não creio ser o único a vê-la assim. Mas densa e mais eloquente que a vida cotidiana, mas não radicalmente diferente, a literatura amplia o nosso universo, incita-nos a imaginar outras maneiras de concebê-lo e organizá-lo. Somos todos feitos dos que os outros seres humanos nos dão: Primeiro nossos pais, depois aqueles que nos cercam; a literatura abre ao infinito essa possibilidade de interação com os outros e, por isso, nos enriquece infinitamente. (TODOROV, 2010. p. 9,10) Também sobre a escola e o papel da literatura as palavras da autora Ana Maria Machado, são essenciais para trabalharmos a leitura literária e promover a formação desses leitores. (...) Prefiro abordar apenas um aspecto, que às vezes não é tão evidente. É que não basta promover o acesso da criança ao livro ou reconhecer que o direito a leitura é fundamental para a cidadania. Mais que isso, é fundamental aproximar meninos e meninas da literatura. Não basta dar livros didáticos. Não basta promover a leitura. Esses dois passos fazem parte da garantia de um outro direito, que é o direito a educação, também coisa que ninguém em sã consciência ousaria questionar. (...) O que eu quero enfatizar é outra necessidade: o direito à arte. O entendimento da qualidade inalienável desse direito já é bem mais tênue e, e por isso, ele costuma ser esquecido. (MACHADO, 2007.p. 173) Levando em consideração o que dissemos anteriormente sobre as particularidades que envolvem a formação do leitor literário, na execução do projeto de feira do livro na escola onde nosso PIBID atua, primeiramente, foram realizadas atividades diagnósticas e aplicação de questionários para verificar o hábito de leitura da comunidade escolar e dos moradores ao redor. A partir de nossa interação com a escola,

realizamos uma atividade de observação do cotidiano escolar e, por meio dessa, pudemos detectar algumas deficiências que poderiam atrasar ou impossibilitar as propostas do subprojeto citado. Para por em funcionamento as nossas atividades, o principal problema observado foi o não contato dos alunos com obras literárias, dentre outros motivos, também por falta de um espaço para a biblioteca e espaço para os livros. Apesar de possuir um acervo rico em literatura infantil e juvenil, a instituição o mantinha fora do alcance dos alunos, trancado na sala da supervisora da escola. Na busca de resolver essa problemática e proporcionar o contato direto dos alunos com os livros, pensamos na realização de um mini-projeto que agisse diretamente nessa questão de acesso, e pensamos na 1ª Feira do Livro da Escola Manoel Arideu Monteiro, que envolveu não apenas as turmas com as quais trabalhávamos, mas também toda a comunidade escolar e alunos do curso de Letras do campus Bagé. O mini-projeto 1ª Feira do Livro ocorreu no mês de novembro de 2011 e contou com a participação dos alunos da escola Manuel Arideu Monteiro, seus professores, comunidade, alunos do curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Pampa campus Bagé e nós, bolsistas do Subprojeto PIBID 2011 Uma proposta de letramento literário. Para sua realização foi montada uma estrutura com materiais da escola e também suportes emprestados como toldos, mesas e equipamento de som. Com os materiais obtidos criamos um ambiente para exposição do acervo literário da escola e também de livros trazidos pelas bolsistas do PIBID, para realização da seção (literatura e cinema) que contou também com a exposição de pôsteres dos filmes juvenis baseados em obras literárias como a saga Crepúsculo e Harry Potter, que, como sabemos, despertam grande interesse nos jovens. Com os materiais que a escola proporcionou foi confeccionado um palco para o teatro de fantoches, roupas para a apresentação do teatro de princesas, exposição de poemas feitos pelos alunos, lembranças da feira do livro para os participantes e cartazes para decoração. Todas as obras do acervo foram divididas em seções para auxiliar os alunos a encontrarem os gêneros de sua preferência. Os livros eram identificados por cartazes que apresentavam diferentes categorias de obras: Livros infantis, Livros juvenis, Contos e Lendas, Livros de Amor, Poesias e Literatura e Cinema. A abertura do evento ocorreu no refeitório da escola (local onde havia espaço para todos os estudantes daquele período) no turno matutino com uma apresentação musical da bolsista Sheyla Teixeira e do ex-aluno da escola Ânderlo Strawsk, e atual discente do curso de Licenciatura em Letras Unipampa- Bagé. Ele falou de seu tempo

de aluno naquela escola, de seus sonhos, seu gosto pela literatura, pela poesia e como isso os estimulou a começar a escrever. Os alunos, então, foram convidados a visitar o local da exposição dos livros. O primeiro contato dos alunos com os livros expostos foi bem confuso, a maioria nunca havia participado de uma feira do livro e não tinham conhecimento sobre o funcionamento e supomos que eles acreditaram que era só escolher os livros e levá-los para casa. E sem ver problemas, foram pegando as obras escolhidas e indo embora. Tivemos de explicar a proposta da nossa feira do livro e recolher as obras. Diferente das demais feiras do Livro que acontecem na cidade onde se pode comprar a obra escolhida, nosso evento foi programado para que os alunos tivessem conhecimento e contato com o acervo literário de sua escola. O fato mais impactante foi ver que eles não tinham conhecimento esse prévio que imaginávamos que tivessem e isso acarretou alterações no andamento da feira. Deixamos claro para os alunos que aquele momento era para eles conhecerem os livros disponíveis na escola e que a nossa intenção, juntamente com a direção, era colocar esses livros à disposição dos alunos por meio de empréstimo, futuramente, quando a biblioteca estivesse preparada fisicamente. Depois desse momento, os jovens continuaram manuseando as obras com euforia; ao mesmo tempo em que tocavam e folheavam os livros, faziam inúmeras perguntas sobre o autor, a história, o tema, nossa opinião. Alguns sentaram-se ao nosso lado e iniciaram a leitura ali mesmo. A sessão que mais chamou atenção do público juvenil foi a de literatura e cinema porque despertava neles o conhecimento que já tinham e os alunos se empolgavam contando o que sabiam dos filmes e dos livros e sempre expunham sua opinião sobre os personagens. Fizemos uma divisão de tarefas e enquanto duas bolsistas trabalhavam na exposição, as outras três foram auxiliares dos alunos integrantes subprojeto que haviam ensaiado uma encenação teatral, contação de histórias e a apresentação de um teatro de fantoches. As atividades tiveram seguimento ao longo do dia com a encenação de uma peça teatral, uma releitura dos contos de fadas para os dias atuais (Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho e Cinderela), um momento de contação de histórias infantis, a apresentação do teatro de fantoches, entre outros. Todas essas atividades foram realizadas pelos alunos do 8º e 9º anos com o auxílio das bolsistas do subprojeto. Com o término das atividades artísticas os alunos e suas professoras foram convidados a participar da exposição dos livros. Algumas das

docentes não haviam compreendido bem a proposta da feira e diziam para os alunos não tocarem nos livros para não estragá-los, indo de encontro ao nosso objetivo de proporcionar o contato dos alunos com as obras para que eles pudessem tocá-las, folheálas, quem sabe dessa maneira conseguiríamos despertá-los para o prazer da leitura. Concluída a feira, pudemos avaliar que foi notável o efeito do evento nos alunos, que nos procuravam para falar sobre os livros que mais os interessaram e perguntavam quando seria possível realizar a leitura. Para nós, como futuros docentes, foi uma atividade que nos fez refletir sobre diversos aspectos, negativos e positivos sobre a realidade escolar e o papel da leitura literária e da arte nesse ambiente. Quanto aos aspectos negativos, foi ver que os alunos não tinham conhecimento sobre a feira do livro, sendo que há uma feira anual na cidade, e isso denota o pouco empenho da comunidade escolar, família e sociedade em torná-los leitores e participantes de seu próprio universo. Os resultados obtidos com a realização da feira foram positivos quando pensamos no sentido da literatura para o convívio social e seu efeito histórico, cultural e pessoal. A aproximação dos alunos com as obras literárias e também o despertar do interesse no conhecimento das obras e autores mostra nossa participação no cotidiano escolar fez alguma diferença na maneira dos alunos pensarem sobre qual o papel da literatura. Nosso trabalho para tentar levar até eles motivos diferentes para ler foi um aprendizado em nossa iniciação discente. A saída do PIBID da escola coincidiu com o término do ano letivo e por esse motivo não tivemos contato com a escola e os alunos até o mês de março de 2012. Nesse mês, nós, bolsistas, fizemos uma visita à instituição e aos alunos que integraram o subprojeto no ano anterior. Fomos recebidas com muito carinho por todos, inclusive pelo corpo docente da escola, que nos chamavam de as portuguesas desde a entrada do projeto na escola. E para a nossa surpresa fomos convidadas pela diretora e professores para auxiliá-los a realizar a segunda feira do livro da escola, que deve ocorrer no meio do ano de 2012. Segundo os mesmos após a realização da feira, o interesse dos alunos e da comunidade pelos livros do acervo da escola aumentou satisfatoriamente. A escola continua sem um espaço destinado ao acervo literário, hoje eles estão alojados na sala da direção, onde segundo ela, sempre há um responsável para atender e emprestar os livros aos alunos. Outra mudança positiva é que desde a realização do

evento, as professoras abrem um espaço para os alunos compartilharem uns com os outros os que leram. O relato apresentado buscou compartilhar as experiências e reflexões que o mini-projeto proporcionou a nós bolsistas. O desafio de tentar devolver o papel e importância da leitura literária na formação dos alunos, as dificuldades muitas vezes encontradas para a realização dos projetos, as reflexões que nos foi possível realizar sobre a realidade social e cultural dos alunos da e da comunidade Escolar Manoel Arideu Monteiro. E, apesar de todos os contratempos que encontramos no decorrer de nossa passagem pela instituição, hoje é possível saber que mesmo que o tempo tenha sido curto para colocar em prática todas as propostas do subprojeto, ele foi de alguma maneira suficiente para nos fazer refletir sobre o real papel que a leitura literária possui nas escolas e nos incentivou a dar os primeiros passos nessa longa caminhada que decidimos traçar, o resgate da literatura, o prazer e os conhecimentos obtidos por meio dela e enfim, auxiliar na formação do leitor literário. Nossa experiência como bolsistas PIBID nesse mini-projeto nos fez entender no dia-a-dia da escola o que estudamos na teoria e nos mostrou outros parâmetros, que não estavam visíveis num primeiro contato. Confirmamos as palavras de Todorov e realmente percebe-se que a literatura está em perigo e a leitura literária não encontra espaço nas aulas de língua portuguesa. Desta forma, não só alunos como professores deixam de vivenciar a interação cultural, histórica e social que poderiam se o contato fosse maior com os livros. Visto que a literatura transcende conhecimentos que são repassados de geração em geração e que permite ao leitor conhecer a sua história, sua cultura e a de outras sociedades, capacita o mesmo a se posicionar em seu meio e compreender e se colocar no lugar do outro. A referência que fizemos anteriormente às palavras de Todorov em sua obra A literatura em perigo, é o nosso fio condutor para compor nosso relato pessoal como leitoras aliado às pretensões do subprojeto citado e se enquadra na ideia de repasse de culturas, vivências e tradições diferentes proporcionadas pela literatura. Cada uma de nós partiu de diferentes questionamentos para nos reconhecermos leitoras e em busca de nossas respostas vimos que cada uma trouxe diferentes gêneros e obras literárias que compõem a nossa carga literária. Isso nos fez perceber que ao transmitir os conhecimentos que julgamos ter, conseguimos ouvir uma à outra e nessa troca de figurinhas percebemos que nosso gosto literário não era igual mas que se

complementavam e tentamos fazer com que essa troca não fosse esquecida. Nessa tentativa nós tivemos a certeza de que a literatura permite a intervenção do pensamento do outro na formação do leitor, pois cada opinião pode ser diferenciada e cada qual escolhe a sua maneira de começar a ler. Não importa o ponto de partida, seja ele a leitura e/ou interesse de história em quadrinhos, ou conto de fadas, o importante é a troca e o compartilhamento das experiências literárias que vão dar auxiliar na formação desse cidadão como leitor, pois o conhecimento que não obtém sozinho, obterá com a visão do outro da história lida. Referências bibliográficas COLOMER, Teresa. Andar entre livro. São Paulo: Global, 2009 MACHADO, Ana Maris. Balaio: Livros e Leituras. Salvador: Nova Fronteira, 2007 TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Tradução de Caoi Meira. Rio de Janeiro: Difel, 2009.