REVISTA SABER ACADÊMICO N 15 / ISSN 1980-5950 SZEUCZUK, A. 2013. O CINEMA NO ENSINO DE HISTÓRIA. UMA ANÁLISE DO FILME: A MISSÃO DE ROLAND JOFFÉ.



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Transcrição:

90 Artigo original O CINEMA NO ENSINO DE HISTÓRIA. UMA ANÁLISE DO FILME: A MISSÃO DE ROLAND JOFFÉ. SZEUCZUK, A. 1 Nome Completo Anderson Szeuczuk Artigo submetido em: 27/03/2013 Aceito em: 10/05/2013 Correio eletrônico: ander1957@yahoo.com.br. RESUMO O ensino de história passou por profundas mudanças nos últimos anos, novas fontes e abordagens foram incorporadas, atualmente contamos com uma variedade documental pode ser utilizada pelo professor em sala de aula. O presente artigo parte do pressuposto da necessidade de utilização de novas tecnologias em sala de aula, especificamente na disciplina de História. Apresentaremos neste ensaio uma análise do filme, A missão de Roland Joffé do ano de 1986, assim como possíveis interpretações e questionamentos confrontando o mesmo com fontes bibliográficas, apresentando novas possibilidades para sua utilização em sala de aula. Palavras chave: Filme. História. Fonte. Missões. ABSTRACT The teaching of history has undergone profound changes in recent years, new sources and approaches have been incorporated, currently have a variety of documents can be used by the teacher in the classroom. This article assumes the need to use new technologies in the classroom, specifically in the discipline of history. We present in this paper an analysis of the film, "The Mission" by Roland Joffé from 1986, as well as possible interpretations and questions confronting the same with literature sources, presenting new possibilities for its use in the classroom. Keywords: Film. History. Source.Mission. 1 Licenciado em História. Universidade Estadual do Centro Oeste. Guarapuava/ Paraná. 2011.

91 INTRODUÇÃO O uso de novas linguagens em sala de aula, se mostra cada vez mais necessária diante de nossa sociedade atual, em um mundo em constante mutação, renovação e evolução tecnológica, o uso de novos recursos didáticos são indispensáveis à educação de qualidade. As mudanças por que passa a sociedade exigem um sistema educacional renovado. O mercado de trabalho precisa de pessoas mais qualificadas, com mais conhecimento (e não só informação), mas também muito mais criativas, que pensem, tenham iniciativa, autonomia, domínio de novas tecnologias e competência para resolver as questões que se apresentam no cotidiano da vida. (FARIA, 2004, p.06) A sociedade atual necessita de pessoas críticas e renovadoras capazes de serem criativas perante um mercado competitivo e imerso na tecnologia. Assim como o ensino de história, que passou por diversas reformulações no decorrer do tempo, no início uma história fundamentada em memorização de fatos, dados e eventos políticos, baseado em fontes exclusivamente em fontes escritas e oficias, porém na contemporaneidade. O conceito moderno de documento rejeita a máxima metódica "o documento fala por si". Portanto, as armadilhas de um documento audiovisual ou musical podem ser da mesma natureza das de um texto escrito. (PINSKY, 2008, p.235). O professor contemporâneo deve ser capaz de captar toda essa grande variedade de informação fornecida pelas diferentes mídias, sistematizando e fazendo com que tudo isso faça sentido para o aluno. Assim muitos professores de história optam por utilizar o filme em sala de aula, mas segundo Rocha, 1993, o filme vem amplamente sendo usado em sala de aula por, [...] exercer um grande fascínio sobre os professores de história, em consequência, de um lado, da grande quantidade disponível de filmes (FALCÃO, 1993, p.03). Os professores acabam por utilizando o filme como um suporte didático para sua disciplina, não tomando nenhum cuidado com sua utilização, usando deste recurso muitas vezes com objetivo de ilustração ou comprovação daquilo que é ensinado. O filme em sala de aula deve ser utilizado como uma fonte histórica, seu uso deve contemplar uma metodologia especifica sendo confrontada com outras fontes do período retratado pelo filme. O papel do professor de história na sala de sala de aula neste contexto é fazer o aluno questionar e indagar as diversas fontes históricas existentes. Neste trabalho partimos de uma análise do filme A Missão de Roland Joffé, do ano de 1986, relacionando o filme com material bibliográfico sobre a história dos Sete Povos das Missões, as possíveis omissões e excessos do autor em tentar demonstrar a história do

92 conflito, que culminou na expulsão dos jesuítas do território das missões. O FILME COMO FONTE HISTÓRICA EM SALA DE AULA As transformações sociais de nossa sociedade junto com o surgimento de novas tecnologias mostram a necessidade do uso de novas linguagens na educação. No ensino de história um recurso que vem amplamente sendo utilizado em sala de aula é o cinema, mas o filme antes de tudo, deve ser visto como uma fonte histórica passiva de análise e interpretação. Do ponto de vista metodológico, são vistas pelos historiadores como fontes primárias novas, desafiadoras, [...] (PINSKY, 2008, p.236). O seu uso embora, pareça não é nada fácil, pois envolve toda uma metodologia como qualquer outra fonte histórica. Um dos maiores problemas do uso do cinema é que ele cria o "[...] efeito de realidade" imediato sobre o observador, [...] (2008, p.236). e isso é um dos principais aspectos que devem ser entendidos de um filme, que ele não é uma verdade, o professor deve explicar aos alunos que determinado filme é a visão de determinada sociedade, e ele não foi produzido com a intencionalidade de ser utilizado em sala de aula, muito menos como fonte histórica. O filme foi criado para, [...]entreter e conquistar bilheteria para, finalmente, dar lucro à indústria que nele investiu. (FALCÃO, 1993, p.03) Outro ponto a ser analisado em um filme é, [...] saber se tal ou qual filme foi fiel aos diálogos, à caracterização física dos personagens ou a reproduções de costumes e vestimentas de um determinado século (PINSKY, 2008, p.237). Pois alguns filmes históricos usam o passado como um cenário de encenação para o enredo, outros procuram fazer uma reconstituição dos fatos, não devemos nos esquecer que o filme não foi feito para ser uma fonte histórica e sim para ser uma atração para o público do período. (FALCÃO, 1993, p.13). O cinema pode e deve ser utilizado em sala de aula, mas seu uso envolve muito cuidado por parte do professor, que deve incentivar o aluno a analisar o filme como uma fonte histórica. O seu uso não deve de maneira alguma substituir o conteúdo científico da disciplina, e nem tomar espaço de uma discussão sobre um conteúdo. As novas linguagens não iram resolver os problemas didáticos que o curso apresenta, mas podem ser facilitadores de aprendizagem (PINSKY, 2008). Assim o professor não deve deixar de trabalhar os conteúdos básicos de sua disciplina, mas pode utilizar diferentes recursos para complementar sua aula a deixando mais atrativa e convidativa para interação do aluno.

93 ANÁLISE DO FILME A MISSÃO O filme a missão de A missão de Roland Joffé, objeto de análise do presente trabalho, foi uma obra inglesa concluída no ano de 1986 (http://meuartigo.brasilescola.com/artes/a-missao.htm). A partir do ano de 1600 os bandeirantes portugueses começaram a avançar pelo território que ainda segundo o Tratado de Tordesilhas de 1494 era dos espanhóis, os bandeirantes portugueses tinham como objetivo principal adentrar no território alheio em busca de índios para serem vendidos nos mercados de escravos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Com a intenção de proteger o seu território, os espanhóis buscaram nos jesuítas a alternativa para catequizar e civilizar os indígenas, mas ao mesmo tempo. Os Jesuítas subordinaram os índios a uma semi-servidão disfarçada que não correspondia ao que a servidão tem de específico, mas ao mesmo tempo, não era trabalho livre ou a escravidão na sua pureza conceptual. Contribuíram ainda para o abastardamento cultural do índio, destruindo os seus padrões de valores. Esses padrões eram fruto da experiência adquirida através de longo processo de adaptação ao meio. Os jesuítas substituíram esses padrões por outros aquilatados e impostos segundo esteriótipos e julgamentos morais que eram inteiramente estranhos aos índios. Esta defasagem levou a que a população indígena fosse marginalizando progressivamente do processo produtivo. (MOURA,1981, p. 24-26 apud BONINI, 2007, p.75). A semi-servidão disfarçada, pode ser entendida também como uma manipulação psicológica na qual os jesuítas exerciam sobre os nativos, uma servidão não baseada no chicote ou na violência, mas sim na manipulação pela fé. Os jesuítas assim se estabeleciam em uma tribo de indígenas, ali começavam a viver entre os nativos e formavam uma missão (SIMON, 1985, p.12). O filme retrata um cenário baseado em fatos reais, as guerras guaraníticas (1754-1756), que ocorrerem devido a alterações das divisas territoriais entre Espanha e Portugal impostas pelo tratado de Madri do ano de 1750. Segundo o tratado, os Sete povos das Missões, na margem esquerda do rio Uruguai, passaria para Portugal, enquanto a Colônia de Sacramento, possessão portuguesa do outro lado do rio passaria para Espanha. (CROMPTON, 2005, p.98). Os indígenas não aceitaram se retirar do seu território e isso deu origem à guerra que derrotou os guaranis e expulsou os jesuítas da América. Alguns pontos do filme se destacam em meio ao enredo, o mesmo se inicia com uma tribo de índios guaranis, amarrando um padre em uma cruz e o arremessando em um rio, uma atitude que mostrava a insatisfação e rejeição da tribo perante aquela autoridade

94 religiosa. Esse seria o primeiro ponto a ser questionado com os alunos em sala de aula, quais seriam as fontes que levaram ao autor do filme a imaginar tal atitude por parte dos nativos? Haveriam fontes confiáveis que levariam a tal interpretação? Desde a vinda dos jesuítas em 1549, quando chegaram à América encontram. Terras inóspitas, cheias de índios guaranis, mataram o padre Roque e mais dois companheiros já em 1628. (SIMON, 1985, p.15). Embora haja relatos de jesuítas que foram mortos pelos indígenas, tal visão do autor pode ser considerada um pouco exagera, mas já mostra o objetivo inicial dos jesuítas que vinham para América, ou seja, o tipo de pessoas que eles teriam que lidar, na visão européia do período, verdadeiros selvagens. O filme tenta passar uma visão de selvageria e violência por parte dos nativos, mostrando que eles precisavam ser civilizados aos moldes europeus. Aqui cabe uma análise e questionamentos. Quem é considerado o herói e quem é o vilão do filme? A intenção do autor nesse momento é mostrar os jesuítas membros da igreja católica como os salvadores e heróis dos nativos aqui da América e os indígenas como incivilizados que precisavam ser convertidos aos moldes europeus de civilidade. Em momento algum do filme o autor tenta mostrar o mal que os europeus fizeram em impor sua religião e cultura aos nativos, não sendo levada em consideração seus costumes e hábitos (ROCHA, 2008, p.01). O diretor enfatiza bem a influência que os índios vão tendo dos jesuítas, muitas cenas mostram fazendo os instrumentos musicais, cabanas para morarem, igrejas, plantações, passam a cultuar os santos católicos louvarem em corais, aos poucos vão aprendendo o idioma dos brancos, tendo aulas religiosas perdendo aos poucos a sua identidade. (Resenha) Neste ponto do filme podemos perceber como o objetivo do autor foi em mostrar ao público o sucesso da conversão dos indígenas de incivilizados a civilizados. Outra característica do filme, é como o autor apresenta as relações de gênero, qual é o papel da mulher no período que o filme retrata e na sociedade do período, há apenas uma mulher ativa na trama a esposa de Rodrigo, essa característica mostra bem a realidade do período, em uma América que ainda estava em processo de colonização, poucas eram as mulheres que viriam da Europa. O autor poderia ter salientado a participação feminina no filme, mas a única mulher que tem maior destaque é retratada como uma mulher que trai seu marido com o próprio irmão, uma atitude condenável socialmente tanto no período quanto atualmente. Nesse ponto também percebemos um aspecto da sociedade do contexto analisado, qual seria a razão de não haver mais mulheres ativas na trama? Assim percebemos como, [...] nenhum filme é neutro em relação à sociedade que o produziu. (FALCÃO, 1993, p.25). Pois, período em que o filme foi produzido as mulheres ainda buscavam destaque e posição

95 social. Com relação à traição de Rodrigo, por parte de sua esposa Carlotta, este ponto faz parte de uma encenação por parte do autor em entreter o público, fugindo da fidelidade do fato histórico. Assim como o arrependimento de Rodrigo que era um ex mercador de escravos, que após ter matado seu irmão, que lhe traiu com sua própria mulher, se arrepende e se torna um jesuíta, acabando por lutar e viver ao lado dos indígenas. O professor nesse momento deve deixar claro aos alunos que não existem fontes históricas que comprovem a veracidade do acontecimento apresentado pelo autor. Ao final do filme a coroa ataca as missões, alguns lideres religiosos e indígenas aceitam saírem pacificamente, mas outras como a Missão de São Carlos comandada pelo irmão Gabriel interpretado por (Jeremy Irons) se negam e enfrentam a coroa. Como percebemos o filme A missão apesar de não ser um filme com finalidade histórica, sua análise pode ser realizada em sala de aula como documento histórico, além de estimular a aprendizagem e o senso crítico dos alunos mostrando de uma maneira mais atrativa o conteúdo didático para o aluno. CONSIDERAÇÕES FINAIS O uso de filmes em sala de aula quando utilizado com a metodologia adequada pode trazer excelentes resultados para o processo de ensino aprendizagem. No ensino de história contamos como uma variedade de filmes disponíveis, sobre diferentes temas históricos, cabendo assim a cada professor que optar em utilizá-los analisar de maneira adequada o mesmo, não devendo apenas usá-lo como uma ilustração ou comprovação da sua afirmação e sim utilizá-lo de maneira crítica e com os métodos adequados. Assim o filme pode ser usado como uma fonte histórica passível de análise e crítica como todo documento histórico. REFERÊNCIAS BITENCOURT, Circe Maria Fernandes. (org.). O saber histórico na sala de aula. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2005. CROMPTON, Samuel Willard. 100 Guerras que mudaram a história do Mundo. Tradução Marise Chinetti de Barros. Rio de janeiro: Ediouro, 2005. FALCÃO, A. R.; BRUZZO C. P.A. O Filme: um Recurso Didático no Ensino da História. 2. ed. São Paulo: Gesp, 1993.

96 FARIA, Elaine Turk Faria. O Professor e as Novas Tecnologias. In: Enricone, Délcia. Ser Professor. 4ª ed, Porto Alegre: Edipucrs, 2004. MOURA, Clóvis. Brasil: as raízes do protesto negro. São Paulo: Global, 1983. In:BONINI, A. et al. Livro didático público: História. 2. ed. Curitiba: SEED, 2007. PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes históricas. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008. SCHIMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar História. São Paulo: Editora Scipione, 2009. SIMON, Mário. Os Sete Povos das Missões: trágica experiência. 2. ed. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1987. SIMON, Mário. Breve Notícia dos Sete Povos. 2. ed. Santo Ângelo: Gráfica Editorial, 1985. ROCHA, Jailton, 2008 p.01. A Missão. Disponível em: <http://multiplot.wordpress.com/2008/11/09/a-missao-roland-joffe-1986/> Acesso em 22 de fev. de 2013. Resenha do filme a missão. Disponível em: <http://www.autores.com.br/200809239441/arte-cinema/critica/resenha-do-filme-amissao.html> Acesso em 22 de fev. de 2013.