AVALIAÇÃO DA PRÁTICA DO CORTE DOS DENTES DOS LEITÕES NA MATERNIDADE



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Transcrição:

AVALIAÇÃO DA PRÁTICA DO CORTE DOS DENTES DOS LEITÕES NA MATERNIDADE Aruan Alexander de Araújo 1 ; Juliana da Costa Cidral 1 ; Elizabeth Silvano 1 ; Nilberto Afonso RESUMO Lafin 2 ; Erica Perez Marson 3 A remoção dos dentes de leitões entre o primeiro e terceiro dia de vida é uma prática de manejo rotineira empregada na Suinocultura, com o objetivo de reduzir a incidência de lesões cutâneas na face dos leitões e nos tetos das matrizes. Entretanto esta prática vem sendo questionada, em virtude de sua influência negativa no bem-estar dos animais, no seu desempenho zootécnico e na maior predisposição dos mesmos a doenças oportunistas. Objetivou-se, neste estudo, avaliar o manejo do corte dos dentes dos leitões na maternidade sobre o ganho de peso da leitegada e incidência de lesões nos tetos das matrizes, durante o período do nascimento ao desmame. Foram comparados dois grupos experimentais, sendo o grupo controle (GC), constituído por 29 leitões de três leitegadas, mantidos com seus dentes intactos, e o grupo tratamento (GT), constituído por 40 leitões de quatro leitegadas, submetidos ao corte dos dentes no terceiro dia de vida. Não se observou diferenças entre o GC e o GT para o ganho de peso dos leitões (0,287±0,02 kg versus 0,244±0,02 kg, respectivamente; P>0,05), não se constatando também diferenças entre o GC e o GT para a incidência de lesões nos tetos das matrizes (35,89 ± 32,03% versus 48,34 ± 32,36%, respectivamente; P>0,05). Estes resultados sugerem que o manejo de remoção dos dentes pode se tornar uma prática desnecessária. A correlação positiva de 69% obtida entre o tamanho da leitegada e a incidência de lesões nos tetos indica que a manutenção de um número adequado de tetos funcionais das matrizes em relação ao número total de leitões é uma alternativa à redução desta prática, devendo cada sistema de produção de suínos avaliar sua adoção pela necessidade de um melhor acompanhamento diário das leitegadas. Palavras-chave: corte de dentes, ganho de peso, leitões. 1. INTRODUÇÃO Ao nascimento, os leitões apresentam oito dentes completamente eclodidos, sendo quatro caninos e quatro terceiros incisivos (Figura 1). Por serem proeminentes e projetados para o exterior da cavidade oral, os leitões durante a amamentação comumente se utilizam destes dentes para disputar os tetos de maior produção de leite. Essas disputas geralmente causam escoriações cutâneas e até cortes profundos nos lábios, na face e orelhas dos leitões, assim como nos tetos das matrizes, 1 Alunos do Curso Técnico em Agropecuária Concomitante ao Ensino Médio do Instituto Federal Catarinense (IFC), Campus Araquari. Endereços eletrônicos: aruan_araujo@hotmail.com, cidraljurask@hotmail.com, elizabeth.tj@hotmail.com 2 Técnico Agropecuário e aluno do curso Técnico em Informática para Internet do IFC, Campus Araquari. Endereço eletrônico: eng.amb.nilberto@gmail.com 3 Médica Veterinária, D.S. e Prof a do IFC, Campus Araquari. Endereço eletrônico: epmarson@gmail.com

predispondo-as a ocorrência de mastites além da relutância em aleitar sua leitegada (Morés et al, 1998). Por esse motivo, o manejo da remoção dos dentes caninos e terceiros incisivos superiores e inferiores, quer seja pelo corte ou pelo desgaste do ápice dos mesmos, tornou-se uma prática rotineira empregada tradicionalmente na Suinocultura, entre o primeiro e terceiro dia de vida do leitão. Figura 1: Dentição em leitões recém-nascidos. Fonte: adaptado e modificado de Koller (2006) Desde 2001, a legislação da União Européia que rege os padrões mínimos de bemestar animal, proíbe a prática da remoção dos dentes dos leitões como medida de manejo rotineira, ficando a critério do Médico Veterinário indicar sua necessidade somente quando houver indícios objetivos de ferimentos nos tetos das matrizes, de modo a promover benefícios à saúde e melhoria do bem-estar dos leitões e da matriz (Directive 91/630/EEC, 2001). Nos Estados Unidos registros obtidos neste mesmo ano apontam que aproximadamente 16% dos leitões nascidos já não são mais submetidos à remoção dos dentes (Estienne et al., 2001). Entretanto no Brasil tal manejo encontra-se ainda amplamente difundido, principalmente pela praticidade de execução do mesmo, bem como, pela ausência de informações científicas forneçam subsídios ao produtor optar pela adoção, redução ou mesmo exclusão desta prática em seu sistema de produção. Para Bates (2003), o manejo da remoção dos dentes, assim como outros tipos de intervenções práticas com os leitões nos primeiros dias de vida, como o corte da cauda, a tatuagem e a castração, são ações que causam estresse ao animal por gerar dor imediata e intensa no local, podendo influenciar negativamente no desempenho zootécnico da leitegada e até da matriz. Entretanto, os poucos trabalhos disponíveis não conseguiram demonstrar

redução no desempenho de leitões que tiveram seus dentes removidos 24 horas após o nascimento (Weary e Fraser, 1999; Estienne et al., 2001, Koller, 2006), embora Bates (2003) tenha conseguido demonstrar menores taxas de mortalidade na maternidade para os leitões que foram mantidos com seus dentes intactos. Hutter et al. (1994) citados por Koller (2006) e Estienne et al. (2001) apesar de terem relatado maior incidência de lesões nos tetos de matrizes cujas leitegadas permaneceram com seus dentes intactos, ressaltaram que esta condição não foi suficiente para reduzir o desempenho da matriz, devendo ser a adoção deste manejo devidamente avaliada. Ainda, muitos autores questionam a execução da remoção dos dentes dos leitões visto que tal conduta promove uma extração ou fratura do esmalte dentário com exposição da cavidade pulpar, o que facilitaria uma colonização bacteriana e evolução para gengivites (inflamação das gengivas), cáries, pulpites (inflamação da polpa dentária) e até abscessos periapicais, predispondo os animais a futuras doenças oportunistas (Selegatto et al, 2003; Souza et al., 2004 e Koller, 2006). Tendo em vista que a remoção dos dentes dos leitões é relatada como sendo uma prática invasiva e também dolorosa, o que afeta o bem-estar e até o desempenho dos animais, objetivou-se, neste estudo, avaliar o manejo do corte dos dentes de leitões na maternidade sobre o ganho de peso da leitegada e sobre a incidência de lesões nos tetos das matrizes, durante o período do nascimento ao desmame. Espera-se que com estas informações, somadas àquelas já disponíveis na literatura, seja possível indicar outras alternativas de manejo que possibilitem reduzir ou mesmo abolir esta prática nos sistemas brasileiros de produção de suínos. 2. METODOLOGIA 2.1 Local O presente estudo foi conduzido no período de julho a setembro de 2009 na Unidade Didática de Produção (UDP) de Suínos do Instituto Federal Catarinense, Campus Araquari. A Suinocultura desta instituição compreende 28 matrizes híbridas Large White x Landrace, alojadas sob confinamento total, sendo o sistema de produção realizado em ciclo completo. 2.2 Animais e tratamentos Foram avaliadas sete matrizes e suas respectivas leitegadas, resultando em um total de 69 leitões. A escolha das matrizes para inclusão nos grupos experimentais foi feita de modo

aleatório, à medida que os partos foram ocorrendo. O período de avaliação das matrizes e suas respectivas leitegadas compreendeu o parto até o desmame, realizado em média, aos 28 dias. Dois grupos experimentais foram assim constituídos: GRUPO CONTROLE (GC): três leitegadas, num total de 29 leitões, sendo todos mantidos com seus dentes intactos; GRUPO TRATAMENTO (GT): quatro leitegadas, num total de 40 leitões, sendo todos submetidos ao manejo do corte dos dentes, efetuado com alicate de aço inoxidável adequado para este fim (Figura 2), no terceiro dia de vida. Figura 2. Alicate de aço inoxidável específico para corte dos dentes de leitões. 2.3 Delineamento experimental Além da obtenção de dados de desempenho da leitegada como peso ao nascimento, peso ao desmame e taxas de mortalidade na maternidade, as matrizes foram observadas visualmente e diariamente, do nascimento até o desmame, quanto à presença de lesões cutâneas nos tetos. As variáveis que foram analisadas e comparadas entre o GC e o GT foram o ganho de peso da leitegada na maternidade e a incidência de lesões nos tetos das matrizes. O ganho de peso da leitegada foi obtido dividindo-se a diferença entre o peso ao desmame e o peso ao nascimento pela idade ao desmame, sendo expresso em quilogramas (kg). A incidência de lesões nos tetos das matrizes foi calculada pela divisão entre o número de tetos lesionados ao final do experimento pelo número total de tetos normais (funcionais) da matriz por ocasião do parto, sendo expresso em percentagem. 2.4 Manejo geral O manejo geral de assistência ao parto, arraçoamento das matrizes e dos leitões, limpeza diária das instalações, bem como as demais atividades de manejo específicas com as matrizes e leitões realizadas durante o período de lactação, foram conduzidas normalmente

com os grupos experimentais, seguindo-se os padrões já adotados na Suinocultura da instituição. 2.5 Análise estatística Para a interpretação dos resultados efetuou-se a estatística descritiva dos dados obtendo-se as médias e desvios-padrão das variáveis estudadas. Posteriormente os dados de ganho de peso da leitegada na maternidade e incidência de lesões nos tetos das matrizes foram submetidos à análise de variância, empregando-se o software de análises estatísticas SAS (1998), adotando-se um nível de significância de 5%. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 apresenta os resultados de peso ao desmame (kg) e ganho de peso corporal da leitegada (kg) do nascimento até o desmame, para o GC e GT. Tabela 1 Peso médio ao desmame (kg) e ganho de peso médio (kg) da leitegada do nascimento ao desmame, e seus respectivos desvios-padrão, para o grupo controle (GC - dentes intactos) e tratamento (GT - corte dos dentes) Grupos Número de Peso ao desmame (kg) Ganho de peso (kg) leitões Médias Desvio-padrão Médias Desvio-padrão GC 29 9,85 1,27 0,287 0,02 GT 40 8,69 1,10 0,244 0,02 Embora a leitegada com dentes intactos tenha apresentado resultados superiores para peso ao desmame e ganhos de pesos na maternidade quando comparada à leitegada que tiveram seus dentes cortados, não houve diferenças significativas (P>0,05) entre elas. Outros autores também não conseguiram demonstrar diferenças significativas no desempenho dos leitões com dentes intactos ou cortados, em termos de ganhos de peso na maternidade (Weary e Fraser, 1999; Estienne et al. 2001). Recentemente Koller (2006) ao avaliar a influência de diferentes métodos de corte ou de desgaste dos dentes de leitões 24 horas após o parto sobre o ganho de peso do nascimento aos 65 dias de idade, embora tenha demonstrado uma tendência de melhor ganho de peso na creche para os leitões cujos dentes foram desgastados (e não cortados) em relação aos leitões com dentes intactos, também não conseguiu demonstrar diferenças significativas entre eles. Hutter et al. (1994) citados por Koller (2006) e posteriormente Souza et al. (2004) reforçaram que mesmo a técnica de desgaste do ápice dos dentes, empregando-se instrumento

apropriado, não impede a ocorrência de lesões dentárias, demonstrando a ocorrência, respectivamente, de 48% e 80% dos dentes desgastados com presença de pulpite. De acordo com os autores supracitados, apesar da técnica do desgaste apresentar vantagens em relação ao corte dos dentes ao prevenir a exposição da cavidade pulpar do dente, o calor promovido pelo atrito da pedra desgastadora sobre o dente durante o desgaste do mesmo, afeta igualmente a viabilidade da polpa dentária. Lesões dentárias ainda mais graves como abscessos periapicais foram encontradas por Koller (2006) em leitões entre 40 e 70 dias de idade, sendo que 20,7% dos leitões apresentaram pelo menos um abscesso periapical, havendo maior incidência destes naqueles dentes que foram submetidos ao manejo de corte ou desgaste dos dentes. Anteriormente a este estudo Selegatto et al. (2003) já apontavam a incidência de pelo menos uma cárie dentária em 37,4% do total de leitões terminados por ocasião do abate, sendo todas estas presentes nos dentes que sofreram o manejo dentário na maternidade. Os resultados de desempenho dos leitões obtidos no presente estudo, bem como os relatos de lesões dentárias descritos na literatura demonstram que a prática de remoção dos dentes pode ser considerada desnecessária. E mesmo que sua execução seja indicada, sugerese a necessidade de se proceder à técnica com maior cautela e eficiência, pois além da dor local constante, levando à piora do bem-estar dos animais, as lesões ali produzidas podem predispô-los a doenças oportunistas futuras com aumento das taxas de mortalidade, sem contar do risco de se cortar a língua, lesionar a gengiva ou deixar restos de dentes com pontas agudas e abrasivas na cavidade oral, caso este manejo seja mal conduzido (Morés et al, 1998). Na Tabela 2 observam-se os resultados da incidência de lesões nos tetos das matrizes cujas leitegadas foram submetidas ao manejo do corte dos dentes ou não. Tabela 2 Incidência de lesões nos tetos das matrizes (%) e seus respectivos desvios-padrão, do nascimento ao desmame, para o grupo controle (GC - dentes intactos) e tratamento (GT - corte dos dentes) Grupos Número de leitões Incidência de lesões nos tetos (%) Médias Desvio-padrão GC 29 35,89 32,03 GT 40 48,34 31,36 Observa-se um maior percentual de lesões cutâneas nos tetos das matrizes do GT (corte dos dentes) em relação às matrizes do GC (dentes intactos), entretanto estes resultados não diferiram entre si (P>0,05), o que contraria os achados de Hutter et al. (1994) citados por

Koller (2006) e Estienne et al. (2001), que relataram maior incidência de lesões nos tetos das matrizes cujas leitegada permaneceram com seus dentes intactos. Entretanto, estes autores ressaltaram que o impacto das lesões nos tetos não chegou a influenciar nem positivamente, nem negativamente o desempenho das matrizes, devendo ser a remoção dos dentes indicada somente quando da prevenção de lesões nos leitões ou nos tetos das matrizes, visando o seu bem-estar, tal como sugerido pela legislação da União Européia. Normalmente observa-se que os ferimentos nos tetos das matrizes são produzidos em decorrência de brigas entre os leitões quando da disputa pelos tetos de maior produção de leite. Assim a competição entre os leitões pelos tetos será maior quando a produção de leite pela matriz for baixa, quando existirem grandes diferenças de peso entre os leitões por ocasião do nascimento e/ou quando as leitegadas forem muito grandes (Weary & Fraser, 1999). No presente estudo o tamanho da leitegada correlacionou-se positivamente com a incidência de lesões nos tetos das matrizes, correlação esta de 69%, mostrando que quanto maior o número de leitões por matriz espera-se maior competição pelos tetos e, portanto, maior incidência de lesões nos tetos, informação esta ratificada por Estienne et al. (2001). Assim, o manejo de remoção dos dentes pode se tornar uma prática desnecessária em alguns sistemas de produção, desde que seja mantido um número adequado de tetos funcionais em relação ao número total de leitões, contados por ocasião do nascimento. Em adição, Morés et al. (1998) confirmam que leitões com maior peso ao nascimento apresentam maiores ganhos de peso durante o período do aleitamento, em função de sua maior habilidade em mamar nos tetos de maior produção de leite. Desde modo, a prática de se selecionar e realizar o corte ou desgaste dos dentes somente nos leitões maiores, deixando os leitões menores com seus dentes intactos, também é uma estratégia que pode ser implantada nas granjas brasileiras, visando a diminuição do emprego deste tipo de manejo. 4. CONCLUSÕES Os resultados observados no presente estudo, em conjunto com aqueles disponíveis na literatura, confirmam que a remoção dos dentes de leitões após o nascimento, seja pelo corte ou pelo desgaste dos mesmos, não melhora o desempenho produtivo da leitegada nem da matriz, não devendo ser, portanto, adotado como uma prática de caráter rotineiro nas suinoculturas brasileiras. Assim, a abolição da prática da remoção dos dentes além de diminuir o estresse gerado por esse tipo de manejo tanto para os leitões como para as matrizes, resultará em maior bem-

estar para os animais, poupando trabalho e tempo dos funcionários, que poderá ser destinado para outros fins de maior prioridade. Ressalta-se que cada sistema de produção deve avaliar a adoção de outras formas alternativas de manejo, além das que foram aqui sugeridas, de forma a reduzir ou mesmo abolir o emprego da remoção dos dentes dos leitões, o que não impede a necessidade de eventuais intervenções posteriores nas leitegadas com a prática do manejo dentário, demonstrando a importância de se promover melhor acompanhamento diário das leitegadas. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATES, R.O.; HOGE, M.D.; EDWARDS, D.B.; STRAW, B.E. The influence of canine teeth clipping on nursing and nursery pig performance. J. Swine Health Prod., v.11, n.2, p.75-79, 2003. Directive 91/630/EEC Laying down minimum standards for the protection of pigs. Official Journal of the European Communities. 1.dez.01. L 316/36. Disponível em: <http://europa.eu.int/eurlex/pri/en/oj/dat/2001/l_316/l_31620011201en00360038.pdf> Acesso em 01 de julho de 2009. ESTIENNE M.J.; HORSLEY B.R.; HARPER A.F. Case study: effects of pig needle teeth on pig and sow injuries and pre-weaning pig performance. The Professional Animal Scientist, v.19, p.68-71, 2001. KOLLER, F.L. Manejo dentário em leitões: efeitos no ganho de peso na maternidade e creche, prevalência de abscessos periapicais e isolamento dos agentes bacterianos envolvidos. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.55p. MORÉS, N.; SOBESTIANSKY, J; WENTZ, I.; MORENO, A.M. Manejo do leitão desde o nascimento até o abate. In: Suinocultura intensiva. Brasília: Serviço de Produção de Informação SPI. 1998. cap. 7. p.135-162. SAS INSTITUTE INC. User s guide. Cary, NC, 2000. Version 8. SELEGATTO, M.A.; CARVALHO, L.F.O.S; OLIVEIRA, C.J.B; DOMINGUES Jr., F.J. Ocorrência de cáries em suínos de abate. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE VETERINÁRIOS ESPECIALISTAS EM SUÍNOS ABRAVES, 11, 2003, Concórdia, Embrapa. Anais, 2003. p. 157-158. SOUZA, M. A. ; SOBESTIANSKY, J. ; LOPES, E. L. ; COSTA, M. C. ; NUNES, R.C.. Teeth clipping, grinding and unclipping: influence on sows and piglets injuries and performance of the piglets in a farm in Rio Verde - GO - Brazil.. In: INTERNATIONAL PIG VETERINARY SOCIETY CONGRESS, 18, 2004, Hamburgo, Alemanha. Proceedings, 2004. p. 795. WEARY, D.M.; FRASER, D. Partial tooth-clipping of suckling pigs: effects on neonatal competition and facial injuries. Appl. Anim. Behav. Sci., v.65, p.21-27, 1999. SAS AGRADECIMENTOS: Ao zootecnista Dr. Saulo da Silva Luz, da FZEA/USP pela participação fundamental na condução das análises estatísticas e colaboração nas interpretações dos resultados.