Acta Paulista de Enfermagem ISSN: 0103-2100 ape@unifesp.br Escola Paulista de Enfermagem Brasil

Documentos relacionados
A Organização da Atenção Nutricional: enfrentando a obesidade

O ENFERMEIRO NO PROCESSO DE TRANSPLANTE RENAL

INDICADORES SOCIAIS E CLÍNICOS DE IDOSOS EM TRATAMENTO HEMODIALÍTICO

PARECER COREN-SP 004/2015 CT PRCI n 2339/2015

A PRÁTICA DA TERAPIA OCUPACIONAL NA ESTIMULAÇÃO COGNITIVA DE IDOSOS QUE FREQUENTAM CENTRO DE CONVIVÊNCIA.

considerando a necessidade de diminuir o risco de infecção hospitalar, evitar as complicações maternas e do recém-nascido;

FACULDADES ADAMANTINENSES INTEGRADAS NÚCLEO DE PSICOLOGIA

QUESTIONÁRIO DE AUTO-AVALIAÇÃO DE PROFESSOR. Professor: Data / / Disciplina:

PROMOVENDO SAÚDE NA ESCOLA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA¹ BRUM,

AULA 1: ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO NA EMERGÊNCIA

O PROCESSO DE TRABALHO DA EQUIPE DE SAÚDE QUE ATUA EM UNIDADES HOSPITALARES DE ATENDIMENTO ÀS URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS 1

Marcelo c. m. pessoa

Contratação de serviços de consultoria técnica especializada pessoa física. PROJETO: PLANIFICAÇÃO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE.

PREFEITURA DO RECIFE SECRETARIA DE SAÚDE SELEÇÃO PÚBLICA SIMPLIFICADA AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE ACS DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO CANDIDATO

Tratamento da dependência do uso de drogas

ANEXO 1 PROJETO BÁSICO PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL E ORGANIZACIONAL DE ENTIDADES CIVIS DE DEFESA DO CONSUMIDOR

FADIGA EM PACIENTES COM CÂNCER DE MAMA EM RADIOTERAPIA CONVENCIONAL.

Pesquisa sobre Segurança do Paciente em Hospitais (HSOPSC)

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO - HERNIORRAFIA ABDOMINAL

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SANTA CATARINA

OS ENFERMEIROS E A HUMANIZAÇÃO NOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE UM MUNICÍPIO

ANÁLISE DE ASPECTOS NUTRICIONAIS EM IDOSOS ADMITIDOS NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS DE 0 A 10 ANOS COM CÂNCER ASSISTIDAS EM UM HOSPITAL FILANTRÓPICO

Gráfico 1 Jovens matriculados no ProJovem Urbano - Edição Fatia 3;

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO

RESOLUÇÃO N o 53 de 28/01/ CAS RESOLVE: CAPÍTULO I DAS DEFINIÇÕES

O CONHECIMENTO DOS ENFERMEIROS DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA NA REALIZAÇÃO DO EXAME CLÍNICO DAS MAMAS

MANUAL DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO ADMINISTRAÇÃO

GESTÃO DA QUALIDADE COORDENAÇÃO DA QUALIDADE

SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA

ESTATUTO DA BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE BRASIL CAPITULO I. Da Apresentação

ANÁLISE DOS INDICADORES DE ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CIRÚRGICO

CARTA DE SÃO PAULO SOBRE SAÚDE BUCAL NAS AMÉRICAS

Manual Básico do Estagiário Modalidades: Obrigatório e Não obrigatório Lei Federal nº /2008 Lei Municipal nº /2009

Brasil. 5 O Direito à Convivência Familiar e Comunitária: Os abrigos para crianças e adolescentes no

ESPECIALIZAÇÃO EM CIÊNCIAS DA ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE

Programa Sol Amigo. Diretrizes. Ilustração: Programa Sunwise Environmental Protection Agency - EPA

PROGRAMA NEFRUZA PROMOVENDO VIDAS. RESPONSABILIDADE SOCIAL. Projeto de Prevenção de Doenças Renais DIA MUNDIAL DO RIM/2012

Cuidados paliativos em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos

Auditoria de Segurança e Saúde do Trabalho da SAE/APO sobre Obra Principal, Obras Complementares, Obras do reservatório e Programas Ambientais

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO MARAJÓ- BREVES FACULDADE DE LETRAS

REGULAMENTO GERAL DE ESTÁGIOS DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE PAULISTA - UNORP

DESCRITIVO DO PROCESSO DE SELEÇÃO ORIENTADOR DE PÚBLICO

1 INTRODUÇÃO. 1.1 O problema

ANÁLISE DO PROGNÓSTICO DE PACIENTES INFECTADOS COM HIV DE LONDRINA E REGIÃO DE ACORDO COM PERFIL NUTRICIONAL

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ

ÁGORA, Porto Alegre, Ano 4, Dez ISSN EDUCAR-SE PARA O TRÂNSITO: UMA QUESTÃO DE RESPEITO À VIDA

PADI. Programa de Atenção domiciliar ao Idoso

RELATÓRIO DE GESTÃO 2015 OUVIDORIA

PROCESSO SELETIVO 2014

Aluno: Carolina Terra Quirino da Costa Orientador: Irene Rizzini

DESENVOLVIMENTO INFANTIL EM DIFERENTES CONTEXTOS SOCIAIS

Relatório de Conclusão do Estágio Curricular III Serviços Hospitalares

Razão Social da Instituição R E G I M E N TO DO SE R V I Ç O DE EN F E R M A G E M. Mês, ano

Estado de Mato Grosso Município de Tangará da Serra Assessoria Jurídica - Fone (0xx65)

Avaliação antropométrica de idosas participantes de grupos de atividades físicas para a terceira idade.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Fundação Instituída nos termos da Lei nº 5.152, de 21/10/1966 São Luís - Maranhão.

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA PROMOÇÃO DO AUTOCUIDADO DO IDOSO COM DIABETES MELLITUS TIPO 2

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

O Sr. ÁTILA LIRA (PSB-OI) pronuncia o seguinte. discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores. Deputados, estamos no período em que se comemoram os

Orientadora, Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS.

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

PERCEPÇÃO DOS ENFERMEIROS DA ATENÇÃO BÁSICA SOBRE A REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA AO CUIDADO AO IDOSO

ORIENTAÇÕES PARA O PREENCHIMENTO DO QUESTIONÁRIO POR MEIO DA WEB

RESOLUÇÃO CFM nº 1598/2000 (Publicado no D.O.U, 18 de agosto de 2000, Seção I, p.63) (Modificada pela Resolução CFM nº 1952/2010)

RELATÓRIO. Participantes

REGULAMENTO PARA A REALIZAÇÃO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO

TELEPED-TELEMEDICINA COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO DE SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: RELATO DE EXPERIÊNCIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO PROCESSO SELETIVO 2013 Nome: PARTE 1 BIOESTATÍSTICA, BIOÉTICA E METODOLOGIA

GESTÃO DEMOCRÁTICA EDUCACIONAL

PUBLICO ESCOLAR QUE VISITA OS ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE MANAUS DURANTE A SEMANA DO MEIO AMBIENTE

5 Considerações finais

POR QUE FAZER ENGENHARIA FÍSICA NO BRASIL? QUEM ESTÁ CURSANDO ENGENHARIA FÍSICA NA UFSCAR?


PROJETO DE EXTENSÃO TÍTULO DO PROJETO:

Consulta de Enfermagem para Pessoas com Hipertensão Arterial Sistêmica. Ms. Enf. Sandra R. S. Ferreira

ISSN ÁREA TEMÁTICA:

INTRODUÇÃO. Entendemos por risco a probabilidade de ocorrer um dano como resultado à exposição de um agente químico, físico o biológico.

CURSO: EDUCAR PARA TRANSFORMAR. Fundação Carmelitana Mário Palmério Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

Documento Base do Plano Estadual de Educação do Ceará. Eixo Temático Inclusão, Diversidades e EJA

Programas. Com Maior Cuidado. Segurança Viária para Idosos

PROMOVENDO A REEDUCAÇÃO ALIMENTAR EM ESCOLAS NOS MUNICÍPIOS DE UBÁ E TOCANTINS-MG RESUMO

FACULDADE SANTA TEREZINHA CEST LIGA ACADÊMICA DE NUTRIÇÃO EM DIABETES E HIPERTENSÃO LANDH

DESCRIÇÃO DAS PRÁTICAS DE GESTÃO DA INICIATIVA

SUMÁRIO. 1.Histórico Legislação pertinente Análise Considerações Conclusão Referências 7.

PROJETO DE PESQUISA Acesso da população atendida em Ubá-MG aos serviços referentes à saúde mental na Policlínica Regional Dr. Eduardo Levindo Coelho

ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ Biblioteca Madre Marie Ange Política de Formação e Desenvolvimento de Coleções

SENADO FEDERAL Gabinete do Senador Donizeti Nogueira PARECER Nº, DE Relator: Senador DONIZETI NOGUEIRA

EXPOSIÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM AOS RISCOS E AOS ACIDENTES DE TRABALHO

ANSIEDADE E ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. Introdução: A ansiedade configura um sentimento que participa da vivência do ser

Gerenciamento da Desospitalizaçãode Pacientes Crônicos. Palestrante: Enfª Patricia Silveira Rodrigues

INTERNAÇÕES POR CONDIÇÕES SENSÍVEIS A ATENÇÃO PRIMÁRIA EM DOIS SERVIÇOS DE SAÚDE PÚBLICA DE MARINGÁ-PR

SONDAGEM INDUSTRIAL FEVEREIRO 2016 Respostas indicam aumento da utilização da capacidade instalada, mas ainda sem recuperação dos investimentos.

Transcrição:

Acta Paulista de Enfermagem ISSN: 0103-2100 ape@unifesp.br Escola Paulista de Enfermagem Brasil Bernardi Cesarino, Claudia; Helú Mendonça Ribeiro, Rita de Cássia; Pantaleão Cintra Lima, Isanne Carolina; Comelis Bertolin, Daniela; Fávaro Ribeiro, Daniele; Silveira Rodrigues, Ana Maria Avaliação do grau de satisfação de pacientes renais crônicos em hemodiálise Acta Paulista de Enfermagem, vol. 22, núm. spe2, 2009, pp. 519-523 Escola Paulista de Enfermagem São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=307023853013 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Artigo Original Avaliação do grau de satisfação de pacientes renais crônicos em hemodiálise* Evaluation of satisfaction in patients with chronic renal disease on hemodylysis La satisfacción del pacientes con la insuficiência renal crónica en hemodiálisis Claudia Bernardi Cesarino 1, Rita de Cássia Helú Mendonça Ribeiro 2, Isanne Carolina Pantaleão Cintra Lima 3, Daniela Comelis Bertolin 4, Daniele Fávaro Ribeiro 5, Ana Maria Silveira Rodrigues 6 RESUMO Objetivo: Identificar o grau de satisfação de pacientes portadores de insuficiência renal crônica em relação aos serviços prestados e às condições físicas da Unidade de Hemodiálise do Hospital de Base de São Jose do Rio Preto - SP. Métodos: Estudo descritivo que utilizou um questionário com escala tipo Likert aplicado em 81 pacientes em tratamento hemodialítico no Serviço de Nefrologia do referido Hospital. Resultados: Foi identificado que 53% dos usuários estavam muito satisfeitos e 47% satisfeitos. Apesar dos resultados apontarem para um alto grau de satisfação com os serviços prestados e condições físicas do ambiente, os usuários relataram algumas limitações. Conclusão: A avaliação da satisfação de pacientes possibilitou algumas opções para um repensar da prática dos profissionais da saúde, oferecendo subsídios no processo de gestão, objetivando a melhoria contínua do serviço. Descritores: Satisfação do paciente; Insuficiência renal crônica; Hemodiálise ABSTRACT Objective: To identify the level of satisfaction in patients with chronic renal disease on hemodialysis regarding their care and the physical structure of the hemodialysis unit of the Hospital de Base of Sao José do Rio Preto, SP. Methods: This descriptive study used a Likettype scale to collect data from 81 patients from the nephrology department. Results: Almost all patients were very satisfied (53 %) or satisfied (47%) regarding their care and the physical structure of the hemodialysis unit. A few limitations of the service were also reported. Conclusion: Patients satisfaction with the service led to reflection among health care providers regarding their practice and served as an indicator for continuous improvement of the hemodialysis service. Keywords: Patient satisfaction; Renal insufficiency, chronic; Hemodialysis RESUMEN Objetivo: Identificar el grado de satisfacción de pacientes portadores de insuficiencia renal crónica en relación a los servicios prestados y a las condiciones físicas de la Unidad de Hemodiálisis del Hospital de Base de Sao José do Rio Preto - SP. Métodos: Se trata de un estudio descriptivo en el que se utilizó un cuestionario con una escala tipo Likert aplicado a 81 pacientes con tratamiento de hemodiálisis en el Servicio de Nefrología del referido Hospital. Resultados: Fue identificado que el 53% de los usuarios estaban muy satisfechos y el 47% satisfechos. A pesar que los resultados apuntaron un alto grado de satisfacción con los servicios prestados y las condiciones físicas del ambiente, los usuarios relataron algunas limitaciones. Conclusión: La evaluación de la satisfacción de pacientes posibilitó algunas opciones para un repensar de la práctica de los profesionales de la salud, ofreciendo subsidios en el proceso de gestión, con el objetivo de una mejora continua del servicio. Descriptores: Satisfación del paciente; Insuficiencia renal crónica; Hemodiálisis * Estudo realizado na Unidade de Hemodiálise do Serviço de Nefrologia do Hospital de Base da Fundação Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto (SP), Brasil. 1 Professora Adjunto do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - FAMERP São José do Rio Preto(SP),Brasil. 2 Professora Assistente do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - FAMERP São José do Rio Preto (SP), Brasil. 3 Enfermeira do Hospital Sirio Libanês - São Paulo (SP), Brasil. 4 Professora Associada do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Paulista UNIP São José do Rio Preto (SP), Brasil. 5 Enfermeira do Serviço de Nefrologia do Hospital de Base Fundação Faculdade Regional de Medicina - FUNFARME - São José do Rio Preto (SP), Brasil. 6 Professora do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - FAMERP São José do Rio Preto (SP), Brasil. Autor Correspondente: Claudia Bernardi Cesarino R. Jamil Barbar Cury, 511 - Jd. Tarraf II - São José do Rio Preto - SP CEP. 15092-530 E-mail: claudiacesarino@famerp.br

520 Cesarino CB, Ribeiro RCHM, Lima ICPC, Bertolin DC, Ribeiro DF, Rodrigues AMS. INTRODUÇÃO A importância da avaliação feita pelos usuários de serviços é cada vez mais citada atualmente, sobretudo enfocando a busca da qualidade nos serviços de saúde e a satisfação do usuário em relação a eles (1). A satisfação do usuário é definida como um conjunto amplo e heterogêneo de pesquisas, com o objetivo de saber a opinião dos usuários de serviços de um modo geral, públicos e privados. Uma pesquisa identificou distintas dimensões que envolvem o cuidado à saúde, desde a relação profissional-paciente até a qualidade das instalações do serviço e qualidade técnica dos profissionais de saúde (2). Inicialmente, na gestão tradicional, o termo qualidade estava vinculado à necessidade de aumentar a produção e lucratividade. Atualmente, no serviço de saúde, a assistência às pessoas que apresentam algum tipo de agravo é o principal fator integrante do conceito de qualidade. De acordo com a Constituição brasileira de 1988, o conceito sobre saúde vai além do direito à saúde e acesso aos serviços, ampliando o conceito para a qualidade de vida (3). Dentro dessa lógica, vale ressaltar a avaliação da qualidade de vida, principalmente quando aplicada a pacientes renais crônicos, pois a doença renal reduz acentuadamente o funcionamento físico e atuação profissional, além de causar um impacto negativo sobre os níveis de energia e vitalidade, devendo considerar em suas avaliações as conseqüências psicossociais e as do tratamento para esses pacientes (4). Sendo assim, a avaliação assume uma importância fundamental, quando se busca qualificar a gestão. Primeiramente, verificando e assegurando a qualidade dos serviços prestados e a adequação dos procedimentos realizados com benefícios diretos para os usuários (resultados e impacto sobre a saúde da população) e a sua satisfação, organização do sistema e modelo de gestão. A busca da qualidade traz subsídios e possibilita um controle mais efetivo, assim como melhor regulação. É um poderoso instrumento de ajuda da gestão, qualificando-a e reforçando sua autoridade (5). No Brasil existem 70.873 pacientes em terapia renal substitutiva, conforme o Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia de 2006, sendo que o tratamento predominante destes pacientes é a hemodiálise (90,7%) (6). Diante desses números, é preciso que os serviços especializados em atender pessoas portadoras de insuficiência renal crônica (IRC), reconheçam a realidade e o comportamento dos seus pacientes, para oferecer um atendimento que os satisfaçam de acordo com as suas necessidades (7). Os avanços tecnológico e terapêutico na área de diálise, tanto em conhecimento quanto em soluções, contribuem para prolongar a sobrevida dos pacientes renais crônicos; no entanto, os serviços de saúde são inadequados para resolver seus problemas de saúde, tanto no plano individual, quanto coletivo. Estes usuários se ressentem da falta de interesse e de responsabilização dos diferentes serviços em torno de si e do seu problema, impossibilitando o retorno de uma vida com qualidade (5,8-9). Desta forma, o presente estudo teve como objetivo identificar o grau de satisfação de pacientes portadores de insuficiência renal crônica em relação aos serviços prestados e às condições físicas da Unidade de Hemodiálise do Hospital de Base de São José do Rio Preto-SP. MÉTODOS Foi realizado um estudo transversal descritivo, na Unidade de Hemodiálise do Serviço de Nefrologia do Hospital de Base da Fundação Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto-SP. Dos 95 usuários renais crônicos em tratamento hemodialítico que utilizavam o Sistema Único de Saúde (SUS), 81 atenderam os critérios de inclusão no estudo: pessoas com IRC em tratamento hemodialítico, maiores de 18 anos, sem déficit cognitivo, pacientes do serviço de hemodiálise do Hospital de Base do convênio e do SUS e que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O instrumento utilizado na coleta dos dados foi um questionário sobre o grau de satisfação do usuário sobre os cuidados recebidos, elaborado pela Associação Portuguesa de Enfermeiros de Diálise e Transplantação. O questionário consta de 21 itens em uma escala tipo Likert com cinco opções de respostas (1 - Discordo plenamente; 2 - Discordo; 3 - Não sei; 4 - Concordo e 5 - Concordo plenamente) (10). A coleta dos dados foi realizada na referida Unidade de Hemodiálise, no período de agosto a setembro de 2007, durante a sessão, após contato prévio. Depois de esclarecidos sobre o estudo, os usuários foram convidados a participar. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, sendo obedecidas às normas éticas relacionadas à pesquisa envolvendo seres humanos. A análise dos dados foi realizada pelo escore obtido na soma dos itens cujas respostas receberam pesos de um a cinco, apresentando uma amplitude de 21 a 105. Foram considerados insatisfeitos escores entre 21 e 41, parcialmente satisfeitos escores >41 a 63, satisfeitos, escores >63 a 84 e muito satisfeito escores > 84 a 105. Posteriormente houve um agrupamento das afirmações, ocorrendo análise individual ou do grupo de cada uma delas. RESULTADOS Destaca-se que dentre os 81 pacientes, 56,7% eram do sexo masculino, a idade foi de 22 a 88 anos, com média de 55,28 anos ± 13,8 anos, sendo que 64,1% eram adultos

Avaliação do grau de satisfação de pacientes renais crônicos em hemodiálise em idade produtiva (22 a 59 anos). Esta população, em sua maioria, mostrou-se muito satisfeita no que diz respeito ao encontro com o médico afirmando que eles tinham contato próximo mais de uma vez na semana, representando 81,4% das respostas (Tabela1). Na classificação das afirmativas assistência de enfermagem, foi considerada satisfeito, pela maioria dos pacientes, sendo que os fator apontado como dificultador na satisfação no seu atendimento foi a não participação dos enfermeiros no planejamento e na construção do acesso vascular (54,3%) e por receberem poucas informações relevantes e de ensino em relação ao tratamento (54,3%). Ainda, os pacientes consideram-se muito satisfeito quanto à quantidade de enfermeiros existentes na unidade (56,7%), a atenção que estes profissionais dão aos seus problemas, avaliando e registrando (50,6%) e também no que se refere à pontualidade em ligá-los na máquina de diálise (85%). Embora 92 % dos pacientes tinham demonstrado conhecimento sobre o tratamento hemodialítico, 53,3% informaram estar satisfeitos apesar de desconhecerem os cuidados em caso de emergência. Quanto à segurança, relataram estar muito satisfeitos, 521 pois sentiam-se seguros quando estavam ligados na máquina (50,6%) e que compreendiam a importância dos seus exames laboratoriais, sendo que 40,7% dos pacientes concordaram plenamente com esta afirmação (Tabela1). Em relação ao serviço de nutrição, observou-se que 66.6% dos pacientes referiram estar satisfeito com a boa qualidade da refeição servida, e 62,6% disseram que o profissional desta área está disponível para atender suas dúvidas (Tabela1). Quanto às afirmações sobre ambiente físico, a maioria (80%) relatou condições ambientais muito satisfatórias, no entanto, a afirmação referente ao tempo de funcionamento da unidade de diálise mostrou que 40,7% dos usuários não sabiam relatar com precisão se a unidade estava aberta 24 horas por dia. O estudo mostrou de forma direta, que 64,2% dos pacientes relataram estar muito satisfeitos com os cuidados recebidos e 87,6% que eram tratados com respeito pela equipe de saúde. Quanto à equipe de apoio, 88,8% dos pacientes evidenciaram o trabalho de uma equipe multidisciplinar, relatando muito satisfação, enfatizado que a assistente social está sempre disponível (55,5%). Tabela1 - Avaliação da satisfação de pacientes com insuficiência renal crônica em tratamento hemodialítico no Serviço de Nefrologia do Hospital de Base da Fundação Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto-SP, 2007 Variáveis avaliadas Satisfeito % Muito satisfeito % Assistência médica Contato com médico mais de uma vez na semana 18,6 81,4 Assistência de enfermagem A quantidade de enfermeiros na minha unidade é apropriada 43,3 56,7 Os problemas do paciente são avaliados e registrados por uma enfermeira 49,4 50,6 Toda a informação e ensino relevantes dados aos pacientes/famílias são da responsabilidade 54,3 45,7 da enfermeira A enfermeira contribui no planejamento e construção do acesso vascular dos pacientes 54,3 45,7 Os enfermeiros me ligam sempre no mesmo horário 6h/11h/16h. 15,0 85,0 Os enfermeiros são responsáveis pela adequação da minha diálise 59,3 40,7 Condições ambientais A sala de hemodiálise tem uma temperatura confortável 20,0 80,0 A Unidade de Diálise é limpa 10,0 90,0 As instalações da unidade têm um ambiente de apoio ao paciente e família 20,0 80,0 A unidade está aberta 24 horas por dia 40,7 59,3 Serviço de nutrição A refeição que me servem é de boa qualidade 66,6 33,4 Tenho uma nutricionista disponível para responder às minhas questões 62,6 37,4 Conhecimento do tratamento pelo usuário Fui informado sobre todos os tipos de tratamento que posso receber 8,0 92,0 Compreendo a importância dos meus exames laboratoriais 59,3 40,7 Sei o que fazer em caso de emergência durante o meu tratamento 53,3 46,7 Sinto-me seguro quando estou na máquina 49,4 50,6 Cuidados prestados e respeito ao usuário Estou satisfeito com os cuidados que recebo 35,8 64,2 Sou tratado com respeito pelo pessoal que trabalha na unidade 12,4 87,6 Disponibilidade da equipe de apoio Os pacientes têm uma equipe multidisciplinar disponível 11,2 88,8 Tenho uma assistente social disponível para responder as minhas perguntas 44,5 55,5

522 Cesarino CB, Ribeiro RCHM, Lima ICPC, Bertolin DC, Ribeiro DF, Rodrigues AMS. Assim, os dados obtidos no questionário demonstraram que: 53% dos pacientes estavam muito satisfeitos (escore > 84 a 105) e 47% satisfeitos (escores >63 a 84), não havendo nenhum usuário insatisfeito ou parcialmente satisfeito com o Serviço. DISCUSSÃO A predominância do sexo masculino em idade produtiva (idade média de 55,28 anos) na população estudada foi semelhante a de outros estudos com pacientes com IRC em tratamento hemodialítico no interior do Estado de São Paulo (7,11-12). Os pacientes relataram que as atividades de assistência e educação eram de responsabilidade da equipe médica, não considerando essas atividades do enfermeiro, sendo esta percepção dos pacientes um problema cultural. Um estudo educativo realizado com pacientes renais crônicos nessa Unidade de Hemodiálise afirmou que o enfermeiro é o profissional responsável pelo planejamento de intervenções educativas, por ser a pessoa mais próxima do paciente, devendo ser capaz de ajudá-lo a enfrentar a realidade do tratamento hemodiálitico (12). Muitas vezes, os usuários iniciam a hemodiálise sem passarem por uma consulta prévia de enfermagem, o que pode provocar angústias por falta de orientação. Nesse sentido, a educação por parte dos enfermeiros, é algo necessário de se aplicar na prática e ser considerado, compartilhando conhecimento e conseqüentemente uma melhor adaptação dos pacientes. A educação efetiva, poderia também contribuir para a solução de outros problemas relacionados ao tratamento envolvendo o conhecimento por parte dos usuários. Desta forma não encontraríamos como resultado que 53,3% dos usuários não sabiam o que fazer em caso de emergência durante o tratamento. Em relação à disponibilidade da equipe multidisciplinar, 88,8% dos pacientes concordaram com a sua existência e apresentaram-se satisfeitos. Este acompanhamento propicia oferecer um atendimento integral, não se restringindo apenas ao controle da função renal, mas identificando problemas e evitando complicações biopsicossociais, além de estimular o envolvimento das famílias, e diminuir o impacto da IRC na vida destes usuários (13). O alto índice de satisfação em relação ao encontro com o médico retrata a realidade, pois de acordo com a legislação vigente todos os membros da equipe, inclusive esse profissional, deveriam permanecer no ambiente de realização da diálise durante o período de duração do turno (14). Em relação à disponibilidade do nutricionista, 39,5% dos pacientes discordaram que tinham um acompanhamento contínuo por parte deste profissional. Pacientes com insuficiência renal crônica em programa de hemodiálise sofrem, com freqüência, de anormalidades nutricionais e devem ser submetidos à avaliação nutricional e de ingesta calórico-protéica regularmente. Recomendase que esta avaliação seja realizada de um a três meses em pacientes em terapia renal substitutiva (15-16). CONCLUSÃO Concluiu-se que a população estudada relatou estar satisfeita com o serviço, assistência oferecida e com as condições físicas do local. Tais resultados apontaram que embora tenha-se verificado alto grau de satisfação, os usuários relataram limitações. Pesquisas de satisfação destacam o paciente como parte integrante e fundamental nos serviços de saúde, oferecendo subsídios no processo de gestão e conseqüentemente possibilitam apontar algumas opções para um repensar da prática dos profissionais da saúde, objetivando a melhoria contínua do serviço. REFERÊNCIAS 1. Brasil. Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR ISO 9004-2: gestão da qualidade e elementos do sistema de qualidade. Rio de Janeiro: ABNT; 1993. 2. Vaitsman J, Andrade GRB. Satisfação e responsividade: formas de medir a qualidade e a humanização da assistência à saúde. Ciênc Saúde Coletiva. 2005;10(3):599-613. 3. D Innocenzo M, coordenadora. Indicadores, auditorias, certificações: ferramentas de qualidade para gestão em saúde. São Paulo: Martinari; 2006. 4. Suzuki K. Pesquisa sobre a qualidade de vida de pacientes de UTI: uma revisão de literatura [dissertação]. São Paulo: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo; 2002. 5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política nacional da atenção ao portador de doença renal. Brasília: Ministério da Saúde; 2005. 6. Brasil. Sociedade Brasileira de Nefrologia. Censo janeiro/ 2006: centro de diálise no Brasil [Internet]. [citado 2007 Jun 7]. Disponível em: http://www.sbn.org.br/censo/2006/ censosbn2006.ppt 7. Bertolin DC. Modos de enfrentamento de pessoas com insuficiência renal crônica terminal em tratamento hemodialítico [dissertação]. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto Universidade de São Paulo; 2007. 8. Madeira EPQ, Lopes GS, Santos SFF. A investigação epidemiológica na prevenção da insuficiência renal terminal. Ênfase no estudo da agregação familiar. Medonline. [Internet]1998 [ citado 2007 jun 07]; 1(2): [ 21 p]. Disponível em:http://www.medonline.com.br/med_ed/med2/ epidemio.htm 9. Unruh ML, Hartunian MG, Chapman NM, Jaber BL. Sleep quality and clinical correlates in patients on maintenance dialysis. Clin Nephrol. 2003;59(4):280-8. 10. Veiga AM, Saraiva MM, André MA, Santos MC, Carvalho H. A satisfação do doente e o método por responsabilidade. Nephro s. 2005;7(1):1-5. 11. Martins MRI, Cesarino CB. Qualidade de vida de pessoas com doença renal crônica em tratamento hemodialítico. Rev Latinoam Enferm. 2005;13(5):670-6.

Avaliação do grau de satisfação de pacientes renais crônicos em hemodiálise 12. Cesarino CB, Casagrande LDR. Paciente com insuficiência renal crônica em tratamento hemodialítico: atividade educativa do enfermeiro. Rev Latinoam Enferm. 1998;6(4):31-40. 13. Minaire P. Disease, illness and health: theoretical models of the disablement process. Bull World Health Organ. 1992;70(3):373-9. 14. Brasil. Ministério da Saúde. Resolução RDC n 154 de 15 de junho de 2004. Estabelece o Regulamento Técnico para o funcionamento dos Serviços de Diálise. [citado 2009 Jun 523 12]. Disponível em: http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/ public/showact.php?id=11539 15. Valenzuela RGV, Giffoni AG, Cuppari L, Canziani MEF. Estado nutricional de pacientes com insuficiência renal crônica em hemodiálise no Amazonas. Rev Assoc Med Bras (1992). 2003;49(1):72-8. 16. Clinical practice guidelines for nutrition in chronic renal failure. K/DOQI, National Kidney Foundation. Am J Kidney Dis. 2000;35(6 Suppl 2):S1-140. Erratum in: Am J Kidney Dis. 2001;38(4):917.