UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO A VEZ DO MESTRE



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Transcrição:

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO A VEZ DO MESTRE PROGRAMAS OFICIAIS DE SAÚDE ANIMAL: GESTÃO E IMPACTO AMBIENTAL Por: Georgina Rita Hermida Lage Orientador Profa. Maria Esther de Araújo Oliveira Rio de Janeiro 2011

2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO A VEZ DO MESTRE PROGRAMAS OFICIAIS DE SAÚDE ANIMAL: GESTÃO E IMPACTO AMBIENTAL Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para a obtenção do grau de Especialista em Gestão Ambiental. Por: Georgina Rita Hermida Lage

3 AGRADECIMENTOS Agradeço ao Grande Arquiteto do Universo pela vida plena que me foi dada. Agradeço aos companheiros da área de Medicina Veterinária e aos do Ministério da Agricultura pelos anos de convívio e por todos os ensinamentos recebidos. Agradeço aos companheiros da Pós- Graduação em Gestão Ambiental da AVM-UCAM pela convivência e pela renovação da crença em um mundo melhor.

4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha orientadora e a todos os meus professores da UCAM -A Vez do Mestre - Pós Graduação em Gestão Ambiental, por terem conseguido, com sua dedicação, entusiasmo e competência, fazer uma guerreira aposentada voltar a acreditar na possibilidade de uma sociedade mais justa e consciente e na salvação da GAIA.

5 RESUMO Este trabalho foi elaborado com o objetivo de avaliar se os Programas Oficiais de Saúde Animal implantados no País, conforme normas sanitárias internacionais, oferecem ou não algum tipo de impacto ambiental durante a implementação das ações sanitárias preconizadas nos mesmos. Constam do texto algumas fundamentações técnicas com o intuito de elucidar conceitos teóricos sobre os temas Saúde Animal, Preservação Ambiental e Segurança do Trabalhador nas atividades de prevenção, controle e erradicação de doenças dos animais. Os programas sanitários aplicáveis em espécies animais cujos produtos e subprodutos são significativos para a balança comercial brasileira foram apresentados, discutiram-se os possíveis impactos ambientais decorrentes das ações sanitárias preconizadas e apresentou-se sugestão de reavaliação dos mesmos do ponto de vista ambiental pelo MAPA, uma vez que se identificou que não é prevista nos mesmos a necessidade de uma Gestão Ambiental com prevenção ou mitigação dos impactos ambientais.

6 METODOLOGIA Através de pesquisa no site oficial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento localizou-se os Programas Zoossanitários Oficiais do Governo Brasileiro. Foram selecionados os que são aplicáveis em espécies animais cujos produtos e subprodutos são significativos para a balança comercial brasileira. Procedeu-se a uma avaliação crítica individual e em grupo dos mesmos, identificando-se as principais atitudes sanitárias preconizadas que possam ser possíveis causadoras de impacto ambiental. Após a identificação dos possíveis impactos ambientais, levando em consideração os conceitos ambientais, avaliou-se a prevenção e minimização de riscos e será sugerido ao Órgão Normatizador (MAPA) a revisão dos programas e adaptação aos conceitos de Gestão Ambiental, sem prejuízo técnico à implementação dos Programas Oficiais de Saúde Animal.

7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - Apresentação dos Programas Oficiais de Saúde Animal das Espécies de Valor Zootécnico que fazem parte da Balança Comercial Brasileira (bovídeos, suídeos e aves) 09 CAPÍTULO II - Análise dos Impactos Ambientais Decorrentes da Aplicação dos Programas Oficiais de Saúde Animal 23 CAPÍTULO III Medidas para Minimização ou Prevenção dos Impactos Ambientais decorrentes de Ações Sanitárias 39 CONCLUSÃO 53 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 56 ÍNDICE 58 FOLHA DE AVALIAÇÃO 63

INTRODUÇÃO 8 Os Programas Oficiais de Saúde Animal do Brasil foram redigidos, em conjunto, pelo Governo Federal, Governos Estaduais, Iniciativa Privada, Centros de Pesquisas e Universidades, com o intuito de melhorar e preservar a saúde dos animais, de seus cuidadores (proprietários, tratadores, médicos veterinários, etc.) e dos consumidores de carnes, produtos e subprodutos de origem animal no Brasil e no Exterior. Foram elaborados de acordo com as normas sanitárias da Organização Internacional de Epizootias (OIE), que é o fórum técnico científico de referência reconhecido pela Organização Mundial do Comércio (OMC) com o objetivo de evitar que países importadores inviabilizem a exportação brasileira sob argumentação de barreiras sanitárias por falta de cumprimento de equivalência sanitária entre os países. Na aplicação destes programas, ao nível de campo, são preconizadas diversas ações de caráter sanitário a serem tomadas pelos criadores sob supervisão oficial e, às vezes, por agentes oficiais do governo, o que tem permitido ao Brasil GARANTIR, do ponto de vista sanitário, a higidez, a sanidade e a rastreabilidade de animais, produtos e subprodutos. Porém, se do ponto de vista de Saúde Animal, estes programas foram elaborados e estão sendo aplicados dentro das técnicas sanitárias preconizadas, do ponto de vista de Preservação Ambiental a forma como está transcorrendo sua aplicação não é clara, transparente. Sendo assim, esta pesquisa tem por objetivo analisar os Programas de Saúde Animal do ponto de vista de Gestão Ambiental, em especial aqueles aplicados nas espécies de animais cujos produtos fazem parte da balança comercial brasileira (bovídeos, suídeos e aves) e, quando da detecção da existência de impactos ambientais que passaram desapercebidos durante a elaboração e na aplicação dos mesmos, apresentar medidas de controle destes riscos e propostas de correção e reavaliação dos Programas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

CAPÍTULO I 9 APRESENTAÇÃO DOS PROGRAMAS OFICIAIS DE SAÚDE ANIMAL DAS ESPÉCIES DE VALOR ZOOTÉCNICO QUE FAZEM PARTE DA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA (BOVÍDEOS, SUÍDEOS E AVES) Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em 2010, a produção global das carnes destas três principais espécies foi prevista para 241,309 milhões de toneladas 1. No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, na publicação Projeções do Agronegócio, previu, em 2010, a produção destas três principais carnes para 22,88 milhões de toneladas, sendo 6,74 milhões de toneladas destinadas à exportação. Estes dados econômicos, acrescidos aos objetivos originais para a elaboração e aplicação dos Programas Sanitários de melhorar e preservar a saúde dos animais, de seus cuidadores (proprietários, tratadores, médicos veterinários, etc.), e dos consumidores de carnes, produtos e subprodutos de origem animal no Brasil e no Exterior, justificam a necessidade de reavaliação, do ponto de vista de preservação ambiental de alguns procedimentos previstos nestas legislações sanitárias, sem prejuízo à continuidade destes Programas, pois o País não pode deixar de cumprir acordos internacionais já firmados, se expondo a retaliações internacionais, causando prejuízos aos produtores e inviabilizando o agronegócio. 1 Fonte: Suinocultura Industrial/Gessuli Agribusiness)

10 1.1 - Programas de saúde animal dos bovídeos (bubalinos e bovinos) O rebanho de bovídeos é de 193,1 milhões de cabeças e, em 2009, foram abatidos 43,6 milhões de animais, representando 9,180 milhões de toneladas de carne, sendo 7,205 milhões de toneladas destinadas ao consumo interno e 2,000 milhões de toneladas destinadas à exportação, gerando 4,950 bilhões de dólares de divisas para o País 2. 1.1.1 Programa Nacional de Controle da Raiva dos Herbívoros (PNCRH) -instituído através da Instrução Normativa MAPA nº. 05 de 01/03/2002 A raiva é uma doença causada por um vírus, é uma zoonose e de caráter letal. No caso de herbívoros, a transmissão ocorre por mordedura de morcegos hematófagos contaminados. Principais ações do programa: - Medidas gerais de profilaxia, sendo a mais importante a vacinação sistemática dos animais susceptíveis. - Medidas gerais de vigilância, sendo imprescindível a supervisão dos rebanhos para verificar mordeduras de morcegos e a notificação imediata ao serviço oficial da ocorrência de animais doentes com sintomatologia nervosa. - Ação de controle populacional de morcego hematófago transmissor da doença. - Nos animais mortos, deve-se proceder à coleta do encéfalo para diagnóstico laboratorial e os restos cadavéricos e materiais de contato devem ser enterrados profundamente, precedido ou não de incineração. 2 Fonte: CNA Brasil

11 1.1.2 - Encefalites Espongiformes Transmissíveis (EET) foram incorporadas ao PNCRH através da Instrução Normativa MAPA nº 05 de 01/03/2002, por serem doenças neurodegenerativas com sintomatologia nervosa de difícil distinção clínica da raiva dos herbívoros. As EETs são causadas por um prion, é uma zoonose, e de caráter letal. A transmissão ocorre através da ingestão de alimentos contaminados pelo prion. No humano conhece-se duas formas - CJD e vcjd, sendo a variante vcjd associada à ingestão de alimentos de origem animal. No ovino e caprino é conhecida como paraplexia enzoótica dos ovinos ou scrapie, e nos bovídeos é conhecida como encefalopatia enzoótica dos bovinos ou doença da vaca louca. Principais ações do programa: EET. - Medidas gerais de profilaxia, sendo que não existe vacina contra a - Medidas gerais de vigilância, sendo imprescindível a supervisão dos rebanhos para verificar a ocorrência de animais doentes com sintomatologia nervosa, o que deve ser notificado de imediato ao serviço oficial. - A importação de animais de países de risco de EET para o Brasil está proibida e os animais que foram importados de países onde a doença ocorreu são mantidos sob controle do serviço oficial em caráter permanente. Em caso de óbito, o serviço oficial deve ser comunicado para acompanhar a coleta do tronco encefálico para diagnóstico laboratorial. Se o proprietário decidir-se por descartar o animal, o sacrifício será executado sob supervisão oficial com coleta do tronco encefálico para diagnóstico laboratorial. Nas duas situações, os restos cadavéricos e demais materiais de contato devem ser enterrados profundamente, precedido ou não de incineração.

12 1.1.3 - Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT) instituído através da Instrução Normativa MAPA nº. 02/2001 e das Instruções de Serviços SDA nº. 06/2004 e SDA nº. 59/2004 As duas doenças são causadas por bactérias, são zoonose de caráter não letal. Para algumas espécies é preconizado tratamento; para os bovídeos o tratamento é caro, ineficaz em muitos casos e não recomendado pelo tipo de veiculação e transmissibilidade da doença ao homem e a outras espécies. Principais ações do programa: - Vacinação compulsória de bezerras contra brucelose entre três e oito meses com B19. Não existe vacina contra tuberculose animal. - Adesão voluntária dos produtores de animais para reprodução ou para leite aos critérios para certificação de propriedades livres de brucelose e tuberculose, com teste diagnóstico de animais da propriedade e abate compulsório ou sacrifício dos reagentes positivos. - Adesão voluntária dos produtores de gado de corte para certificação de propriedades monitoradas para brucelose e tuberculose, com teste diagnóstico de animais da propriedade e abate compulsório ou sacrifício dos reagentes positivos. - Retestes anuais de todo rebanho após a certificação e a introdução de animais nas propriedades certificadas só pode acorrer após dois testes sucessivos negativo para as duas doenças. - Medidas gerais de vigilância como controle compulsório do trânsito de reprodutores e normas para participação dos animais em exposição, feiras, leilões e outras aglomerações de animais. - Habilitação e capacitação de médicos veterinários com supervisão do serviço oficial para trabalharem com o programa como Médico Veterinário

13 Cadastrado (receituário para aquisição da B19, vacinação das bezerras contra brucelose, emissão do atestado de vacinação) ou Médico Veterinário Habilitado (realização dos diagnósticos através de testes de campo ou de laboratório, isolamento e marcação dos animais reagentes positivos, encaminhamento dos positivos para abate sanitário ou sacrifício na propriedade, responsabilidade técnica pelas propriedades e pela emissão da Guia de Trânsito Animal). - A eliminação dos reagentes positivos e a desinfecção geral deve ser feita de acordo com o que é preconizado no Manual Técnico do PNCEBT, MAPA-Brasília, 2006. 1.1.4 - Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA) - instituído através da Instrução Normativa MAPA nº. 44 de 02/10/2007 A febre aftosa é causada por um vírus e raramente pode ser transmitida ao homem. Possui letabilidade baixa em herbívoros, mas, por ser uma doença sob programa de erradicação, os animais doentes devem ser sacrificados. A transmissão é por contato com material infectado ou pelo ar. Principais ações do programa: - Medidas gerais de profilaxia, entre as quais a vacinação sistemática e maciça em área endêmica e em área livre de febre aftosa com vacinação. - Medidas gerais de vigilância de caráter geral e, em especial, o controle de trânsito e de introdução de animais nas propriedades. - A ocorrência de suspeita de doença vesicular em uma propriedade aciona uma série de medidas sanitárias similares a uma ação de guerra, com envolvimento de diversas autoridades e instâncias governamentais, diversos profissionais, diversas ações que provocam grandes impactos ambientais, sociais, econômicos, emocionais, impactos estes proporcionais à quantidade de animais envolvidos e ao número de propriedades afetadas. Os procedimentos estão contidos no Manual de Procedimentos para Atenção a

14 Focos de Febre Aftosa e outras Enfermidades Vesiculares, PANAFTOSA - OPAS/OMS, 2007 e constam basicamente de: Recebimento da notificação da ocorrência de suspeita de doença vesicular pelo Serviço Oficial; Atenção à notificação com visita na propriedade notificada - investigação epidemiológica e exame clínico do rebanho; Diagnóstico clínico e epidemiológico com coleta de material para diagnóstico laboratorial, sendo que pode ser necessário o sacrifício de animais em estado agônico; Interdição da propriedade; Comunicação oficial às autoridades sanitárias; Medidas de vigilância epidemiológica em propriedades circunvizinhas; Caso o diagnóstico laboratorial seja positivo para febre aftosa, deflagra-se a Declaração de Emergência Sanitária e coloca-se em prática o Plano de Contingência previsto na legislação pertinente; Instalação do Centro de Operação de Emergência Sanitária para planificação das ações, constituição das equipes de trabalho, delimitação territorial, etc...; Delimitação das áreas afetadas - focal, perifocal e de risco (tampão ou de vigilância); Instalação das barreiras sanitárias para humanos, meios de transporte, animais, produtos e subprodutos; Isolamento, interdição e quarentena; Sacrifício dos animais doentes e contatos e destinação dos restos cadavéricos (cremação e enterramento); Destruição de produtos e materiais contaminados por incineração e enterramento das sobras;

15 Desinfecção em geral de instalações, veículos, acessórios, etc...; Medidas de movimentação dos animais para abate sanitário e de movimentação de produtos e subprodutos; Vacinação em emergência sanitária, se for o caso; Ações em propriedade foco: sacrifício sanitário, enterramento, cremação, desinfecção e/ou destruição de instalações, vazio sanitário, animais sentinelas, repovoamento, fim de quarentena, comunicação de desinterdição de propriedade às entidades sanitárias locais, nacionais e internacionais. 1.2 - Programas de saúde animal dos suídeos (suínos e javalis) O rebanho de suínos é de 42,82 milhões de cabeças e, em 2008, foram produzidas 3,029 milhões de toneladas de carne, sendo que 2,500 milhões de toneladas destinadas ao consumo interno e 0,529 milhões de toneladas destinadas à exportação 3. 1.2.1 - Programa Nacional de Sanidade dos Suídeos (PNSS) O regulamento técnico do programa foi instituído através da Instrução Normativa MAPA nº. 47 de 18/06/2004 e define o controle oficial a ser feito nos estabelecimentos de criação de suídeos que tenham atividades econômicas de produção para abate, de reprodução, de comercialização, de distribuição e de produção de material de multiplicação animal (sêmen, embriões e óvulos). O objetivo geral do PNSS é impedir a introdução de doenças exóticas e controlar e erradicar as já existentes. A estratégia está voltada ao saneamento de propriedades por região, buscando reconhecimento, 3 Fonte: ABIPECS Brasil

16 manutenção e ampliação de zonas livres da doença e à certificação de granjas de reprodutores suídeos (GRSC), conforme preconizado na Instrução Normativa MAPA nº. 19 de 15/02/2002. Principais ações do programa: - Medidas gerais de profilaxia, sendo de grande importância a vacinação sistemática dos animais susceptíveis às doenças do programa (quando preconizado). - Medidas gerais de vigilância a notificação das doenças é de caráter compulsório. É imprescindível a atenção imediata do serviço oficial às notificações recebidas, o controle do trânsito interno e internacional de animais vivos, seus produtos e subprodutos, material de multiplicação animal, produtos biológicos e patológicos possíveis veiculadores dos agentes causais, controle sanitário oficial em eventos com aglomeração de animais. - Alcance do status de Zona Livre de Doença com reconhecimento nacional e internacional, constando de saneamento de propriedades por estado, por região, por país, através de testes sistemáticos e eliminação dos reagentes positivos para patogenias específicas como Peste Suína Clássica - PSC e Doença de Aujeszky DA. - Certificação de Granjas de Reprodutores de Suídeos GRSC, sob responsabilidade técnica de Médico Veterinário e monitoramento pelo serviço oficial. Consta da implantação de ações de biossegurança nas propriedades e de ações de saneamento da granja através de testes sistemáticos e eliminação dos positivos para PSC, DA, brucelose, tuberculose, leptospirose e sarna. - A ocorrência de suspeita de peste suína clássica ou de doença de Aujeszky em uma propriedade aciona uma série de medidas sanitárias muito parecidas com as que são tomadas para Febre Aftosa, com grandes custos econômicos, impactos de diversos tipos e comoção local. Os procedimentos estão contidos no Plano de Contingência para PSC aprovado pela Instrução Normativa SDA nº. 27/2004 e no Plano de Contingência para DA aprovado pela Instrução Normativa MAPA nº. 08/2007 e constam basicamente de:

17 Recebimento da notificação da ocorrência de suspeita da doença pelo Serviço Oficial; Atenção à notificação com visita na propriedade notificada - investigação epidemiológica e exame clínico do plantel; Diagnóstico clínico e epidemiológico com coleta de material para diagnóstico laboratorial, sendo que pode ser necessário o sacrifício de animais em estado agônico; Interdição da propriedade; Comunicação oficial às autoridades sanitárias; Medidas de vigilância epidemiológica em propriedades circunvizinhas; Caso o diagnóstico laboratorial seja positivo, deflagra-se a Declaração de Emergência Sanitária e coloca-se em prática o Plano de Contingência previsto na legislação pertinente; Instalação do Centro de Operação de Emergência Sanitária para planificação das ações, constituição das equipes de trabalho, delimitação territorial, etc...; Delimitação das áreas afetadas - focal, perifocal e de risco (tampão ou de vigilância); Instalação das barreiras sanitárias para humanos, meios de transporte, animais, produtos e subprodutos; Isolamento, interdição e quarentena da propriedade; Sacrifício dos animais doentes e contatos e destinação dos restos cadavéricos (cremação e enterramento); Destruição de produtos e materiais contaminados por incineração e enterramento das sobras; Desinfecção em geral de instalações, veículos, acessórios, etc...;

exóticas. 18 Medidas de movimentação dos animais para abate sanitário e de movimentação de produtos e subprodutos; Vacinação em emergência sanitária, se for o caso; Ações na propriedade foco: sacrifício sanitário, enterramento, cremação, desinfecção e/ou destruição de instalações, vazio sanitário, animais sentinelas, repovoamento, fim de quarentena, comunicação de desinterdição de propriedade às entidades sanitárias locais, nacionais e internacionais; No caso específico de Doença de Aujeszky, o despovoamento da propriedade foco pode ser IMEDIATO ou GRADUAL, sendo que, nesta opção, o despovoamento total deve ser feito em até 90(noventa) dias após o diagnóstico inicial. As doenças sob controle no PNSS são as já ocorrentes no país e as São doenças ocorrentes no Brasil, de vigilância interna e de notificação obrigatória: Peste suína clássica por vírus, não zoonose; Doença de Aujeszky por vírus, às vezes zoonose; Brucelose por bactéria, zoonose; Tuberculose por bactéria, zoonose; Leptospirose por bactéria, zoonose; Febre aftosa por vírus, às vezes, zoonose; Raiva por vírus, zoonose, mortal; Cisticercose por parasito, zoonose; Hidatidose por parasito, zoonose; Sarna por ácaro parasito da pele, às vezes zoonose. São doenças exóticas ao país, de vigilância internacional e de notificação obrigatória: Peste suína africana (PSA); Encefalite por vírus de Nipah; Síndrome reprodutiva e respiratória suína (PRRS); Doença vesicular dos suínos (DVS); Gastroenterite transmissível (TGE); Encefalite japonesa; Triquinelose; Encefalomielite por enterovírus (Doença de Teschen); Coronavírus respiratório; Diarréia epidêmica (causada por um coronavírus denominado PEDV); Encefalite hemaglutinante (causada por um coronavírus denominado HEV); etc.

1.3 - Programas de saúde animal das aves 19 O plantel avícola sob programa sanitário contempla aves para abate (carnes), aves de postura (ovos) e para reprodução. Em 2009, a produção brasileira de carne de frango foi de 10,980 milhões de toneladas, sendo 3,634 milhões de toneladas destinadas à exportação, gerando divisas de US$5,8 bilhões 4. 1.3.1 - Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) instituído através da Portaria Ministerial do MAPA nº. 193 de 19/09/1994 As estratégias de atuação do PNSA estão pautadas na execução das atividades de vigilância epidemiológica e sanitária das principais doenças aviárias em todo o país, especialmente as doenças de notificação obrigatória à OIE. A profilaxia, o controle e a erradicação dessas doenças consistem na aplicação de diferentes medidas de defesa sanitária animal, conforme o tipo de doença, o tipo de ave e o tipo de estabelecimento produtor: Atenção às notificações de suspeita de doenças em aves como influenza aviária, doença de Newcastle e demais doenças de controle oficial; Assistência pelo serviço oficial aos focos das doenças sob controle; Padronização das medidas de biosseguridade e de desinfecção nos estabelecimentos produtores; Realização de sacrifício sanitário em caso de ocorrência de doenças de controle oficial; Fiscalização das ações de vazio sanitário; 4 Fonte: Brazilian Chicken

20 Controle e fiscalização de trânsito interno de animais susceptíveis; Realização de inquérito epidemiológico local; Vigilância sanitária internacional no ponto de ingresso (portos, aeroportos e postos de fronteiras) de material genético e biológico; Registro e fiscalização de estabelecimentos avícolas; Monitoramento sanitário nos plantéis de reprodução para certificação dos núcleos e granjas avícolas como livres (ou controlados) para salmonelas e micoplasmas; Vigilância em aves migratórias; Implantação do Plano Nacional de Prevenção da Influenza Aviária e de Controle e Prevenção da Doença de Newcastle (Instrução Normativa SDA nº. 17 de 07/04/2006) com Declaração de Emergência Sanitária e aplicação do Plano de Contingência para as doenças acima referidas sempre que a situação sanitária demandar tal ação. A aplicação de Plano de Contingência, a exemplo de outros já citados anteriormente (febre aftosa, peste suína clássica e doença de Aujeszky), é muito impactante, impactos estes proporcionais à quantidade de animais envolvidos e ao número de propriedades afetadas. Principais ações do plano: Notificação da suspeita da doença ao serviço oficial; Atendimento à notificação pelo serviço oficial; Visita à propriedade; Avaliação clínica e epidemiológica com coleta de material para diagnóstico laboratorial; Interdição da propriedade;

21 Encaminhamento do material para diagnóstico ao laboratório de referência; Sacrifício preventivo do lote das aves suspeitas; Investigação epidemiológica nas propriedades vizinhas enquanto aguarda-se o resultado do laboratorial; Em caso de resultado negativo procede-se a desinterdição da propriedade e encerra os procedimentos sanitários. Caso o resultado seja positivo, declara-se Estado de Emergência Sanitária e iniciam-se as ações de erradicação do foco; Definição do Grupo de Emergência Sanitária e das Equipes por atividade; Delimitação das áreas focal, de proteção e de vigilância e definição das ações em cada área delimitada; Instalação das barreiras sanitárias para humanos, meios de transporte, animais, produtos e subprodutos; Isolamento, interdição e quarentena da propriedade foco; Sacrifício das aves e, no caso de Influenza Aviária, também dos suídeos; Eliminação dos animais mortos, carnes de aves da granja, ovos, subprodutos, camas dos aviários e resíduos diversos; Descontaminação da propriedade; Vazio sanitário, introdução de aves sentinelas e repovoamento. Ao apresentar os programas oficiais de saúde animal das espécies de valor zootécnico que fazem parte da balança comercial brasileira procurou-se abordar a importância destes programas: - para a economia nacional, pois a aplicação dos mesmos viabiliza a exportação deste segmento específico e conseqüentemente a entrada de divisas para o país pela exportação de produtos e subprodutos de origem

22 animal, o que possibilita e permeia a captação de recursos financeiros por toda a cadeia produtiva do agronegócio, do campo a cidade; - para a saúde humana, tanto para os que trabalham em contato direto com estes animais no meio rural, tanto para os consumidores de produtos de origem animal (leite, carnes, ovos, seus produtos e subprodutos), pois muitos destes agentes etiológicos podem infectar o homem; - para a saúde das espécies animais objeto dos programas sanitários e outras espécies contato. Conforme relatado, as ações sanitárias previstas nos programas (em especial as doenças em processo de erradicação e as exóticas ao país) prevêem sacrifício sanitário, abate sanitário, enterramento a campo, incineração, desinfecção de bens e ambientes por diversos produtos químicos, grande mobilidade de veículos, etc., que provocam impactos ambientais na proporção direta de quantidade de propriedades e de animais envolvidos no evento sanitário.

CAPÍTULO II 23 ANÁLISE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA APLICAÇÃO DOS PROGRAMAS OFICIAIS DE SAÚDE ANIMAL A criação de animais de valor zootécnico (PECUÁRIA), por si só, exerce pressão sobre o meio ambiente por diversos fatores como: - desmatamentos e queimadas; - manipulação e uso do solo para a formação de pastagens (monocultura); - manipulação e uso de recursos hídricos; - produção de metano (CH4 um dos GEEs) decorrente da biologia intrínseca das espécies, dos dejetos e do tipo de manejo produtivo (extensivo ou confinamento); - manejo dos animais nas propriedades produtoras (trato diário) como vacinações, castrações, descornas, rotação de pastos e de galpões, mudança de camas de repouso, desinfecção e desinfestação das instalações e dos animais; - encaminhamento destes animais para o abate e processamento industrial das carcaças, seus produtos e subprodutos (transporte, água afluente e efluente, energia elétrica, eliminação de partículas sólidas decorrentes de procedimentos industriais, tratamento térmico (frio industrial possíveis vazamentos de hidrofluorcarbonos - HFCs e calor industrial queima de combustível fóssil ou de madeira nas caldeiras eliminação de monóxido e dióxido de carbono). Além desta pressão primária exercida sobre o meio ambiente, a necessidade de incrementar a produção mundial de alimentos, especialmente proteínas, para atender a demanda da população brasileira (185,71 milhões de

24 habitantes, conforme IBGE, 2010) e mundial (6,85 bilhões de habitantes, conforme Worldometers, 2010) tem sido vista por produtores rurais de países com capacidade agrícola, especialmente o Brasil, como uma grande oportunidade de negócios (AGRONEGÓCIO). Na busca de aproveitarem este boom do agronegócio, estes produtores vêm priorizando produzir mais em menos espaço físico e menos tempo. No Brasil, este incremento produtivo não vinha sendo acompanhado por desenvolvimento de tecnologias de produção verde e cuidados sanitários adequados, o que nos levou a um quadro de dificuldades de exportação de produtos agrícolas minimizado pela implantação destes programas zoossanitários. Embora tenha havido viabilização de exportação de alguns produtos para alguns países, ainda há resistências ao livre comércio de nossa produção sob diversas alegações de caráter sanitário, alegações de bem estar animal e alegações de proteção ambiental. Claro que algumas se justificam tecnicamente e necessitam serem melhoradas, porém, por outro lado, só é exigível aquilo no que existe reciprocidade. Na maioria dos casos denunciados à OMC comprovou-se que se tratavam de tentativas de proteção de mercado. A importância para o País da continuidade da aplicação dos Programas Sanitários Oficiais dentro das regras estabelecidas tecnicamente pela OIE e negociadas política e economicamente junto à OMC justifica a necessidade de discussão do ponto de vista de Gestão Ambiental dos programas oficiais de saúde animal das espécies de valor zootécnico que fazem parte da balança comercial brasileira (bovídeos, suídeos e aves) identificando e analisando possíveis impactos ambientais, propondo melhorias naquilo que for viável e/ou couber. A aplicação a campo destes programas tem caráter preventivo e deve-se levar em consideração as características da espécie a que se destinam, os tipos de criação, a capacidade financeira do produtor rural, o envolvimento dos proprietários, tratadores e cuidadores e a supervisão permanente dos órgãos governamentais que devem promover treinamentos,

25 capacitação e aplicação permanentes de programas de educação sanitária para a comunidade envolvida na cadeia produtiva. Se estas ações de caráter preventivo falharem caberá aos órgãos governamentais aplicar medidas de caráter compulsório (coercitivas) previstas nas legislações vigentes que vão desde advertências, multas pecuniárias, proibição de trânsito e apreensão de animais. Na maioria das vezes em que falham as medidas de caráter preventivo ocorrem situações de Emergência Sanitária e, neste momento, o poder público para conter a disseminação da doença no menor tempo possível coloca em prática uma série de medidas rigorosas e impactantes à saúde humana, à saúde animal e ao meio ambiente rural. 2.1 - Programa nacional de controle da raiva dos herbívoros Na aplicação deste programa existem, pelo menos, 2 (dois) momentos de possível impacto ambiental. 2.1.1 - Ação de controle populacional de morcegos hematófagos transmissores da doença A ação antrópica tem modificado os hábitos de muitas espécies animais e vegetais, rurais ou urbanas. A abertura de novas fronteiras agrícolas, desmatamentos, a urbanização rural têm forçado mudanças de hábitos sociais e alimentares dos morcegos hematófagos, que encontram nas propriedades rurais alimento passivo e abundante (gado, suínos, caprinos, ovinos, aves, caninos, felinos e o homem), diferentemente do que ocorre na natureza. Se existe vírus rábico circulante nos habitats destes morcegos, ao se alimentarem, eles infectam o animal sugado provocando surtos da doença e a única forma de minimizar estes surtos é fazendo o controle populacional dos

26 morcegos contaminados em conjunto com a vacinação sistemática da população exposta. O controle dos morcegos hematófagos (espécie Desmodomus rotundus) é seletivo, utilizando um anticoagulante denominado warfarina: - Método seletivo direto - os morcegos são capturados com redes, próximo a currais, em abrigos artificiais, próximo a abrigos naturais (cavernas e furnas) ou no interior de abrigos naturais em caráter excepcional com autorização do IBAMA. É aplicada a pasta vampiricida no dorso dos animais e soltos para que retornem aos locais de repouso, aonde se misturam com outros, espalhando a pasta que provoca mortalidade dos animais, diminuindo a quantidade de transmissores do vírus na área. - Método seletivo indireto no final de tarde, são aplicados 2 (dois) gramas de pasta vampiricida sobre as lesões de mordeduras recentes nos bovídeos. Quando os morcegos retornam para sugar, eles se contaminam com a pasta e, dentro de curto espaço de tempo, vêm a óbito por hemorragia interna. 2.1.2 - Ação de incineração e/ou enterro de animais mortos e materiais contatos Esta ação deve ocorrer na propriedade, preferentemente no local do óbito, evitando-se transporte de cadáveres, com cuidadosa manipulação dos mesmos, buscando-se minimizar possibilidades de contaminação do ambiente e dos tratadores. Quanto maior o número de animais contaminados, maior o impacto ambiental causado. A ocorrência de qualquer doença em uma propriedade rural incrementa as possibilidades de contaminação biológica do ecossistema local pelo agente infectante. Além desta possibilidade, ao abrir-se uma cova para enterramento, e ao proceder-se à incineração prévia dos cadáveres e dos materiais contaminados, devem ser tomados cuidados especiais para controle e

27 minimização dos impactos indesejáveis decorrentes destas ações, como, por exemplo: - poluição das águas superficiais e subterrâneas; - poluição do solo; - poluição do ar (dispersão aérea de partículas em suspensão e gazes do efeito estufa-gee). 2.2 - Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis (E.E.T.) Na aplicação deste programa existe pelo menos uma situação a ser considerada como ação de impacto ambiental, que é a de incineração e/ou enterro de animais mortos e materiais contatos, sendo que as mesmas observações feitas no item 2.1.2 da página 27 para os animais que morreram de raiva são válidas para aqueles que estavam diagnosticados como suspeitos de EET. 2.3 - Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT) Neste programa existem pelo menos 3(três) momentos de possíveis impactos ambientais. 2.3.1- Ação de abate compulsório (abate sanitário) dos animais reagentes positivos O abate sanitário destes animais deve ser realizado em matadouros com inspeção federal ou estadual, sob fiscalização de médico veterinário

28 oficial, em separado da matança de rotina e o destino condicional da carcaça é dado de forma técnica, de acordo com o tipo de lesões encontradas, localização e extensão das mesmas. Os impactos ambientais decorrentes desta ação são os mesmos que ocorrem em um abate para consumo e o estabelecimento tem sua planta e operações industriais aprovadas por órgãos específicos do governo federal ou estadual, sendo presumível que a licença para instalação dos mesmos tenha sido previamente aprovada pelos órgãos de licenciamento ambiental conforme preconiza a Lei 6.938/1981 e Decreto 99.274/1990. 2.3.2 - Ação de sacrifício sanitário dos animais reagentes positivos Realizada na propriedade de criação dos animais sob supervisão de médico veterinário oficial. Os possíveis impactos resultantes serão decorrentes da falta da criteriosa manipulação dos animais, sem a aplicação de conceitos de bem-estar animal, do descuido com riscos de contaminação biológica e poluição ambiental descritas anteriormente para raiva e EET e da não avaliação do impacto emocional desta ação sobre o proprietário rural, sua família e colaboradores, pois estas reses são, na maioria, fêmeas criadas desde bezerras com cuidados especiais, detentoras de identidade afetiva com os proprietários, sua família e cuidadores. 2.3.3 - Ação de desinfecção geral das instalações (currais, estábulos, veículos de transporte de animais) Recomendada nas criações intensivas ou semi-intensivas, precedida de remoção de camas, palhas, esterco, etc., que devem ser incinerados ou desinfetados. São utilizados produtos químicos denominados desinfetantes e a falta de cuidados com sua manipulação, utilização, estocagem e destinação final oferece riscos à saúde humana, animal e ambiental. Os desinfetantes

29 eficazes para o agente da brucelose e da tuberculose indicados no Manual Técnico do PNCEBT, MAPA-Brasília, 2006, estão listados no quadro abaixo, sendo que o tempo de exposição ao desinfetante para brucelose é de 1(uma) hora e para tuberculose é de 3(três) horas. Quadro 1 Tipos de Desinfetantes Recomendados para Brucelose e Tuberculose Desinfetante Concentração Temperatura Local de Uso Hidróxido de Sódio-cal 20% Ambiente Instalações/Solo Cresóis 5% Ambiente Instalações Fenol 5% 37º Instalações Formol 7,5% Ambiente Instalações/Roupas Hipoclorito de cálcio 5% Ambiente Instalações/Utensílios Hipoclorito de sódio 5% Ambiente Instalações/Utensílios Soda Cáustica 2% a 3% 60º Instalações/Utensílios Fonte: Adaptado de Russel et AL (1984) 2.4 - Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA) Em áreas reconhecidas pelo governo brasileiro e/ou pela Organização Internacional de Epizootias (OIE) como livres de febre aftosa, a ocorrência desta doença aciona situação de EMERGÊNCIA SANITÁRIA, onde se aplica o Plano de Contingenciamento Oficial, que pode ser considerado por pessoas leigas no tema como extremamente radical e impactante do ponto de vista financeiro, psicológico e ambiental.

2.4.1- Impacto Psico-Social e de Saúde Pública 30 A comunidade local e os agentes de governo envolvidos nas ações devido à ansiedade, à sobrecarga de preocupações, de contrariedades e de excesso de atividades entram em processo de estresse violento, o que já provocou casos de doenças e óbito em ocorrências anteriores. O processo de emergência sanitária pode chegar a meses de atividades permanentes, inicialmente diuturnas, vinte e quatro horas. As interdições, isolamento e quarentena das propriedades, a instalação das barreiras sanitárias, as perdas econômicas decorrentes da proibição de comercialização e de trânsito nas áreas focais, os reflexos destas ações em áreas perifocais e de vigilância, para a localidade, para o estado e para o país é imensurável. Todos, nas várias instâncias que compõem esta cadeia produtiva, sentem o reflexo de uma única ocorrência deste tipo. 2.4.2 - Impacto sobre o Meio Ambiente: os impactos tanto ocorrem em nível geral quanto focal No nível geral, existe uma modificação repentina de estruturas política, física, social, financeira do município, pois ocorre na localidade um aporte de grande quantidade de pessoas estranhas ao meio, de veículos, instalações, equipamentos, deslocamentos constantes de veículos oficiais para vistoria de propriedades, controle de trânsito com manutenção de barreiras sanitárias para fiscalização e desinfecção de veículos, fiscalização de propriedades nas áreas sob controle, acompanhamento de movimentação de animais para abate sanitário e de movimentação de produtos e subprodutos. Portanto, há um grande impacto sobre o ambiente local de diversas formas desde infraestrutura básica até a poluição do ar.

31 No nível focal, com a implementação das ações sanitárias, os impactos diretos são similares àqueles já discutidos anteriormente em outras doenças, respeitadas as características dos agentes etiológicos: - Sacrifício sanitário de animais doentes e de animais contatos no foco, com incineração e enterramento das carcaças na propriedade foco; - Destruição de instalações que não possam ser desinfetadas; - Desinfecção química de instalações, utensílios, veículos de transporte de animais, outros tipos de veículos, equipamentos, roupas, etc. - Implantação dos animais sentinelas, podendo ocorrer novamente o sacrifício sanitário destes animais se os mesmos forem infectados por vírus circulante, recomeçando todo ciclo de controle/erradicação de foco da doença pela segunda vez. Conforme descrito no Manual de Procedimentos para Atenção à Focos de Febre Aftosa e outras Enfermidades Vesiculares, PANAFTOSA- OPAS/OMS, 2007, os principais desinfetantes para estas doenças são: ÁCIDO CÍTRICO A 2% Preparação: 2 (duas) partes de ácido cítrico para 98 partes de água. Indicações: objetos de laboratório e cabines de veículos. Observação: é pouco corrosivo para metais e superfícies pintadas. SOLUÇÃO DE CARBONATO DE SÓDIO A 4% Preparação: dissolver 440 g de carbonato de sódio em 10 litros de água. Tempo de contato: 10 minutos. Método de aplicação: pulverização, aspersão, pedilúvio e imersão. Limitação: atua só em solução. Indicações: instalações, pessoas e animais, veículos, vestuários, utensílios, couros, peles, ossos, fenos e palhas. SOLUÇÃO DE FORMOL A 10% Preparação: dissolver ½ litro de formalina comercial (solução de formol comercial a 40%) em 5 litros de água. Tempo de contato: 30 minutos a 3 horas. Método de aplicação: pulverização, aspersão e imersão. Indicações: vestuário, utensílios, couro, pele, osso, feno e palha. SOLUÇÃO DE HIDRÓXIDO DE SÓDIO A 2% (SODA CÁUSTICA) Preparação: Dissolver 200g de hidróxido de sódio em 10 litros de água. Tempo de contato: 30 minutos.

Método de aplicação: aspersão. Limitação: muito corrosivo. Recomendado para esterqueira. Indicações: Instalações, esterqueiras e cercas. 32 COMPOSTOS À BASE DE IODOFÓRMIO. Preparação: misturar 1 litro do produto em 200 litros de água. Tempo de contato: 10 minutos. Método de aplicação: pulverização, aspersão, pedilúvio e imersão. Indicações: pessoas, animais, veículos, vestuário, utensílios, couro, pele, osso, feno, palha e esterqueira. ÁCIDO ACÉTICO A 2% Preparação: 2(duas) partes de ácido acético glacial para 98 partes de água. Indicações: objetos de laboratório e cabine de veículos. Observação: é pouco corrosivo para objetos de metal, mas tem pouca penetração quando o vírus está contido no material orgânico. METASSILICATO A 4% Preparação: 4 (quatro) partes de metassilicato para 96 partes de água. Indicações: Atua na desnaturação da proteína e sua atividade oxidante é menor que a de uma concentração comparável de hidróxido de sódio. Não é corrosivo e irritante como o hidróxido de sódio. É usado geralmente em combinação com outros desinfetantes. SOLUÇÃO DE ÓXIDO DE CÁLCIO A 5% (CAL QUEIMADA) Preparação: dissolver 500 g de óxido de cálcio em 10 litros de água. Tempo de contato: de 6 a 24 horas. Método de aplicação: aspersão, caiado. 2.5 - Programa Nacional de Sanidade dos Suídeos (P.N.S.S.) Na aplicação deste programa existem pelo menos 3(três) situações de possíveis impactos ambientais: 2.5.1 - Ações para reconhecimento de área livre de Peste Suína Clássica (PSC) e de Doença de Aujeszky (DA) Constam de saneamento de propriedades através de testes sistemáticos com eliminação por sacrifício sanitário (cremação e enterramento

33 das carcaças na propriedade) ou por abate sanitário (em matadouros oficiais federais ou estaduais) dos reagentes positivos. 2.5.2 - Ações para Certificação de Granja de Reprodutores Suídeos (GRSC) Constam de saneamento de propriedades através de testes sistemáticos com eliminação por sacrifício sanitário (cremação e enterramento das carcaças na propriedade) ou por abate sanitário (em matadouros oficiais federais ou estaduais) dos reagentes positivos para PSC, DA, brucelose, tuberculose e sarna. 2.5.3 - Ações de Emergência Sanitária em foco de PSC e/ou DA Constam de todas as ações emergenciais já explicitadas anteriormente acompanhadas de todos os impactos esperados para a situação que se apresenta: impactos psico-sociais, de saúde pública, de saúde ambiental no nível geral e focal, etc. Nas barreiras de controle de trânsito, nas propriedades foco e nas ações diárias das equipes de emergência, o uso freqüente e abundante de desinfetantes químicos é altamente preocupante para o meio ambiente e para a saúde do trabalhador. Os Planos de Contingência para PSC (Instrução Normativa S.D.A nº. 27/2004) e para DA (Instrução Normativa MAPA nº. 08/2007) indicam os desinfetantes abaixo para serem utilizados nestas ocorrências: - Fenol a 3%; - Iodóforos fortes 1% em ácido fosfórico; - Cresol; - Hidróxido de sódio a 2%;

- Formalina a 1%; 34 - Carbonato de sódio (4% anidro ou 10 % cristalino, com 0,1 % de detergente); - Detergentes iônicos e não iônicos. 2.6 - Programa Nacional de Sanidade Avícola (P.N.S.A.) Na aplicação deste programa existem pelo menos 2 (duas) situações de possíveis impactos ambientais: 2.6.1 - Ação de monitoramento sanitário nos plantéis avícolas Ação de monitoramento sanitário nos plantéis avícolas de reprodução para Certificação de Núcleos ou Granjas Livres de salmonelas e micoplasmas: além de exigências relacionadas à estrutura física e manejo do plantel, conforme as normas de biosegurança, as ações para certificação de propriedade demandam testes sorológicos por amostragem que, se forem positivos, os núcleos ou propriedades serão interditados, isolados. Procederse-á então a testes bacteriológicos que, se confirmada a positividade, serão procedidos ao saneamento por abate sanitário em matadouro com inspeção federal de todo plantel. As ações serão aquelas descritas para outras situações de emergência sanitária, com os respectivos impactos ambientais previsíveis às ações implementadas.

35 2.6.2 - Ações de emergência sanitária em focos de Influenza Aviária (IA) e/ou Doença de NewCastle (DN) Ações de emergência sanitária em focos de influenza aviária (IA) e/ou Doença de NewCastle (DN) que constam das ações emergenciais já explicitadas anteriormente para outras doenças acompanhadas dos respectivos impactos ambientais esperados para a situação que se apresenta: impactos psico-sociais, de saúde pública, de saúde ambiental no nível geral e focal, etc. (interdição de propriedades, sacrifício sanitário, incineração e enterramento de carcaças e materiais contatos, destruição de bens impossíveis de serem desinfetados, desinfecções de veículos, utensílios, instalações, roupas, acessórios, alimentos, medicamentos, controle do trânsito de animais, produtos e subprodutos, despovoamento da propriedade foco, vazio sanitário, repovoamento com animais sentinelas, possibilidade de sacrifício das sentinelas, retomada de ação em foco pela segunda vez, etc.). Nas barreiras de controle de trânsito, nas propriedades foco e nas ações diárias das equipes de emergência, o uso freqüente e abundante de desinfetantes químicos é altamente preocupante para o meio-ambiente e para a saúde do trabalhador. O Plano de Contingência para Influenza Aviária e Doença de NewCastle, MAPA-Brasília, julho/2009, indica os desinfetantes abaixo relacionados como de eleição para esta ocorrência.

36 Quadro 2 Tipos de Desinfetantes Recomendados para Influenza Aviária e Doença de NewCastle PRODUTO FORMA CONCENTRAÇÃO TEMPO DETERGENTES: Líquido/Sólido - 10 min. OXIDANTES: Hipoclorito de sódio Líquido 2-3% de cloro ativo (1:5) Dióxido de cloro Líquido 5% de cloro ativo Hipoclorito de cálcio Sólido 3% (30g/litro) 10 30 min. Hipoclorito de cálcio Pó 2% (20g/litro) Virkon Pó 2% (1:50) 10 min. ALCALINOS: Amônia quaternária Pó 2% (20g/litro) 10 min. Hidróxido de sódio Pellets 2% (20g/litro) 10 min. (soda cáustica) Pó 4% (40g/litro) Carbonato de sódio Cristal 10% (100g/litro) 10 30 min. Cal virgem Pó ou pellets Vários dias SOLUÇÕES ÁCIDAS: Ácido hidroclorídrico Líquido 2% (1:50) 10 min. Ácido cítrico Pó 0,2% (2g/litro) 30 min. Formaldeído Gás Fumigação tripla 20 min. Formaldeído (formalina) Pó 5 10% 30 min. Os Programas Sanitários Oficiais fazem parte de acordos internacionais sanitários e comerciais assinados pelo País e o não cumprimento dos mesmos seria muito prejudicial à economia nacional e à política internacional brasileira. Neste capítulo discutiu-se que qualquer interferência antrópica no meio-ambiente provoca impacto ambiental, mesmo que o objetivo seja melhorar e preservar a saúde animal e humana (incluindo aí os proprietários rurais, os cuidadores e a sociedade enquanto consumidores). A ocorrência de uma real compreensão, aceitação e cooperação dos proprietários rurais e da comunidade participante da cadeia agroprodutiva (o

37 que pode ser facilitado através dos programas oficiais permanentes de educação sanitária promovido por órgãos oficiais e entidades representativas dos produtores) minimizam muito os impactos, pois os mesmos serão diluídos ao longo da implementação gradual das ações sanitárias preventivas aplicáveis a cada doença. A resistência ao cumprimento das ações dos programas obriga os agentes de governo a tomarem medidas de caráter coercitivo, para impedir as tentativas de burla aos mesmos, o que incrementa os impactos ambientais. E, por fim, a aplicação dos planos de contingência ou contingenciamento, sempre que ocorrer uma situação de emergência sanitária, deve ser considerada como situação máxima de impacto ambiental pelas ações que devem ser necessariamente implementadas dentro de curtíssimo espaço de tempo. As emergências sanitárias geralmente ocorrem em duas situações: - Ressurgimento de uma doença que estava sob controle/erradicação e, neste caso, geralmente o proprietário rural ou burlou ou deixou de continuar a aplicação do programa sanitário da forma como vinha fazendo; - Introdução de uma doença exótica e, neste caso, dependendo do agente etiológico e da forma de transmissibilidade, pode ter ocorrido alguma falha no Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional que o País mantém nos portos, aeroportos internacionais e postos de fronteira. SISTEMA VIGIAGRO - Atividades: I - coordenará a fiscalização, em todas as Unidades de Vigilância Agropecuária nos pontos de ingresso no País, da importação de animais vivos, seus produtos e subprodutos comestíveis e não-comestíveis; ovos, seus produtos e subprodutos comestíveis e não-comestíveis; ovos férteis e sêmen de aves e de outra espécie animal ou qualquer outro material de multiplicação animal; produtos biológicos;

38 II - assegurará que os produtos supracitados serão passíveis de autorização prévia de importação e interceptação, proibição do ingresso ou destruição, quando originários ou que transitarem por países considerados de risco pela Defesa Sanitária Animal; III - garantirá a fiscalização dos resíduos sólidos de veículos de transporte aéreo, marítimo e terrestre, por meio da exigência do tratamento dos resíduos em áreas primárias, utilizando métodos de eficácia cientificamente comprovada, impedindo a entrada no território nacional de materiais passíveis de veiculação de doenças; IV - garantirá a fiscalização de bagagens acompanhadas e desacompanhadas, em terminais internacionais de desembarque de passageiros em aeroportos internacionais, postos de fronteira, portos marítimos e fluviais, realizando destruição de produtos agropecuários apreendidos sem a devida autorização de importação ou certificação; V - promoverá a intensificação das campanhas de educação sanitária dirigida aos passageiros em trânsito internacional por portos, aeroportos e postos de fronteira. Porém, com todo este aparato, é possível haver falhas quando o veiculador de uma doença for uma ave ou quando houver dolo e má fé de alguém ao burlar as legislações existentes. Tanto em um caso, quanto em outro caso, demandam a aplicação de ações de Emergência Sanitária.