Aula 9 PROCESSOS MIGRATÓRIOS



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Transcrição:

PROCESSOS MIGRATÓRIOS Aula 9 METAS Inserir o aluno em um dos temas centrais da análise da Geografia da População: a questão migratória; analisar as causas, motivações e conseqüências do deslocamento populacional de uma área; geográfica para outra, além de entender que este fenômeno nunca foi tão atual como agora. OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: conhecer as motivações e conseqüências do deslocamento populacional de uma área; entender que este fenômeno nunca foi tão atual como agora; dominar a temática do que vem a ser migração e seus elementos fundamentais. (Fonte: http://3.bp.blogspot.com).

Geografia da População INTRODUÇÃO É mais do que conhecido que a migração é um fenômeno remoto e vem sendo observado desde os primórdios da humanidade. É evidente que isto esta relacionado a problemas das guerras ou da falta de alimentos. Mais do que nunca, a tendência do ser humano ou dos grupos sociais migrarem é inerente, em decorrência da necessidade à sobrevivência. Assim, é importante esclarecer que a presente aula abordará em linhas gerais, as causas e motivos, e também das conseqüências, que levaram milhões de seres humanos a se deslocarem de uma região para outra. Ainda mais que este fenômeno ainda se mantém nos dias atuais, mesmo face às dificuldades e dos problemas existentes relacionados ao diferente, que muitos denominam de xenofobia ou até mesmo racismo. (Fonte: http://www.ufpa.br). 80

Processos Migratórios MOVIMENTOS POPULACIONAIS Aula 9 Como dissemos na parte introdutória, a questão dos chamados movimentos populacionais foi um fenômeno comum na história da humanidade. A necessidade de se deslocar, comum entre as chamadas populações nômades, envolveu praticamente todos os povos. O que deduz da migração como um processo geográfico e dinâmico e que traz de certa forma conseqüências econômicas, sociais, políticas e culturais, principalmente da área ou região onde a população é recebida (as chamadas áreas de imigração). O fundamental é o aluno entender que o deslocamento geográfico (digamos, deslocamento espacial) é uma atitude humana, porém pode representar também grandes deslocamentos populacionais, grandes contingentes forçados a saírem de suas residências, em decorrência de catástrofes naturais ou por motivos de guerra. Um exemplo bem conhecido são os refugiados, das quais atualmente são milhões que perambulam de um lugar para outro, sem ter para onde ir. São forçados a isso decorrentes de uma série de problemas, que tentaremos explicar em seguida, desse novo fenômeno demográfico. Dessa forma, podemos estabelecer diferenças nas formas dos processos migratórios ou nas causas que levam às pessoas a se deslocarem de uma área para outra. Mais importante ainda, podemos dividir, de acordo com a natureza do deslocamento em duas formas migratórias: a migração interna e a migração externa. A migração interna é vista a partir do deslocamento da população dentro do país ou região, e geralmente ocorre quando existem diferenças econômicas regionais muito fortes, como é o caso do Brasil. Já a migração externa é mais observada entre países e suas causas são muito mais desastrosas para esses migrantes. É o que acontece atualmente com os fluxos de migrantes africanos que se deslocam ao continente europeu atravessando o Mar Mediterrâneo, das quais utilizam barcos sem a menor segurança, superlotados, e quase sempre são vítimas de naufrágios e não comum, de mortes. Em linhas gerais, podemos explicar que são diversas as causas que levam esses milhões de seres humanos a migrarem. A mais comum das causas está relacionado aos motivos econômicos. A pobreza, o desemprego ou a falta de perspectiva de melhoria de vida levam às pessoas saírem de seus locais de origem para outros, geralmente diferentes e muitas vezes resistentes à chegada do estranho e que, de certa forma reagem preconceituosamente. Mais interessante, e isso podemos perceber a migração ser um fenômeno bem contemporâneo e muito mais assustador do que em épocas anteriores. As diferenças econômicas entre países e regiões, provocado por um modelo histórico de capitalismo excludente e concentrador, forçam todo esse processo. Dessa forma, a questão econômica é a causa mais comum. Nessa linha, podemos também agregar que existem causas de repulsão e de atra- 81

Geografia da População ção da população. Estes dois elementos naturalmente estão articulados, dependendo do caso a ser observado. Nos tempos atuais, em destaque das chamadas migrações internacionais, a questão migratória é motivada por fatores atrativos, mesmo que os repulsivos também tenham sua importância. A busca por melhores condições de vida nos países mais ricos seria o fator mais importante, mesmo que esses trabalhadores exerçam atividades socialmente sem valor e recebam salários bem menores em relação aos trabalhadores destes países. Mas também não podemos esquecer que a pobreza de seu local de origem também explica a migração desses trabalhadores. Além das causas econômicas, o aluno deve perceber a complexidade dessa temática populacional, e que outras causas também explicam esses processos. Causas culturais e religiosas também explicam o processo migratório e isso pode ser observado frequentemente nas migrações internacionais. Regiões de conflitos religiosos e de grandes diferenças culturais, principalmente em face da intolerância, e que desembocam em guerras civis prolongadas, efetivamente produzem uma grande leva de migrantes, das quais são forçados a saírem dessas regiões conflituosas. Um exemplo desse processo são os migrantes africanos nos países que sofrem longas guerras civis, como a Somália, o Sudão e Uganda; países da África Oriental e que atualmente passam por guerras civis, e que já provocaram grandes deslocamentos populacionais, formando campos de refugiados dentro e fora desses países. Isso excluindo os milhões de mortos em todos esses anos. Basta dar um exemplo: a guerra em Uganda (país da África Centro- Oriental) se prolonga por mais de trinta anos com mais de um milhão de mortos e outros milhões de mutilados ou socialmente inutilizados. Facções religiosas e diferenças em seus hábitos culturais, que passam desde a forma de vestir até os hábitos alimentares, sendo elementos importantes na constituição das diferenças culturais e com elas da configuração dos conflitos territoriais. Às maiores conseqüências, principalmente para os perdedores, é o deslocamento forçado de grandes contingentes demográficos, geralmente mulheres, idosos e crianças. Essas são às maiores vítimas dessas guerras sem fim!! Outra causa, não muito comum, e que contribui nesses processos migratórios são as catástrofes naturais. Fenômenos como terremotos, furações, atividades vulcânicas, secas, etc. inegavelmente contribuem no processo de migração de outras milhões de pessoas, gerando conseqüências muitas vezes sem reparação, quando são perdidas casas, plantações, ou até mesmo cobertas por lavas vulcânicas, imprestáveis agricolamente por décadas. Ainda continuando nessa análise, é também importante agregar o perfil do migrante. É evidente que isso dependerá do local ou região, além da distância a ser percorrida, bem como das causas que explicam esse deslocamento. Mas podemos presumir que migrante é esse que saí de sua área 82

Processos Migratórios de origem e irá tentar viver em áreas totalmente diferentes da sua. Vamos tentar analisar de uma forma genérica o perfil desse migrante. Um primeiro aspecto é que o migrante típico socialmente é pobre. Se desloca, em sua maioria em definitivo, por mera necessidade de sobrevivência econômica, buscando sempre melhorar de vida, pois a condição de pobreza ou de desemprego, ou ainda na expectativa de melhorar de vida através de maior oferta de serviços em outros lugares (como educação e saúde), demonstram o que alguns chamam de migração forçada. Um segundo aspecto relaciona-se com o gênero (sexo). Geralmente a população masculina possui uma maior probabilidade de migrarem, principalmente para lugares mais distantes, evidentemente em decorrência de lugares mais longíquos propiciarem maior perigo, insegurança e muitas vezes os trabalhos oferecidos são mais direcionados aos trabalhadores do sexo masculino. Isso é mais comum quando a migração é direcionada as áreas pioneiras e os trabalhos serem pesados e de baixa qualificação profissional. É o que ocorre, ainda nos dias atuais, dos processos de migração voltados para a ocupação da Amazônia. Ainda mais interessante, é o que ocorre quando a migração é realizada em pequenas distâncias. Nesse caso, a migração se processa com o predomínio da população feminina, isso explicado pela possibilidade de realizar a migração de retorno, oferecendo maior segurança e maiores possibilidades na oferta de trabalhos. Geralmente essa migração é direcionada aos centros urbanos mais desenvolvidos em relação ao local de origem do migrante. O aluno pode também observar que a população feminina tem sua importância no processo migratório. Mesmo que o companheiro se desloque e ela fique em seu local de origem, às dificuldades do dia a dia impõem a necessidade delas trabalharem e havendo oportunidade, de estudarem também, da qual muitas vezes não mais recebem qualquer tipo de ajuda financeira de seu companheiro-migrante, e toda a despesa é arcada por elas mesmas, muitas vezes recebendo baixos rendimentos. Esse fenômeno é comum na região do Sudeste Asiático, nas comunidades rurais da África e na América Latina. Outro aspecto relaciona-se com a faixa etária. Como regra geral, os jovens são mais propensos a migrarem mais fortemente que às pessoas mais velhas. Por serem jovens, os sonhos e desejos de residirem em regiões melhores do que a sua, o próprio espírito aventureiro e da perspectiva de um futuro mais amplo, até porque têm uma longa vida pela frente, levam a se deslocarem mais facilmente que os demais. O menor fluxo migratório das populações adultas e idosas, estar relacionada a uma maior estabilidade social e principalmente econômica dessas populações e na verdade a migração tem o componente do risco da chamada migração de retorno e com ela das frustrações que muitas vezes trazem sérios problemas pessoais e profissionais. Além disso, e não podemos esquecer desse detalhe, as populações mais velhas geralmente já constituíram famílias e possuem bens patrimoniais onde moram, além de outras responsabilidades. É natural que elas não mudem de lugar de residência. Aula 9 83

Geografia da População O leitor pode perceber que a migração estar na ordem do dia. Nunca se migrou tanto como em nossos dias, sendo este um dos temas mais palpitantes na atualidade. A complexidade do mundo capitalista contemporâneo, as necessidades econômicas e o aumento dos preconceitos de ordem cultural, religiosa e até mesmo étnica, são fatos preocupantes que rebatem na temática Migratória. Nessa linha, o aluno deve perceber que a temática migratória é importante dentro do estudo da Geografia da População. Podemos dizer que a migração é um tema à parte, que envolveria não apenas a Geografia da População, mas outras áreas do conhecimento que tratam diretamente com a questão populacional, a exemplo da Demografia, da Estatística, da Economia, senão dizer da própria Biologia ou até mesmo da Psicologia Social. Os efeitos da migração e de seus principais protagonistas os migrantes levantam uma série de questões de natureza social, cultural e principalmente econômica. O local de chegada desses migrantes altera o cotidiano das populações aí residentes e por outro lado geram também constrangimentos aos recém-chegados. Elementos positivos e negativos dessa migração devem ser medidos. Parece que o evento de 11 de setembro mudou radicalmente esse panorama. Ficou mais difícil e constrangedor os diferentes serem recepcionados, principalmente nos países europeus e nos Estados Unidos. Dessa forma, o aluno deve dominar algumas definições relacionadas à questão da migração. Para completar, podemos agregar a citação abaixo de um estudioso das migrações internacionais contemporâneas, em texto avulso publicado pelo CSEM (Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios, publicação de Junho de 2005), da Itália, da qual detalha, classicamente, os tipos de migração, substanciada nas contradições do neoliberalismo: A intensidade e complexidade da mobilidade humana contemporânea trazem sérias interrogações em relação a suas causas. Trata-se de um fenômeno espontâneo ou induzido? Estamos diante de migrações voluntárias ou forçadas? Na realidade, tem-se a impressão de que a migração maciça para os países do Norte do Mundo, antes que conseqüências da livre escolha de indivíduos, decorra diretamente da crise do atual modelo de globalização neoliberal que concentra as riquezas e subordina o capital produtivo e gerador de empregos ao capital especulativo. 84

Processos Migratórios CONCLUSÃO Aula 9 Em termos demográficos, vários dilemas e problemas podem ser extraídos em nossos dias. De um lado, temos o problema da bomba demográfica, mas que corre também paralelamente o fenômeno do envelhecimento da população, particularmente dos países europeus, produto demográfico depois de décadas de baixíssimos índices de fertilidade. Ou seja, contraditoriamente temos duas realidades opostas em áreas geograficamente distintas. Nesse aspecto, nos parece que a solução de muitas áreas que sofrem pressão demográfica e de outras que sofrem envelhecimento da população, é valorizar os processos migratórios, e que inegavelmente temos uma realidade a enfrentar no futuro: a população continuará a crescer ao menos para as próximas cinco décadas. E para contornar esse problema, nada mais eficaz que incrementar políticas demográficas com base no incentivo aos processos migratórios. Mesmo que o aluno perceba que esse fenômeno envolve valores culturais, econômicos e sociais e que efetivamente às barreiras existem, em decorrência até mesmo da crise do capitalismo observado nos dias atuais. Para contornar essas problemáticas, nada mais correto do que analisar a migração enquanto fenômeno importante no processo de desenvolvimento econômico de um país ou região. RESUMO Os processos migratórios são fenômenos que remontam à própria história da humanidade. Sempre houve deslocamento geográfico de pessoas. Desse modo, devemos observar que são várias as causas que levam esse deslocamento espacial. A principal delas é a econômica, marcada por necessidades de comida, emprego ou melhoria das condições de vida. Questões relacionadas aos aspectos culturais e sociais também contribuem nesse processo. Agregando-se também fatores incontroláveis como as catástrofes naturais. Em termos gerais, temos elementos geográficos de repulsão e de atração da população e como na maioria das causas da migração é de natureza forçada, é claro que os elementos de repulsão são mais comuns que os de atração, ressaltando que nos dias atuais tanto a migração interna como as chamadas migrações internacionais são bastante comuns. E esse fenômeno demográfico nunca foi tão importante como hoje, podendo até mesmo contribuir para solucionar problemas tipicamente demográficos, como o envelhecimento da população, como também no excesso populacional de determinadas regiões do planeta. Completando-se também que muitos desses migrantes podem contribuir no desenvolvimento das regiões que a recepcionaram, destacando como fenômeno comum a conhecida exportação de cérebros, pessoas profissionalmente qualificadas, que, em busca de melhores rendimentos pessoais vão residir em países (ou regiões) onde suas profissões são reconhecidas e naturalmente os salários são maiores. 85

Geografia da População ATIVIDADES 1. Face a problemática das migrações internacionais nos dias atuais, que elementos POSITIVOS e NEGATIVOS podemos extrair desse fenômeno? Na sua opinião que regiões do planeta as populações estão mais se deslocando? Seria principalmente as paupérrimas populações africanas? 2. Na medida em que os mesmos são forçados a se deslocarem e geralmente seus sonhos e desejos é sempre voltar à terra natal, refugiados são migrantes ou não? REFERÊNCIAS CSEM (Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios), publicação de Junho de 2005, S/D. GARCIA, José Luís. Migrações e relações multiculturais., Lisboa: Celta Editora 2000. MARINUCCI, Roberto, MILESI, Rosita. Migrações internacionais contemporâneas. Roma: CSEM/IMDH, publicação avulsa, junho de 2005. MARTINE, G. Estado, economia e mobilidade geográfica: retrospectiva e perspectiva para o fim de século. Revista da Apeb 11. (1), 1994. 86