AÇÕES E CONTRIBUIÇÕES DO ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO NO PLANEJAMENTO ESCOLAR: MANTENEDOR DO SISTEMA OU TRANSFORMADOR EDUCACIONAL



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Transcrição:

AÇÕES E CONTRIBUIÇÕES DO ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO NO PLANEJAMENTO ESCOLAR: MANTENEDOR DO SISTEMA OU TRANSFORMADOR EDUCACIONAL KRÜGER, Loni Elisete Manica Universidade Federal de Santa Maria RESUMO O presente trabalho é o resultado de uma pesquisa realizada em quatro escolas de diferentes esferas (Federal, Estadual, Municipal e Particular). Partindo da coleta, tabulação e análise de dados, procuramos contemplar o posicionamento dos professores e dos próprios especialistas (Orientadores, Supervisores e Administradores), quanto à necessidade da existência e da real importância destes no ambiente escolar. Quais suas funções e o que pensam sobre elas. Procuramos também abordar qual o envolvimento dos especialistas nas questões referentes à construção do projeto político-pedagógico das escolas e como procuram desenvolver seus planejamentos. Logo após, dedicamos o capítulo "extingui-los ou repensar sua prática?" para uma análise pessoal sobre o tema. Com certeza não conseguimos trazer receitas aos especialistas, mas abordamos questões marcantes no cotidiano escolar vivenciado por eles, como: Quem são? Quais suas origens? O que fazem? E como se posicionam frente às mudanças da política neoliberal.

Preocupados em saber o que pensam os educadores das mais diversas áreas e sem dúvida os próprios especialistas em Educação (OE/ SE e ADM) sobre as suas funções e suas necessidades, procuramos desenvolver um instrumento (questionário) com algumas questões básicas que pudessem nos dar o suporte necessário para fielmente transcrever o posicionamento de alguns professores e Especialistas. Para isto responderam ao questionário 09 (nove) professores das mais diversas áreas e 10 (dez) especialistas das áreas de Orientação Educacional, Supervisão e Administração Escolar. O resultado destes dados coletados serão descritos a seguir: Todos os especialistas questionados acham importante a existência dos cargos destes profissionais nas escolas, porém notamos que não estão definidos claramente os papéis desempenhados por cada elemento. Observamos algumas respostas quanto a questão "Na escola hoje, você acha necessário a existência do Supervisor Escolar?"(1056) "Acho que uma escola não funciona sem o Supervisor Escolar (SE), quem trabalhará com os professores?" "É necessária, para que haja unidade, integrando o corpo docente"; "Sim, auxilia o professor em suas dificuldades"; "Importante, desde que seja um trabalho em parceria com os demais, nunca como a própria palavra sugere "supervisionar" "; Observamos algumas respostas quanto a questão: "Na escola hoje, você acha importante existir Orientação Educacional? "Sim, para orientar, assessorar e encaminhar os alunos com problemas"; "Sim, é um elemento indispensável (...) porém penso que, urgentemente, a sua prática precisa ser revista"; "Sim, tanto as escolas antigas, como as atuais o OE é importante para o acompanhamento dos alunos"; "Muito, dependendo do trabalho que é proposto"

"Importante, desde que seja um trabalho integrado entre escola e comunidade"; "É necessário quando desempenha papel de comunicação entre pais, professores e alunos"; Vejamos algumas respostas dos especialistas quanto a questão "Você acha necessário a existência do administrador nas escolas?" "Sim, o funcionamento escolar atual é completamente dependente desses cargos administrativos"; " Um barco sem remador fica à deriva" " Sim, cabe a direção coordenar toda a administração da escola, e traçar as diretrizes gerais..."; "Sim, dentro da estrutura das escolas atuais é necessário que existam pessoas responsáveis pelos assuntos administrativos para um efetivo funcionamento da escola." Os depoimentos acima nos trazem à tona a necessidade dos próprios especialistas refletirem sobre os seus papéis e suas práticas. As respostas evidenciam que para estes especialistas as funções não são integradas, pois para muitos a função do SE é somente trabalhar com os professores, o papel do Orientador Educacional (OE) é trabalhar com os alunos e pais, preferencialmente aqueles "com problemas" e o Administrador (ADM) é o responsável pela centralização total das decisões administrativas. Diante deste quadro questionamos: como propor uma ação integrada e integradora nas escolas onde os próprios especialistas entendem suas funções fragmentadas? Hoje, se tem claro o discurso da necessidade destes profissionais nas escolas, mas não deixamos claro porque realmente devem permanecer em uma escola que busca a transformação social, a descentralização do poder e a democracia. Será que nesta escola que almejamos e diante dos papéis desempenhados pelos Especialistas, estes são realmente necessários? Poderão lutar pelo seus espaços? Quando questionamos os professores sobre a necessidade da existência destes profissionais nas escolas, podemos entender que para a grande maioria também está claro que os especialistas são necessários no ambiente escolar. Mas posicionam-se, como os especialistas, entendendo que o SE deve existir para trabalhar com os professores;

o OE para atender aos alunos e o ADM para decidir sobre os aspectos administrativos. Quando falamos em administrador de uma escola não podemos esquecer que estes convivem muito mais com seres humanos do que com máquinas e por isso a necessidade de ir além de apenas envolver-se em questões administrativas, mas essencialmente precisam estar presentes em todas as questões pedagógicas, pois a escola, ao nosso ver, não poderia ser vista como uma empresa. Já o SE precisa entender que estar presente em uma escola é ir além de "estar de corpo presente", desarmar-se do poder para acompanhar o processo escolar e não "supervisionar", ir muito além do que envolver-se apenas com as questões apresentadas pelos docentes. Precisa ser um dos responsáveis pela dinamização de um Projeto Político Pedagógico, procurando envolver necessariamente outros especialistas, principalmente toda a comunidade escolar. Quanto ao OE, acreditamos que suas funções precisam ir além de apenas orientar "alunos-problemas" precisam ser articuladores da comunidade escolar, engajarse, tanto quanto os outros especialistas no processo de construção de um Projeto Político-Pedagógico. Podem e devem trabalhar lado a lado com outros especialistas, principalmente com os professores, pais e alunos. Não queremos aqui enfatizar que cada especialista não tenha suas funções específicas. Precisamos entender que, em uma escola democratizadora ninguém é o "dono" exclusivo de uma determinada função, mas que possuem suas especificidades procurando envolver outros elementos que poderão contribuir conjuntamente nas principais decisões, facilitando o desenvolvimento das ações de determinada função. Isto é, não precisamos eliminar as especificidades, mas precisamos viver e compartilhar comunitariamente. E para que isto se efetive é necessário a integração destes especialistas. LUCK (1986), refere-se a isso dizendo: "A ação do corpo técnicoadministrativo deve ser não só integrada, mas também integradora. Para tanto, deve pautar-se por atitudes, direções e objetivos comuns, o que estabelecerá a coerência interna necessária para se garantir a unidade preconizada (p.30). Esta integração não é algo impossível, pode acontecer nas escolas através do real comprometimento dos especialistas em realizar suas funções dentro de um conjunto maior, sem perder suas particularidades necessárias, mas procurando interagi-las com

outras funções e aliando-se aos que desejam e lutam pela transformação educacional. O desafio do Especialista em um planejamento que exija comprometimento para entendermos o que realmente pensam os especialistas em Educação (OE, SE e ADM) frente ao processo de construção do plano global procuramos subsídios nas próprias escolas. Para isso contemplou-se no instrumento depoimentos de OE, SE e ADM. Escolheu-se aleatoriamente uma escola Federal, uma Estadual, uma Municipal e uma Particular, para que pudéssemos perceber nas diferentes esferas, a realidade frente a construção de seus planos e o engajamento pessoal dos Especialistas no processo de construção. Os resultados obtidos passarão a ser descritos em forma de textos. A Orientação Educacional e sua relação com o planejamento Dentre os quatro OE que foram solicitados a responder os instrumentos, um deles não quis responder alegando ser novo na escola e não podendo se posicionar. Dois se posicionaram dizendo que conhecem e participaram da construção do plano global e um procurou se ausentar do processo alegando que isso é função da SE, quando descreve que: "Isto seria melhor explicado pela SE"(1057). Aqui percebemos claramente o posicionamento e a possível tese, de que quando falamos em planejamento escolar, muitos OE pensam que não precisam estar inseridos e que isto é função exclusiva da SE. Sem dúvida, isto colabora para a desvalorização do papel do OE. LUCK (1991), refere-se a isso dizendo: No contexto dessa tendência, o Orientador Educacional atuaria seguindo um enfoque muito mais reativo do que proativo, muito mais encaminhado para atender as demandas e aos problemas imediatos de trabalho na escola do que para ajudar a imprimir, no seu contexto, uma nova linha de trabalho, uma nova qualidade que contribuísse para a superação dos seus problemas cotidianos (p.11). Das escolas pesquisadas, apenas uma o OE foi dinamizador do processo junto a SE, nas demais o responsável pela coordenação geral dos trabalhos foi somente o segundo. Quanto ao planejamento do plano global escolar percebemos que apenas uma escola conseguiu trabalhar participativamente. As outras estão procurando um trabalho que esteja mais aproximado do verdadeiro planejamento participativo. Os planos, ainda são segmentados e apenas juntam-se aos vários planos (individualizados) no final, para

cumprir com a determinação burocrática de entregá-lo aos órgãos competentes. Planejamento é um processo que envolve a dimensão técnica e a dimensão política. Nada tem validade quando não se tem a vontade de colocar em prática. E como conseguir esta vontade sem o real engajamento das pessoas durante o processo de construção? Por isso o planejamento da OE deve partir dos princípios básicos do projeto político pedagógico da escola que foi construído participativamente, e não apenas pela SE a nível de gabinete. Pois não se pode conceber a ação do Orientador Educacional ou de qualquer educador, sem planejamento.(1058) Todos os OE que responderam ao questionário entendem como de suma importância as funções que realizam nas escolas. Quanto a questão "como você constrói o seu planejamento?" Percebemos que todos são bastante teóricos e profundos, sendo que um constrói seu planejamento de acordo com a avaliação final do ano, outro apenas com o levantamento das necessidades dos alunos e o terceiro junta-se aos dois anteriores com o posicionamento da comunidade escolar. Acreditamos que apenas a escola que conhece o real planejamento participativo tem conseguido que seus especialistas(oe, SE/ADM) possam realizar seus planejamentos baseados na comparação entre os ideais e o real da escola, procurando aproximá-los. O papel do Supervisor Escolar frente à construção do Plano Global As mesmas questões foram dirigidas aos supervisores, nesta ocasião também houve uma escola (não sendo a mesma anterior) em que um deles não respondeu ao questionário, pois a mesma está temporariamente sem SE. Todos os que responderam ao instrumento são enfáticos ao dizer que participaram ativamente da construção do plano global, mas contraditoriamente evidenciou-se que apenas uma, dentre as escolas pesquisadas, houve uma construção aproximada de um plano realmente participativo, onde o "projeto político pedagógico foi construído com a participação de pais, alunos, professores e funcionários"(1059), mesmo assim, as discussões foram realizadas apenas, com professores e funcionários, sendo que os alunos e pais participaram através de questionários e entrevistas. Nas outras escolas percebemos claramente a função do Supervisor em "juntar" o

material fragmentado dos setores. Nestas escolas os Supervisores se posicionaram: "O plano Global foi construído com cada chefe ou coordenador, elaborando a parte correspondente as suas atribuições, sendo depois juntado para a constituição do todo"(1060): "O Plano Global foi construído através de respostas das questões que foram elaboradas para os pais, alunos e professores"(1061) Neste espaço ousamos afirmar que não é possível dizer que o plano global é participativo, apenas agrupando dados isolados, aqui encontra-se a "farsa participativa" e, talvez um dos maiores entraves para que o especialista possa vivenciar nas escolas uma prática verdadeiramente significativa na construção do projeto político pedagógico. Quanto à questão "quem coordenou a construção do plano Global?" percebemos que na escola "A" foi o próprio SE que juntou os dados, na escola "B" dizse não ter havido um coordenador, e na escola "C" afirma-se que foi coordenado inicialmente pela SE e que logo foi criada uma comissão para sistematização do plano, com representantes dos diversos segmentos. Quanto a escola "B" "não ter definido um coordenador", Gandin diz que isto é muito perigoso na construção de um projeto político pedagógico, pois o mesmo exige que alguém domine o processo de construção para dar o prosseguimento necessário nas etapas de construção. Isto é expresso claramente pelo autor quando diz: (...) deve ser atribuído a uma equipe coordenadora (eventualmente a uma só pessoa, sobretudo em instituições pequenas) que estude, na mais exata precisão que lhe for possível, tudo o que se refere ao planejamento para ajudar a todos a se preocuparem com o que realmente importa. Já disse isto em outros lugares: não devem todos ser especialistas em planejamento para que uma instituição possa realizar um planejamento participativo.(1062) Quanto as funções que desempenham, todos os SE acham importante o que fazem, considerando seus papéis como principal mecanismo para implementar as ações no ambiente escolar e como elemento mediador entre direção, professores e alunos. Sendo que um dos pesquisados referiu-se a necessidade de ser repensado alguns aspectos desenvolvidos pela ação supervisora nas escolas.

Todos responderam que ao realizarem o seu planejamento levam em conta os princípios expressos no plano global da escola, entre as expressões salientamos: "construímos nosso planejamento em consonância com o projeto político pedagógico da escola. Estamos tentando dar "vida" a este documento que, na maioria das vezes, é apenas um documento "morto"(1063) Podemos perceber que no discurso os SE entendem a necessidade de um Plano Global construído participativamente, mesmo que ainda suas práticas não contemplem este discurso, ao menos, pensamos estarem procurando aproximá-las. O administrador e sua contribuição na construção do plano escolar As questões dos instrumentos também foram respondidas pelos ADM das escolas. Estes descreveram conhecer o plano global da escola e terem participado do processo de construção junto a SE e os setores. Percebe-se explicitamente que os OE não são vistos pelo diretor como agente importante no desencadeamento das ações que darão o suporte necessário para o processo de construção do Projeto Político Pedagógico (plano global). Apenas uma das escolas, e ao meu ver aquela que conseguiu aproximar o seu trabalho de um verdadeiro planejamento participativo, elaborou o seu plano com toda a comunidade escolar, criando estratégias para aproximar os ideais da sua realidade. Quanto a questão "como você participou da construção?" um diretor respondeu que planejou suas atividades e seu plano relacionadas ao seu cargo e suas funções, o restante dos diretores disseram ter subsidiado a SE, participando apenas de algumas das discussões. Nestas respostas encontramos claramente o posicionamento da direção em acreditar que o plano global deva ser construído essencialmente sob a responsabilidade do SE. Nesta visão passamos a nos questionar : Onde encontramos o trabalho integrado e integrador dos especialistas? Sem dúvida isto nos faz refletir sobre a prática destes profissionais, a sua validade, a suas reais funções e seu engajamento no processo decisório e deliberativo do plano global da escola, que tem deixado a desejar diante da postura de um especialista-educador que deseja atuar em uma escola que se diz democrática. Todos justificam ser de suma importância a função que desempenham hoje nas escolas, mas implicitamente percebemos a função centralizadora que estes ainda

desempenham. Isto fica evidenciado quando posicionam-se: "A partir da implantação da gestão democrática do Ensino Público, as escolas passaram a ter mais autonomia, aumentando as funções exercidas pelo diretor tanto no aspecto financeiro, administrativo e pedagógico"(1064) Neste discurso percebemos o quanto estão felizes com a descentralização financeira por parte do governo, mas aí surge uma preocupação, diante dos fatos: Os aspectos financeiros não passariam agora a ficar centralizado na mão do diretor? Se este entender a real importância de administrar em conjunto acreditamos que isto não acontecerá, mas nos perguntamos: todo administrador procura realizar a sua função voltada aos interesses da comunidade escolar? Procura tomar decisões conjuntamente procurando contemplar os desejos da maioria? Isto sem dúvida faz parte do processo de reflexão que precisamos aprofundar diante da gestão democrática que traz em seu bojo um discurso significativo para a busca da transformação social e educacional. Acreditamos que, a verdadeira integração entre os especialistas só acontecerá no momento em que houver um real comprometimento destes na busca da efetivação de objetivos comuns voltados para vivenciar o presente pautado no passado, projetando o futuro.

BIBLIOGRAFIA DALMÁS, Angelo. Planejamento Participativo na Escola- Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.142 p. GANDIN, Danilo. A Prática do Planejamento Educativo na Educação. 2 ed. Porto Alegre:Vozes,1991.182 p. Planejamento como Prática Educativa.5 ed. São Paulo: Loyola,1983.105 p. GANDIN, Danilo, CRUZ, Carlos Carrilho. Planejamento na sala de aula. Porto alegre. Editora La Salle. 1995. 111 p. GRINSPUN, Miriam. Espaço Filosófico da Orientação Educacional na Realidade Brasileira. Ed. Rio Fundo. LUCK, Heloisa. Planejamento em Orientação Educacional. Petropólis: Vozes,1991. 128p. Ação Integrada Administração, Supervisão e orientação Educacional. Petropólis: Vozes,1986. MAIA, Eny e Regina L. Garcia. Uma Orientação Educacional Nova para uma Nova Escola. São Paulo. Ed. Loyola,1984. VASCONCELOS, Celso. Planejamento: Plano de Ensino Aprendizagem e Projeto Educativo Elementos Metodológicos para Elaboração e Realização. São Paulo. Libertad.1995.170 p. VEIGA, Ilma Passos A. (Org.) Projeto Político-Pedagógico da Escola: Uma construção Possível. Campinas, SP, Papirus. 1995.