A DESASPIRAÇÃO DE PLOSIVAS SURDAS INICIAIS NA TRANSFERÊNCIA DO CONHECIMENTO FONÉTICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO (L1) PARA O INGLÊS (L2)



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Anais do 6º Encontro Celsul - Círculo de Estudos Lingüísticos do Sul A DESASPIRAÇÃO DE PLOSIVAS SURDAS INICIAIS NA TRANSFERÊNCIA DO CONHECIMENTO FONÉTICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO (L1) PARA O INGLÊS (L2) Márcia Cristina ZIMMER (UniRittter/Unisinos) ABSTRACT: The present work reports the results of a research on the process of deaspiration of voiceless plosives in initial position among 156 ESL students in different levels of proficiency basic, intermediate, upper intermediate and advanced during a task of naming nonwords, as well as regular and exception low and high frequency words. KEYWORDS: transfer of L1-L2 knowledge; deaspiration of initial voiceless plosives; L2 speech production in English. 0. Introdução O estudo da transferência do conhecimento fonético-fonológico 1 vem atraindo muitos pesquisadores devido à dificuldade apresentada por aprendizes da L2 em superar os efeitos da ativação desse conhecimento da L1 na fala em L2. Neste trabalho, a desaspiração de plosivas surdas iniciais por brasileiros aprendizes de inglês norte-americano (L2) é vista como um processo de assimilação do conhecimento fonético-fonológico do português brasileiro. 1. Pressupostos teóricos Flege (2003a,2003b) afirma que a produção da fala é fortemente limitada pela acuidade perceptual do falante. Seu modelo (Speech Learning Model) parte de duas premissas básicas: a) os aprendizes da L2 não conseguem separar totalmente seus subsistemas fonéticos da L1 e da L2; b) embora os mecanismos responsáveis pela aquisição da fala mantenham-se intactos durante toda a vida de um indivíduo, a formação de categorias prototípicas dos sons da fala da L2 torna-se menos provável com o aumento da idade (Flege, 2002, p. 11). De acordo com esse modelo, à medida que a percepção dos fones da L1 desenvolve-se durante a infância e a adolescência, mais provável é a assimilação das qualidades fonéticas dos sons da L2. Se determinadas produções de fones da L2 continuarem sendo identificadas como instâncias de fonemas e alofones da L1, a formação de novas categorias de contrastes será bloqueada. Ressalta-se que Flege é explícito ao afirmar que essas limitações na capacidade de percepção fonética categórica da fala em L2 advêm da experiência lingüística prévia com a L1, e não de um programa maturacional. Assim como Flege, Best et al. (2001) sustentam que a discriminação dos sons da fala em L2 depende de como, ou se, esses sons são perceptualmente assimilados pelos fonemas da L1, ou seja, a acuidade na discriminação pode ser influenciada pelo grau de semelhança fonético-articulatória entre os fones da L1 e os da L2. O Modelo de Assimilação Perceptual (Best et al., 2001) relaciona o sucesso na discriminação de fones da L2 à maneira como um contraste da L2 é assimilado pelas categorias da L1. Instâncias de diferentes categorias da L2 que não forem perceptualmente assimiladas por nenhuma categoria da L1 serão bem discriminadas e, por conseguinte, produzidas corretamente. Isso significa que os adultos conseguem discriminar melhor os fones da L2 que são mapeados para diferentes categorias fonêmicas da L1 do que os fones que são mapeados para a mesma categoria da L1. Assim, esse modelo prevê que os fones e os alofones da L2 serão mais facilmente percebidos se diferirem daqueles produzidos na L1. O modelo denominado Ímã da Língua Materna (Kuhl e Iverson,1995; Kuhl, 2000) também postula que a percepção das propriedades dos sons da fala é definida pela experiência com os mesmos na primeira idade. O ILM postula que o mapeamento perceptual que os bebês fazem dos sons da fala presentes na linguagem do ambiente cria uma rede ou filtro complexo através do qual a linguagem é percebida que pode, mais tarde, moldar a discriminação dos fones produzidos na L2. A transferência resulta da dificuldade inerente em separar funcionalmente os mapeamentos das categorias da L1 e da L2, e porque um comprometimento neurológico com os mapeamentos categóricos da L1 influenciam o processamento posterior dos sons da fala da língua estrangeira (Flege, 2002; Flege, 2003). É importante ressaltar que tanto Flege como Kuhl e Iverson sugerem 1 É importante colocar, já no início deste trabalho, que não se acredita na dissociação entre Fonética e Fonologia. Acredita-se, tal como o exposto em Albano (2002, 2001), numa gradiência e continuidade entre o fone físico e o fonema abstrato, visto aqui como sendo ativado de forma distribuída e em paralelo por unidades neuroniais no cérebro.

que as restrições à percepção dos sons da L2 advêm da experiência lingüística prévia, e não da perda de plasticidade resultante da maturação neuronial. McClelland (2001) concorda com Kuhl (2000), afirmando que os adultos às vezes não conseguem distinguir fones da L2 por terem passado anos esculpindo seu espaço fonológico de acordo com a estrutura da língua materna, e então os protótipos fonéticos da L1 atuam como ímãs ou, em termos de redes neuroniais, atratores, distorcendo a percepção de itens próximos, tornando-os mais semelhantes aos protótipos da L1 (2001, p. 9). Ao discorrer sobre a dificuldade dos japoneses adultos em pronunciar o /l/ e o /r/, McClelland apresenta uma simulação computacional baseada na noção de aprendizagem Hebbiana 2 em que não apenas replicou os resultados empíricos em relação à percepção e produção da distinção das líquidas do inglês, como também propôs um treinamento para a superação desse problema através da exposição dos aprendizes ao input sintetizado artificialmente com características acústicas exageradas. Percebe-se que os estudos desses quatro grupos de pesquisadores estão em consonância com a afirmação de Wode (1978) de que deve haver uma semelhança crucial entre a L1 e a L2 para ocorrer a transferência, e parecem convergir quanto ao papel da experiência lingüística prévia do falante na moldagem da percepção e produção da fala na língua-alvo. Em particular, todos eles concordam com o fato de haver uma grande influência da percepção categórica do sistema fônico da L1 sobre a produção da fala em L2. Pode-se afirmar que a leitura em voz alta de palavras da L2, por envolver a produção da fala na L2, também redunda em sotaque estrangeiro (Zimmer, 2004b). Contudo, pode-se supor que os leitores ativarão, durante a recodificação leitora em L2, não apenas seu sistema de padrões acústico-articulatórios moldados pelo processamento fonético-fonológico bastante entrincheirado na L1, mas também a relação grafema-fonema da língua materna. Como a leitura proficiente pressupõe o domínio automático das habilidades de codificação e decodificação, pode-se afirmar que, para ler num sistema alfabético, o leitor deve ser capaz de reconhecer a correspondência (por mais inexata que seja) entre grafemas e fonemas. Segundo Odlin (1989), quanto mais semelhantes forem os sistemas de escrita da L1 e da L2, menos tempo os aprendizes da L2 levarão para desenvolver habilidades básicas de codificação e decodificação. Assim, quando os alunos aprendem um sistema alfabético contendo algumas correspondências com o sistema da L1, eles fazem identificações interlingüísticas de grafemas que lhes são familiares e começam a dominar o novo sistema alfabético com base nas semelhanças entre os dois sistemas de escrita. Ao mesmo tempo, porém, que auxilia os alunos a encetar a tarefa da leitura na L2, essa estratégia leva a desvios na pronúncia, exatamente devido à interatividade ente os sistemas grafêmico e fonético-fonológico, uma vez que a tendência dos leitores em L2 a atribuir aos grafemas da L2 os mesmos fonemas ou fonemas similares aos que ativaria na L1 durante a recodificação da palavra pode culminar em produções fonéticas enviesadas em direção aos protótipos fonéticos da L1. A ativação do conhecimento fonético-fonológico do PB, quando da leitura de palavras em língua inglesa, pode redundar em processos de transferência responsáveis por desvios de pronúncia característicos de falantes do PB. O processo focalizado neste estudo foi selecionado de uma investigação, fruto de tese de doutorado (Zimmer, 2004a) que abrangeu nove processos, selecionados de estudos envolvendo falantes nativos do PB e de outras línguas, além de processos observados pela pesquisadora que não haviam sido referidos na literatura pesquisada. São eles: 1) simplificação de encontros consonantais por epêntese (Major, 1992). Ex: [iskul] por [skul]; 2) schwa paragógico epêntese de vogal [i] ou schwa [«] a obstruintes em posição final (plosivas, fricativas e africadas). (Tarone, 1987). Ex: [dogi] em vez de [dog]; 3) dessonorização terminal (terminal devoicing) perda do traço sonoro em certos obstruintes em posição final (Major, 1987, Jenkins, 2001). Ex: [dãs] em vez de [dãz]; 4) mudança consonantal como [h], [x] por [r] (como em ripe), a substituição do par de fricativas dentais [T] (think) e [D] (with) por um conjunto de alternativas como [t] e [d], [f] e [v] ou [s] e [z], respectivamente (Major, 1987; Jenkins, 2001, Best et al., 2001 ). Ex: [de] em vez de [De]; 2 Segundo McClelland (2001), a regra de Hebb, relacionada à potenciação de longo prazo, sugere que quanto mais forte for a ativação desencadeada por um determinado input, mais forte será o efeito e mais tempo ele durará. O resultado, então, é um aumento na probabilidade de que um input subseqüente e muito semelhante produza a mesma ativação. Se essa for adequada e útil, a aquisição e manutenção das habilidades cognitivas desejáveis ocorrerão. Entretanto, se a ativação for inapropriada, o ajuste sináptico hebbiano tenderá a reforçar as tendências existentes, e não ocorrerá progresso na aquisição do efeito desejado. A dificuldade em produzir uma fala sem sotaque na L2 pode advir de um reforço indesejável de ativações pré-existentes da fala em L1.

5) desaspiração de plosivas surdas em posição inicial como em tea, pull e put (Nathan et al., 1987). Ex: [ti:] em vez de [t i:]; 6) deslateralização de líquidas laterais em posição de coda tais como a produção do glide [w] ou [É] em vez de [l] em peel, pull, tell e wool (Jenkins, 2001). Ex: [wew] em vez de [wel]; 7) vocalização de nasais finais tais como a bilabial [m] e a nasal alveolar como [n] em posição final (hipótese própria). Ex: [b y )] em vez de [bi:m] (beam); 8) assimilação vocálica tal como [Ã] em vez de [u] e muitos outros casos de substituições vocálicas (Flege, 2003a; Odlin, 1989). Ex: [pãt] em vez de [put]; 9) realização da consoante velar sonora seguindo a produção da nasal velar N (hipótese própria). Ex: [wing] em vez de [win]. É importante frisar que, embora o uso do processo desaspiração de plosivas surdas em posição inicial não implique um contraste entre fonemas, a presença ou ausência de aspiração em plosivas surdas é uma fonte de sotaque perceptível pelos nativos da L2 (Nathan et al., 1987). Assim, a produção da plosivas surdas em posição inicial na fala em inglês como L2 por falantes do PB, que não aspira as plosivas surdas em PB, caracteriza a recodificação ou a fala com sotaque. Para compreender porque esse processo está sendo focalizado aqui, faz-se necessário que se proceda à descrição da metodologia e, posteriormente, aos resultados aferidos quando da avaliação do uso dos nove processos supra-citados. 2. Metodologia e objetivos A fim de investigar a freqüência de utilização dos processos de transferência do conhecimento da relação grafema-fonema do PB (L1) para o inglês (L2) entre brasileiros aprendizes de inglês, foi feita uma pesquisa de campo, realizada de forma transversal, entre 156 estudantes em diferentes estágios de aprendizagem de língua inglesa 50 no nível básico (1), 57 no nível intermediário (2), 34 no intermediário-avançado (3) e 15 no avançado (4) alunos de universidades de Porto Alegre e arredores. Os critérios para a seleção da amostra foram: a) todos os sujeitos deveriam ser falantes nativos do PB; b) todos os sujeitos estavam aprendendo inglês apenas e não falavam nenhuma outra língua além da L1 e do inglês; c) todos os sujeitos assinariam o Consentimento Informado; d) todos os informantes, independentemente da universidade ou disciplinas de inglês cursadas ou em andamento, submeteram-se a um teste de nivela mento (TOIEC). Dentre os vários objetivos específicos que nortearam a pesquisa, destacam-se aqui os de levantar a freqüência de utilização dos processos de transferência do conhecimento grafema -fonema do PB durante a leitura de palavras 3 e não-palavras, verificando se a incidência dos mesmos varia em função do nível de proficiência dos informantes na língua inglesa. Assim, partiu-se da hipótese de que a utilização dos processos de transferência variaria de acordo com o nível de proficiência dos sujeitos, tanto durante a leitura de palavras como na de não-palavras. Foram, então, computados os processos de transferência relativamente mais utilizados pelos diferentes grupos de participantes na totalidade das palavras, de acordo com o nível de proficiência dos mesmos na língua inglesa. As freqüências relativas de utilização dos nove processos constituíram o conjunto de variáveis dependentes, e o nível de proficiência dos alunos, estratificados em 4 níveis de proficiência, foi considerado como a variável independente. 3. Resultados Uma vez definidos os objetivos, os dados foram analisados. A comparação entre os níveis foi feita por meio da Análise de Variância com fator único, cujos resultados revelaram que a freqüência de utilização dos processos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 variou significativamente (p < 0,01) em função do nível de proficiência, corroborando a hipótese, ao passo que o processo 9 não variou significativamente em função dos níveis de proficiência (p = 0,012). Na tabela I os processos encontram-se agrupados em ordem decrescente de utilização pelos sujeitos. Tabela I - Utilização dos processos nos 4 níveis de proficiência na leitura de palavras Níveis de proficiência 3 O teste de recodificação de palavras e não-palavras em língua inglesa foi adaptado de Plaut et al. (1996) e é constituído de 44 palavras, sendo 22 de alta freqüência (regulares: fact, him, page, see, soon, stop, tell, week, will, with, thing,; exceção: the, does, foot, move, pull, put, says, want, watch, were, word) e 22 de baixa freqüência (regulares: beam, bus, lunch, deed, peel, ripe, slam, sleep, stunt, wake, wing, wit; exceção: doll, flood, pear, pint, sew, spook, wand, wash, wool, worm), além de 20 não-palavras, que foram incluídas no instrumento para verificar se os sujeitos generalizariam o conhecimento da correspondência grafema -fonema da L2 na leitura das não-palavras.

Processos 1 2 3 4 Epêntese de [g] (P9) 88,0% 93,0% 92,6% 76,7% Deslateralização (P6) 89,7% 72,8% 77,0% 54,4% Desaspiração (P5) 84,3% 70,7% 66,0% 50,5% Assim. Vocálica (P8) 41,5% 34,3% 29,2% 20,5% Dessonorização (P3) 22,9% 22,2% 19,6% 18,5% Vocaliz. Nasal Final (P7) 19,3% 12,3% 4,9% 2% Mudança Conson. (P4) 13% 7% 7% 3% Simplifi. Enc. Cons. (P1) 16,7% 5,3% 2,9% 0% Schwa Paragógico (P2) 13,5% 3,3% 2,4% 0,7% A análise ANOVA (F(3,152)= 10,26, p = 0,0001) revela que o percentual de ocorrência do processo de desaspiração diminuiu significativamente à medida que o nível de proficiência dos sujeitos aumentava. Além disso, um olhar mais detalhado sobre os dados dos participantes que pouco utilizaram esse processo revela que apenas um participante (suj. 68), no nível 4, não fez uso dele em nenhuma palavra, e 3 sujeitos (nos níveis 4, 3 e 3, respectivamente) utilizaram-no apenas uma vez. Nota-se que esses desempenhos ótimos estão localizados nos níveis mais altos de proficiência, embora uma taxa de uso de 55% entre todos os participantes de nível avançado pareça indicar que a maioria deles ainda não percebe o contraste entre a aspiração e não aspiração de plosivas surdas iniciais. No quesito não-palavras, a hipótese formulada foi refutada, pois a taxa de utilização da maioria dos processos NÃO variou em função do nível de proficiência dos sujeitos. A exceção ficou por conta dos processos 1 e 6, que apresentaram variação significativa no nível de 0,01- entre alguns níveis na recodificação de não-palavras (tabela II). Tabela II - Utilização dos processos nos 4 níveis de proficiência na leitura de não-palavras Processos Nível de proficiência 1 2 3 4 Deslateralização (P6) 80,7% 68,4% 66,7% 42,2% Desaspiração (P5) 84,4% 75,8% 70% 62.7% Assim. Vocálica (P8) 72,9% 71,7% 69,7% 70% Dessonorização (P3) 37,5% 34,1% 32,4% 31,1% Mudança Conson. (P4) 10,3% 7,8% 7,7% 6,3% Simplif. Enc.Cons. (P1) 26% 7% 8,8% 0% Scwha Paragógico (P2) 12,5% 7,2% 9,7% 7,7% O processo de desaspiração foi o que apresentou maior freqüência de utilização relativa na recodificação de não-palavras e, apesar de ter tido um aumento de 7% na sua taxa de utilização, sua prevalência, consistência, e decréscimo de utilização de nível para nível assemelharam-se bastante ao que ocorreu na leitura de palavras. Tendo em vista a comparação entre a freqüência relativa de utilização dos processos empregados pelos sujeitos em diferentes grupos de proficiência durante a leitura de palavras e de não-palavras, foi feita uma hierarquia dos principais processos a incidirem quando da recodificação leitora de palavras e nãopalavras (Zimmer, 2004a). Assim, os quatro processos de transferência considerados como os maiores geradores de desvios de pronúncia durante a recodificação leitora no INA são os processos de alta freqüência: o de assimilação vocálica, o de deslateralização, o de desaspiração de plosivas surdas em posição inicial, e o de epêntese de [g] depois de nas al velar. Esses processos foram submetidos a uma análise complementar, considerando as freqüências de ocorrência em relação aos diferentes grupos e aos tipos de palavras regulares de alta freqüência, regulares de baixa freqüência, exceção de alta freqüência e exceção de baixa freqüência. Observou-se, através de uma análise de medidas repetidas de variação, que a taxa de ocorrência do processo de desaspiração, tal como a dos processos 8 (MV) e 6 (DL), também foi fortemente influenciada pelo aumento no nível de proficiência (F(3,152)=8,728, p = 0,000). Além disso, o tipo de palavra exerceu um efeito estatisticamente significativo na utilização do processo de NA (F(1,152)= 32,942, p = 0,000).

Conforme pode ser verificado no gráfico abaixo (fig. 7), houve também um efeito de interação entre nível de proficiência e tipo de palavra: F(3,152)= 2,861, p = 0,039 (p < 0,05). Talvez a interação observada explique porque não se possa chegar a uma conclusão confiável sobre qual dos dois fatores a regularidade ou a freqüência das palavras tenha afetado mais a prevalência do processo. 4. Conclusão Tendo em mente o fato de que fatores prosódicos, provavelmente os maiores responsáveis pela geração de sotaque, não foram contemplados neste estudo, percebe-se que os resultados advindos da tarefa de leitura de palavras e, principalmente, não-palavras podem estar relacionados a uma maior ativação do conhecimento fonético-fonológico da língua materna na presença de itens desconhecidos, como já foi discutido. Embora se tenha partido do pressuposto de que a capacidade de produzir a leitura oral e a fala sem sotaque permaneça intacta durante toda a vida (Flege, 2002, 2003a, 2003b), sabe-se que a formação categórica de contrastes fonéticos da L2 é dificultada em razão da experiência lingüística do falante (Kuhl, 2000). Isso equivale a dizer que os aprendizes adultos podem não produzir a leitura oral e/ou a fala sem sotaque numa segunda língua porque seu sistema cognitivo foi largamente empregado na resolução de outros problemas incluindo, em particular, a compreensão e a produção de sua língua materna, uma vez que a percepção de categorias acústico-articulatórias da L1 enforma o espaço fonético do aprendiz. A criança, por sua vez, provavelmente alcança um melhor desempenho porque seu sistema cognitivo não está, ainda, totalmente entrincheirado no conhecimento da L1. Chega-se, então, a uma formulação conexionista da transferência lingüística como sendo o processo de entrincheiramento do conhecimento lingüístico prévio da L1 e de outras línguas estrangeiras a que o aprendiz tenha sido exposto que modula a percepção e a produção dos fones da L2. Importa destacar, ainda, as implicações pedagógicas da formulação acima para a aprendizagem da L2. Talvez a afirmação de Kuhl e Iverson (1995) para quem a transferência do conhecimento lingüístico da língua materna só pode ser superada mediante a exposição massiva ao input com características acústicas exageradas, para que o falante consiga ouvir os contrastes fonéticos da fala sirva como um indicador de que a questão do ensino explícito da pronúncia na aula de língua estrangeira deve ser encarada com seriedade pelos professores de língua estrangeira. RESUMO Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa sobre o processo de desaspiração de plosivas surdas iniciais entre 156 estudantes de inglês (L2) de níveis de proficiência básico, intermediário, préavançado e avançado durante a leitura oral de logatomas e de palavras regulares e exceção de alta e de baixa freqüência. PALAVRAS-CHAVE: transferência L1-L2, desaspiração de plosivas surdas iniciais, pronúncia do inglês (L2). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBANO, Eleonora Cavalcante. O gesto e suas bordas: esboço de fonologia acústico-articulatória do português brasileiro. Campinas: Mercado de Letras, ALB, Fapesp, 2001.. A pulsação sob a letra: pela quebra de um silêncio histórico no estudo do som de fala. Cadernos de Estudos Lingüísticos, v. 42, 2002. BEST, Catherine, McROBERTS, G. e GOODELL, E. Discrimination of non-native consonant contrasts varying in perceptual assimilation to the listener s native phonological system. Journal of the Acoustical Society of America, v. 110, p. 489-503, jul. 2001. FLEGE, James Emil. Interactions between the native and second-language phonetic systems. In: Burmeister, P., Pirske, T. e Rhode, A. An integrated view of language development: papers in honor of Henning Wode. Trier: Wissenschaftliger Verlag, 2002, p. 217-243.. Assessing constraints on second-language segmental production and perception. In Meyer, A. e Schiller, N. Phonetics and phonology in language comprehension and production: differences and similarities. Berlin, Mouton, 2003a.. Factors affecting degree of foreign accent in a second language. Palestra proferida no Department of Pscyhology, Carnegie Mellon University, 10 de fev. 2003b. JENKINS, Janet. The role of transfer in determining the phonological core. In:.The phonology of English as an international language: new models, new goals. Oxford: OUP, 2001, p. 99-119.

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