Eixo Temático: Tecnologias CICLOVIAS COMO ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL PARA A MOBILIDADE URBANA UM ESTUDO DE CASO DO MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO BONITO - SP Lidia Moura 1 Cynthia Akemi 2 Luiz Eduardo Moschini 3 RESUMO: A expansão urbana implica no aumento de transportes motorizados individuais, porém a mudança no padrão de mobilidade nas cidades se mostra cada vez mais necessária quando pensamos em qualidade de vida e qualidade ambiental. Muitas vezes, tal expansão acontece com a ausência de planejamento acarretando em diversos impactos negativos de ordem socioambiental. As geotecnologias são eficazes ferramentas para fins de planejamento e gestão de ambientes urbanos além de estarem cada vez mais acessíveis a gestores e analistas ambientais. Neste sentido, visamos analisar a viabilidade da utilização de SIG para o planejamento de uma rede cicloviária de um município com tendências a expansão, considerando as características em extensão de arruamentos em conjunto com o perfil observado de alguns habitantes entrevistados com fins de propor um fator que leve ao desenvolvimento sustentável da mobilidade urbana. Palavras-chave: Geoprocessamento. Sustentabilidade. Mobilidade Urbana 1. INTRODUÇÃO A mobilidade urbana é uma necessidade inerente à dinâmica das cidades, uma vez que está relacionada à satisfação de necessidades como trabalho, estudos, lazer, movimentação de bens, entre outras. Conforme observado por Mancini (2011), a tendência à expansão urbana em conjunto com a cultura de utilização de veículos automotores individuais dão origem a diversos problemas que configuram em desafios aos gestores e planejadores do ambiente urbano. Considerando esta tendência, as estruturas urbanas também tendem a priorizar esta demanda, deixando de considerar em seu planejamento alternativas que visem a acessibilidade e a mobilidade de forma sustentável, principalmente através do uso de transportes não motorizados. Sem a inclusão destas alternativas, há uma provável restrição na mobilidade por parte dos atores sociais, os quais mesmo se optam pelo transporte não motorizado podem encontrar dificuldades nessa opção. O padrão de mobilidade centrado no transporte motorizado individual se mostra insustentável, tanto no que se refere à proteção ambiental quanto no atendimento das necessidades de deslocamento que caracterizam a vida urbana. A resposta tradicional aos 1 Discente em Gestão e Análise Ambiental. lidia2moura@gmail.com 2 Discente em Gestão e Análise Ambiental. cy_akemi@hotmail.com 3 Docente do Departamento de Ciências Ambientais. lemoschini@ufscar.br
problemas de congestionamento, por meio do aumento da capacidade viária, estimula o uso do carro e gera novos congestionamentos, alimentando um ciclo vicioso responsável pela degradação da qualidade do ar, aquecimento global e comprometimento da qualidade de vida nas cidades (aumento significativo nos níveis de ruídos, perda de tempo, degradação do espaço público, atropelamentos e stress) (MMA, 2015). A mobilidade urbana sustentável, para Brasil (2007), deve ser pensada como o resultado de um conjunto de políticas de transporte e circulação que visam proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, através da priorização dos modos de transporte coletivo e não motorizados de maneira efetiva, permitindo a possibilidade de escolha do modo de transporte, de forma eficiente e segura, em consonância com a saúde humana e sem prejuízo aos ecossistemas. Esta nova abordagem tem como centro das atenções o deslocamento das pessoas e não dos veículos, considerando, especialmente, aquelas que possuem restrição de mobilidade. Dessa forma, promove-se o incentivo da utilização de meios alternativos de transporte, levando a uma minimização das emissões gasosas, resíduos e redução do uso de recursos nãorenováveis; melhora do bem estar social e da qualidade de vida urbana. Tais benefícios caracterizam uma extensão do conceito de desenvolvimento de uma cidade sustentável, visto que garantem o acesso a direitos fundamentais com o menor impacto possível. Além disso, o conceito de sustentabilidade deve ir muito além das necessidades de resposta aos fluxos de tráfego rodoviário e seus impactos. Nesse sentido, visando a tendência de expansão urbana no município de Ribeirão Bonito o presente trabalho pretendeu avaliar as potencialidades para implementação de uma ciclovia na malha urbana, visando interligar as principais áreas de convivência e de atividades cotidianas da população com a utilização de um sistema de informação geográfica. 2. MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia da pesquisa foi pautada em revisão bibliográfica do tema para caracterização da área de estudo e refinada através da utilização do Sistema de Informação Geográfica (ArcGis) para levantamento de dados sobre o meio físico, de forma a integrar as informações que serviram de base para elaboração dos mapas e interpretação do uso espacial em relação a demografia e arruamento urbano. A metodologia também contou com uma visita técnica para análise do objeto de estudo, entrevistas semiestruturadas com a população e compilação de resultados para avaliação dos critérios analisados de forma a interrelacionar o levantamento do meio físico para fins de proposição das ciclofaixas com os interesses dos habitantes. A aplicação do questionário contou a participação de 22 moradores sendo que desta desconsiderou-se a renda e a região habitada. Neste foram levantados dados acerca da forma de
locomoção pela cidade, se a cidade é sinalizada de forma eficaz, se há alta frequência de acidentes e, por fim, se seria conveniente à implementação de áreas destinadas a ciclovias no município e se sim, quais as ruas sugeridas. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com a sobreposição dos mapas de densidade demográfica urbana e arruamento, representado pelo mapa abaixo (Figura 1), pode-se observar claramente que a distribuição de ruas no município ocorre na parte com maior densidade populacional. O padrão de distribuição observado foi que na região central a maior parte da densidade é de 2 a 20 habitantes por hectare com a maior parte das ruas pavimentadas, diferenciando dos dois setores urbanos localizados nas extremidades superiores do mapa, que apresentam densidade populacional de 20 a 91 habitantes por hectare nas áreas de arruamento, as quais apresentam boa parte de suas vias sem pavimentação. Ao todo, são 8,36 quilômetros de ruas não pavimentadas e 32,28 quilômetros de ruas pavimentadas. Para fins de análise da mobilidade urbana, identificamos os principais locais de interesse para a circulação urbana, tais como hospitais, praças e igrejas. No município, foi observado que há uma concentração desses pontos na região central da cidade, como já era esperado diante da distribuição da densidade populacional (Figura 2). Figura 1. Densidade Urbana e Distribuição do Arruamento do Município. Figura 2. Locais de Referência à Mobilidade Urbana do Município.
Dentre as pessoas entrevistadas, apenas uma pessoa foi contrária à ideia da ciclovia alegando falta de planejamento prévio, o que poderia acarretar em dificuldades na alocação de espaço. Este é mais um argumento favorável ao planejamento urbano e ao replanejamento. Como já era esperado, 13 pessoas se locomovem pela cidade usando veículos automotores. Do total, 15 pessoas apontaram que as vias não são bem sinalizadas, o que acarreta em uma frequência intermediária de acidentes de trânsito, sendo este um problema a ser apontado aos gestores públicos para futuro planejamento da expansão da malha urbana principalmente no que tange a implementação de estrutura para uma rede cicloviária, visando a maior segurança dos habitantes e assim estimulando-os a utilizar bicicleta como meio de transporte. Com base nos resultados, propomos uma rede cicloviária (figura 3) de forma a interligar as principais áreas de atividades cotidianas dos habitantes. Também foi considerada a extensão que compreende vias não pavimentadas no município e que contém alta densidade populacional (a oeste do município), de forma que a estrutura cicloviária esteja inclusa no planejamento de pavimentação destas vias. No total, somam-se cerca de 3 quilômetros em ciclovias propostas na malha urbana no município, incluindo a expansão de uma ciclovia que foi pontuada como já existente na entrada oeste Figura3. Proposta de uma Rede Cicloviária no Município.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ISSN 2358-8012 Pode-se concluir que, atualmente, não é usual a utilização de bicicletas para mobilidade urbana neste município, fato que pode ser explicado pela falta de estrutura para esta finalidade. Logo, quando o município se propuser a oferecer tanto estrutura quanto segurança para esta alternativa de mobilidade, a tendência, com base nos resultados das entrevistas, será atrair cada vez mais pessoas para se locomoverem com bicicleta, resultando em um passo inicial no planejamento urbano para a construção de uma cidade sustentável. É imprescindível que estudos posteriores sejam efetuados para maior precisão no planejamento de mobilidade urbana sustentável no município, levando em conta outros aspectos como a instalação de bicicletários, sinalização no trânsito, ações de conscientização, adequação do sistema viário em relação à sua infraestrutura, escolha do tipo mais adequado de ciclovia ou ciclofaixa e estratégias de integração com o transporte público. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério das Cidades. Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável: Princípios e Diretrizes. Brasília. 2004. MANCINI, Marcelo Tadeu. Planejamento urbano baseado em cenários de mobilidade sustentável. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. 2011. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Mobilidade Sustentável. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/urbanismo-sustentavel/mobilidadesustent%c3%a1vel>. Acesso em: 30/04/2015.