1 JURISPRUDÊNCIA Maria Helena Domingues Carvalho, Aluna do 9º. Semestre do Curso de Direito do CEUNSP noturno. RESUMO: Este artigo trata da Jurisprudência, seu conceito e sua relevância no universo jurídico. Palavras-Chave: Jurisprudência Direito - Decisões 1 CONCEITO Jurisprudência é a derivação da conjugação dos termos em latim jus, que quer dizer Direito e prudentia - sabedoria. Modernamente, entende-se por Jurisprudência como a sábia interpretação e aplicação das leis a todos os casos concretos que se submetem a julgamento da justiça. Ou seja, o hábito de interpretar e aplicar as leis aos fatos concretos, para que assim, decida-se as causas. A Jurisprudência não se forma por decisões isoladas, mas sim após de uma série de decisões no mesmo sentido. A grosso modo, pode-se dizer que precedente é uma única decisão em determinado sentido. O resultado da Uniformização de Jurisprudência dá origem à SUMULA, sendo que esta condensa uma série
2 de acórdãos que adotam idêntica decisão. A Jurisprudência e a Súmula, não tem aplicação obrigatória, sendo que os Juízes são livres para decidir conforme suas convicções, mas as Súmulas têm forte caráter persuasivo e, ante a sua existência têm sido seguidas à risca. Conste-se como demonstrações as seguintes súmulas: SÚMULA Nº 234 STJ: A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia. SÚMULA Nº 723 STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano. SÚMULA VINCULANTE Nº 25 : É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. 2 IMPORTÂNCIA DA JURISPRUDÊNCIA NO MUNDO JURÍDICO A revelação da importância da Jurisprudência como Fonte do Direito na Brasil demonstra o objetivo de implementar-se um sistema de súmulas vinculantes, onde as reiteradas decisões dos tribunais superiores teriam força de lei, obrigando os juízes das instâncias inferiores a decidirem conforme o entendimento jurisprudencial dominante. Intenta-se aplicar no Brasil o princípio básico do direito anglo-saxão, dando ao precedente judicial força de lei, não mais estando a jurisprudência em um patamar secundário como fonte de direito. Esta evolução é conseqüência de um processo histórico que vem prestigiando, mais e mais, as decisões judiciais em países que tinham, até certo momento, a lei como fonte única e suprema do Direito. Sistemas em que a jurisprudência apresenta-se como a grande responsável pela adequação do direito escrito e inerte, aos anseios sociais que se modificam e se agigantam na medida em que as sociedades experimentam rápidos avanços econômicos e tecnológicos, as relações jurídicas deixam de ter as características individualistas para apresentarem-se como relações de massa, relações jurídicas em que os princípios de ordem individual, representado pela máxima do pacta sunt servanda, não mais servem de instrumento capaz de realização da justiça. A jurisprudência, tem servido como instrumento de modernização e aproximação do direito escrito à realidade social vivida pelos países de influência marcadamente positiva. Portanto, mostra-se cada vez mais clara esta influência de
3 um dos pilares do Direito anglo-saxão nos sistemas de direito escrito. O que se observa, é que a Jurisprudência cumpre um papel de muito maior relevância do que se possa pensar através de uma análise da história do desenvolvimento do direito. A Jurisprudência é de importância fundamental nos sistemas de direito escrito, principalmente como agente de adequação do direito às evoluções sociais e econômicas. Essa importância faz-se mais perceptível quando analisados casos em que, determinadas áreas do direito foi a Jurisprudência que criou as normas a serem aplicadas, como no caso da teoria da responsabilidade civil. John Gilissen em seu livro Introdução Histórica ao Direito, faz importante referência quando comenta sobre as fontes do direito a partir do século XIII: Os precedentes desempenham sempre uma importante função na atividade judiciária. Quando um tribunal já tiver resolvido uma dificuldade, procurará aplicar a mesma solução se lhe submeterem novamente a mesma dificuldade. Primeiro porque a solução é a solução de facilidade para os juízes. Mas também e sobretudo por necessidade de certa segurança jurídica: os particulares têm o direito de esperar que um mesmo tribunal decida sempre a mesma dificuldade de uma maneira idêntica. A doutrina vem reconhecendo a importância da Jurisprudência nos sistemas de direito escrito, reconhecendo seu lado criador de normas jurídicas, não mais a encarando meramente como fonte subsidiária do direito destinada somente a preencher lacunas deixadas pela lei. O mestre brasileiro Vicente Ráo corrobora este entendimento quando afirma: Haveria paradoxo em se atribuir aos juízes a função de suprir as lacunas da lei e não querer reconhecer uma função criadora do direito subsidiário, criação que, até sobreviver lei em contrário, se mantém e se perpetua pela força própria do princípio que reclama julgado igual para casos iguais. A Jurisprudência, interpretando os textos legais, cria verdadeiramente direito novo. No Brasil, o desenvolvimento da teoria da responsabilidade civil, principalmente a objetiva, teve seu desenvolvimento realizado pela Jurisprudência. Vicente Ráo manifesta-se assim sobre esse tema: A jurisprudência quando se afirma em certo sentido e se revela por modo constante, atua de fato, como se fora um direito normativo, porque os juízes sempre se aplicam aos novos casos concretos. Na prática, um processo ajuizado por uma pessoa física ou jurídica, em primeira instância tem uma decisão que se chama sentença: é o precedente. No mesmo instante, diversas outras pessoas entram com processos discutindo o mesmo assunto. Os processos julgados em primeira instância farão Jurisprudência que serão referências, apenas, para outros julgamentos. Tais decisões serão objetos de recursos e, julgados pelos tribunais, formarão novas decisões que serão a
4 Jurisprudência destes tribunais (por exemplo, Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Tribunal de Justiça do estado de Pernambuco etc). Caso sejam possíveis novos recursos, estes processos poderão ser encaminhados para o Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, e, finalmente, para o Supremo Tribunal Federal, também em Brasília, formando, em cada um destes tribunais, suas próprias Jurisprudências. 3 JURISPRUDÊNCIA COMO FONTE DE DIREITO Não se pode negar o caráter normativo da jurisprudência. A Jurisprudência, para Diniz (apud KIETZMANN), se constitui em importante fonte de Direito, porque influencia na produção de normas individuais e participa da produção do fenômeno normativo, apesar da sua maleabilidade. Se tomarmos como ponto de partida a literalidade das leis existentes e seus significados expressos, à jurisprudência resta atuar tão somente no que vamos chamar de margem interpretativa. Assim, excluindo-se todos os dispositivos legais que não admitem, em tese, interpretação, a jurisprudência poderá atuar tão somente na matéria residual de todo o sistema normativo, suprindo a lei sempre que se verifique omissão ou possibilidade abstrata de entendimentos divergentes. É pacífico que a jurisprudência possui natureza jurídica de incidente. Nas palavras de Greco Filho (apud KIETZMANN), o entendimento dominante (...) é o de que a uniformização de jurisprudência é apenas um incidente de recurso ou processo de competência originária dos tribunais. CONCLUSÃO Tem-se reconhecido cada vez mais a importância da jurisprudência no ordenamento jurídico pátrio, principalmente quando se discute alternativas para desembaraçar o Poder Judiciário. Assim, podemos considerar a tendência de atribuição de eficácia aos precedentes jurisprudenciais, a exemplo da Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004, que instituiu a súmula vinculante, a ser emitida pelo Superior Tribunal Federal, e do regimento interno de
5 diversos tribunais brasileiros, que tem vetado a seus membros a adoção de tese contrária à súmulas (KIETZMANN, 2005). A uniformização jurisprudencial, vem para que casos iguais não sejam julgados diferentemente entre câmaras de um mesmo tribunal. Visa o instituto, como bem salientou Vigliar (apud KIETZMANN, 2006) não apenas otimizar a prestação jurisdicional, mas preservar os valores SEGURANÇA, IGUALDADE, ECONOMIA e RESPEITABILIDADE nas relações entre o Estado e o Jurisdicionado. REFERÊNCIAS BRASIL. SÚMULA Nº 234 STJ: A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia. BRASIL. SÚMULA Nº 723 STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano. BRASIL. SÚMULA VINCULANTE Nº 25 : É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. GAZALLE, Gustavo Kratz. Importância da jurisprudência nos países de tradição jurídica continental européia. Disponível em http://www.ebah.com.br/gazalle-2000 KIETZMANN, Luís Felipe de Freitas. Da uniformização de jurisprudência no direito brasileiro. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8701&p=2 KIETZMANN, Luís Felipe de Freitas. Da uniformização de jurisprudência no direito brasileiro. Disponível em http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/view/18110/17674