CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES Niterói RJ: ANINTER-SH/ PPGSD-UFF, 03 a 06 de Setembro de 2012, ISSN 2316-266X



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Transcrição:

CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES Niterói RJ: ANINTER-SH/ PPGSD-UFF, 03 a 06 de Setembro de 2012, ISSN 2316-266X OS DESAFIOS DA EDUCAÇAO ESCOLAR INDIGENA ESPECÍFICA E DIFERENCIADA: UM OLHAR ATRAVÉS DAS ESCOLAS EBENEZER E MARAVILHA DO MUNICÍPIO DE BENJAMIN CONSTANT/AM Antonia Rodrigues da Silva Doutoranda do Programa de Pós- Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia da Universidade Federaral do Amazonas email: tonia@ufam.edu.br / toniabcam@yahoo.com.br Marinete Lourenço Mota Doutoranda do Programa de Pós- Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia da Universidade Federaral do Amazonas A educação escolar indígena, em princípio, objetivava levar os índios a abdicar da sua cultura e da sua língua, contribuindo para aniquilar a diversidade étnica e cultural do Brasil. Ferreira (2001) apud Bergamaschi (2005), assinala que durante o período colonial o objetivo das práticas educativas [...] era negar a diversidade dos índios, ou seja, aniquilar culturas e incorporar a mão-de-obra indígena à sociedade nacional. Graças às lutas travadas historicamente, os povos indígenas conquistaram o direito de se manter como grupo étnico e cultural diferenciado, conforme apregoa a Constituição Federal de 1988. Este trabalho consiste na apresentação de parte da dissertação de mestrado, resultado da pesquisa realizada junto às escolas indígenas Tikuna 1 Ebenezer e Maravilha, situadas no município de Benjamin Constant, Alto Solimões AM. Esta pesquisa intitulada Identidade/Diferença Tikuna e o Processo Educativo Formal: um olhar através das escolas Ebenezer e Maravilha do município de Benjamin Constant/Am aprovada pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas teve como objetivo verificar se o ensino/aprendizagem nas referidas escolas está sendo desenvolvido no sentido de proporcionar aos índios Tikuna, 1 Ao longo do estudo me deparei com duas grafias diferenciais da palavra Tikuna (Ticuna e Tikuna), aqui optamos pela grafia com a letra K.

uma educaçao específica e diferenciada que possibilite a afirmação etnica e cultural daquele povo, como estabelece os ditames legais. A metodologia utilizada desenvolveuse por meio da pesquisa bibliográfica e da pesquisa de campo privilegiando como instrumentos a observação participante e a entrevista semi-estruturada e o uso do caderno de campo, gravador e máquina fotográfica. Como colaboradores participaram 34 pessoas (pais, professores (as), alunos (as), Cacique, Gestora, o Coordenador da Educação Escolar Indígena da SEMED e o Coordenador do Museu Maguta 2 ), selecionados com base nos seguintes critérios: ser índio Tikuna; ter envolvimento direto com a educação escolar indígena Tikuna e aceitar participar da pesquisa. A opção pelo povo Tikuna ocorreu, sobretudo pelo fato de convivermos cotidianamente com este grupo indígena nos diferentes contextos educacionais, sociais e culturais e por meio desta pesquisa tivemos mais uma vez o privilégio de sermos acolhidos pelos índios Tikuna de Benjamin Constant Alto Solimões (AM) para observar in loco a dinâmica da educação escolar. Os critérios adotados na seleção das escolas a serem pesquisadas levaram em conta: primeiro, ser uma escola que oferecesse o ensino fundamental completo e, segundo, que atendesse o nível elementar (anos/séries iniciais do ensino fundamental). Caracterizou-se como uma pesquisa do tipo etnográfica porque estivemos envolvidos diretamente no ambiente da pesquisa para conhecer o universo cultural da escola indígena Tikuna envolvendo o seu cotidiano, as rotinas, as práticas e as representações dos sujeitos e esse tipo de pesquisa exige uma efetiva participação do pesquisador no processo em termos de observação e interação com os atores sociais (OLIVEIRA, 2008 p. 74). O tratamento dos dados recebeu uma abordagem qualitativa porque nela a preocupação recai sobre a compreensão e interpretação do fenômeno por meio do universo de significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes (MINAYO, 2007 p. 21). Como as entrevistas com os alunos não foram bem sucedidas, porque eles ficavam bastante tímidos para falar sobre a questão que envolvia a escola, redirecionamos a estratégia de coleta de dados com aqueles sujeitos através de oficinas. Essa experiência foi rica, proveitosa e envolveram brincadeiras, momentos para eles expressarem sua opinião através da oralidade, da produção escrita e também de desenhos. A mudança do instrumento de coleta dos dados com os alunos foi importante para que pudéssemos atingir objetivo proposto. Com este texto, pretendemos tecer algumas considerações sobre os desafios enfrentados pelos índios Tikuna no 2 Museu da Cultura Indígena Tikuna em Benjamin Constant Alto Solimões (AM).

processo de efetivação da educação escolar indígena específica e diferenciada. A Educação Escolar Indígena conquistou nos últimos tempos, significativos avanços teóricos e legais, sobretudo, no campo das políticas públicas. Essa nova realidade deveria ter gerado, também, novas e produtivas práticas escolares, mas paradoxalmente, tem enfrentado sérios impasses e desafios para concretizá-la como uma educação específica e diferenciada. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 1996), ao assegurar as comunidades indígenas a utilização das suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem (Art. 32, parágrafo 3º do inciso IV), reconhece a singularidade dos povos indígenas e sinaliza para a necessidade da escola indígena diferencia. O povo Tikuna compreende um dos grupos indígena mais numeroso do Brasil que tem conseguido se manter como um grupo ético diferenciado, porque tem mantido viva a sua língua e muitos elementos da sua cultura. Frente ao exposto é perfeitamente possível assegurar que os índios Tikuna de Benjamin Constant vivem atualmente um novo tempo da educação escolar porque foi criação a categoria de escola indígena com currículo específico incorporando as disciplinas de Língua Tikuna e Arte e Cultura Tikuna, bem como a realização de concursos e processos seletivos para a contratação de professores Tikuna bilíngue. Todavia, é preciso registrar que ao lado dos significativos avanços no processo de mudança do velho paradigma educacional de educação tradicional, persistem muitos problemas como: a interpretação errônea do que seja a educação específica e diferenciada, inclusive pelos próprios índios. Assim, para que a educação seja específica e diferenciada, é preciso qualificar o sentido da escola diferenciada, ou seja, o povo Tikuna precisa definir o que é e como deve ser uma educação escolar específica e diferenciada e, para qualificar a escola, é necessário qualificar os professores. Sem negar ou desmerecer os relevantes trabalhos empreendidos pela OGPTB 3, que tem uma presença marcante no tocante a formação dos professores indígenas e na implantação da educação específica e diferenciada, ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas. Além disso, ainda pairam sobre os índios Tikuna o peso do preconceito e da discriminação por parte da sociedade dominante e, muitas vezes, por parte do poder público que insistem em não reconhecer, do ponto de vista prático, a especificidade dos índios Tikuna, dificultando assim, a concretização de uma educação diferenciada. Desta forma, os desafios que se impõem à consolidação de 3 ONG criada em 1986 e constituída juridicamente em 1994, com a finalidade maior de desenvolver ações no campo da educação escolar indígena, inicialmente com o povo Tikuna, atuando prioritariamente na formação dos professores.

uma educação específica, diferenciada, bilíngue, intercultural e de qualidade nas escolas Tikuna são de ordem interna e externa. Urge transformar as ideias em práticas, a consciência dos problemas em conscientização, ou seja, é necessário envidar esforços no sentido de buscar a superação destes entraves que ora ainda se fazem presentes no contexto escolar indígena. Como nos ensina Gadotti (2000), a ousadia de cada escola está em experimentar o novo e não apenas pensá-lo, ou seja, as discussões, reflexões e análises, devem levar à ação. REFERENCIAS BERGAMASCHI, Maria Aparecida. Educação escolar Indígena no século XX: da escola para os índios à escola específica e diferenciada. In: STEPHANOU, Maria; BASTOS Maria Helena Câmara (Orgs.). Histórias e memórias da Educação no Brasil. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2005. BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Programa Parâmetros em ação / Educação escolar Indígena: As leis da Educação Escolar Indígena. Brasília: MEC/SEF, 2002. CAPACLA, Marta Valéria. O debate sobre a educação indígena no Brasil (1975-1995): Resenhas de teses e livros. Brasília/São Paulo: MEC/MARIUSP, 1995. (Cadernos de Educação Básica. V.1) Cortez, 2005. CHIZZOTTI, Antônio. A pesquisa e seus fundamentos filosóficos. São Paulo: FRANCHETTO, Bruna. Notas em torno de discursos e práticas na educação escolar indígena. In: GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (Org.). Formação de professores indígenas: repensando trajetórias. Brasília: Mec, SECAD, 2006 (Coleção Educação para Todos; 8). FLEURI. Reinaldo Matias (Org.). Educação Intercultural: mediações necessárias. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

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