A DESIGNAÇÃO DE TERCEIRIZAÇÃO NA REVISTA CARTA CAPITAL

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Transcrição:

A DESIGNAÇÃO DE TERCEIRIZAÇÃO NA REVISTA CARTA CAPITAL Fernando Ramos Campos 1 UEMS Rosimar Regina Rodrigues de Oliveira UEMS/FUNDECT/CNPq Resumo Neste trabalho procuramos apresentar uma análise do sentido do nome terceirização, em um artigo de opinião, da revista Carta Capital, escrita por Rui Daher, colunista da revista, publicado no dia 24 de abril de 2015. Esta pesquisa justifica-se em virtude de duas razões, a primeira delas é a série de questionamentos levantados pelos trabalhadores, a respeito do tema terceirização e a segunda é o projeto de lei que trata esse mesmo tema, cuja repercussão é negativa. O objetivo do trabalho é verificar como o vocábulo terceirização foi abordado nesse artigo da revista Carta Capital, com o intuito de verificar como o sentido se constitui nesse texto. Este trabalho tem como aporte teórico, para o desenvolvimento da análise da expressão terceirização no acontecimento enunciativo, a semântica do acontecimento, conforme desenvolvida por Guimarães (2002, 2004, 2005, 2007, 2011). Palavras-chave: terceirização, direitos trabalhistas, semântica do acontecimento. Introdução Os debates no Congresso Nacional, acerca do projeto de lei que trata da terceirização tem produzido muita repercussão na sociedade atualmente, em virtude da polêmica sobre o assunto no sentido de que, com 1 Graduando de Letras Português/Espanhol da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

sua aprovação, os trabalhadores perdem direitos trabalhistas conquistados desde o Governo de Getúlio Vargas. Uma vertente da discussão indica que com a aprovação do projeto de lei, os empresários teriam mais flexibilidade para contratar, uma vez que minimizaria seus gastos com funcionários, nos períodos de queda de lucros. Outra vertente indica que os trabalhadores perderiam garantias trabalhistas, tendo que se sujeitar aos interesses dos empregadores, sujeitando-se assim, a assinatura de contratos temporários. Diante dessas discussões, essa situação tem produzido uma grande preocupação para os trabalhadores, de modo geral, porque com a lei em vigor, eles teriam que se adaptar a uma nova concepção de trabalho, que poderia lhes trazer menos garantia e menor segurança no emprego, devido à falta de estabilidade empregatícia. Diante dessas considerações, objetivamos compreender como se dá o sentido do vocábulo terceirização no artigo publicado no dia 24 de abril de 2015, pelo colunista Rui Daher, na revista Carta Capital. Para tanto será desenvolvida a análise da designação de terceirização, nesse texto em que o colunista aborda o projeto de lei que trata da Lei da terceirização. Semântica do Acontecimento A teoria da enunciação, conforme desenvolvida por Guimarães, é uma posição particular que toma a linguagem na relação com a exterioridade enquanto historicidade e apresenta o conceito de enunciação caracterizando-o, socialmente. Sendo assim, a significação é histórica, não no sentido temporal, historiográfico, mas no sentido de que a significação é determinada pelas condições sociais de sua existência. Sua materialidade é esta historicidade (GUIMARÃES, 2005 p. 66). Nessa direção, o sentido de terceirização precisa ser analisado tendo como lugar de observação o enunciado que deve ser considerado na enunciação, no acontecimento da linguagem. Desse modo, analisar a significação do nome terceirização é apresentar a designação dessa palavra, o que só é possível observando-o nos enunciados em que ele ocorre, sendo que esses enunciados integram o texto em que está. Desse modo, para apresentar a designação de um nome, é preciso analisá-lo no texto.

Consideramos que a designação é a significação de um nome enquanto remetida ao real, ou seja, é algo próprio da forma como a enunciação produz certas relações entre os elementos linguísticos; da forma de significar o real na linguagem. Sendo assim, de acordo com Guimarães (2007, p. 82), só é possível particularizar, referir, porque as palavras designam, assim como no processo constante da designação, a cada vez que se refere, produzem-se as designações, então, a designação não é a forma de apresentar a referência, nem a referência está fora do sentido. Se podemos referir algo com o nome terceirização é porque a linguagem significa o mundo e é significada de tal forma que identifica esse nome em função de significá-lo pelas relações entre a linguagem e a história. Nessa relação, a designação somente pode ser apresentada a partir da relação de um nome com outros nomes, ou seja, dizer o que o nome terceirização designa é dizer com que outros nomes ele se relaciona ao estabelecer um Domínio Semântico de Determinação (DSD). É preciso considerar que a relação de determinação é construída na enunciação, no acontecimento da linguagem, pois não há nada na natureza de uma palavra que a especifique como determinante para qualquer outra. É nessa direção que a relação de determinação é estabelecida pelo modo como uma palavra ou expressão se relaciona com outras que a determinam. As relações de determinação apresentam o sentido de uma palavra ou expressão. Essas relações são representadas com a utilização de alguns símbolos específicos que compõem o DSD que são: ou ou ou (esses significam determina, por exemplo, retrocesso social terceirização, que se lê retrocesso social determina terceirização), que significa sinonímia; e o traço dividindo o domínio, na posição horizontal, significa a existência de antonímia. Por essas relações, analisar os sentidos da palavra terceirização é estabelecer o seu DSD, que deve apresentar o modo como essa palavra funciona no texto produzindo sentido(s). Guimarães (2007, p. 81) diz que o sentido não pode ser estabelecido a priori, mas há um real que a palavra significa. E as palavras têm sua história de enunciação. Elas não estão em nenhum texto como um princípio sem qualquer passado. É preciso, no desenvolvimento das análises, considerar a história de enunciação das palavras. Além disso, para estabelecer um DSD é preciso levar em consideração também dois procedimentos que são fundamentais nesse modelo de análise, são os procedimentos de articulação e reescrituração.

A articulação é uma relação própria da enunciação enquanto procedimento em que os sentidos são estabelecidos pelas relações de proximidade entre elementos linguísticos e também na relação do Locutor (que fala de um determinado espaço de enunciação) com a linguagem, por isso, essas relações são significadas na enunciação (GUIMARÃES, 2009). Esse procedimento se refere ao modo como o funcionamento de certas formas afetam outras que elas não redizem (Guimarães 2004a; 8). Quanto ao procedimento de reescrituração é aquele em que uma palavra rediz o que foi dito produzindo significação para o termo reescriturado. Ou seja, trata-se de uma relação de sentido em que uma palavra ou expressão ao se reportar a outra, reescriturar ou ser reescriturada, pode ser interpretada como diferente de si. Uma das características dessa operação é que a relação entre elementos normalmente se da à distância, podendo, eventualmente ocorrer por contiguidade. Diante dessas considerações, conforme Guimarães (2009, p. 54), fica caracterizado que, a reescrituração não opera com a identidade. [...] A característica da reescrituração está ligada a um aspecto fundamental: fazer sentido envolve sempre um diferente que se dá no acontecimento enunciativo. Terceirização: histórico e conceito da palavra Existem nas relações históricas da evolução humana diversas transformações nas relações de trabalho. Segundo Castro (apud Cruz, 2009, p. 323), terceirização trabalhista recebe outras denominações, tais como focalização, horizontalização. Cruz (ibidem) aponta que o termo terceirização surgiu durante o período da II Guerra Mundial, em virtude da necessidade do aumento de produção para atender a demanda de materiais bélicos. Ainda segundo os mesmos autores, no Brasil, o termo foi trazido por indústrias multinacionais, por volta da década de 1950, no intuito de conseguir contratar mão de obra com menores custos. Martins (apud Cruz, ibidem) menciona que a palavra terceirização é um neologismo 2. 2 Segundo o dicionário Aulete digital, neologismo significa uso de palavra ou expressão nova, ger. com base em léxico, semântica e sintaxe preexistentes, na mesma língua ou em outra.

O dicionário Aurélio em sua 7ª edição traz o significado da palavra terceirização, como atribuição a empresas independentes, de processos auxiliares à atividade principal de uma empresa. Essas observações nos permitem compreender que as palavras apresentam uma história de sentidos, mas que o seu sentido, no enunciado, precisa ser observado no funcionamento do texto. O sentido de Terceirização O artigo Lei das terceirizações é desejo patronal de ampliar lucros, selecionado para a análise nesta pesquisa, foi publicado na revista Carta Capital, no dia 24 de abril de 2015, por Rui Daher. Desenvolveremos nossa análise considerando cinco enunciados em que observamos, nesse acontecimento 3 (GUIMARÃES, 2002) algumas reescriturações da palavra terceirização. A primeira observação é que o nome terceirização ocorre desde o título reescriturado por Lei das terceirizações. Nesse caso, a terceirização está determinando lei. Vejamos as demais reescriturações: 1) Comparados aos benefícios celetistas, os efeitos da nova lei representam, sim, grande perda para os trabalhadores em estratos de baixa renda ; 2) Discute-se o Projeto de Lei 4330/04 que interfere na Consolidação das Leis do Trabalho, um avanço social criado por Getúlio Vargas, em 1943 ; 3) Na década de 1960, uma tia, já falecida, se habilitava como datilógrafa em firmas de recrutamento para trabalhos temporários ; 4) Globalização, menos valia chinesa, vantagens competitivas, outsourcings mal entendidos, estatísticas cegas, e outros vapores baratos tornaram a terceirização contraponto às contratações pela CLT ; 3 O acontecimento, conforme Guimarães (2011, p. 15), faz diferença na sua própria ordem, pois ele constitui uma temporalidade específica: funciona por estar no presente da formulação do locutor, além disso, projeta em si mesmo um futuro de sentidos e, por outro lado, tem um passado, enquanto memorável de enunciações; é esta temporalidade que o faz significar (OLIVEIRA, 2013, p. 46)

5) O que hoje se propõe, no entanto, é uma falácia, com origem na forma qualquer nota de calcular os encargos. O enunciado (1) comparados aos benefícios celetistas, os efeitos da nova lei representam, sim, grande perda para os trabalhadores em estratos de baixa renda apresenta uma posição contrária a terceirização, em virtude dos resultados negativos para os trabalhadores, nessa medida, terceirização está associada a interesse empresarial e concentração de renda. Além disso, o termo terceirização é reescriturado por nova lei, o que traz um sentido de algo novo. A reescrituração pela expressão nova lei, é antecedida pela palavra efeitos, que se traduz em consequências com a implantação do projeto. Por outro lado, marca também uma oposição às Leis Trabalhistas atuais, em virtude da aprovação da nova lei, a palavra efeitos marca uma mudança nas leis de trabalho praticadas atualmente, e eventuais prejuízos aos trabalhadores. A descrição acima nos permite apresentar o seguinte DSD: Concentração de renda Perda para os trabalhadores Nova lei Terceirização Interesse empresarial Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) benefícios para os trabalhadores Em (2) discute-se o Projeto de Lei 4330/04 que interfere na Consolidação das Leis do Trabalho, um avanço social criado por Getúlio Vargas, em 1943, a expressão Projeto de Lei 4340/04 está reescriturando a expressão terceirização. Está claro que não se trata de uma lei, pois ainda encontra-se em votação, portanto pode sofrer alterações ou não ser aprovada pelo Congresso Nacional. A expressão Projeto de Lei 4340/04, é seguida por que interfere na Consolidação das Leis do Trabalho, reforçando a

oposição à CLT que está qualificada como um avanço social criado por Getúlio Vargas, em 1943. Desse modo, sendo a CLT um avanço social e a terceirização uma interferência, então é possível observar o sentido retrocesso social determinando a palavra Terceirização. A análise acima nos leva ao seguinte DSD: Projeto de Lei 4340/04 Terceirização retrocesso social Avanço social Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) No enunciado (3) na década de 1960, uma tia, já falecida, se habilitava como datilógrafa em firmas de recrutamento para trabalhos temporários a terceirização está associada a trabalhos temporários. A relação com a história de vida de uma tia já falecida nos permite observar que o que se está sendo proposto hoje, já ocorreu no passado e não deu certo. A reescrituração apresentada como trabalhos temporários, é antecedida pela expressão recrutamento, que marca o modo como é apresentada a nova forma de relação de trabalho, porque recrutamento, pode significar, entre outras coisas, segundo o dicionário Aurélio: aliciar, angariar (adeptos, etc) 4. Ou seja, pode ser uma convocação para um determinado cargo, sem concurso ou seleção, tendo em vista que a relação de trabalho será por um período de tempo muito curto. Nesse sentido, não se faz necessário muita preocupação em contratar pessoas realmente qualificadas, o que pode resultar em, além da contratação de qualquer pessoa para realizar qualquer trabalho, ainda na falta de qualidade do trabalho realizado. Como se trata de trabalho temporário, afeta também a estabilidade no emprego. A análise acima nos possibilita apresentar o seguinte DSD: 4 Minidicionário Aurélio, 7. ed.

Recrutamento Terceirização falta de estabilidade no emprego O enunciado (4) Globalização, menos valia chinesa, vantagens competitivas, outsourcings mal entendidos, estatísticas cegas, e outros vapores baratos tornaram a terceirização contraponto às contratações pela CLT, apresenta vários termos como globalização, menos valia chinesa, vantagens competitivas e ainda outsourcings mal entendidos qualificados como vapores baratos, todos são processos utilizados a partir de 1990 com o objetivo de redução de custos com folhas de pagamento a partir da utilização da terceirização. Desse modo, todos esses termos determinam terceirização e sendo, todos eles, formas de redução de custos com folhas de pagamento, reforçam a oposição entre terceirização a Consolidação das Leis Trabalhistas. Enquanto a CLT garante muitos benefícios aos empregados a terceirização, por outro lado, busca garantir benefícios ao empregador. A análise acima nos leva ao seguinte DSD: Redução de custos com folha de pagamento Globalização Terceirização benefícios ao empregador Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) benefícios ao empregado Em (5) O que hoje se propõe, no entanto, é uma falácia, com origem na forma qualquer nota de calcular os encargos a terceirização reescriturada por falácia, em que a expressão falácia é antecedida por uma, ou seja, existem outras falácias e essa é uma, entre outras, relacionada a qualquer nota de calcular os encargos. Desse modo, o que interessa é a redução de encargos com trabalhadores, não importa

como. Busca-se, pois, a redução de custos com o trabalhador em favor do aumento dos lucros do empregador/empresário, sempre com vistas ao capital. Portando, a análise acima nos leva a seguinte DSD: Desvalorização do trabalhador falácia terceirização redução de encargos trabalhador Conclusão Pelas relações observadas na análise acima é possível observar que o sentido de terceirização se mantém, ao longo de todo o texto, enquanto oposição a Consolidação às Leis Trabalhistas e também ao trabalhador como é evidenciado no último DSD. A terceirização está significada também enquanto retrocesso social e perda de benefícios/direitos conquistados pelo trabalhador desde a criação da CLT. Além disso, nas relações apresentadas no texto, o trabalhador é totalmente desvalorizado, uma vez que há uma grande preocupação com a redução com gastos, como os encargos, em detrimento à importância do trabalhador e da qualidade do trabalho. Desse modo, a palavra terceirização está funcionando e sendo significada enquanto favorecimento à desigualdade social. Referências Bibliográficas

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