REDUÇÃO DE VANTAGENS TRABALHISTAS COMO MECANISMO DE COMBATE AO DESEMPREGO
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- Angélica Casado Lancastre
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1 REDUÇÃO DE VANTAGENS TRABALHISTAS COMO MECANISMO DE COMBATE AO DESEMPREGO Por: ; Docente da PUC-Minas em Poços de Caldas Gestão e Conhecimento, v. 3, n. 2, art. 2, março/ junho
2 REDUÇÃO DE VANTAGENS TRABALHISTAS COMO MECANISMO DE COMBATE AO DESEMPREGO (Mestra e doutora em Direito do Trabalho pela PUC/SP Professora de Direito do Trabalho da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais- campus de Poços de Caldas) A autonomia normativa dos atores sociais não poderá exercer-se sem limites. (Jean-Claude Javillier) O Direito do Trabalho como ramo específico do Direito, é regido por princípios especiais que se vinculam aos comandos legais de proteção aos destinatários da norma. A Teoria Geral do Direito, por sua vez, demonstra a necessidade do escalonamento normativo, em que uma norma constitui o fundamento de validade de outra. O vértice da pirâmide hierárquica normativa é a Constituição da República, sendo sucedida pelas leis complementares, ordinárias, delegadas, medidas provisórias, por atos emanados do Poder Executivo, e pelos diplomas dotados de menor extensão de eficácia, tais como os atos da autoridade judiciária, as convenções e acordos coletivos, usos e costumes, e o regulamento da empresa. Historicamente, o Direito do Trabalho sempre socorreu o mais fraco, o trabalhador, tendo contribuído para a reestruturação de nossas sociedades através da valorização da dignidade humana. Esta característica mantém-se até os dias atuais, não podendo ser abandonada, como também não é possível abandonar ao capital o destino do trabalho. Salienta-se a importância evolutiva do Direito do Trabalho, que se fez inserir no sistema jurídico como ramo do direito pós-moderno, em que a ousadia e a combatividade dos movimentos ditos progressistas Gestão e Conhecimento 2
3 conseguiram impor normas de proteção aos trabalhadores, que hoje representam a maioria da sociedade. Esse ramo do Direito, objetivando a melhoria das condições sociais do obreiro, possui como alicerce o princípio da proteção, que se desdobra no princípio da norma mais favorável ao trabalhador, também conhecido como princípio da hierarquia dinâmica das normas. Assim posto, quando existir duas ou mais normas sobre a mesma matéria, aplica-se, no caso concreto, a mais benéfica ao trabalhador. Sob esse aspecto, importa frisar que o vértice da pirâmide normativa será sempre a norma mais favorável ao trabalhador. Tem razão Mozart Victor Russomano quando afirma que o princípio da norma mais favorável é princípio solar do Direito do Trabalho contemporâneo, capaz de pôr em movimento toda a imensa estrutura social 1. De fato, o alcance do princípio da norma mais favorável não constitui somente método especial de interpretação, mas um princípio especial que inspira todas as normas do Direito do Trabalho e que deve ser levado em conta na sua aplicação, pertinente a todas as etapas históricas do Direito Laboral 2. Realmente, tal princípio decorre de outro mais amplo e especial do Direito do Trabalho, denominado princípio da proteção, e conforme doutrina Amauri Mascaro Nascimento: 1 RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Ed José Konfino; p A corrente de pensamento intitulada pós-positivista representa a superação dialética entre o positivismo e o jusnaturalismo. Com o pós-positivismo, os princípios adquirem o status de norma jurídica; desse modo, deixam de ser considerados como valores que se situam acima do direito positivo, como querem os jusnaturalistas, e também deixam de ser fonte meramente subsidiária de aplicação do direito, na visão positivista. Interessante observar que até o advento da teoria pós-positivista, a metodologia tradicional diferenciava princípios de normas, tratando-os como categorias pertencentes a tipos conceituais distintos, e à luz da nova doutrina, as normas, enquanto gênero, dividem-se em duas espécies: as regras e os princípios. A diferença, portanto, entre regras e princípios representa uma distinção entre normas baseada em diversos critérios. Se duas regras entram em conflito, uma delas não é valida. Já, o conflito entre princípios não conduz à extirpação de um deles do sistema. Admitem certo grau de compatibilidade mesmo se verificadas contradições em alguns pontos. Desse modo, se ocorrer conflito entre princípios, privilegia-se um deles, sem que o outro seja violado. Gestão e Conhecimento 3
4 a prevalência da norma favorável ao trabalhador é princípio de hierarquia para solucionar o problema da aplicação das normas jurídicas trabalhistas, quando duas ou mais operantes no caso concreto dispuserem sobre a mesma matéria, caso em que será precedente a que favorece o trabalhador 3. O encontro da regra mais favorável não deve ser feito com separação tópica, acumulando-se preceitos favoráveis ao obreiro. Ao contrário, o agente do direito, segundo a proposta da teoria do conglobamento, deve buscar a regra mais favorável enfocando globalmente o conjunto de regras componentes do sistema, não perdendo os sentidos lógico e teleológico que informam o fenômeno do Direito. Importante, entretanto, observar que o princípio da norma mais favorável não é absoluto, posto que leis proibitivas e de ordem pública podem vedar o tratamento mais benéfico ao hipossuficiente, ocorrendo a flexibilização do Direito do Trabalho. Na verdade, o sistema legal brasileiro tem sido objeto de flexibilização, sobretudo pela previsão constitucional vigente. Aliás, a negociação coletiva tem adquirido um status flexibilizador dos direitos laborais jamais alcançado, possibilitando até mesmo, acordos ou convenções coletivas que reduzam direitos conquistados através da via legal, a exemplo do art. 7, incisos VI, XIII e XIV da Carta Magna de De fato, a função da negociação coletiva no atual contexto socioeconômico não é somente obter melhores condições de trabalho, mas também administrar as crises por que passam as empresas. Necessário salientar que o Brasil, infelizmente, desenvolve-se desigualmente, com várias regiões e categorias profissionais 3 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Teoria Geral do Direito do Trabalho. São Paulo: ed. LTr.1998, p Gestão e Conhecimento 4
5 destituídas de sindicatos capazes de obter através da negociação coletiva 4, razoáveis condições de trabalho para os seus representados. O desemprego, por sua vez, constitui sem sombra de dúvida, o maior desafio mundial deste novo milênio. Em nosso país tal situação é agravada pelas condições estruturais e pelas hostes de pobreza decorrentes da desigualdade na distribuição de renda. Por razões metajurídicas, de natureza social e econômica, a realidade tem evidenciado a redução dos postos de trabalho, e como tentativa de preservação dos empregos, medidas legislativas têm sido tomadas, notadamente, na área trabalhista. Trilhando, assim, a dignidade do homem, o direito ao trabalho jamais deve dissociar-se do Direito do Trabalho, e para que isso ocorra, é preciso adaptar os instrumentos das novas ordens de prioridades e encontrar novos equilíbrios, lembrando sempre que a formação e a experiência do diálogo e da negociação coletiva são vertentes fundamentais a serem preservadas. A ordem jurídica, como é sabido, tem o dever de proporcionar e assegurar a dignidade da pessoa humana, que é um dos fundamentos do Estado Democrático do Direito (art. 1º, III, da Constituição da República de 1988). Desse modo, os sistemas legais constituem-se de normas gerais indisponíveis, que estabelecem um limite mínimo de proteção a todos os trabalhadores, abaixo do qual se proíbe qualquer negociação. Nesse sentido, esclarece Otávio Pinho e Silva que a legislação deve definir os parâmetros mínimos de regulação de qualquer tipo de trabalho, entretanto, o detalhamento do sistema de tutela dos trabalhadores deve dar-se por meio da autonomia dos particulares, pelo 4 Vale lembrar que a unicidade sindical encontra-se prevista no art. 8º, II, da Lei Maior vigente, ao proibir a criação de mais de um sindicato na mesma base territorial e na mesma categoria. Desse modo, o princípio da liberdade sindical fica totalmente prejudicado. Gestão e Conhecimento 5
6 incremento da negociação coletiva, em uma perspectiva de modernização promocional 5. Não se pode aceitar a revogação de direitos trabalhistas como justificativa de preservação dos postos de trabalho. É fundamental, portanto, que sejam abertos espaços para a negociação coletiva no que se refere à aplicação do Direito, permitindo-se alternativas de execução que não o desnaturem. Inconcebível a crença de que o Direito do Trabalho seja a única alternativa a ser utilizada para amenizar o desemprego, bem como o mercado de trabalho informal, os impactos das transformações decorrentes do avanço tecnológico, a competitividade entre as empresas, a globalização da economia e a necessidade de redução dos custos com o trabalho. Realmente, as instituições jurídicas não possuem condições de solucionar sozinhas tais questões, sendo indispensáveis que medidas econômicas de suporte à geração de empregos sejam associadas à reformulação do sistema de relações de trabalho, para que o jurídico e o econômico tenham uma convivência harmônica. Pois bem, as limitações do Direito do Trabalho como meio transformador da realidade social, quando desacompanhado de outros fatores de ordem econômica, política e cultural, elementares para a transformação das estruturas sociais, com os quais deve compor-se, serão barreiras instransponíveis para a realização da justiça social. Conclui-se que o conteúdo axiológico do Direito do Trabalho continua sendo a valorização do trabalho e como tal deve ser preservado. A história demonstra que a luta pela preservação de regras para o trabalho humano constitui a tônica da cidadania neste século. 5 SILVA, Otávio Pinho. A função do Direito do Trabalho no mundo atual. Curso de Direito do Trabalho. vol. I. Teoria Geral do Direito do Trabalho. São Paulo: Ed. LTr p.153. Gestão e Conhecimento 6
7 Perder esta conquista será, portanto, um enorme retrocesso, e na interpretação de normas trabalhistas esta dimensão não pode ser desconsiderada. Gestão e Conhecimento 7
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