Mara Behlau, Fabiana Zambon, Ana Cláudia Guerrieri, Nelson Roy e GVP(*) Instituições: Panorama epidemiológico sobre a voz do professor no Brasil



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Transcrição:

Mara Behlau, Fabiana Zambon, Ana Cláudia Guerrieri, Nelson Roy e GVP(*) Instituições: Centro de Estudos da Voz CEV, Sindicato dos Professores de São Paulo SINPRO-SP e University of Utah, EUA Panorama epidemiológico sobre a do professor no Brasil Palavras chave:, do professor, distúrbios da, sintomas INTRODUÇÃO: Professores têm na um recurso essencial para o bom desenvolvimento de seu trabalho. A literatura apresenta dados diversos de caracterização dos problemas de deste profissional, geralmente enfocando categorias de ensino ou instituições específicas (1). Uma importante pesquisa epidemiológica realizada nos Estados Unidos mostrou uma alta incidência de sinais e sintomas vocais em professores quando comparados com a população geral; verificou também que professores faltam mais ao trabalho devido a problemas vocais e consideram mais a necessidade de mudar de ocupação no futuro devido a um transtorno vocal (2;3). Um levantamento abrangente, de caráter nacional é necessário para se ter uma visão panorâmica da realidade brasileira, reduzindo-se os possíveis riscos de distorção de análises menores. Objetivo: Investigar a prevalência de problemas de em professores e na população em geral, com uma coleta em todos os estados do Brasil e analisar as características do aparecimento de uma disfonia e suas prováveis conseqüências. Métodos: A presente pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética do CEV Centro de Estudos da Voz (parecer 01-06). Foi usado um protocolo específico desenvolvido nos EUA (2) e testado previamente com participantes da cidade de São Paulo, para sua adequação (4). A coleta dos dados foi feita nos 27 estados brasileiros no período de julho de 2006 a maio de 2009, por 34 fonoaudiólogos treinados(*), responsáveis pelo levantamento estadual. A amostra foi calculada estatisticamente com base no senso de 2004, para ser representativa da população de professores brasileiros. Participaram da pesquisa 3265 indivíduos, 1651 professores (idade média: 40,1 anos) da rede básica de ensino (pública e privada), sendo 349 (20,8%) homens e 1308 (79,2%) mulheres; e 1614 não-professores (idade média: 37,1 anos) de diversas profissões (exceto a de professor), sendo 1101 (68,2%) homens e 513 (31,8%) mulheres. O questionário é composto de 35 questões fechadas e abertas que investigam os seguintes aspectos relacionados à : condições médicas em geral; hábitos; demanda vocal; sinais e sintomas de (rouquidão, mudança ou cansaço vocal após curto tempo de uso, problemas para cantar ou falar baixo, dificuldade para projetar a, dificuldade para cantar agudo, desconforto ou esforço para falar, monótona, garganta seca, dor na garganta, dificuldade para engolir, pigarro, gosto ácido e/ou amargo na boca e instabilidade ou tremor vocal) e a relação dos mesmos com o uso vocal profissional; o grau de limitação ou restrição de atividades de trabalho pela presença de um problema de ; características da organização e atividades de trabalho; presença de alterações vocais atuais ou passadas; busca por auxílio profissional devido a problemas vocais; absenteísmo

e/ou mudança de atividade profissional por alterações vocais; renda mensal; e previsão de necessidade de uma mudança futura de ocupação devido à presença de problemas de. Para o tratamento estatístico foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences 13.0) e adotado o nível de significância p < 0,001. Resultados Os principais resultados do estudo realizado estão nas tabelas de 1 a 4. Tabela 1. Distribuição numérica e percentual dos sintomas vocais passados, para professores e não-professores. Sintomas Passados Professores Não Professores Sim Não Sim Não n % n % n % n % p Rouquidão Cansaço Vocal Problemas para falar baixo Dificuldade para projetar a Dificuldade para cantar agudo Desconforto para falar Voz monótona Esforço para falar Garganta Seca Dor na garganta Pigarro Gosto ácido ou amargo na boca Dificuldade para engolir Instabilidade ou tremor na 1096 66,7 547 33,3 928 57,6 684 42,4 517 31,5 1125 68,5 171 10,6 1440 89,4 313 19,1 1328 80,9 186 11,6 1424 88,4 375 22,9 1265 77,1 177 11 1435 89 433 26,4 1207 73,6 311 19,3 1300 80,7 330 20,1 1312 79,9 115 7,1 1498 92,9 112 6,8 1527 93,2 39 2,4 1573 97,6 414 25,2 1227 74,8 132 8,2 1481 91,8 659 40,2 982 59,8 400 24,8 1213 75,2 575 35,1 1065 64,9 391 24,3 1221 75,7 509 31,3 1130 68,9 459 28,5 1154 71,5 283 17,3 1357 82,7 238 14,8 1375 85,2 128 7,8 1512 92,2 73 4,5 1539 95,5 206 12,6 1435 87,4 88 5,5 1525 94,5 0,105 0,052 Tabela 2. Distribuição numérica e percentual dos sintomas vocais atuais, para professores e nãoprofessores.

Sintomas Atuais Professores Não Professores Sim Não Sim Não n % n % n % n % p Rouquidão Cansaço Vocal Problemas para falar baixo Dificuldade para projetar a Dificuldade para cantar agudo Desconforto para falar Voz monótona Esforço para falar Garganta Seca Dor na garganta Pigarro Gosto ácido ou amargo na boca Dificuldade para engolir Instabilidade ou tremor na 672 41,2 959 58,8 237 14,8 959 58,8 601 36,9 1029 63,1 118 11,7 1416 88,3 377 23,2 1251 76,8 206 12,9 1397 87,1 437 26,8 1192 73,2 198 12,3 1407 87,7 496 30,4 1134 69,6 313 19,5 1292 80,5 391 23,9 1242 76,1 103 6,4 1498 93,6 128 7,9 1501 92,1 48 3 1554 97 487 29,9 1144 70,1 124 7,7 1478 92,3 743 45,5 890 54,5 344 21,4 1263 78,6 489 30 1142 70 199 12,4 1404 87,6 562 34,5 1068 65,5 397 24,7 1210 75,3 293 18 1337 82 214 13,3 1392 86,7 122 7,5 1509 92,5 62 3,9 1544 96,1 235 14,4 1397 85,6 91 5,7 1514 94,3 Tabela 3. Relação dos sintomas vocais com a atividade de trabalho, para professores e nãoprofessores Professores Não-Professores Sintomas Relação com o trabalho Relação com o trabalho Sim Não Sim Não n % n % n % n % p Rouquidão 832 82,2 180 17,8 134 19,3 559 80,7 Cansaço Vocal 621 92,8 48 7,2 86 41,7 120 58,3 Problemas para falar baixo 375 22,9 1265 77,1 177 11 1435 89 Dificuldade para projetar a 385 82,8 80 17,2 47 23,5 153 76,5 Dificuldade para cantar agudo 307 60,8 198 39,2 26 8,3 287 91,7 Desconforto para falar 386 90,4 41 9,6 41 33,9 80 66,1 Voz monótona 104 68,9 47 31,1 15 25,9 43 74,1 Esforço para falar 472 89,2 57 10,8 45 32,4 94 67,6 Garganta Seca 664 83,4 132 16,6 105 27,9 272 72,1 Dor na garganta 433 72,7 163 27,3 52 17,3 248 82,7 Pigarro 400 66,1 205 33,9 58 13,6 307 86,4 Gosto ácido ou amargo na 148 43,7 191 56,3 24 9,9 218 90,1 boca Dificuldade para engolir 62 37,3 104 62,7 10 11,6 76 88,4 Instabilidade ou tremor na 211 79,3 55 20,7 39 38,6 62 61,4 Tabela 4. Distribuição numérica e percentual sobre alterações vocais, mudança de atividade de trabalho e necessidade de mudança de profissão no futuro, devido a um problema vocal, em

professores e não-professores. Professor Não-professor Aspectos investigados Sim Não Sim Não p n % n % n % n % Relato de alteração vocal 1041 63,1 610 36,9 569 35,3 1045 64,7 Mudança de atividade de trabalho 259 15,7 1392 84,3 26 1,6 1585 98,4 Necessidade de mudança futura 276 16,7 1375 83,3 14 0,9 1597 99,1 Tabela 5. Distribuição numérica sobre absenteísmo no trabalho (em dias perdidos) devido à problemas de saúde e, dos professores e não-professores. Aspectos investigados Média de dias Professor Não-professor p Absenteísmo devido a problemas de saúde 13 8,8 Absenteísmo devido a problemas de 4,9 0,5 Discussão: Este levantamento epidemiológico nacional identificou características importantes das alterações e sintomas vocais em um grande grupo de professores, comparando os dados com a população em geral, em todos os estados brasileiros. Os resultados reforçam a alta freqüência de mulheres na docência (1308-79,2%) (2; 3; 5; 6; 7). Professores apresentaram uma maior ocorrência de todos os sintomas vocais (tabela 1 e 2), com significância estatística. Além disso, 35% dos professores relataram a presença elevada de cinco ou mais sintomas vocais, ressaltando a severidade de sua condição. Apenas pigarro e gosto ácido na boca no passado não apresentaram diferença significante entre os dois grupos estudados. Os professores relataram uma média maior de sintomas passados (3,6) e atuais (3,7) do que os não-professores (2,3 passados e 1,7 atuais; p ). Na pesquisa norte-americana (2) professores apresentaram uma média de 4,3 sintomas e não-professores 3,1, dado semelhante ao da pesquisa brasileira, o que reforça o fato dos professores trabalharem em situação de risco vocal e necessitarem de cuidados e melhorias nas condições de trabalho (8). A amostra de professores associou todos os sinais e sintomas ao uso vocal profissional (9), o que aconteceu apenas eventualmente para os não-professores (tabela 3), reforçando a natureza ocupacional dos problemas dos docentes. Na pesquisa norte-americana (2), professores também apresentaram mais sinais e sintomas em relação ao grupo controle, porém isso não aconteceu com todos os sintomas como na amostra brasileira. Um contingente expressivo de professores relatou ter tido problemas de em algum momento da vida (tabela 4), referindo ter sofrido limitações na funcionalidade vocal, percebendo que o som

da não soava como deveria, com interferências negativas na efetividade da comunicação pelo desvio vocal (63% de relato de problema; p) (10;11). Esse dado é preocupante e faz-nos reforçar a importância de implementar ações informativas, preventivas e de intervenção na grade curricular dos cursos de formação de professores. Um outro aspecto interessante é que professores brasileiros mudaram mais de ocupação ou atividade de trabalho no passado que nãoprofessores (9;10;12) ; além disso, quando pensam na necessidade de mudar de ocupação no futuro, por causa da (tabela 4), tanto professores brasileiros como norte-americanos consideraram mais esta possibilidade do que os não-professores, com diferença estatística nos dois estudos. Professores referiram ter perdido mais dias de trabalho no passado por problemas de saúde e de (10;11) que não-professores (tabela 5) o que expõe o problema do absenteísmo, trazendo prejuízos econômicos para o país, além de todas as conseqüências sócio-emocionais da interrupção do trabalho, tanto para o professor, como para o aluno (10;11;13). No estudo norteamericano, professores também deixaram mais de trabalhar por problemas de que nãoprofessores, o que pode indicar a natureza mundial deste problema. Os problemas relatados foram claramente semelhantes em todos os estados brasileiros, com algumas características interessantes (como por exemplo: maior relato de problema vocal no sudeste e menor no sul, maior absenteísmo e número de sintomas vocais no centro-oeste, menor número de sintomas vocais no sul) que merecem uma análise detalhada, considerando variações culturais regionais, diferenças sociais e políticas educacionais. A seriedade dos problemas de do professor, vivenciada diariamente nos serviços de atendimento fonoaudiológico e nas clínicas particulares, é revelada em números expressivos nesse levantamento de caráter nacional. Ações efetivas de prevenção e intervenção não podem ser mais adiadas. Conclusão: Professores apresentaram múltiplos sinais e sintomas vocais, relacionando tais alterações ao uso da no trabalho. Percebem ainda os importantes efeitos adversos de um problema de em seu desempenho profissional e antevêem limitações em seu futuro profissional, considerando inclusive a possibilidade de mudança de profissão. A situação pode ser considerada alarmante. (*) GVP Grupo Voz do Professor, colaboradores deste estudo: Andrade DG, Andrade C, Anhoque CF, Auad ARB, Balata P, Bigois AC, Costa EMF, Gomes DV, Gonsalves A, Guerrieri AC, Guimarães M, Ieglie DB, Lemos S, Lopes G, Machado J, Magalhães E, Martha RCB, Matos AGP, Osório AC, Pádua M, Paes C, Pelegino M, Perillo VCA, Querino H, Ricarte A, Rotondo S, Sales N, Salomão M, Sampaio M, Senna L, Serrão OS, Torres ML, Turczinski A, Zambon FC Referências: 1- Dragone ML, Behlau, M. A Fonoaudiologia Brasileira e a Voz do Professores: olhares científicos no decorrer do tempo. Fonoaudiologia Brasil 2006 4:6-8.

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