A Logística reversa: um panorama do mercado da reciclagem das garrafas PET no Brasil

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Transcrição:

A Logística reversa: um panorama do mercado da reciclagem das garrafas PET no Brasil ELIANE MARTINS DE PAIVA Universidade Federal de Paraíba elianempaiva@gmail.com MARCUS VINICIUS FERREIRA BATISTA Universidade Federal de Campina Grande elianempaiva@gmail.com

A Logística reversa: um panorama do mercado da reciclagem das garrafas PET no Brasil Resumo: A perspectiva principal desse trabalho é responder se existe um panorama positivo para a reciclagem do PET no Brasil. Diante dessa questão, os objetivos aqui postos tratam de fazer um apanhado histórico que permita delinear o panorama do mercado do PET no Brasil. Para cumprir tal objetivo, foi feito um estudo descritivo e quantitativo, permitindo conhecer aspectos relativos às características do ciclo reverso e levantar dados do mercado do PET. Essencialmente, foi feita uma pesquisa documental baseada nos Censos de Reciclagem do PET no Brasil publicado pela ABIPET Associação Brasileira da Indústria do PET, desde o ano de 2009. Foram analisados parâmetros como a evolução da reciclagem do PET no Brasil, comparação do mercado do PET, concentração do PET por região, comportamento do mercado do PET, comportamento dos preços, origem das garrafas e, finalmente o nível de dificuldade de acesso ao PET para reciclar. Esse banco de dados foi quem permitiu produzir os resultados dessa pesquisa. Preliminarmente, o estudo caracterizou o produto logístico objeto desse estudo, seu processo de reciclagem e suas vantagens. Finalmente, pontou que o mercado do PET está em amplo crescimento, apesar das dificuldades encontradas no setor devido à falta estruturação dos canais logísticos reversos. Palavras-chaves: logística reversa, PET, reciclagem Reverse Logistics: an overview of the recycling of PET bottles market in Brazil Abstract: The main perspective of this work is to respond if there is a positive scenery for the recycling of PET in Brazil. Faced with this question, the objectives presented has the function of making a historical overview that allows delineating the scenery of the PET market in Brazil. To fulfill this objective, a descriptive and quantitative study was done, allowing to know aspects of the characteristics of reverse cycle and collect data of the PET market. Essentially, a documental research was done based on the Census Recycling of PET in research published by ABIPET Brazil - Brazilian Association of the PET Industry, since the year 2009. Parameters such as the evolution of PET recycling in Brazil, comparison the PET market, concentration of PET by region, the behavior of the PET market, price behavior, origin of the bottles and finally the level of difficulty of access to PET to recycle were analyzed. This database allowed to produce the results of this research. Preliminarily, the study characterized the logistic product object of this study, the process of recycling and the benefits of recycling PET. Finally, he pointed out that the PET market is high-growth, despite the difficulties encountered in the industry due to lack of structuring reverse logistics channels. Key-words: Reverse Logistics, PET, recycling 1

1 Introdução Em tempos em que as preocupações ambientais, éticas e de responsabilidade socioambiental tem se elevado, um dos fatos que tem despertado grande interesse e preocupação nos indivíduos, grupos sociais e instituições é o impacto causado pelo crescente aumento no consumo e consequente descarte de produtos e materiais no meio ambiente. Apesar dessas preocupações, notadamente há um incentivo ao consumo, quando se constata que os produtos apresentam um ciclo de vida cada vez mais reduzido, que o mercado lança a cada estação novos produtos e novas marcas oferecem outras tantas alternativas de consumo. Em consequência, há um aumento da quantidade de itens nos canais de distribuição direto e esse panorama, prediz ao consumidor a descartabilidade dos bens..se por um lado, a sociedade tem sido conclamada a consumir de maneira consciente e responsável, por outro, as empresas devem incorporar novas estratégias de produção de modo a se enquadrar nessa nova exigência do mercado. Além da preocupação em adotar novas práticas de produção que minimizem os impactos negativos ao meio ambiente, elas devem repensar de que maneira alguns de seus produtos podem retornar à cadeia e como se dará a sua disposição final. O que se pretende é evitar que a descartabilidade dos bens se traduza em consequente prejuízo ao meio ambiente e à sociedade atual e futura. O grande questionamento volta-se para o fato de se definir o caminho pelo qual esses produtos seguirão quando terminar a sua utilidade, dado que eles, em sua grande maioria, não encontram canais de distribuições reversos de pós consumo devidamente estruturados, como afirma Leite (2003). Daí, que o descarte inadequado dos bens alcança os aterros sanitários, em lixões, em locais abandonados, em rios ou córregos, causando graves problemas ambientais. Sob essa perspectiva a implementação da Logística Reversa através dos seus diversos canais de distribuição reversos se insere como um meio para que uma parcela desses produtos, com pouco uso após a venda ou extinta a sua vida útil, readquiram valores em mercados secundários e retornem ao ciclo de negócios. A logística reversa, conceitualmente, trata do retorno de produtos, redução na fonte, reciclagem, reuso, substituição de materiais, disposição de resíduos, reforma, reparação e remanufatura, como afirma Stock (1998:20). Ou ainda, de forma sucinta pode ser entendida como o estudo do fluxo inverso, ao possibilitar o retorno de materiais e produtos aos centros produtivos, após sua venda e/ou consumo, agregando valores a eles. Dessa forma, a sua implementação traz como consequência um prolongamento dos canais de distribuição, antes considerados apenas os fluxos diretos. Portanto, a Logística reversa, tem por objetivo tornar possível o retorno. dos bens ou de seus materiais constituintes ao ciclo produtivo ou de negócios. (LEITE:2003). Com esse retorno há uma revalorização dos bens agregando valor econômico, ecológico e social, ao se planejar e operacionalizar as redes reversas desde o ponto de coleta até a reintegração ao ciclo. Embora toda a importância que se tenha atribuído à prática e adoção da logística reversa, uma constatação é fácil de notar, ainda há bastante que se considerar e estudar sobre o assunto que tem literatura especializada ainda limitada e por ser uma área relativamente nova e com um grande espectro a ser estudado. Na maioria das vezes esse assunto é tratado como uma visão do ambiente ou novas direções e responsabilidades da administração logística, porém sem ser dada a importância devida. Em virtude desses aspectos, esse trabalho tem a perspectiva de responder se existe um panorama positivo para a reciclagem do PET no Brasil? Frente a esse questionamento, os 2

objetivos aqui colocados se inserem numa perspectiva de fazer um apanhado histórico recente quer permita delinear o panorama do mercado do PET no Brasil. Para tanto, o trabalho aglutina informações sobre como se dá o processo de revalorização do PET, fazendo uma descrição do processo de transformação das garrafas PET em matériaprima secundária, a caracterização dos canais de distribuição das garrafas a partir do modelo da logística reversa, finalizando com o panorama desse mercado. 2 Logística Reversa conceitos fundamentais É comum pensar em logística como os fluxos que vão desde o ponto de aquisição até a entrega de um produto a um cliente. No entanto, a logística trata também dos fluxos reversos que se dispõem a colocar de volta aos negócios um produto que, ora estava fora do mercado. O termo usualmente utilizado para designar esse processo é Logística Reversa que pode ser melhor entendido, de acordo com autores como Rogers & Tibben-Lembke (1999) e Leite (2003) como sendo o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo de matérias-primas, estoque em processamento e produtos acabados (e seu fluxo de informação) do ponto de consumo até o ponto de origem, com o objetivo de revalorização desses bens que anteriormente não apresentavam nenhum beneficio ou ainda que seja realizar um descarte adequado do mesmo quando já não apresentam condições recapturação do se valor. A Council of Supply Chain Management Profissional (CSCMP, 2008) afirma que a logística reversa é um segmento especializado na logística, focado na movimentação e gestão dos produtos após sua venda e entrega ao cliente, envolvendo aspectos como embalagens, reparos, devoluções, entre outros. Por ser um tema ainda pouco abordado, apesar de já estar presente há bastante tempo, tanto na literatura em geral como em pesquisas acadêmicas, há uma grande dificuldade em encontrar uma base teórica concreta e bem estabelecida. Uma das justificadas é a pouca importância econômica em relação aos canais de distribuição diretos visto que a relação entre o volume de materiais produzidos pelos canais convencionais é bem superior se comparados àquele reaproveitados pelos canais reversos. (LEITE, 2003). Existem diversas diferenças entre a cadeia logística convencional e a logística reversa. Uma das principais, apontada por Sinnecker (2007), é que na primeira os produtos são puxados pelo sistema, enquanto que na segunda há uma combinação entre puxar e empurrar os produtos pela cadeia de suprimentos. Em muitos casos isso ocorre porque há uma legislação que aumenta a responsabilidade do produtor. Sendo assim, para a logística reversa as empresas devem responsabilizar-se pelo produto desde o seu projeto até o seu descarte final, passando pela concepção, seja através do uso de matéria-prima que cause menor impacto ao meio-ambiente, até um projeto de retorno do produto de pós-consumo ao ciclo produtivo. Ou seja, a sua operacionalização e principalmente o seu ônus, deve ser considerada quando da concepção do produto, pois esta é parte integrante da estratégia logística. Além disso, custos e operações complexas necessitam de planejamento e controle. (BOWERSOX, 2001 apud MORO, RIGONI & TABUADA, 2007, p. 3). 2.1 Canais de Distribuição Reversos O estudo dos canais reversos veio adicionar novos objetivos à logística empresarial ao proporcionar um prolongamento do fluxo direto. É interessante enfatizar que existe uma grande diferença entre os canais comuns de distribuição (canais diretos), que tratam das 3

diversas etapas pelas quais os bens produzidos são comercializados até chegar ao consumidor final, e os canais reversos. Estes, ao contrário, preocupam-se com o retorno de uma parcela dos produtos comercializados, seja devido a defeitos de fabricação, prazo de validade vencido, ciclo de vida útil encerrado ou reaproveitamento de embalagens ao ciclo produtivo da empresa. Leite (2003) considera dois canais reversos distintos: o Canal Reverso de Pós-Consumo (CRPC) e o Canal Reverso de Pós-Venda (CRPV). A figura 1 representa os fluxos logísticos reversos a partir dessas duas categorias de retorno dos materiais: Figura 1: Canais de distribuição diretos e reversos. Fonte: LEITE (2006, p. 5) 2.1.1 Canais de Distribuição Reversos de Pós-Venda (CDR-PV) - são constituídos pelas diferentes formas e possibilidades de retorno de uma parcela de produtos, com pouco ou nenhum uso, que voltam aos diferentes elos da cadeia de distribuição motivados por problemas relacionados à qualidade em geral ou a processos comerciais entre empresas. 2.1.2 Canais de Distribuição Reversos de Bens de Pós-Consumo (CDR-PC) - são constituídos pelo fluxo reverso de uma parcela de produtos e de materiais constituintes que foram descartados após terminado o seu uso original. Esses produtos, quando retornados, podem seguir fluxos distintos seja pelos canais reversos de reuso, de desmanche ou de reciclagem. Existe também a possibilidade de uma parcela deles ser dirigida a sistemas de destinação final seguros ou controlados (que não provocam poluição), ou não seguros (que causam impactos maiores sobre o meio ambiente) (LEITE, 2003). O reuso ocorre quando há uma extensão do uso de um produto com a mesma função original e sem nenhum tipo de remanufatura. O desmanche é caracterizado pela revalorização de um bem durável após um processo de desmontagem de seus componentes, separando aqueles em condição de uso ou de remanufatura, daqueles que não existem condição de revalorização. Na reciclagem os materiais constituintes dos produtos descartados são extraídos industrialmente, transformando-se em matérias-primas secundárias ou recicladas que serão reincorporadas à fabricação de novos produtos (LEITE, 2003). 4

O objetivo da logística reversa de pós-consumo é agregar valor aos produtos que ainda estão em condições de uso e se tornaram inservíveis ao proprietário original por terem atingido o fim de vida útil ou por terem sido descartados. Os produtos logísticos de pós-consumo, de acordo com o conceito de vida útil, podem ser classificados conforme levantou Leite (2003) como: a) bens descartáveis, que têm uma vida útil média de algumas semanas, raramente superiores a seis meses; b) bens duráveis que têm uma vida média útil variando de alguns anos a algumas décadas, geralmente bens de capital; e c) bens semiduráveis que se incluem numa categoria intermediaria entre os descartáveis e duráveis, cuja vida útil corresponderá a alguns meses, raramente superior a dois anos. Existem diversas possibilidades de comercialização e de tratamento dos bens e materiais de pós-consumo nos canais de distribuições reversos. A figura 2 mostra essas diversas possibilidades, porém, é importante sublinhar que ela não apresenta todas as possibilidades, e sim uma aproximação da realidade mais comum. Como é possível observar a partir da figura 2, a coleta é parte fundamental nos diversos tipos de aprovisionamento, todavia ainda são inexistentes em diversas áreas do planeta seja por razões culturais, políticas ou econômicas, a coleta seletiva considerada a mais produtiva. Esse quadro tende a sofrer modificações devido ao crescente interesse de instituições públicas e privadas na variável meio ambiente. Crescente também tende a ser o interesse por reciclar os produtos. Fuller e Allen (1995 apud LEITE, 2003) enfatizam alguns fatores propulsores ao desenvolvimento de produtos reciclados, seriam eles: consumidor comprometido com o produto verde, um suporte legal e político, avanço tecnológicos de reciclagem; utilizadores da fonte de reciclados próximo das fontes de pós-consumo. 5

Figura 2: Canais de Distribuição de Pós-consumo: Diretos e Reversos. Fonte: Leite (2003 p. 47) Entretanto, é preciso que haja algumas condições que favoreçam esse crescimento. Leite (2003) propõe algumas delas, o que ele considera como sendo fatores necessários que são as condições garantidoras dos interesses empresariais e fortalecedoras dos níveis de organização das cadeias reversas e, os fatores modificadores capazes de alterar as condições naturais do mercado e, consequentemente, permitir novas condições de equilíbrio. A figura 3 dá uma melhor visão dessa configuração descrita pelo autor. 6

Novo Produto Fatores necessários Fatores Econômicos Fatores Tecnológicos Fatores Logísticos Condições Essenciais Remuneração em todas as etapas reversas; Qualidade dos materiais reciclados; Escala Econômica de atividade; Mercado para os produtos com conteúdo de reciclados; Reintegração ao ciclo produtivo Fatores modificadores Fatores Ecológicos Fatores Legislativos Pós-Consumo Figura 3: Modelo Relacional Entre os Fatores. Fonte: Leite (2003, p.90) Ele subdivide os fatores necessários em três: a) fatores econômicos, que dizem respeito à realização de economias na reintegração de matérias-primas que proporcionem uma remuneração adequada aos agentes da cadeia produtiva reversa, como remuneração das etapas reversas, qualidade dos materiais reciclados, escala econômica, e a existência de um mercado para os produtos com conteúdo de reciclados. b) fatores tecnológicos que são aqueles disponíveis para o tratamento eficaz dos resíduos, relacionados à viabilidade do processo de reciclagem. c) fatores logísticos que se referem às condições de organização, localização e sistemas de transporte adequados à cadeia reversa. Os fatores modificadores são classificados como: a) fatores ecológicos, que são aqueles motivados pela consciência ecológica tanto de agentes do governo, sociedade ou empresas, que aplicam pressões ao reivindicar intervenções e legislações específicas. b) fatores legislativos, capazes de influenciar diretamente na organização dos canais reversos. Muller (2005) enumera alguns das principais razões que levam uma empresa a atuarem em logística reversa, fortalecendo fatores apresentados por Leite, a saber: legislação ambiental que força as empresas a retornarem seus produtos e cuidar do tratamento necessário; benefícios econômicos do uso de produtos que retornam ao processo de produção, ao invés dos altos custos do correto descarte do lixo; a crescente conscientização ambiental dos consumidores; razões competitivas e diferenciação por serviço; limpeza do canal de distribuição; proteção de margem de lucro; A presença de tais fatores simultaneamente em uma empresa seria o estado ideal de organização, entretanto tal feito não se consegue facilmente. 3 Estratégias metodológicas adotadas Seguindo os parâmetros estabelecidos por Gil (1994) e com a finalidade de se avançar no estudo proposto, respondendo ao questionamento colocado nesse artigo, os aspectos metodológicos básicos devem almejar alcançar os objetivos anteriormente postos. 7

Diante de perguntas dessa natureza, a abordagem mais indicada, quanto aos objetivos, é proceder a um estudo descritivo, por ser o mais adequado para descrever as características de certa população ou fenômeno, ou estabelecer relações entre variáveis, como afirma Gil (2008). Sendo assim, esse método serve para descrever as características do ciclo reverso e levantar dados relativos ao mercado do PET. Do ponto de vista da forma de abordagem ao problema a pesquisa se caracteriza como sendo quantitativa, pois é feita uma comparação do comportamento do mercado do PET entre os anos de 2009 e 2012. Em relação aos procedimentos técnicos da pesquisa, para a coleta de dados secundários foi realizada uma pesquisa bibliográfica entre os principais autores que tratam os temas logística reversa e gestão ambiental. Foi realizada também uma pesquisa documental, com destaque para os documentos que foram a base que permitiu produzir os resultados dessa pesquisa que foram os Censos de Reciclagem do PET no Brasil publicado pela ABIPET Associação Brasileira da Indústria do PET desde o ano de 2009. A decisão por coletar os dados a partir de 2009 deveu-se ao fato de que, a partir desse ano, o censo possuir dados mais homogêneos, já que existem informações nos censos mais atuais que não foram coletadas nos anteriores. A análise dos dados se processou a partir da comparação das informações levantadas no site da ABIPET e pelos Censos disponibilizados. No site da ABIPET, existem todas as informações acerca da metodologia adotada por eles para a realização do Censo. 4 Descrição e análise dos resultados Uma das primeiras preocupações quanto ao estudo é caracterizar o produto logístico reverso, já que ele é o foco principal desse estudo. 4.1 Caracterizações do Produto logístico reverso. Segundo a ABIPET, o PET Poli (Tereftalato de Etileno) é um poliéster, polímero termoplástico, ou seja, é um plástico melhor e de alta resistência mecânica e química suportando contatos com agentes agressivos e com excelente barreira para gases e odores. Por isso, usado para a fabricação de garrafas, frascos e embalagens para refrigerantes, águas, sucos, óleos comestíveis, medicamentos, cosméticos, produtos de higiene e limpeza, destilados, isotônicos, cervejas, entre vários outros. Além disso, tem se mostrado ideal para a indústria de bebidas, reduzindo custos de transporte e produção, evitando desperdícios em todas as fases de produção e distribuição. Uma das grandes vantagens das garrafas produzidas á partir do PET é que, a ela, pode ser dada uma destinação correta para a qual foi concebida que é a reciclagem. Por serem 100% recicláveis, as embalagens de PET oferecem inúmeros benefícios ao longo da cadeia de produção e consumo: Segundo ainda a ABIPET as vantagens para o consumidor são o fato de serem extremamente leves, permitindo que sejam carregados com facilidade; são transparentes e por isso permitem visualizar o produto que será consumido; Possuem sistemas de fechamento eficientes; são Inquebráveis, permitem que crianças possam usá-las;- Preservam o produto até o fim do consumo; evitam desperdício; são 100% recicláveis e podem ser facilmente separadas de outros produtos. Para o meio ambiente, uma das vantagens principais concentra-se, segundo ABIPET, principalmente, no fato de que por para produzir 01 Litro de bebidas em garrafas PET, são utilizados apenas 02 Litros de água inclusive a água que está na bebida. Em contrapartida aos sistemas retornáveis, eles utilizam até 6 litros de água para cada litro produzido. Além disso, o sistema de fechamento eficiente evita desperdício, o que também traz grandes benefícios ao meio ambiente; por serem inertes, não geram chorume em lixões e aterros, o que preserva a água subterrânea e os rios; Por serem leves, usam o mínimo de matéria-prima na sua 8

fabricação, além de economizar muito combustível e evitar a emissão de gases de efeito estufa. 4.2 Vantagens da Reciclagem do PET a reciclagem do PET vai de encontro aos três pilares do desenvolvimento sustentável trazendo benefícios Sociais, econômicos e ambientais. Os dados abaixo, foram referendados pela ABIPET, pelo Reciclando o Planeta e Ambiente Brasil. A geração de emprego e renda é um dos benefícios sociais advindos com o processo de reciclagem do PET. O valor pago pela sucata que é bastante atrativo impulsionam diversas empresas que comercializam o material e as diversas cooperativas de catadores fornecendo remuneração a esses trabalhadores. Um dos grandes motivos para que essa atividade seja atrativa é o fato da ausência de sistemas de coleta seletiva estruturada no Brasil. Em relação aos benefícios econômicos, o preço para o consumidor dos artefatos produzidos com plástico reciclado é aproximadamente 30% mais barato do que os mesmos produtos fabricados com matéria-prima virgem. Em virtude disso, a Indústria Recicladora do PET no Brasil, se apresenta com uma base sólida e seu crescimento anual é em média superior a 11% desde 2000. Ao se tratar dos benefícios ambientais, uma das questões que deve ser sublinhada é a redução do volume de lixo nos aterros sanitários e melhoria nos processos de decomposição de matérias orgânicas, pois o PET acaba por prejudicar a decomposição porque impermeabiliza certas camadas de lixo, não deixar que gases e líquidos circulem devidamente. Além disso, como a matéria-prima reciclada substitui material virgem em muitos produtos, com o reaproveitamento de milhares de toneladas de embalagens, há uma economia de recursos naturais como o petróleo, água e energia que seriam direcionados para a produção de um novo plástico. 4.3 Caracterização do processo de reciclagem das garrafas PET O processo de reciclagem das garrafas PET constitui-se basicamente de: recuperação, revalorização e transformação. 4.3.1-Recuperação se inicia no momento do descarte e termina com a confecção do fardo, que se torna sucata comercializável. Nesse processo inclui os sistemas de coletas, que em sua grande maioria, é realizado por catadores e suas cooperativas. Após serem coletadas, as embalagens pós-consumo de PET, passam por um processo de triagem e serão separadas entre si, sempre que possível e conforme os volumes coletados, por cor, conteúdo (refrigerante, água, óleo comestível etc.); origem (coleta seletiva, lixões). Logo depois, é feita a prensagem e a amarração a fim de diminuir seu volume e facilitar o transporte. Finalmente, são formados os fardos que atendem determinadas especificações. 4.3.2 Revalorização com início na compra da sucata em fardos e fim na produção de matéria-prima reciclada. No primeiro instante, o material já selecionado segue para a esteira onde ocorrem a separação do PET e a eliminação das eventuais contaminações e resíduos não servíveis, como o PVC,PE, PP (Polipropileno) presente nas tampas. Logo depois o material é moído, seguem para os tanques de separação dos rótulos e tampas e pode haver adição de produtos químicos para beneficiamento do processo. Como parte do processo de revalorização, ainda há outra moagem até obter a granulometria adequada. Após isso, o material é secado e retirado do secador por um transporte pneumático indo para o silo, passando por detector de metais não ferrosos (ideal), de onde é retirado e colocado em bigbags (sacolas de aproximadamente 1m3) estando pronto para ser enviado à indústria de transformação. 9

4.3.2 Transformação final do processo completo de reciclagem, é a utilização da matériaprima oriunda das garrafas de PET pós-consumo para a fabricação de inúmeros 4.4 Cadeias de Distribuição Direta e Reversa - Os fluxos de distribuição reversos presentes na cadeia do PET e apresentados a seguir f3oram configurados tomando como base os modelos de distribuição apresentados por Leite (2003). A figura 4 tem como objetivo esquematizar as formas de retorno ao ciclo produtivo do produto resultante da reciclagem das garrafas PET. O esquema apresenta a cadeia produtiva direta que inicia nos produtores de resina PET até a reintegração do flake na fabricação de produtos duráveis e semiduráveis. As linhas tracejadas indicam as possíveis reintegrações desse material no mercado secundário. 4.4.1 Cadeia de distribuição direta é representada por diversos agentes que vão desde os produtores da matéria-prima utilizada na fabricação das garrafas PET até os consumidores finais. Os produtores de resina PET dispõem seus produtos diretamente no mercado primário que é composto pelos fabricantes de produtos duráveis, semiduráveis e descartáveis. Após a transformação da resina de PET virgem em garrafa e seus respectivos processos de sopros, as embalagens são destinadas às envasadoras que acondicionam o produto, sejam eles refrigerantes e alimentos como catchup, óleo ou produtos de higiene pessoal e bens não alimentícios que são enviados aos atacadistas e varejistas e estes ao consumidor final. 10

Produtores de Resina PET Mercado Primário Mercado Secundário Fabricantes de Produtos Duráveis, semiduráveis e descartáveis. (Fabricantes de Garrafas PET) Materiais Residuais Comercias (PP) Materiais Reciclados (Flake do PET) Fabricantes de Garrafas PET (produtos Descartáveis) Fabricantes de Produtos Duráveis e Semiduráveis Envasadoras Fábricas de Tubos Fabricantes de Tintas Cordas Outros Consumidores Finais Garrafas de Pós-Consumo Coleta Informal Coleta do Lixo Lixões/ Aterros Catadores Seleção Intermediário/ Sucateiros RECICLADORAS Figura 4: Cadeia de Distribuição Direta e Reversa. Fonte: próprio autor adaptado de Leite A partir do instante em que esses consumidores desembaraçam as embalagens de PET, iniciase o ciclo logístico reverso. Esse ciclo envolve uma cadeia de distribuição reversa com diversos outros agentes que atuam de maneira bastante particular, dada a importância do retorno desses produtos. 4.4.2 Cadeia de Distribuição Reversa - após o consumo dos produtos, sejam eles refrigerantes, alimentos, de higiene pessoal, entre outros, e o desembaraço das garrafas, elas passam a ser consideradas produtos de pós-consumo. A próxima etapa na cadeia de distribuição reversa, então é a coleta das garrafas descartadas pelos consumidores finais. Os intermediários ou sucateiros são aqueles, na cadeia, que realizam a coleta das garrafas, seja através de uma coleta informal, nos lixões, ou a seletiva. Como a seletiva ainda se apresenta bastante incipiente em várias comunidades, as duas primeiras são aquelas que se fazem mais presente. 4.5 Classificação do Ciclo Reverso - como a legislação brasileira ainda não permite a destinação do PET reciclado à fabricação de novas embalagens de bebidas e alimentos, ao contrário do vidro, então não é possível a reintegração do PET na linha de produção original 11

das embalagens de produtos alimentícios. Logo, o flake resultante do processo de reciclagem é destinado ao mercado de tintas, cordas, tecidos (poliéster), etc. Tendo em vista essa restrição o ciclo reverso no qual o produto está inserido é do tipo aberto, pois, o material reciclado não retorna a fabricação de novas garrafas PET. 4.6 Análise comparativa do mercado do PET - Após a caracterização do produto logístico reverso, segue-se cumprindo uma das propostas desse artigo que é fazer um apanhado histórico do diagnóstico do Pet no Brasil nos últimos 4 anos. Assim serão analisados os seguintes parâmetros: evolução da reciclagem do PET no Brasil, comparação do mercado do PET, concentração do PET por região, comportamento do mercado do PET, comportamento dos preços, origem das garrafas e, finalmente o nível de dificuldade de acesso ao PET para reciclar. 4.6.1 Evolução do PET no Brasil O gráfico abaixo mostra como tem se dado a evolução do PET no Brasil nos últimos 8 anos. Desde 2004 até o ano de 2012, o volume de PETs reciclados quase que duplicou, passando de 167.000 para 331.000 toneladas, o que representa um incremento de 98,21% no volume reciclado. Figura 5 - Evolução da Reciclagem do PET no Brasil. Fonte: : adaptado de ABIPET:2014 4.6.2 Concentração dos PETs por região - o gráfico abaixo mostra como está a distribuição do PET por área geográfica. Figura 6: Distribuição do PET por área geográfica. Fonte: Adaptado de ABIPET:2014 12

Facilmente, observa-se na região sudeste, uma maior concentração do produto. Obviamente, como essa é a região mais habitada do país, consequentemente, a quantidade de produtos fabricados a partir do PET deve ser proporcionalmente maior. A região Nordeste é quem contribui com a maior quantidade do produto, 19% do PET, depois do sudeste. 4.6.3 Comportamento do mercado do PET nesse item será avaliada a percepção dos empresários a respeito do comportamento do mercado, se ele está melhor, pior ou se continua da mesma forma, em relação ao período anterior. Segundo os empresários pesquisados, e como é possível verificar no gráfico abaixo, o mercado do PET tem se comportado sempre positivamente desde 2009, com exceção do ano de 2011, em que os empresários do setor afirmaram de que houve uma queda. Em 2009 31% deles afirmaram que o mercado estava melhor e em 2012, foram 45% que tiveram essa percepção. Apesar disso, foi somente no ano de 2012 que a maioria, 45% sentiu que houve uma melhoria no mercado. Nos anos anteriores, a percepção apresentou-se um pouco diferente. Em 2009, 40% deles considerou que o mercado permanecia inalterado; em 2010 e 2011 a maioria deles, 41,3% e 42%, respectivamente, percebeu que o mercado havia piorado. Figura 7: Comportamento do mercado do PET. Fonte: Adaptado de ABIPET:2014 4.6.4 Comportamento dos preços nesse item será avaliado o comportamento dos preços do PET em relação ao ano anterior. O que se percebe aqui é que a maioria dos empresários - 47,7% em 2010 e 47% em 2012 - afirma que o preço vem melhorando em relação a cada ano. Somente em 2011 é que eles afirmaram ter sido pior o preço do PET. Figura 8: Comportamento dos preços PET. Fonte: Adaptado de ABIPET:2014 13

4.6.5 Origem das garrafas PET o objetivo desse questionamento é investigar qual a origem do PET a ser reciclado. Os dados aqui se referem somente ao período de 2009 a 2011, pois o Censo da ABIPET não fez esse questionamento no censo de 2012. Figura 9: Origem das garrafas PET. Fonte: Adaptado de ABIPET:2014 De acordo com os respondentes, em 2009 a maioria das garrafas PET vinha de outras origens que não de catadores e cooperativas. A partir de 2010 é que os fornecedores do PET passaram a ser os catadores. O que se verifica nesse quadro é que as cooperativas, ainda continuam sendo as que menos fornecem o produto. 4.6.6 Dificuldade de acesso ao PET para reciclar a pretensão com esse questionamento é investigar se houve maior ou menor dificuldade em ter acesso ao PET, em relação aos anos anteriores. O cenário que se estabelece, diante das respostas colocadas, é que o produto está cada vez mais escasso em relação aos períodos anteriores. Desde 2010 que essa dificuldade vem se apresentando. Figura 10: Dificuldade de acesso ao PET para reciclar. Fonte: Adaptado de ABIPET:2014 6 Considerações Finais Um dos grandes desafios da atualidade em relação às questões ambientais tem sido a forma de consumo e descarte dos bens duráveis. Essa discussão está norteada no fato de que, notadamente, há uma tendência à descartabilidade dos bens impulsionada pelo encurtamento do ciclo de vida útil. Em consequência, o acúmulo de produtos descartados gera uma grande quantidade de resíduos sólidos que precisa ser gerenciada de maneira adequada. Uma forma 14

de amenizar as consequências desse acúmulo, seria a adoção de práticas sustentáveis por todos aqueles que produzem e consomem esses bens. Do lado da indústria, a estruturação eficiente de canais logísticos reversos que permitam o retorno dos produtos após o seu consumo e descarte é uma alternativa que cumpre afirmativamente esse objetivo. Mas, os outros atores não estão eximidos de cumprir o seu papel. Ao contrário, sociedade, distribuidores, comerciantes, consumidores e poder público compartilham a mesma responsabilidade pela geração de resíduos sólidos Dessa forma, a implantação da logística reversa se torna um dos meios eficientes, práticos e economicamente viáveis para o alcance desse objetivo. Diante disso, é relevante e necessário que mais estudos sejam desenvolvidos a fim de se conseguir um espectro maior a respeito do tema, dado que, como o tema é de certa forma, recente, ainda existe um espaço amplo para pesquisas futuras. O alcance dos objetivos desse trabalho se deu pela consolidação das informações a respeito do panorama da reciclagem do PET no Brasil, a partir do banco de dados da ABIPET, de forma que se tem uma condensação dessas informações que permite visualizar de maneira mais objetiva e simplificada esses dados. De maneira geral, houve uma evolução no volume de reciclagem do PET, desde o ano de 2004. O volume produzido, quase que duplicou nesse período passando de 167.000 para 331.000 toneladas. A região sudeste é onde está concentrado o maior volume do produto, em função, provavelmente de uma maior densidade demográfica. Em termos de mercado, não existe uma estabilidade, pois há sempre uma oscilação em termos de melhoria. Em 2012, os empresários perceberam uma melhoria nesse aspecto, no entanto, nos anos anteriores, a maioria deles achou que o mercado esteve estável ou piorou. Os catadores são a principal fonte fornecedora dos produtos, sendo que o acesso ao PET tem se mostrado cada vez mais, desde 2010. A partir dessas informações, é possível concluir que o mercado de reciclagem do PET, ainda está se consolidando e em expansão no Brasil. Um dos obstáculos, para que a pesquisa tivesse um alcance maior, se deu pelo fato de que algumas informações desses censos não serem homogêneas, mudando os questionamentos ao longo dos anos. Logo, foram consolidadas aquelas informações que são comuns a todos esses períodos. Decorrente dos entraves encontrados, novas investigações que se avista é fazer um levantamento de todos os censos, desde o primeiro publicado pela ABIPET ou ainda uma análise comparativa da reciclagem do PET no Brasil com outros países como EUA e outros países da Europa. Ainda é possível dar novos rumos às investigações de outros produtos que são recicláveis como o vidro, o papel e eletrônicos. Na verdade, o espectro para se estudar é amplo e parte, principalmente do olhar curioso do investigador. Por fim é importante sublinhar, que ainda é incipiente a consolidação desses canais reversos, pois muitas indústrias, ainda vislumbram a questão ambiental, não como um investimento, mas como um custo. E que essas iniciativas convergem para contribuir de forma efetiva para a redução de resíduos depositados no meio ambiente 15

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