A luta dos sociólogos pela obrigatoriedade da Sociologia no Ensino Médio



Documentos relacionados
DELIBERAÇÃO Nº 02/2015-CEE/PR. Dispõe sobre as Normas Estaduais para a Educação em Direitos Humanos no Sistema Estadual de Ensino do Paraná.

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

Ministério da Educação. Universidade Tecnológica Federal do Paraná Reitoria Conselho de Graduação e Educação Profissional

PROJETO DE LEI N O, DE 2004

I - aplicar o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), de forma seriada, em cada um dos três anos dessa etapa;

REGULAMENTO ESTÁGIO SUPERVISIONADO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA FACULDADE DE APUCARANA FAP

Lei nº de 04/04/2013

ESTÁGIO SUPERVISIONADO

XLIII PLENÁRIA NACIONAL DO FÓRUM DOS CONSELHOS ESTADUAIS DE EDUCAÇÃO - FNCE

IMPLANTANDO O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS NA REDE ESTADUAL DE ENSINO

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2009 (de autoria do Senador Pedro Simon)

IV FÓRUM NACIONAL DE PEDAGOGIA PEDAGOGIA INTERLOCUÇÕES ENTRE FORMAÇÃO, SABERES E PRÁTICAS. Belo Horizonte, 21 a 23 de Setembro de 2011

Prefeitura Municipal de Santos

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

CURSO: EDUCAR PARA TRANSFORMAR. Fundação Carmelitana Mário Palmério Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

Constituição Federal - CF Título VIII Da Ordem Social Capítulo III Da Educação, da Cultura e do Desporto Seção I Da Educação

REGULAMENTO DO NÚCLEO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO DAS LICENCIATURAS (NEPEx LICENCIATURAS) DO INSTITUTO FEDERAL GOIANO

Síntese do Projeto Pedagógico do Curso de Sistemas de Informação PUC Minas/São Gabriel

PREFEITURA DO ALEGRETE-RS ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SECRETARIA DE GOVERNO SEÇÃO DE LEGISLAÇÃO

INTERESSADO: Centro de Treinamento e Desenvolvimento CETREDE

ENSINO SUPERIOR: PRIORIDADES, METAS, ESTRATÉGIAS E AÇÕES

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CONSELHO DO ENSINO, DA PESQUISA E DA EXTENSÃO

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA Gabinete de Consultoria Legislativa

RESULTADOS E EFEITOS DO PRODOCÊNCIA PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DO INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS RESUMO

Organização Curricular e o ensino do currículo: um processo consensuado

AGUARDANDO HOMOLOGAÇÃO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA E AS NOVAS ORIENTAÇÕES PARA O ENSINO MÉDIO

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR RESOLUÇÃO Nº 2, DE 27 DE SETEMBRO DE

CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

LICENCIATURA EM MATEMÁTICA. IFSP Campus São Paulo AS ATIVIDADES ACADÊMICO-CIENTÍFICO-CULTURAIS

O Sr. ÁTILA LIRA (PSB-OI) pronuncia o seguinte. discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores. Deputados, estamos no período em que se comemoram os

PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 5/2014

COMISSÃO DE EDUCAÇÃO. PROJETO DE LEI N o 5.218, DE 2013 I - RELATÓRIO

REGIMENTO DO NÚCLEO DE ESTUDOS URBANOS - NEURB CAPÍTULO I DA CONSTITUIÇÃO E FINALIDADE

RESOLUÇÃO Nº 044/2015, DE 01 DE SETEMBRO DE 2015

RESOLUÇÃO Nº 211/2005-CEPE/UNICENTRO

Art. 1º O Art. 2º da Lei nº , de 5 de outubro de 2006, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:

RESOLUÇÃO N 54/2009/CONEPE. O CONSELHO DO ENSINO, DA PESQUISA E DA EXTENSÃO da UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, no uso de suas atribuições legais,

Pedagogia Estácio FAMAP

Iniciando nossa conversa

COMISSÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA PROJETO DE LEI Nº 7.032, DE 2010

ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO: DA EDUCAÇÃO BÁSICA AO ENSINO SUPERIOR

CAPÍTULO I DAS DIRETRIZES DO CURSO

Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Estadual de Educação Ambiental e dá outras providências.

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

FACULDADE DO NORTE NOVO DE APUCARANA FACNOPAR PLANO DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL

SÚ MÚLA DE RECOMENDAÇO ES AOS RELATORES Nº 1/2016/CE

O ENSINO DE MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE- INDUSTRIAL NA VOZ DO JORNAL O ETV : ECOS DA REFORMA CAPANEMA

CONSIDERANDO os pronunciamentos contidos no Processo nº 39460/2006:

UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL UNISC REGULAMENTO DO ESTÁGIOS CURRICULARES OBRIGATÓRIOS E NÃO- OBRIGATÓRIOS DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA UNISC

EDUCAÇÃO INFANTIL E LEGISLAÇÃO: UM CONVITE AO DIÁLOGO

CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO ENCONTRO DOS CONSELHOS DE EDUCAÇÃO DE SERGIPE

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

IV EDIPE Encontro Estadual de Didática e Prática de Ensino 2011

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

TÍTULO I DA NATUREZA, DAS FINALIDADES CAPÍTULO I DA NATUREZA. PARÁGRAFO ÚNICO Atividade curricular com ênfase exclusiva didático-pedagógica:

Regulamento do Mestrado Profissional em Administração Pública em Rede Nacional

PROGRAMA DE EXTENSÃO PROEX

Referencial para o debate no V Encontro Estadual de Funcionários com base nas Resoluções do XV Congresso Estadual do Sintep-MT

ANEXO 8 RESOLUÇÃO CNE/CP 1, DE 18 DE FEVEREIRO DE (*)

REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO INTRODUÇÃO

1 Introdução. Lei Nº , de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

TEXTO RETIRADO DO REGIMENTO INTERNO DA ESCOLA APAE DE PASSOS:

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO RESOLUÇÃO CNE/CP 1, DE 18 DE FEVEREIRO DE 2002 (*)

11. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

RESOLVE AD REFERENDUM DO CONSELHO:

REGULAMENTO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO DO CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS INGLÊS.

SENADO FEDERAL Gabinete do Senador Donizeti Nogueira PARECER Nº, DE Relator: Senador DONIZETI NOGUEIRA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CAMPUS BINACIONAL OIAPOQUE

Belém/PA, 28 de novembro de 2015.

Relato de Grupo de Pesquisa: Pesquisa, Educação e Atuação Profissional em Turismo e Hospitalidade.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ FACULDADE DE MATEMÁTICA CURSO DE MATEMÁTICA REGULAMENTO N 001, DE 13 DE DEZEMBRO DE 2013

SINTE/SC - SINDICATO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO NA REDE PÚBLICA DO ENSINO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

Introdução à Educação Física

ANEXO II. Regulamentação da Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrado. Capítulo I Da admissão

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

REQUERIMENTO N.º DE 2012.

Art. 1º Definir o ensino de graduação na UNIVILLE e estabelecer diretrizes e normas para o seu funcionamento. DA NATUREZA

PARECER REEXAMINADO (*) (*) Reexaminado pelo Parecer CNE/CES nº 204/2008 (*) Despacho do Ministro, publicado no Diário Oficial da União de 19/11/2008

PROJETOS DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: DO PLANEJAMENTO À AÇÃO.

A REGULAMENTAÇÃO DA EAD E O REFLEXO NA OFERTA DE CURSOS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

RESOLUÇÃO CEPE/CA N 0245/2009

Estado da Paraíba PREFEITURA MUNICIPAL DE TAVARES GABINETE DO PREFEITO

REEXAMINADO PELO PARECER CNE/CEB Nº7/2007 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

REGIMENTO INTERNO DO CENTRO DE ESTUDOS EM EDUCAÇÃO E LINGUAGEM (CEEL)

ANEXO 1 PROJETO BÁSICO PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL E ORGANIZACIONAL DE ENTIDADES CIVIS DE DEFESA DO CONSUMIDOR

REGULAMENTO DOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO (lato sensu) CAPITULO I DA CONSTITUIÇÃO, NATUREZA, FINALIDADE E OBJETIVOS DOS CURSOS

LICENCIATURA INDÍGENA

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 321, DE 2014

REGIMENTO INTERNO DO SECRETARIADO NACIONAL DA MULHER

PLANO ANUAL DE CAPACITAÇÃO 2012

LICENCIATURA EM EDUCOMUNICAÇÃO PROJETO PEDAGÓGICO

Art. 1º Fica modificada a redação da Seção V do Título IV da Lei Complementar nº 49, de 1º de outubro de 1998, que passa ter a seguinte redação:

CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Breve histórico da profissão de tradutor e intérprete de Libras-Português

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

PROJETO DE LEI Nº 14/2016 DISPÕE SOBRE A CRIAÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL DE PARTICIPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE NEGRA CAPÍTULO I

PREFEITURA MUNICIPAL DE BAURU

Transcrição:

1 A luta dos sociólogos pela obrigatoriedade da Sociologia no Ensino Médio Luiza Helena Pereira 1 Introdução No Brasil ao longo dos últimos 15 anos os sociólogos vêm debatendo e se mobilizando pela implantação da Sociologia no currículo do Ensino Médio. Entretanto, o movimento em prol da implantação da Sociologia no Ensino Médio, nas escolas brasileiras, tornou-se mais forte quando da aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB, em 1996. A LDB estabeleceu, em seu artigo 2º, como princípios e fins da educação nacional que a "educação, dever da família e do estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Na seção IV, - que trata do Ensino Médio - artigo 36, parágrafo 1º, foi definido que os conteúdos, as metodologias, e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que, ao final do Ensino Médio, o educando demonstre: III - domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania 2. Esta luta foi conduzida pelas entidades que congregam os sociólogos, em âmbito nacional, ou seja, a Sociedade Brasileira de Sociologia SBS, a Federação Nacional dos Sociólogos FNS. A SBS congrega os professores universitários, a academia. A FNS, como o próprio nome diz - Federação - congrega os sindicatos estaduais, nos quais a principal instância de luta são as questões relacionadas à profissão de sociólogo. Também participaram ativamente da luta pela implantação da Sociologia no Ensino Médio os sindicatos estaduais de sociólogos, congregados na Federação, dentre os quais o destacamos o Sindicato de São Paulo SINSESP, o Sindicato dos Sociólogos do Rio Grande do Sul - SINSOCIÓLOGOS, a Associação de Sociólogos do Rio de Janeiro APSERJ. Não podemos deixar de mencionar, 1 Professora do Departamento de Sociologia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. E-mail: luiza.helena@.ufrgs.br. Pesquisadora do tema: A Sociologia no Ensino Médio no Brasil. Comunicação apresentada na Mesa redonda Ensino de Sociologia na Educação Básica: Balanço dos Anos de Campanha, durante o I Encontro Nacional sobre o Ensino de Sociologia na Educação Básica, promovido pela Comissão de Ensino da Sociedade Brasileira de Sociologia, no período de 25, 26 e 27 de julho de 2009, realizado no Prédio do IFCS, largo de São Francisco, Rio de Janeiro, Capital. 2 A redação deste artigo é modificada, posteriormente, com a Lei Nº - 11.684, de 2 de junho de 2008, que incluí, de forma obrigatória, a Sociologia e a Filosofia no Ensino Médio.

2 também, a participação importantíssima das Universidades de todo o País, bem como dos estudantes e de suas entidades estudantis. Durante este período, de 1996 até o momento atual, Universidades, através de Departamentos de Sociologia, renovaram currículos de graduação criando disciplinas voltadas à formação dos licenciandos em Ciências Sociais, realizaram cursos de atualização de professores e criaram laboratórios de ensino de Sociologia, entre as quais se destacam a Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, a Universidade Estadual de Londrina - UEL, a Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, a Universidade Federal do Pará - UFPA, Universidade Federal de Minas Gerais UFMG, a Universidade Federal de Uberlândia - UFU, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, a Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ, entre outras. Paralelamente a todos esses eventos, houve uma série de encontros estaduais e regionais, promovidos pelos Sindicatos Estaduais, nos quais foram discutidas as estratégias de luta para implantação da Sociologia no Ensino Médio. Também foram realizadas inúmeras reuniões junto às Secretarias e Conselhos Estaduais de Educação. No caso do Rio Grande do Sul foram promovidos fóruns de discussão na Assembleia Legislativa e Câmara dos Vereadores, tendo como meta garantir espaços de discussão sobre a obrigatoriedade do ensino da Sociologia no Ensino Médio. Um pouco de história... A história da Sociologia no Ensino Médio mostra que a disciplina sempre se defrontou com o dilema entre obrigatoriedade versus opcionalidade como se pode verificar através de um breve histórico do ensino da Sociologia nessa etapa escolar. Em 1890 Benjamin Constant, então ministro da Educação, propõe uma reforma do ensino que contemplava a introdução obrigatória do ensino da Sociologia, porém a reforma não chegou a ser implantada. Em 1925 a disciplina foi efetivamente introduzida nas escolas, com a reforma Rocha Vaz e em 1928 foi implantada nas escolas normais. A Sociologia vinha de certa forma consolidando-se. Durante o período de 1931-1942, a partir da reforma Francisco Campos a Sociologia foi ministrada sem sofrer interrupções. Entretanto, sofre flagrante derrota em 1942, com a reforma Capanema que retirou a obrigatoriedade do ensino

3 da Sociologia na escola secundária (MEKSENAS, 1994, CARVALHO, 2004; MORAES, 2003). Sabe-se que não é nova a discussão da extensão do ensino da Sociologia ao Ensino Médio, no Brasil. Já em 1954, no I Congresso Brasileiro de Sociologia, Florestan Fernandes (FERNANDES, 1958), levantava a hipótese da possibilidade do ensino da Sociologia na escola secundária brasileira. Em sua comunicação, Florestan Fernandes indagava sobre a função da Sociologia no sistema educacional. Este ensino que "só figura no currículo das escolas normais" deveria também ser estendido à escola secundária, apesar desta ter a conotação de "preparar os educandos para a admissão nas escolas de nível superior". Florestan Fernandes justificava sua implantação argumentando que o ensino da Sociologia era necessário, pois a sociedade tendo se transformado e sendo o Brasil um país em formação, necessitaria novos cursos para a formação de novos profissionais, novos direitos, nova cidadania. A finalidade da Sociologia seria a formação de nova atitude cívica e consciência política. Este período, no Brasil, caracterizou-se pela etapa da Sociologia científica, sendo este um dos temas de destaque nas ciências sociais, bem como a produção de manuais para o ensino da Sociologia nas escolas secundárias (LIEDKE FILHO, 1990). No período pós-64, com o golpe militar, a Sociologia, banida dos currículos escolares, manteve-se nos cursos de magistério. Com a reforma de ensino oficializada pela Lei de Diretrizes de Bases 5.692/71, a Filosofia e a Sociologia foram substituídas, no currículo, por Educação Moral e Cívica EMC e Organização Social e Política Brasileira OSPB, com o objetivo ufanista de fortalecer ideologicamente a imagem da ditadura militar. Em 1982, com a Lei 7.044/82, a disciplina de Sociologia começa a ser implantada nos programas curriculares. Com a nova concepção de escola de segundo grau, voltada para a construção da cidadania, e não mais uma escola voltada para a profissionalização, como o era a Lei 5.692/71, a Sociologia foi introduzida nos currículos e foram realizados alguns concursos públicos para suprir a necessidade de nomeação de professores de Sociologia (PEREIRA, 2005). A partir da década de 1980, em alguns estados brasileiros, observaram-se medidas isoladas na tentativa de formulação de projetos de lei para a implantação da Sociologia no Ensino Médio que, quando aprovadas, acabaram não se efetivando na prática. Exemplo disso foi o que ocorreu em São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro. Nos quatro primeiros estados deputados estaduais apresentaram projetos nesse

4 sentido, porém as leis do legislativo foram aprovadas (RS, PA, BA) ou vetadas pelo executivo (no caso de São Paulo). Nos dois últimos estados citados as constituições estaduais contemplaram a Sociologia (no capítulo Educação), porém a lei estadual não foi cumprida (CARVALHO, 2004). Com o passar dos anos e com a redemocratização do País a Sociologia volta, lentamente, a ser inserida nos currículos escolares, dependendo, porém, da boa vontade dos que a consideravam uma disciplina importante na formação de jovens. Observa-se que historicamente a inserção da Sociologia nas escolas de Ensino Médio teve movimentos que caracterizaram um processo de expansão e retração constante. Poderíamos, então, perguntar o porquê da dificuldade da Sociologia se estabelecer nos currículos escolares. E, em Pierre Bourdieu, buscaremos esta resposta: Quem, no mundo social, tem interesse pela existência de uma disciplina autônoma do mundo social? Compreende-se que a existência da Sociologia como disciplina científica seja ameaçada sem cessar (BOURDIEU, 1988, p. 25-26) A institucionalização da Sociologia no Ensino Médio no Brasil Em 1996 com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB foi proposto que, ao final do Ensino Médio os educandos saíssem com conhecimentos em Filosofia e Sociologia. Para que? Para atender ao objetivo maior desta Lei que visa o pleno desenvolvimento do educando, sua preparação para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996). Em termos de legislação sobre o Ensino Médio, após a LDB, em 01/06/1998 foi aprovado na Câmara de Educação Básica CEB do Conselho Nacional de Educação - CNE, o Parecer CEB 15/1998 sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. E em agosto do mesmo ano foi publicada no Diário Oficial da União a Resolução - Resolução CEB 03/1998 que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (MEC/CNE/CEB, 1998; BRASIL, 1998). O Parecer e a Resolução acima citadas causaram uma grande insatisfação entre os sociólogos, pois em relação à Sociologia, assim como Filosofia, Educação Física e Artes, foram considerados saberes que poderiam ter tratamento interdisciplinar (MEC/CNE/CEB,

5 Resolução CEB nº 3/98, Art. 10. III - Ciências Humanas e suas Tecnologias, 2º) 3. Ora, tratamento interdisciplinar significou que não seriam criadas as disciplinas, muito menos com o caráter de obrigatoriedade. No caso da Sociologia, por exemplo, os conteúdos desta disciplina seriam tratados de forma interdisciplinar, transversal às disciplinas obrigatórias. Intensifica-se neste momento a luta dos sociólogos, entende-se que para haver interdisciplinaridade entre as ciências é necessário que haja primeiro a disciplinaridade. Cada disciplina (ciência) tem seu objeto e método próprio de análise não podendo ser substituída por nenhuma outra. Pensando sobre a importância da Sociologia para os jovens do Ensino Médio e por que os sociólogos tanto lutaram para que sua implantação fosse reconhecida e oficializada como obrigatória, podemos lembrar, com Giddens e Elias: a Sociologia e a reflexão sociológica ocupam um papel central para a compreensão das forças sociais que vêm transformando nossa vida nos dias de hoje (GIDDENS, 2001, ELIAS, 1999). A Sociologia, deste modo, tem como uma de suas finalidades alargar a compreensão dos processos humanos e sociais, no sentido da emancipação do jovem para tornar-se cidadão (ELIAS, 1999), buscando, ainda, desenvolver sua imaginação sociológica (MILLS, 1969). Em termos de luta pela obrigatoriedade da Sociologia no Ensino Médio, em 1997 foi apresentado no Congresso Nacional o Projeto de Lei da Câmara Federal de nº 3.187.b/97 de autoria do Deputado Padre Roque, do PT do Paraná, com a finalidade de incluir a Sociologia, e a Filosofia, como disciplinas obrigatórias no currículo do Ensino Médio. O autor justificou sua proposta argumentando que os conteúdos dessas matérias não serão ensinados de forma adequada caso sejam trabalhados no desenvolvimento de outras disciplinas e por professores sem a formação necessária para o cumprimento dessa tarefa. O Projeto foi discutido na Câmara dos Deputados de 1997 até 2000. Na Câmara dos Deputados, a Comissão de Educação, Cultura e Desporto manifestou-se favoravelmente à proposta. A Comissão de Constituição e Justiça e de Redação, por sua vez, emitiu parecer pela constitucionalidade e juridicidade. O Projeto chegou ao Senado no início de 2000 e ficou registrado como Projeto de Lei da Câmara - PLC 09/00 (CARVALHO, 2004). Este projeto, aprovado na Câmara Federal, foi apresentado para ser votado no Senado no dia 13 de junho de 2001, podendo sua discussão ser acompanhada pela TV Senado, canal 3 Em relação à Sociologia, o texto integral do parágrafo citava: 2º. As propostas pedagógicas das escolas deverão assegurar tratamento interdisciplinar e contextualizado para: b) Conhecimentos de Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania.

6 18-NET. Nesta sessão, após a manifestação do líder do Governo indicando posição contrária à aprovação houve muitas manifestações favoráveis, por parte de vários senadores. Entretanto, por sugestão do senador Pedro Simon do PMDB do Rio Grande do Sul, a votação do Projeto foi adiada por 30 dias, após o que foi finalmente aprovado. O Projeto, depois de aprovado na Câmara Federal e no Senado, foi, porém vetado pelo Presidente, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB de São Paulo, em 2001. Os argumentos do Presidente para o veto são apresentados mais adiante. Durante todo o período, de 1996 até 2008, como já mencionamos anteriormente, os sociólogos através de suas entidades organizativas sindicais e acadêmicas: a Federação Nacional dos Sociólogos - FNS, a Sociedade Brasileira de Sociologia - SBS, sindicatos estaduais de sociólogos, entre os quais o de São Paulo - SINSESP, o do Rio Grande do Sul SINSOCIÓLOGOS, a Associação de Sociólogos do Rio de Janeiro - APSERJ, Universidades de todo o País, mobilizam-se na luta pela efetivação da obrigatoriedade da Sociologia no Ensino Médio. Foram realizados Encontros de Cursos de Ciências Sociais e Congressos. Nos primeiros discutiram-se a Sociologia no Ensino Médio, os cursos de Ciências Sociais nas habilitações bacharelado e licenciatura e a formação de professores de Sociologia. Nos Congressos 4 apresentaram-se as pesquisas realizadas sobre o ensino da Sociologia em nível médio e superior. Podemos dizer que os temas: ensino e pesquisa da Sociologia no Ensino Médio e Ensino Superior, bem como a discussão sobre as formas de luta pela implantação da Sociologia no Ensino Médio, estiveram em pauta em todos os eventos organizados pelos sociólogos de nosso País. A repetição da discussão desses temas, ao longo dos anos, foi necessária para definir uma base teórica entre os sociólogos, propiciando orientações comuns, quanto ao ensino da Sociologia e as estratégias desta luta, entre as várias instâncias participantes das instituições citadas. O debate sobre o ensino da Sociologia nos Encontros de Cursos e Congressos dos Sociólogos Por ocasião do X Congresso Nacional de Sociólogos, promovido pela Federação dos Sociólogos, realizado no mês de setembro de 1996, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do 4 A Federação Nacional dos Sociólogos realiza seus congressos de três em três anos, sempre denominados de Congresso Nacional dos Sociólogos. A Sociedade Brasileira de Sociologia com uma periodicidade de dois em dois anos, sempre denominados de Congresso Brasileiro de Sociologia.

7 Sul, foi aprovado na plenária do Congresso, que os sociólogos iriam lutar pela volta da Sociologia nas escolas do Ensino Médio. Ressalte-se que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional data de 20 de dezembro deste mesmo ano. A antecipação da decisão dos sociólogos deve-se ao fato de que a sociedade civil acompanhava a discussão das propostas da nova Lei de Diretrizes e Bases, dentre as quais a proposta de inclusão da Sociologia e da Filosofia 5. No XI Congresso Nacional dos Sociólogos, promovido pela Federação Nacional dos Sociólogos 6 em 1999, na Bahia, foi considerada imprescindível a intensificação da luta pela aprovação do projeto de autoria do deputado Padre Roque, do PT do Paraná, que estava tramitando na Câmara dos Deputados. Por ocasião deste Congresso a Federação dos Sociólogos realizou o I Encontro Nacional de Cursos de Ciências Sociais - ENCCS. Em 2000 sob a coordenação do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo USP, com apoio da Federação dos Sociólogos, realizou-se o II Encontro Nacional de Cursos de Ciências Sociais, agora na cidade de São Paulo. O tema Sociologia no Ensino Médio ocupou grande parte dos debates, assim como reformulação dos cursos de Ciências Sociais e, além destes, outros temas que receberam especial atenção foram: a sugestão de realização de encontros regionais, as discussões sobre mercado de trabalho, a criação da Associação Nacional de Cursos de Ciências Sociais ANGRACS e, a criação do Conselho Federal de Sociólogos. Ressalte-se que a discussão sobre a ANGRACS ficou em aberto, não sendo criada naquele Encontro a Associação. Na ocasião, foi aprovada a moção de deixar preparada uma campanha nacional e um abaixo assinado em apoio ao Projeto do Padre Roque, envolvendo grande parte das Universidades do País. Aventou-se também a possibilidade das Universidades discutirem em suas Comissões de Vestibular a inclusão das disciplinas de Sociologia e de Filosofia no vestibular. Algumas Universidades implantaram a Sociologia no 5 A discussão sobre uma nova Lei de Diretrizes e Bases inicia, praticamente logo após a promulgação da Constituição de 1988, por iniciativa do então deputado Octávio Elísio, do PSDB de Minas Gerais, foi apresentado na Câmara dos Deputados um Projeto de LDB, que contemplava discussões sobre a educação no Brasil (projeto 1258/88). Praticamente a LDB dura de 1988 até 1996 para ser formalizada (SAVIANI, 1997). 6 A Federação dos Sociólogos sempre permaneceu, em cartório, registrada com o nome de Federação Nacional dos Sociólogos. Em alguns momentos, em sua história, chegou a ser conhecida como Federação Nacional dos Sociólogos - Brasil FNSB. Mas no Congresso em Natal, em 2008, ficou decidido que seria abandonada, definitivamente, a sigla FNSB, resgatando dessa forma o seu nome e sigla original e legal: Federação Nacional dos Sociólogos FNS.

8 vestibular, por exemplo: a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e a Universidade Estadual de Londrina (UEL). Foi decidido ainda que seria montado um banco de dados sobre materiais e experiências de ensino, o que se concretizou através da criação dos laboratórios de ensino, bem como relatos sobre a importância da Sociologia no Ensino Médio e relatos sobre as experiências de implantação da disciplina no Ensino Médio e no vestibular. A troca de informações sobre estas experiências foram realizadas durante os Congressos dos Sociólogos. Em relação aos cursos de Ciências Sociais foi definido que se daria mais espaço à discussão dos cursos, em outros encontros futuros, bem como a constituição de um banco de dados sobre os planos pedagógicos, grades curriculares e ementas de disciplinas. Importante também foi a posição dos sociólogos, neste II Encontro de Cursos, sendo unânime a ideia de que a formação dos futuros professores de Sociologia para as redes públicas e privadas do Ensino Médio em todo o país, seria de responsabilidade dos cursos de Ciências Sociais (MEMÓRIA, II Encontro de Cursos, 2000). Em 2001 ocorreu o X Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado pela Sociedade Brasileira de Sociologia, de 03 a 06 de setembro de 2001, no Hotel Ponta Mar em Fortaleza, Ceará. Dentro deste Congresso abriu-se espaço para a Federação propor e realizar o III Encontro Nacional de Cursos de Ciências Sociais. Naquela ocasião todos os sociólogos estavam na expectativa da votação que ocorreria no Plenário do Senado, marcada para o dia 18 de setembro, sobre a aprovação da obrigatoriedade da Sociologia no Ensino Médio. Seria votado o Projeto de Lei da Câmara 09/00, de autoria do deputado federal Padre Roque do PT do Paraná. O Encontro de Cursos basicamente foi marcado pela decisão de intensificar a luta pela implantação da Sociologia no Ensino Médio, de forma obrigatória. Mas os temas discutidos praticamente foram os mesmos dos Encontros anteriores, porém, com visíveis aprofundamentos teóricos (MEMÓRIA, III Encontro de Cursos, 2001). Ainda neste III Encontro de Cursos começaram a ser divulgados os primeiros trabalhos de pesquisa sobre a situação da Sociologia no Ensino Médio em vários estados do País 7. Em relação ao último tema criação da ANGRACS -, destaca-se que foi decidido que ao invés da criação de uma entidade na forma associativa de cursos de graduação, fosse criado um Fórum Nacional Permanente dos Cursos de Ciências Sociais. Assim foi feito, sendo 7 Estas experiências foram relatadas na mesa 2- Experiências sobre a Docência de Sociologia no Ensino Médio no Brasil, da qual fizeram parte relatando os professores Amaury Moraes (USP), Elizabeth Fonseca Guimarães (UFU) e Luiza Helena Pereira (UFRGS). A mesa foi coordenada pelo Prof. Nelson Tomazi.

9 tirado, como indicativo, a posição de que o IV Encontro de Cursos de Ciências Sociais seria organizado pelos coordenadores do Fórum (MEMÓRIA, III Encontro de Cursos, 2001). No final do mesmo ano, 2001, os sociólogos tiveram a satisfação de receber a notícia que o Projeto de obrigatoriedade da Sociologia no Ensino Médio havia sido aprovado no Senado. Porém, logo em seguida decepcionaram-se quando o Presidente da República, o Sociólogo Fernando Henrique Cardoso, vetou o Projeto 8. Fernando Henrique Cardoso argumentou, na ocasião, que não havia professores formados em número suficiente para assumirem as aulas de Sociologia em todas as escolas no Brasil e que as despesas com concursos e contratação de professores onerariam muito os cofres públicos. Argumentos esses que foram veementemente repudiados pelos sociólogos. No ano de 2002 (01 a 04 de abril de 2002) foi realizado o XII Congresso Nacional de Sociólogos, promovido pela Federação dos Sociólogos, na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Entre vários temas de interesse da organização profissional dos sociólogos, foram discutidos também os cursos de ciências sociais e a Sociologia no Ensino Médio. Em relação ao tema específico da Sociologia no Ensino Médio, foi realizada uma mesa redonda tratando da Formação de Professores para a docência em Sociologia no Ensino Médio e uma oficina sobre as Experiências Docentes realizadas com alunos de universidades sobre os métodos para se trabalhar a Sociologia no Ensino Médio. No Grupo de Trabalho GT - Educação e Sociedade, foram apresentadas pesquisas de professores universitários sobre a inclusão da Sociologia no Ensino Médio, em diversos estados brasileiros. Alguns destes trabalhos eram uma continuidade e aprofundamento dos trabalhos apresentados no Congresso de 2001. Em 2003 foi realizado o IV Encontro Nacional de Cursos de Ciências Sociais, em Florianópolis. Cabe ressaltar que foi a primeira vez em que os cursos de Ciências Sociais organizam um evento não vinculado a um Congresso de Sociólogos, sejam os Congressos Nacionais, da Federação, sejam os Congressos Brasileiros de Sociologia, da Sociedade Brasileira de Sociologia. Fato este resultado da criação do Fórum Nacional Permanente dos Cursos de Ciências Sociais, em 2001, como anteriormente mencionamos. O tema do Encontro foi Educação para a Cidadania: desafios das Ciências Sociais. Foi realizado nos dias 13 e 14 de março de 2003, no Hotel Canto da Ilha, em Florianópolis. No Encontro foram debatidos temas de fundamental importância, naquele momento, para os Cursos de Ciências Sociais: 8 O veto ocorreu em 08 de outubro de 2001.

10 As Novas Diretrizes Curriculares e os cursos de Ciências Sociais ; A formação dos profissionais em ciências sociais e a profissionalização do sociólogo e A Sociologia no ensino fundamental, médio e no vestibular. No XI Congresso Brasileiro de Sociologia com tema: Sociologia e Conhecimento: Além das Fronteiras, realizado pela Sociedade Brasileira de Sociologia, realizado de 01 a 05 de setembro de 2003, na UNICAMP, Campinas, São Paulo, a Federação Nacional dos Sociólogos organizou uma proposta coletiva de fórum sobre os temas: Formação de professores e cursos de Ciências Sociais e O ensino das Ciências Sociais no Brasil. Neste mesmo ano, é apresentado, na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei N 1.641/2003 - Deputado Ribamar Alves PSB do Maranhão, que acrescentava o seguinte inciso IV ao artigo 36 da Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996: Art. 36 IV Serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do Ensino Médio. Como não poderia ser de outra forma, os sociólogos posicionam-se a favor do Projeto mobilizando-se pela sua aprovação. Porém, este Projeto foi apreciado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, da Câmara Federal, somente em 2004. Em junho de 2004 (23/06/2004) o projeto de Lei apresentado pelo Deputado Ribamar Alves, foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) sendo o parecer do Relator, Deputado Alexandre Cardoso, pela constitucionalidade, juridicidade técnica e legislativa com emendas. Um evento sobre a Sociologia no Ensino Médio marcou positivamente o ano de 2004. Foi a realização do V Encontro Nacional de Cursos de Ciências Sociais - ENCCS, com o tema: Para que serve as Ciências Sociais?. O Encontro foi realizado de 20 a 23 de julho de 2004, no Campus do Gragoatá, no Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, da Universidade Federal Fluminense, em Niterói, no Rio de Janeiro. Mais uma vez o Encontro de Cursos de Ciências Sociais foi realizado de forma autônoma, sem vinculação a congressos, quer da FNS, quer da SBS, este, também motivado pela criação do Fórum Nacional Permanente dos Cursos de Ciências Sociais, em 2001. Este Encontro constituiu-se num momento de rico debate dos sociólogos em suas reflexões sobre os Cursos de Ciências Sociais e a Sociologia no Ensino Médio. Resultou do Encontro a Carta de Niterói, com proposições dos sociólogos. Naquela ocasião os sociólogos sindicalistas e os sociólogos professores universitários posicionaram-se contrários às decisões

11 do Ministério de Educação e Cultura - MEC de separar a licenciatura do bacharelado como cursos independentes considerando a conotação de que a licenciatura seria um curso inferior. Os sociólogos reunidos no V ENCCS sustentaram que deveria ser oferecida à licenciatura a mesma base teórica do bacharelado, uma vez que o profissional licenciado habilitado a desempenhar com eficiência seu ofício deveria ser capaz de construir e reconstruir os saberes necessários para intervir na realidade dos espaços educacionais. Defenderam, ainda, que a seleção de ingresso nos Cursos de Ciências Sociais deveria ser realizada por um único concurso vestibular, tanto para o bacharelado, quanto para a licenciatura, uma vez que, estes, se apresentam como duas alternativas de único curso oportunizando ao estudante se habilitar para o exercício profissional, e não como cursos separados e independentes. Em relação à Sociologia no Ensino Médio, foi tirada a posição de que deveriam ser incentivadas ações, em todos os sentidos, junto aos governos estaduais, especialmente junto ao governo federal, para que as Ciências Sociais através da Sociologia fossem incluídas nos currículos em todas as escolas de Ensino Médio do País. No ano de 2005 ocorreram dois eventos significativos para a Sociologia no Ensino Médio: de 31 de maio a 3 de junho de 2005 foi realizado na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, Minas Gerais, o XII Congresso Brasileiro de Sociologia, promovido pela Sociedade Brasileira de Sociologia - SBS. Neste Congresso, pela primeira vez organizou-se um Grupo de Trabalho GT, específico sobre o tema de ensino de Sociologia em todos os níveis, médio e superior 9 :, a saber, o GT 06: Experiências de ensino de Sociologia Metodologias e Materiais Didáticos. O grupo de trabalho apresentou resultados de pesquisas dos professores universitários sobre o ensino de ciências sociais, nas universidades e no Ensino Médio, bem como pesquisas realizadas sobre a realidade da Sociologia no Ensino Médio em vários estados do País. Neste Congresso foi criada a Comissão de Ensino da SBS. Esta Comissão seria organizada em duas secretarias que teriam como tarefa pensar a realidade do Ensino Médio e do ensino superior, ou seja, da graduação em Ciências Sociais. Outro evento significativo foi a realização do VI Encontro Nacional de Cursos de Ciências Sociais, por ocasião do XIII Congresso Nacional dos Sociólogos, promovido pela 9 Nos Congressos da Federação dos Sociólogos e da Sociedade Brasileira de Sociologia sempre houve o GT Educação e Sociedade. A inovação é que neste Congresso de 2005, foi criado um GT específico para discutir o ensino de Sociologia.

12 Federação Nacional dos Sociólogos. O tema do Encontro de Cursos foi: Novas perspectivas para o ensino de Sociologia no Brasil. Os dois eventos foram realizados de 08 a 11 de novembro de 2005, no Centro de Turismo Tancredo Neves CENTUR, em Belém do Pará. Deste Encontro de Cursos salientamos duas das principais conclusões: a posição consensual pela não separação dos Cursos de Ciências Sociais, ênfase bacharelado e licenciatura, em dois cursos diferenciados e a decisão de manter a luta pela implantação da Sociologia nas escolas de Ensino Médio. Neste Encontro de Cursos foi criada a Associação Nacional de Cursos de Ciências Sociais ANGRACS. Em junho de 2006 foram publicadas, pela Secretaria de Educação Básica, do Ministério da Educação, As Orientações Curriculares para o Ensino Médio. O Volume 3, que trata das Ciências Humanas e suas Tecnologias, especifica as orientações para a Sociologia. Respondendo à pergunta, Por que Sociologia?, as orientações curriculares apontam como princípios epistemológicos da Sociologia, que podem ser norteadores da organização do currículo, dois princípios interpretativos: o princípio da desnaturalização e o princípio do estranhamento (MEC/OCEM CH, 2006) Em 2006 ainda, finalmente, a Câmara de Educação Básica deu parecer favorável à inclusão da Sociologia e da Filosofia como disciplinas obrigatórias no Ensino Médio. Relatando os acontecimentos que antecederam o parecer favorável, verificou-se que no final do ano de 2005 foi protocolado o Oficio nº 9647/GAB/SEB/MEC, de 15 de novembro de 2005, no Conselho Nacional de Educação - CNE, para apreciação, pelo Secretário 10 de Educação Básica do Ministério da Educação. A este Ofício foi anexado o documento - sobre as Diretrizes Curriculares das disciplinas de Sociologia e Filosofia no Ensino Médio, elaborado pela Secretaria com a participação de representantes de várias entidades. O documento continha uma série de considerações favoráveis à inclusão obrigatória de disciplinas de Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio (MEC/CNE/CEB, 2006). Um dos argumentos dos proponentes do documento foi como poderia ser efetivamente garantido o tratamento interdisciplinar da Sociologia, e também da Filosofia, com as outras disciplinas, como afirmavam as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio DCNEM (MEC/CNE/CEB nº. 38/2006). No histórico do relatório do Parecer CNE/CBE 38/2006, recomendado para aprovação pelos conselheiros relatores, Cesar Callegari, Murílio de Avellar Hingel e Adeum Hilário 10 Na época o secretário era Francisco das Chagas Fernandes.

13 Sauer foi registrado que: em 1º de fevereiro de 2006, a Câmara de Educação Básica promoveu reunião, para a qual foram convidadas mais de trinta entidades e pessoas, para discussão do tema Alteração das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio/inclusão de componentes curriculares obrigatórios de Filosofia e Sociologia, com base na proposta da Secretaria de Educação Básica do MEC. Participaram dessa audiência vinte pessoas, entre sociólogos, professores de Filosofia e de Sociologia, representantes de entidades, estudantes e profissionais. Foram apresentados e discutidos os vários aspectos concernentes à reivindicação da inclusão obrigatória de disciplinas de Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio, mediante alteração na Resolução CNE/CEB nº 3/98 (MEC/CNE/CEB, 2006). Assim confirmou-se como fundamental a participação da sociedade civil e dos sociólogos (e também dos filósofos) na mobilização para a aprovação da Sociologia no Ensino Médio. Em março de 2006 a luta pela implantação da Sociologia de forma obrigatória no Ensino Médio se intensificou, pois entidades de cientistas, professores, filósofos, sociólogos, estudantes, realizaram articulações junto ao Ministério da Educação - MEC. Estas entidades apresentaram proposta de alteração do Parecer CNE/CEB 15/98 e da Resolução CNE/CEB 03/98, que, na prática, impedia que as escolas de Ensino Médio do país adotassem de forma obrigatória, como determinava o artigo 36 da LDB, as disciplinas de Sociologia e Filosofia. O MEC a enviou ao Conselho Nacional de Educação - CNE para debate e aprovação de nova resolução, a qual seria votada entre os dias 3 e 6 de abril de 2006. Finalmente, não em abril, mas em julho, mais precisamente em 07/07/2006, o Colegiado da Câmara de Educação Básica CEB aprovou a inclusão obrigatória das disciplinas de Sociologia e de Filosofia no currículo do Ensino Médio, através do Parecer CNE/CEB nº. 38/2006. Interessante considerar a análise do mérito dos relatores. Além de reiterar a importância da Sociologia e da Filosofia argumentaram pelo princípio da legitimidade da LDB, a Lei maior, que rege as demais diretrizes. Perguntaram os relatores: como poderia ser garantida a eficácia da diretriz (LDB) que afirma que ao final do Ensino Médio, o educando demonstre, entre outros, o domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania se não forem efetivados processos pertinentes de ensino e aprendizagem que propiciem estes conhecimentos, isto é, se não forem implantadas

14 as disciplinas de Sociologia e de Filosofia, de forma obrigatória nas escolas (MEC/CNE/CEB, 2006)? Outro argumento que os relatores apresentaram foi que a Sociologia (e também a Filosofia) já vinha sendo lecionada na maioria dos estados do País. Constataram que a realidade expressava a adoção crescente do ensino de Filosofia e de Sociologia pela maioria das redes de escolas públicas estaduais e também pelas escolas particulares, sem que fosse determinada por lei federal, mas por iniciativa dos próprios sistemas estaduais de ensino para suas redes públicas escolares. Importante ressaltar que, os relatores, mais uma vez, reconheceram e salientaram que: em todos os casos (a adoção da sociologia pelas escolas públicas e privadas) foi resultado de uma persistente mobilização de amplos setores ligados à educação que defendem a Sociologia e a Filosofia no contexto dos esforços de qualificação do Ensino Médio no Brasil. Chamaram a atenção, também, pelo sentido da equidade. Foi realçado que a adoção, sem regulamento, destas disciplinas estaria trazendo uma desigualdade de acesso aos conhecimentos de Filosofia e Sociologia por parte de alunos das escolas particulares e públicas, pois enquanto algumas já incluíam a Sociologia e a Filosofia em seus currículos, outras ainda não o faziam 11. O Parecer apenas retrata o que a realidade estava a evidenciar (PEREIRA, 2007b) 12. Já em agosto de 2006, foi publicada a Resolução Nº 4, de 16 de agosto de 2006 que alterou o artigo 10 da Resolução CNE/CBE nº 3/98 que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Em 2007 dois eventos da Sociedade Brasileira de Sociologia SBS foram realizados. O primeiro ocorreu nos dias 1 e 2 de março, foi 1º Seminário Nacional sobre o Ensino de Sociologia no Nível Médio, realizado na Faculdade de Educação da Universidade de São 11 Nas palavras dos próprios relatores: Esses avanços, ocorridos na maioria dos Estados, acabaram por criar uma situação desigual no acesso aos conhecimentos de Filosofia e Sociologia. Nos Estados que ainda não incluíram o ensino da Filosofia e da Sociologia no currículo do Ensino Médio, há toda uma população jovem posta à margem do acesso aos seus conhecimentos. Essa desigualdade ocorre, igualmente, na rede particular de ensino, na qual, malgrado a iniciativa de inclusão por uma parte das escolas, muitas outras não o fizeram. Esta reflexão impõe a manifestação deste Conselho, propiciadora de uma equalização, visando à igualdade de direitos de acesso a esses conhecimentos no Ensino Médio do País (MEC/CNE/CEB, 2006). 12 De fato, em pesquisa realizada no Rio Grande do Sul, de 2001 a 2006, obtivemos os seguintes dados: em 2001 26,4% das escolas da rede pública estadual apresentavam a disciplina Sociologia em seus currículos. Em 2006 esta percentagem havia subido para 42,7%. Entretanto, a triste realidade nos mostrava que apenas 15,5% dos professores que lecionavam a disciplina de Sociologia eram formados em Ciências Sociais. Quando foi perguntado aos coordenadores das Coordenadorias Regionais de Educação do Rio Grande do Sul - CRES, sobre os motivos que atribuíam ao crescimento da Sociologia nas escolas da sua região, dois coordenadores apresentaram a síntese do pensamento coletivo. Afirmaram que a Sociologia e a Filosofia estavam sendo incluídas nos currículos graças à construção do Plano Político Pedagógico que as escolas deveriam desenvolver, agora com mais autonomia, visando aumentar a área das Ciências Humanas (PEREIRA, 2007b).

15 Paulo. O objetivo do evento foi promover uma discussão ampla de caráter nacional sobre as consequências da obrigatoriedade do ensino de Sociologia na escola média brasileira: questões relativas ao ensino da disciplina, como conteúdos programáticos, metodologias de ensino, recursos e materiais didáticos; sobre cursos de licenciatura e formação de professores; pesquisas sobre o ensino da disciplina; constituição de uma comunidade de professores de Sociologia no Ensino Médio. Este evento constituiu-se num espaço de debate sobre a Sociologia no Ensino Médio centrado basicamente em dois tópicos: 1 - A formação de professores para o nível médio; e 2 - O ensino de Sociologia no nível médio (SBS, 1º Encontro EM, 2007). No mesmo ano, realizou-se o XIII Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado pela Sociedade Brasileira de Sociologia com o tema: Desigualdade, Diferença, Reconhecimento. O Congresso foi realizado de 29 de maio a 01 de junho de 2007, na Universidade Federal de Pernambuco, Recife. Neste Congresso sobre o tema Sociologia no Ensino Médio a SBS organizou dois Simpósios, um sobre As Orientações Curriculares Nacionais - OCN Sociologia, e outro sobre Ensino da Sociologia na Contemporaneidade. A SBS promoveu, também, duas mesas redondas, uma com o tema Formação de Professores e Licenciatura nos Cursos de Ciências Sociais e outra sobre As Ciências Humanas no Ensino Médio e a Reintrodução da Sociologia. O GT 09: Ensino de Sociologia apresentou um crescimento significativo contando com a apresentação de 25 trabalhos sobre o tema, lembremos que, no Congresso de 2005, houvera apenas 11 trabalhos e pesquisadores inscritos no GT. Neste evento ocorreram ainda duas Reuniões Especiais: uma da Comissão de Ensino da SBS e outra desta Comissão com professores do Ensino Médio. A primeira reunião teve como objetivo formalizar a criação da Comissão, definindo a coordenação da Secretaria de Ensino Médio. A segunda foi realizada com o objetivo de acolher as solicitações dos professores de Ensino Médio, suas angústias, dúvidas e carências encontradas em sua prática cotidiana do ensino da Sociologia, com intenção de melhor qualificá-la. Em 2008 em Natal ocorreram simultaneamente mais três eventos importantes na discussão da Sociologia no Ensino Médio. Realizou-se o XIV Congresso Nacional dos Sociólogos, promovido pela Federação Nacional dos Sociólogos, com tema Os cientistas sociais e seu campo de atuação no Brasil, em conjunto foi realizado o VII Encontro Nacional de Cursos de Ciências Sociais, com o tema Desafios para os Cursos de Ciências Sociais no

16 Brasil. Estes eventos ocorreram de 14 a 18 de abril de 2008, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no Auditório da Reitoria, em Natal. Foi organizado, também, em parceria com o Congresso e o VII Encontro de Cursos o Iº Seminário Nacional de Educação em Ciências Sociais SNECS. O tema do Seminário foi Mediações para uma política de formação integrada e continuada. Contou com a promoção e realização do Laboratório de Apoio ao Ensino-Pesquisa e à Intervenção Social do DCS/ UFRN, do Curso de Graduação em Ciências Sociais da UFRN e da Sociedade Brasileira de Sociologia SBS. Em relação ao Encontro de Cursos houve duas mesas-redondas com discussão sobre Ensino Superior: Os cursos de Ciências Sociais no Brasil, e sobre Os currículos de graduação em Ciências Sociais: bacharelado, licenciatura e o mercado de trabalho.. Outra parte importante do Encontro de Cursos foi a reunião dos Grupos de Trabalhos - GTs por regiões, para discutir a situação do Bacharelado e da Licenciatura dos Cursos de Ciências Sociais e a implantação da Sociologia no Ensino Médio, nos vários estados do País. Os eventos citados ocorreram no mês de abril e em junho do mesmo ano, foi sancionada, pelo Presidente da República em exercício, José Alencar, a Lei nº - 11.684, de 2 de junho de 2008, modificando o art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 que passou a vigorar com as seguintes alterações: IV serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do Ensino Médio (BRASIL, 2008). Frente a esta aprovação, a SBS, reunida em assembleia no dia 16/07/2008 na cidade de Campinas, durante a 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC lançou uma moção. Nesta a SBS posicionava-se por uma educação de qualidade em todos os níveis de ensino, e quanto à Sociologia para o Ensino Médio reivindicava que as secretarias de educação estaduais realizem concursos admitindo inscrição somente de licenciados em Ciências Sociais, entre outros pontos da moção 13. Em julho de 2009 a Comissão de Ensino da SBS organizou o Iº Encontro Nacional 14 sobre o ensino de Sociologia na Educação Básica com o tema reflexão sobre as experiências nas universidades e nas escolas I ENESEB. O objetivo deste encontro a exemplo do 1º 13 Veja os pontos na íntegra em http://www.sbsociologia.com.br/comissão de ensino: Moção sobre a introdução de Sociologia no E.M. Acessado em 07/11/2009. 14 A SBS a respeito da denominação de I Encontro Nacional afirma que: Por isso, a proposta de um encontro nacional de ensino de Sociologia, com o foco nos professores de Sociologia da educação básica. Esse encontro seria o primeiro organizado pela SBS, pois sabemos que já aconteceram outros encontros nacionais, como o organizado pelo SINSESP e APEOESP, em julho de 2007 (SBS, 2009).

17 Seminário Nacional sobre o Ensino de Sociologia no Nível Médio, realizado em março de 2007, foi promover uma discussão ampla de caráter nacional sobre as consequências da obrigatoriedade do ensino de Sociologia na escola média brasileira, considerando principalmente as questões relativas ao ensino da disciplina tais como conteúdos programáticos, metodologias de ensino, recursos e materiais didáticos; aos cursos de licenciatura e formação de professores; às pesquisas sobre o ensino da disciplina; à constituição de uma comunidade de professores de Sociologia no Ensino Médio. Em síntese o Encontro visava promover o intercâmbio entre professores de Sociologia da educação básica e universidades. O evento teve continuidade em julho de 2011, quando, então, foi realizado, no Paraná, o II ENESEB, na PUC, em Curitiba. O Encontro, realizado nos dias 25, 26 e 27 de julho no Prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, no largo de São Francisco, no Rio de Janeiro, Capital, antecedeu o XIV Congresso Brasileiro de Sociologia, com tema: Sociologia: Consensos e Controvérsias realizado de 28 a 31 de julho de 2009, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Destaca-se que neste Congresso para o GT 07 - Ensino de Sociologia foram inscritos e apresentados 32 trabalhos. Se em 2005 havia 11 pesquisadores, em 2007 verificou-se o número de 25 e em 2009, estes, totalizavam 32 pesquisadores que, sobre a temática, se debruçavam em suas pesquisas acadêmicas nas mais diversas universidades do País. Em 2011, no XV Congresso da SBS, realizado na Universidade Federal do Paraná, cujo tema era Mudanças, permanências e desafios sociológicos o GT 09 - Ensino de Sociologia congregou 36 trabalhos, selecionados entre tantos outros. Fazemos este destaque para mostrar o crescimento expressivo e constante no número de pesquisadores que com a temática do ensino de Sociologia, tanto no Ensino Médio quanto na Graduação, passaram a se ocupar. Assim, como já nos referimos no início deste texto, durante todos os anos da luta dos sociólogos pela implantação da Sociologia no Ensino Médio houve uma série de Encontros Regionais, promovidos pelos Sindicatos Estaduais, nos quais foi discutido o tema da Sociologia no Ensino Médio e as estratégias de luta para implantação da disciplina nesse nível de ensino. Também foram realizadas inúmeras reuniões junto às Secretarias e Conselhos Estaduais de Educação. No caso do RS foram promovidos fóruns de discussão na Assembleia Legislativa e Câmara dos Vereadores, tendo como meta garantir espaços de discussão sobre o tema. Universidades realizaram projetos para difundir a importância da Sociologia no Ensino Médio, criaram disciplinas específicas para preparar os futuros professores de Sociologia bem

18 como cursos de atualização de professores. Como exemplos, citamos o trabalho desenvolvido na UEL e na UFRGS. A Universidade de Londrina realizou dois projetos: A Reimplantação da Sociologia no 2º Grau (1994-1997) e A Sociologia no Ensino Médio, conteúdos e metodologias: assessoramento aos professores e alunos do Núcleo Regional de Educação de Londrina (1998-1999) (SILVA APUD CARVALHO, 2004). O Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul criou, em 1995, uma disciplina denominada Sociologia no Ensino Médio: teoria e prática. Esta disciplina visa discutir a importância da Sociologia no Ensino Médio, bem como o que e como ensinar Sociologia para alunos das escolas secundárias os quais se constituem em um público não especialista. Os alunos da licenciatura fazem a disciplina antes de irem para a Prática de Ensino, na Faculdade de Educação (PEREIRA, 2007a). Entre as diversas iniciativas neste sentido, também, foram criados diversos Laboratórios de Ensino de Sociologia (LES) 15. Dentre os quais destacamos aqueles ligados as Universidades Federais do Rio Grande do Sul (LAVIECS - UFRGS), de Santa Catarina (LEFIS - UFSC), do Rio de Janeiro (LABES/FE - UFRJ) e da Universidade Estadual de Londrina (GAES UEL). Ainda nesta direção, especial destaque deve ser dado ao trabalho realizado pelas Universidades Federais do Pará (UFPA), de Minas Gerais (UFMG), de Uberlândia (UFU), do Rio Grande do Norte (UFRN), e mais recentemente, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) através da Faculdade de Educação, entre outras. Para refletir sobre o futuro... Isto posto, neste relato mostramos a articulação e o entrelaçamento de ações dos sociólogos na luta pela implantação da Sociologia no Ensino Médio e as ações do poder público, através das leis, pareceres, resoluções para normatizar a obrigatoriedade deste ensino. Entendemos que não há uma relação direta, linear, determinante entre a luta dos sociólogos e as ações dos responsáveis pela educação no Brasil. Mas neste texto pode-se perceber que esta luta foi decisiva e sem ela, provavelmente a Sociologia não estaria 15 SITES DOS LABORATÓRIOS DE SOCIOLOGIA DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS: Faculdade de Educação - UFRJ - http://www.labes.fe.ufrj.br/ LAVIES -Laboratório Virtual e Interativo de Ensino de Ciências Sociais/Coordenadora Profª Luiza Helena Pereira /Departamento de Sociologia/UFRGS - http://www6.ufrgs.br/laviecs/home.htm Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia/Universidade Federal de Santa Catarina http://www.sed.sc.gov.br/lefis/ Universidade Estadual de Londrina - http://www2.uel.br/grupo-estudo/gaes/

19 contemplada de forma obrigatória nos currículos das escolas de Ensino Médio, públicas e privadas de nosso País. Como vimos os sociólogos em suas instituições lutaram intensamente pela implantação da Sociologia no Ensino Médio. Realizaram Congressos e Encontros de Cursos para debaterem os cursos de Ciências Sociais e a implantação da Sociologia no Ensino Médio. No entanto, a partir deste marco histórico a responsabilidade aumenta ainda mais, pois a discussão do tema sobre Por que ensinar Sociologia, o que ensinar e como ensinar deve ser cada vez mais aprofundada para garantir melhor qualidade ao ensino da Sociologia no Ensino Médio, como já escrevi em outro lugar (PEREIRA, 2007a). Referências Bibliográficas BOURDIEU, P. et al. Lições da Aula. São Paulo, Editora Ática S. A, 1988. BRASIL. Lei Nº 11.684, de 2 de Junho de 2008- Brasília: Diário Oficial da União, de 03 de junho de 2008, Seção 1, p. 1 edição 104, 2008.. Resolução CNE/CEB Nº 4, de 16 de Agosto de 2006. MEC/ CNE/CEB. Brasília: Diário Oficial da União, de 21 de Agosto de 2006, SEÇÃO 1, P. 15, 2006.. Resolução CEB 03/1998 Institui as diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: Diário Oficial da União, de 05 ago. 1998. Seção 1, P. 21.. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Ministério da Educação, 1996. CARVALHO, L. M. G. de (Org.). Sociologia e ensino em debate: experiências e discussão de sociologia no ensino médio. Ijuí: Ed. Unijuí, 2004. ELIAS, N. Introdução à Sociologia. Lisboa, Edições 70. 1999. FERNANDES, F. A Etnologia e a Sociologia no Brasil. São Paulo, Anhambi S/A, 1958. GIDDENS, A. Em Defesa da Sociologia. São Paulo, Editora Unesp, 2001. LIEDKE FILHO, E. D. Sociologia e Sociedade - Brasil e Argentina (1954-1964). In: Cadernos de Sociologia. Pensamento Social. Porto Alegre, UFRGS/PPGS, v. II, nº 2, 1990. MEC/CNE/CEB, Ministério da Educação. Parecer 38/2006. Inclusão obrigatória das disciplinas de Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio. Ministério da Educação/Secretaria de Educação Básica, Brasília, MEC, 2006.. Parecer CEB 15/1998 Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília, MEC, 1998. MEC/OCEM CH, Ministério da Educação. Orientações Curriculares para o Ensino Médio, Volume 3 - Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: Secretaria de Educação Básica, 2006. MEKSENAS, P. Sociologia. 2 ed. São Paulo, Cortez, 1994.

20 MEMÓRIA do II Encontro Nacional de Cursos de Ciências Sociais. Realizado na Universidade de São Paulo Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Dias 17 e 18 de abril de 2000, Sala 8 segunda e terça-feira, das 9h Às 18h. MEMÓRIA do III Encontro Nacional de Cursos de Ciências Sociais. Realizado em Fortaleza, Ceará, no Hotel Ponta Mar. Dias 3 a 6 de setembro Salão São Paulo 19h30 às 22h. MILLS, W. C. A imaginação sociológica. 2 ed. Rio de Janeiro, Zahar, 1969. MORAES, A. Licenciatura em ciências sociais e ensino de sociologia: entre o balanço e o relato. Tempo Social-revista de sociologia da USP. Dep. de Sociologia, Fac. de Filosofia e Ciências Humanas, USP-v.15, n.1 (abril de 2003). PEREIRA, L. H. A sociologia no RS. Pesquisa. Porto Alegre, UFRGS, 2005.. Qualificando futuros professores de sociologia. Revista MEDIAÇÕES, Revista de Ciências Sociais do Centro de Ciências Humanas, da Universidade Estadual de Londrina, 2007a.. Qualificando o ensino da sociologia no Rio Grande do Sul In: Alice Plancherel e Evelina Antunes (org.). Leituras sobre sociologia no Ensino Médio. Maceió: EDUFAL, 2007b. SAVIANI, D. A nova lei da educação. Campinas, SP: Autores Associados, 1997. SOCIEDADE BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA - SBS, (1EncontroEM,2007), 2007- http://www.sbsociologia.com.br/downloads/1encontroem.rtf.