ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO NO SETOR DE PRODUÇÃO DE DOCE DE LEITE EM UM LATICÍNIO-ESCOLA



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Transcrição:

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO NO SETOR DE PRODUÇÃO DE DOCE DE LEITE EM UM LATICÍNIO-ESCOLA RESUMO Juliana Campolina Belo Estudante do curso de Economia Doméstica da UFV- jucampola@yahoo.com.br Natalia Pacheco de Oliveira Estudante do curso de Ciência e Tecnologia de Laticínios da UFV - natalialaticiniosufv@yahoo.com.br Sheila Fialho Lopes Estudante do curso de Economia Doméstica da UFV- sheilafialho@gmail.com Simone Caldas Tavares Mafra Professora Adjunta do Departamento de Economia Doméstica da UFV sctmafra@ufv.br O estudo feito refere-se a aplicação da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) em um laticínio-escola, mais especificamente, no setor de produção de doce de leite, com o objetivo de analisar o ambiente de trabalho; verificar o nível de satisfação dos funcionários com relação ao ambiente de trabalho vivenciado; traçar o perfil dos funcionários; analisar se os EPI s são usados adequadamente e se estes interferem na satisfação do trabalhador. Aplicou-se entrevistas semi-estruturadas com os funcionários e com o supervisor de produção e fez-- se observações in loco. Verificou-se que a temperatura no ambiente de trabalho já foi percebida pelos trabalhadores como insuportável quando não havia exaustores no local, mas após a instalação destes equipamentos houve um favorecimento do bem-estar dos trabalhadores do setor. Com relação ao espaço físico, já foram realizadas todas as reformas consideradas possíveis, sendo necessária a construção de um novo laticínio, o que já está sendo providenciado. Palavras-chave: Ergonomia; Laticínio; Ambiente de Trabalho. ABSTRACT The study fact refers the application of the Ergonomic Analysis of the Work (AET) in a dairy product-school, more specifically, in the section of production of candy of milk, with the objective of analyzing the work atmosphere; to verify the level of the employees' satisfaction regarding the atmosphere of lived work; to draw the employees' profile; to analyze EPI's is used appropriately and if these interfere in the worker's satisfaction. It was applied interviews semistructured with the employees and with the production supervisor and it was made observations "in loco". It was verified that the temperature in the work atmosphere was already noticed by the workers as unbearable when there were not extractor fans in the place, but after the installation of these equipments there was a favorecimento of the workers' of the section well-being. Regarding the physical space, already all were accomplished the reforms considered possible, being necessary the construction of a new dairy product, what is already being made arrangements. Key-words: Ergonomics; Laticínio; Environment of Work. 1. INTRODUÇÃO A ergonomia é o estudo da adaptação e do relacionamento entre o homem e o seu trabalho, ela surge para proporcionar bem-estar ao ser humano, procurando sempre adequar o meio ambiente ao mesmo. Segundo a IEA (Associação Intenacional de Ergonomia), a ergonomia é o estudo científico relacionado ao entendimento das interações do homem com outros elementos de um

sistema, tendo como principal objetivo otimizar o bem-estar humano do desempenho geral deste sistema (WIKIPEDIA, 2007). Para Wisner (1972), a ergonomia deve ser definida como o conjunto dos conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados proporcionando o máximo de conforto, segurança e eficácia. O homem é o principal alvo dessa ciência que visa à elaboração de projetos e avaliação de tarefas, trabalhos, produtos, ambientes e sistemas, a fim de torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades, limitações das pessoas e fabricação de produtos considerados adequados anatomicamente, para serem utilizados com maior segurança. A ergonomia pode ser aplicada em vários setores tais como: industrial, hospitalar, escolar, transportes, informatização, entre outros. Em todos estes é possível haver intervenções ergonômicas para melhorar significativamente a eficiência, a produtividade, a segurança e a saúde nos postos de trabalho. Na indústria, a ergonomia deve aumentar a eficiência, a confiabilidade e a qualidade das operações industriais. Ela propõe interferir no sistema de trabalho no qual o homem está inserido, podendo ser na fase de projeto de máquinas, postos de trabalho, ou nas modificações em sistemas já em funcionamento, adaptando-os ao organismo humano (GARANTIDA, 2007). Com a realização deste trabalho objetivou-se analisar como o ambiente influencia os trabalhadores no setor de produção de doce de leite de um laticínio-escola, na cidade de Viçosa MG. Especificamente, pretendeu-se analisar o ambiente de trabalho na produção de doce de leite; verificar o nível de satisfação dos funcionários com relação ao ambiente de trabalho vivenciado; traçar o perfil dos funcionários e analisar se os EPI s são usados adequadamente e se estes interferem na satisfação do trabalhador. 2. REVISÃO DE LITERATURA A saúde está entre os indicadores de qualidade de vida. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), citada por Chaves (1980), a saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social, acompanhado de uma perfeita capacidade de adaptação ao meio ambiente. A quantificação do bem-estar é uma ação difícil de ser desenvolvida, mas favorece a compreensão de que é preciso atuar sobre todos os fatores que venham influenciar nesse estado. Dentre eles, o ambiente de trabalho, lazer, ou o próprio lar, esses fatores são chamados de riscos ocupacionais. Segundo o SESI (2007), as doenças ocupacionais são aquelas decorrentes da exposição do ser humano aos riscos ambientais, ergonômicos ou de acidentes. Elas se caracterizam quando se estabelece a relação entre os danos na saúde e a exposição a determinados riscos. Dessa forma, se o risco está presente, pode ocorrer a atuação deste dano sobre o ser humano exposto, alterando sua qualidade de vida. Essa alteração pode acontecer de várias formas, dependendo dos agentes atuantes, do tempo de exposição, das condições inerentes a cada indivíduo e de fatores do meio em que se vive. A ergonomia vem para prevenir as doenças ocupacionais e corrigir os riscos no ambiente de trabalho, procurando melhorar a interação do homem com esse ambiente. Segundo a Ergonomics Research Society, citada por Santos (2007), a ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho, equipamentos, ambiente e, particularmente, a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução surgida neste relacionamento. Para Santos e Zamberlan citados por Santos (2007), a ergonomia tem como finalidade conceber e/ou transformar o trabalho de maneira a manter a integridade da saúde dos operadores e atingir objetivos econômicos. Os profissionais em ergonomia têm conhecimento sobre o

funcionamento humano e estão prontos para atuar na elaboração de projetos de trabalho, interagindo na definição da organização do trabalho, nas modalidades de seleção e treinamento, na definição do mobiliário e do ambiente físico de trabalho. Pode-se perceber que a ergonomia está preocupada com os aspectos humanos do trabalho, em qualquer situação onde este é realizado e, desta forma, ela busca não apenas evitar aos trabalhadores postos de trabalhos exaustivos e/ou perigosos, mas procura colocá-los nas melhores condições de trabalho possíveis, de forma a aumentar a eficácia do sistema de produção. Segunda a Garantida (2007), as análises das condições físicas de trabalho, como temperatura, ruídos, vibrações e iluminação, são de vital importância para que as condições de trabalho sofram melhorias contínuas. Segundo a Sogab (2007), os riscos físicos representam aquilo que está acima do que o organismo é capaz de suportar, podendo acarretar uma doença profissional. Entre os mais importantes citam-se temperaturas extremas, calor, frio, ruído, vibrações, pressões anormais, radiações ionizantes e radiações não ionizantes. A análise ergonômica do trabalho deve ser conduzida de forma ampla de maneira a observar a organização do trabalho, permitindo identificar e avaliar como as diversas variáveis tecnológicas, econômicas, organizacionais e sociais influenciam o trabalho dentro da empresa. Na indústria de alimentos, incluindo laticínios, as condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, ao transporte e à descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos, às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. 3. METODOLOGIA O método utilizado para realização deste trabalho foi a Análise Ergonômica do Trabalho (AET). Segundo Santos e Fialho (1997), através da análise ergonômica do trabalho deve-se conduzir e orientar modificações para melhorar o ambiente de trabalho, sobre os pontos críticos que forem observados, devendo aumentar a qualidade, a produtividade e a qualidade dos produtos. O trabalho foi realizado em um laticínio-escola, localizado no campus de uma Instituição de Ensino Superior. Ele atua no mercado alimentício, concentrando a sua fabricação e comercialização de produtos derivados do leite. Seus produtos são excelente qualidade. Além disso, o laticínio atua na prestação de serviços à comunidade científica, apoiando o desenvolvimento de pesquisas. Foi trabalhado, especificamente, no setor de produção de doce de leite, que funciona das 00:00h às 16:00h, onde os funcionários possuem plantões diferenciados. Primeiramente, foram elaborados os objetivos do trabalho, e, posteriormente, foram feitas entrevistas informais com os trabalhadores e o supervisor de produção, e a observação das ações dos trabalhadores no ambiente de trabalho. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES O trabalho foi realizado em um laticínio-escola, onde procurou-se observar condições físicas do ambiente de trabalho. Na visita feita ao laticínio, acompanhadas pelo supervisor de produção do mesmo, permaneceu-se no setor de produção de doce de leite, que era o foco do trabalho, observando as atividades que estavam sendo desempenhadas. O horário de funcionamento da produção de doce de leite, é de 00:00h às 16:00h, mas os funcionários entram em horários diferentes. Foi possível observar que o ambiente do laticínio é extremamente ruidoso, úmido, com pouca ventilação e há muitos riscos, como os canos de vapor, os quais não possuem proteção; é utilizada água quente para lavar os utensílios do setor; o maquinário é bem antigo.

Com relação aos equipamentos de proteção individual (EPI s), percebeu-se que os quatro funcionários do setor de produção de doce de leite utilizavam botas, calça comprida, blusa, avental e touca. Mas apenas o funcionário que envasava o doce fazia uso da máscara, e somente dois usavam o protetor auricular. Foi aplicada uma entrevista semi-estruturada a três funcionários e ao encarregado do laticínio, contendo questões relacionadas ao perfil dos trabalhadores, seleção para trabalhar no laticínio, uso de EPI s, temperatura do ambiente, acidentes, sugestões para melhoria do ambiente. Em se tratando do perfil dos trabalhadores, 100% são do sexo masculino, possuem idade média de 25 anos, 66,66% dos entrevistados são solteiros e 33,33% casados. Com relação à escolaridade, 66,66% possuem o ensino médio completo e 33,33% apenas o ensino fundamental. Quanto ao tempo de serviço no laticínio, 33,33% trabalham há cinco anos, 33,33% há três anos e 33,33% há um ano e quatro meses. A carga horária média é de 7,6 h/dia. Foi questionado sobre a seleção para o emprego, se houve, e se foi adequada. Todos os participantes responderam que houve a seleção sim e que a consideram adequada. Dentre eles, 33,33% responderam que foi adequada, pois, é importante trabalhar em grupo e no processo seletivo constava de exercícios que abordavam o trabalho em grupo, enquanto 33,33% responderam que considera apenas adequado e não opinou e, os outros 33,33% disseram que é importante a seleção para o cargo. Perguntou-se, também, se no momento em que começaram a trabalhar houve treinamento. Todos responderam que não, que foram aprendendo com os funcionários antigos, mas consideram importante o treinamento para dar maior segurança e eliminar dificuldades. Com relação aos EPI s, 100% responderam que há equipamentos para todos os funcionários, que usam e consideram importante, e somente 33,33% responderam que é necessário para evitar problemas a longo prazo, como perda auditiva, queimaduras, entre outros. Dentre os entrevistados, 33,33% responderam que é difícil faltar algum EPI, mas quando falta, vão usando os que têm; 33,33% disseram precisar de luvas para mexer no caldeirão de doce e 33,33% disseram precisar de luvas para manipular o tanque de água quente, que serve para esterilizar as latas de doce de leite. Com relação à temperatura do ambiente, 33,33% responderam que é suportável no período de frio e quente no calor ( mesmo com exaustores é muito quente no calor ); 33,33% disseram que é agradável no frio e insuportável no calor ( os exaustores não funcionam 100% ) e 33,33% disse ser razoável ( agora que tem exaustores é bem melhor ). Em se tratando de mal-estar no ambiente de trabalho advindo de qualquer aspecto do ambiente, 33,33% responderam sentir dores musculares nas pernas e os outros 66,66% disseram não sentir nada. Com relação a problemas/acidentes no setor de produção de doce de leite, 33,33% disseram nunca ter acontecido com eles; 33,33% disseram já terem se queimado com água quente, mesmo utilizando avental e botas; e 33,33% já quebraram o dedo manuseando o agitador do tanque, pois fica em local muito alto, difícil de manusear, e, ainda, comentou sobre um acidente com um colega de trabalho que perdeu a mão na máquina de fechar lata, alega que aconteceu porque a máquina é muito antiga e não possui manutenção específica. As sugestões dadas com relação ao ambiente físico foram as seguintes: 33,33% disseram para aumentar o espaço físico, pois é muito apertado; 33,33% não opinaram e 33,33% disseram que precisa melhorar a ventilação, colocar proteção nos canos de vapor e haver manutenção específica para o maquinário do setor. Já as sugestões com relação ao trabalho que desempenham: 33,33% responderam precisar de equipamentos mais modernos e ter maior poder de opinião; 33,33% disseram precisar de mais um funcionário durante a madrugada para evitar acidentes e 33,33% não opinaram.

Com relação à interação com os colegas: 100% disseram ser muito boa. Já a interação com o gestor: 66,66% disseram ser boa, enquanto que 33,33% disseram não ter muito contato com o gerente, mas que com o encarregado é tranqüilo. Da mesma forma o supervisor de produção também foi questionado. Quanto à seleção, este foi selecionado juntamente com outros três concorrentes e foi admitido na função depois do estágio probatório de três meses. Este afirma que foi selecionado, pois já tinha muitos anos de serviço na casa e possuía experiência. Afirma também não ter passado por nenhum treinamento inicial, uma vez que já trabalhava na empresa e era o responsável pela programação da produção. Como supervisor de produção passou também a administrar pessoal. Atualmente, está passando por uma série de avaliações com psicólogos e pessoas especializadas na área para ver se continuará à frente do referido cargo, além de já ter feito treinamento de BPF (Boas Práticas de Fabricação). O supervisor considera que há EPI s suficientes para todos os funcionários, ele usa os EPI s e diz eles são importantes para medida de proteção e também higiene, e também devido às regras de BPF. Considera, também, que não falta nenhum EPI, inclusive há treinamentos através da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) com o corpo de bombeiros e, também, treinamentos para correta higienização pessoal, de equipamentos e da fábrica. Quando questionado sobre a temperatura do ambiente, afirmou que já esteve bem pior (mais quente), mas depois que colocaram os exaustores melhorou um pouco, afirma, ainda, que tem muito vapor e, por isso, o ambiente de trabalho não é agradável. No que se refere ao mal-estar no ambiente de trabalho, não se lembra de ter ocorrido. Mas, no que se refere a problemas/acidentes, os mais freqüentes são as queimaduras, pois a tubulação que conduz vapor até este setor não possui a proteção de lã de rocha (material que deveria revestir esses tubos para evitar esse tipo de acidente). Também ocorrem queimaduras no tacho, através de contato direto (esbarram enquanto produzem o doce); ocorrem cortes na recravadeira (máquina de envasar o doce) e também nas latas em que este é envasado. O supervisor de produção afirma que esses problemas acontecem devido à descuidos dos funcionários, falhas nos equipamento, falta de manutenção ou manutenção inadequada. Com relação às sugestões para o ambiente de trabalho diz que o ambiente físico só poderia ser melhorado se fosse construído um laticínio mais moderno. O que poderia ser feito de reformas já foi realizado, não tem muito mais o que fazer, pois a estrutura é antiga, afirma. Quanto ao trabalho que faz, considera apenas que o depósito está num local inadequado (longe), quando deveriam ser mais próximos da fábrica. No que se refere à interação com os colegas e com o gestor não tem sugestões, considera que existe uma boa relação. 5. RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES De acordo com os problemas expostos, sugere-se: - Uso de luvas para manusear o tanque de esterilização de latas de doce de leite; - Uso de protetores auriculares e máscara para todos os funcionários do setor; - Utilizar protetores nos canos de vapor e/ou sinalização para os mesmos; - Manutenção específica para as máquinas do setor; - Permitir que os funcionários participem do processo de planejamento do novo laticínio e da tomada de decisão da empresa; - Instalar mais exaustores; - Para as atividades em que os trabalhadores realizam de pé, como no envase de doce de leite, devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante as pausas e intervalos.

Quanto ao transporte manual de cargas, observou-se que em todo transporte o peso da carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a deposição da carga. Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas pesadas deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho que deverá utilizar, com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes. Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da análise ergonômica do trabalho, deve ser observado o seguinte: para efeito de remuneração e vantagens de qualquer espécie deve-se levar em consideração as repercussões sobre a saúde dos trabalhadores. A metodologia utilizada (AET) foi eficiente no que se refere à melhoria da qualidade do trabalho e nas condições ambientais para execução de suas atividades cotidianas. Alguns problemas foram detectados. Entre eles, o mais citado foram as queimaduras causadas pelo contato com os canos de vapor, os quais são usados para higienizar o ambiente. Outro problema citado pelos trabalhadores foi a falta de equipamento de proteção individual como luvas para manusearem as latas de doce que vão para o tanque de esterilização, pois a água é muito quente e pode respingar nos manipuladores causando queimaduras. Acredita-se que com a implementação das recomendações sugeridas haverá um aumento da eficiência do processo, minimizando, assim, os problemas e as conturbações que ocorrem durante a produção. Também, irá facilitar a atividade e a tarefa dos empregados, bem como proporcionar uma melhor qualidade de vida aos mesmos. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHAVES, M. M. Saúde e Sistemas. 3 ed. Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas, 1980.13p. GARANTIDA, Empresa. Ergonomia na Indústria. Disponível em: <http://www.empresagarantida.com.br/ergonomia_industria.htm>. Acesso em: 03 jul. 2007. SANTOS, N.; FIALHO, F.A.P. Manual de Análise Ergonômica do Trabalho. Gênesis: Curitiba, 316p, 1997. SANTOS, N. Ergonomia e Segurança Industrial. Disponível em: <http://www.eps.ufsc.br/ergon/disciplinas/eps5225/aula_1.htm#1.3>. Acesso em: 28 jun. 2007. SESI. Saúde Ocupacional. Disponível em: <http://www.sesipr.org.br/saude/freecomponent85content298.shtml>. Acesso em: 28 jun. 2007. SOGAB. Fatores de risco no trabalho. Disponível em: <http://www.sogab.com.br/saudebiosseg.htm>. Acesso em: 29 jun. 2007. WIKIPÉDIA. Ergonomia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ergonomia>. Acesso em: 03 jul. 2007.

WISNER, A. A inteligência no Trabalho. Textos selecionados de ergonomia. São Paulo, FUNDACENTRO, 1994.