OTITES MÉDIAS AGUDAS Prof. Pedro Serafim DISCIPLINA DE OTORRINOLARINGOLOGIA Universidade Federal do Maranhão - UFMA
Considerações anatômicas:
Considerações funcionais: Energia mecânica (SOM) estímulos elétricos AUDIÇÃO
1- Conceito: Processo inflamatório e/ou infeccioso da mucosa da orelha média, em geral associado a sintomas clínicos como febre, irritabilidade e otalgia e, a sinais característicos da membrana timpânica (abaulamento/ perda da transparência/ presença de vasos radiais/ alterações da cor)
2- Importância: elevada incidência em crianças prescrição ATB (gastos/ resistência) custos diretos (consultas/ internações/ medicamentos) custos indiretos (falta a escola/ trabalho/ gastos previdência) Complicações seqüelas
3- Fisiopatogenia: a) Principal fator: IVAS tuba auditiva OMA (viral bacteriana) complicações e sequelas b) Menos freqüentes: - traumas com ruptura da MT infecção secundária; - complicação de cirurgia da orelha média; - complicações de otites externas; - barotraumas.
4- Fatores de risco: Anatomofisiologia da tuba auditiva: criança + curta / + horizontal / + calibrosa Posição de amamentação * creche tabagismo *(exposição a microorganismos e antígenos alimentares/ encurtamento do aleitamento materno/dedos e chupetas)
Fatores de risco Alergias: respiratórias e alimentares Doenças associadas: Fissura palatina P. Cerebral S. Down DRGE Rinossinusites Hipertrofia de adenóide, tonsilas palatinas e cornetos nasais Doenças mucociliares (Fibrose Cística / Síndrome de Kartagener) Imunodeficiências: primárias e secundárias * * (OMA é a IVAS bacteriana + frequente em crianças HIV +)
5- Incidência: Sexo: > masculino Faixa etária: 6 meses < crianças < 6 anos 75% das crianças < 2 anos 1 OMA / ano 50% das crianças < 2 anos 2 OMA / ano 25% das crianças < 2 anos 3 ou mais OMA / ano Pico de incidência: 2 anos imaturidade imunológica baixa produção de IgG (IgG2) resposta a antígenos polissacárides S. pneumoniae / H. influenzae
6- Microbiologia: VÍRUS 30% Vírus sincicial respiratório Rhinovírus Parainfluenza Adenovírus Influenzae A ou B BACTÉRIAS (EUA 2008) Streptococcus pneumoniae (25-50%) Haemophilus influenzae (15-30%) Moraxella catarrhalis (3-20%) BRASIL - OTACÍLIO LOPES (FCMSCSP- 1992) Haemophilus influenzae: 7 a 28% Staphylococcus aureus: 22% Moraxella catarrhalis: 5% Streptococcus do grupo A: 3% Pseudomonas aeruginosa: (1 a 2%) 70%
Obs.: ESTUDO PRÁTICO DAS OTITES Classificação clínica geral das otites: Otite Média Aguda Otite Média Secretora Otite Média Crônica Classificação das otites quanto ao tempo de duração: - Aguda < 3 semanas de duração - Subaguda de 3 semanas a 3 meses - Crônica > 3 meses de duração
7- Formas clínicas e diagnóstico: 7.1- CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS OTITES MÉDIAS AGUDAS: 7.1.1- OMA simples 7.1.2- OMA supurada 7.1.3- OMA recorrente 7.2- CLASSIFICAÇÃO ESPECÍFICA (SHAMBAUGH Chicago - EUA)* 7.2.1- OMA viral 7.2.2- OMA supurativa (bacteriana) 7.2.3- OMA necrosante (bacteriana especial) 7.2.4- OMA alérgica 7.2.5- OMA tuberculosa 7.2.6- OMA LATENTE do lactente (supurativa especial)
Formas clínicas e diagnóstico 7.1.1- OMA simples CLÍNICA: otalgia súbita/ febre/ irritabilidade/ choro/ inapetência OTOSCOPIA: abaulamento/ perda de transparência/ alterações de cor ETIOLOGIA: predominante viral (rinovirus, vírus sincicial respiratório, adenovírus, influenzae A ou B/ parainfluenza)/ pode evoluir para BACTERIANA Em geral são auto-limitadas
Formas clínicas e diagnóstico 7.1.2- OMA supurada CLINICA: secreção (otorréia) / diminuição ou cessação da dor OTOSCOPIA: ruptura da MT com extravasamento de secreção às vezes dificultando o exame ETIOLOGIA: predomina BACTERIANA (Haemophilus influenzae/ Staphylococcus aureus/ Moraxella catarrhalis/ Streptococcus do grupo A / Pseudômonas aeruginosa)
Formas clínicas e diagnóstico 7.1.3- OMA recorrente DEFINIÇÃO: 4 OU + EPISÓDIOS DE OMA EM 12 MESES 3 OU + EPISÓDIOS EM 06 MESES CLINICA: FASE AGUDA: otalgia súbita/ febre/ irritabilidade/ choro/ inapetência FASE LATENTE: em geral assintomática OTOSCOPIA: depende da fase do exame ETIOLOGIA: predomina BACTERIANA (resistente?) contaminações
CLASSIFICAÇÃO (SHAMBAUGH) 7.2.1- OMA Viral CLÍNICA Dolorosa; Não melhora com antibióticos; menos frequente 30% Cura em poucos dias; Caráter epidêmico. COMPLICAÇÕES: evolução para forma bacteriana infecção secundária supurativa ou não. FORMA ESPECIAL: MIRINGITE BOLHOSA camada subepitelial da MT formação de vesícula hemorrágica na MT e epitélio adjacente não costuma comprometer a orelha média.
CLASSIFICAÇÃO (SHAMBAUGH) 7.2.2- OMA supurativa (bacteriana/purulenta) CLINICA: É a mais freqüente na prática clínica (predomínio nas crianças) 70% dos casos Tende a supurar (quando não recebe tratamento clínico); Em geral apresenta evolução benigna; Maior destaque nos consensos sobre OMA (ABORL-CCF) DIAGNÓSTICO: Febre, irritabilidade e otalgia; Abaulamento timpânico (é o sinal mais importante); Presença de nível líquido (a criança deve ser examinada sentada); Perda da transparência e presença de vasos radiais na MT; Alterações da cor (hiperemia da MT choro / mudança de cor: esbranquiçada, amarelada); Obs.: Perfuração aguda da MT (em geral é pequena, suficiente para a saída do exsudato, e muitas vezes de difícil visibilização); Otorréia e presença de bolhas de ar.
CLASSIFICAÇÃO (SHAMBAUGH) 7.2.3- OMA necrosante (bacteriana especial) É RARA Quando ocorre é mais freqüente associadas a: (sarampo, escarlatina, pneumonia e doenças com queda do estado geral) Agente mais freqüente: Streptococcus pyogenes Cultura da secreção (pus): Staphilococcus ou Pseudomonas * Evolução muita rápida
CLASSIFICAÇÃO (SHAMBAUGH) 7.2.4- OMA alérgica semelhante aos processos de hipersensibilidade de vias aéreas superiores (ácaros, fungos, poeira, alimentos, corantes, etc.) reação de hipersensibilidade liberação de substâncias (histamina, mastócitos, basófilos,etc.) aumento da permeabilidade capilar e edema tubário liquido estéril e rico em eosinófilos MT pálida. TRATAMENTO: Anti-histaminico; Corticosteróides; Miringotomia; Avaliação e terapêutica antialérgica.
CLASSIFICAÇÃO (SHAMBAUGH) 7.2.5- OMA tuberculosa Adquirida pelo contágio das secreções pulmonares Auto-infecção via tuba auditiva (catarro pulmonar) Pode ocorrer por leite de vaca contaminada (raro em crianças) TRATAMENTO: específico para tuberculose
CLASSIFICAÇÃO (SHAMBAUGH) 7.2.6- OMA LATENTE do lactente (OTOANTRITE) Pouco freqüente na atualidade Otoscopia: normal (justifica a denominação latente) Diagnóstico: por exclusão (insistência da pediatria / ineficácia terapêutica/ avaliação ORL) Mais comum em lactentes desnutridos (distróficos) Forma Digestiva: é a mais freqüente (vômitos, diarréia aquosa e rebelde ao tratamento); Forma Neurotóxica: toxemia, palidez, rigidez nucal por irritação meníngea, crises convulsivas; Forma Febril: febre persistente e resistente, perda de peso, anorexia, vômitos, é a forma mais branda.
8- Tratamento: OMA Viral: Calor local (compressa morna e seca) Analgésico/ Antitérmico (adaptação/ não alergênico) Fitoterápico (Pelargonium sidoides) Descongestionantes Gotas otológicas
Tratamento OMA Bacteriana: Analgésico; Antitérmico; Calor local; Antinflamatórios (corticosteróides); VANTAGENS dos ATBs para OMA: Melhora mais rápida dos sintomas Redução de tempo da doença Reduz progressão para OMA bilateral *Antibiótico:? *prevenção de complicações e RECORRÊNCIAS (?) DESVANTAGENS dos ATBs para a OMA: *Uso empírico (colaborando para o aumento de resistência dos microorganismos) ROSENFELD: (Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia) 80% de cura espontânea em crianças com OMA de 7 a 14 dias 95% de cura em crianças que foram tratadas com ATB
Tratamento OMA bacteriana ESCOLHA DO ANTIBIÓTICO: EFICÁCIA TERAPÊUTICA (MICROBIOLOGIA) efeitos colaterais posologia gosto ou sabor custo AMOXACILINA continua sendo a primeira escolha no tratamento da OMA (ABORL-CCF) Dose: 50 mg/kg/dia DURAÇÃO DO TRATAMENTO: em geral 10 dias, podendo se estender até 14 ou 21 dias
TRATAMENTO DA OMA BACTERIANA Sem história de OMA pregressa Com história de OMA pregressa e/ou tratamento antibiótico nos últimos 30 dias e/ou tratamento antibiótico nos últimos 30 dias Amoxicilina 40 60mg/kg/dia Alergia à penicilina Macrolídeos ou Sulfatrimetoprima... Amoxicilina + Clavulanato falha terapêutica após 48 a 72 horas Ou Cefalosporinas de 2ª geração ou Cefalosporinas de 3ª geração falha terapêutica Miringotomia + cultura secreção
ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS AMOXACILINA (40-60 mg /kg /dia) AMOXACILINA-CLAVULANATO (produtores de BETA-LACTAMASE) CEFALOSPORINAS 2ª OU 3ª GERAÇÃO (Cefuroxima, Cefaclor, Cefprozil, Cefpodoxima) ALERGIA À PENICILINA (Azitromicina, Claritromicina, Sulfatrimetoprim) CEFTRIAXONA - 3 A 5 dias (complicações intracranianas/ complicações intratemporais/ vômitos)
INDICAÇÕES PARA TIMPANOCENTESE criança < 6 semanas com hospitalização em UTI (gram negativo) imunodeprimidos (bactérias não usuais) Complicação do Sistema Nervoso Central (abscesso cerebral, meningite, trombose do seio venoso) Comprometimento do VII par craniano (paralisia facial periférica) refratária a 2 a 4 antibióticos diferentes mastoidite aguda labirintite supurada otalgia muito intensa
9- Complicações: INTRATEMPORAIS: Mastoidite aguda; Paralisia facial; Labirintite serosa; Labirintite supurativa; Petrosite aguda. INTRACRANIANAS: Abscesso epidural; Trombose do seio sigmóide; Meningite; Abscesso de lobo temporal; Trombose da jugular interna; Trombose do seio cavernoso.
Diagnóstico diferencial Disfunção Temporo-Mandibular (otalgia reflexa ) Corpo estranho Otite externa
10- Considerações finais: Vacinação antipneumocócica (PREVENAR ) conjugada heptavalente a partir de 2 meses de idade Vacinação antiinfluenza a partir dos 6 meses de idade anualmente, antes do inverno Outras vacinas: Haemophilus influenzae não tipável Moraxella catarrhalis Vírus sincicial respiratório Parainfluenza Terapia alternativa: fitoterápico (Pelargonium sidoides) Novidade: BIOFILME BACTERIANO (?) Bactérias planctônicas (livre flutuação 1%) Biofilmes bacterianos (colônias agrupadas 99%).
Obrigado e até a próxima!!! Dúvidas???